Celular ligado e carregado é imprescindível para assistir ao ‘Matemagia em Música e Letra’

Acontece nesta quinta-feira (30), às 20h, no Teatro da Rotina, em São Paulo, o encontro do músico Luiz com Z com e a escritora e fotógrafa Vanessa Basda, para apresentarem ‘Matemagia em Música e Letra’, espetáculo com uma característica inédita: o público só poderá assisti-lo se estiver na plateia com o aparelho celular ligado e carregado.

E se o espectador receber uma chamada durante o espetáculo, poderá atendê-la? O Música em Letras entrevistou os artistas, com exclusividade para o blog, para que você saiba a resposta desta e de outras perguntas e os gravou para mostrar um pouco do que irá acontecer durante a apresentação (veja vídeo no final do texto).

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O SOM E A PALAVRA

Luiz com Z é Luiz Bueno, 70, paulistano, violonista, guitarrista, arranjador, compositor e produtor que já atacou ao lado de muito artista, mas principalmente com Fernando Melo, no duo de violões Duofel, durante 42 anos. Atualmente, o Luiz com Z trilha carreira solo. Leia sobre o artista e sua mudança de vida e som em https://musicaemletras.blogfolha.uol.com.br/2021/08/24/em-carreira-solo-luiz-bueno-celebra-o-momento-da-criacao/.

Vanessa Basda, 40, paulistana, é formada em propaganda e marketing. Artisticamente define-se como escritora de foto e grafia. “Escrevo com e através dos sentidos, um corpo pensante que desenha o apalavrado desse sensível, vascularizando palavras muitas vezes fraturadas, deixando-as vivas. A foto traz substância e faz concreto esse abstrato do pensamento. Também por isso, o subtítulo do meu perfil  é “Há celebrador de partículas”, disse Basda ao blog referindo-se a uma das plataformas onde veicula sua arte https://www.instagram.com/p/CUChkmAredU/.

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Leia, a seguir, o que cada um dos artistas disse sobre si, sua arte, a arte de com quem compartilha o palco e mais sobre este encontro.

A PALAVRA

Música em Letras – Há quanto tempo você é escritora de foto e grafia?

Vanessa Basda – Os textos começaram em 2016 e eles eram acompanhados de prints que eu desenvolvia digitalmente. Eles eram a “cara”, o desenho das palavras. As fotos vieram a partir de 2019.

O que diferencia sua poesia de outras?

Adoro ler. Vejo as palavras como próprias histórias se perfazendo, de forma objetiva e também subjetiva, carregadas de desenhos, imagens, símbolos entrelaçados e o quanto elas movem ou travam as pessoas e todo o contexto de vida. Não as vejo como certezas, algo fixo, e sim como portas e janelas e por isso as abro, fraturo, faço delas mesmas outras, como um convite a quem também as lê, teste nos dias e na própria vida. Quem nos textos se demora, se envolve, sente pensando a sensorialidade das palavras https://www.instagram.com/p/CTiUNpeHeP9/.

Há outros trabalhos que você realizou como escritora de foto e grafia? Quais, onde e quando?

Sim. Escrevi o poema para o foto-livro “Foguear”, do Fábio Zerbini, Karen Caetano e Korina Kordova. Para o curso de fotografia “Luz Marginal”, do Gal Oppido, ele me passava os temas dos módulos e eu desenvolvia os textos para que cada participante/aluno fizesse suas capturas e projetos com as próprias percepções e também com eles https://www.instagram.com/p/CO0H-Binz5I/ crédito foto– Gal Oppido Com fotos e grafias no projeto “LuVa”, com o Luiz com Z, onde ele musicou quatro packs de imagens capturadas por mim, e com a harmonia, ritmo e imagens, desenvolvia os textos https://www.instagram.com/p/CQww1lRnfxs/.

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O que é ‘Matemagia em Música e Letra’?

Uma teia de linguagens de base artística, que nomeamos de RHeL: ritmo, harmonia e literatura e ele acontecerá ao mesmo tempo no virtual, pelo Instagram e, no presencial, com a plateia vivendo e interagindo pelo celular.

O que há na música de Luiz com Z que a inspira a escrever?

Luiz toca com um viés muito próprio, autoral, expansivo, extrai um colorido das nuances da escala. Um perfume vivo através da música que passa pelo corpo e afeta, lembra a gente de sentir o que está acontecendo. Inspirador, né?

Por que você acha que ele escolheu sua escrita para realizar esse trabalho?

Acho que faço o mesmo com esse combo de foto e grafia (risos).

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O que as pessoas devem ter em mente quando assistirem a este encontro?

Quero que elas estejam dispostas e disponíveis ao que criaremos, com e junto, naquele exato momento. Que possam assim participar ativamente, através dos sentidos, com o corpo “almado” de arte. Entre os pré-requisitos para assistir ao show, o público deve entrar no teatro com o celular ligado e carregado.

Se o espectador receber uma chamada, durante o espetáculo, poderá atendê-la?

Entendo e quero que o que estará acontecendo seja envolvente. Para que haja uma emergência desse acontecimento, em cada pessoa se fará preciso e precioso estar atento e isso implica em atender o telefone só depois…

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O SOM

Música em Letras – Como você define o trabalho de escritora de foto e grafia de Vanessa Basda?

Luiz com Z – Vanessa tem linguagem diferenciada e une literatura, em textos ou poesias, à fotografia. Isso por si só vibra como penso arte e vida, uma coisa só, vem de dentro, parece música, parece a minha música.

Há quanto tempo você a conhece?

Faz alguns meses, quatro talvez, e foi no ambiente do aplicativo Instagram, conectados por trabalhos postados de e por Gal Oppido, no projeto“Luz Marginal”. O trabalho do Gal tem densidade profunda, o que imediatamente revela seus modelos na mesma densidade. O passo seguinte foi conectar-me com ela e de cara em seu perfil li:“Há celebrador de partículas”. Foi a chave: “ela é quântica”, pensei.

O que diferencia a escrita dela de outras?

Não entro por esse caminho, mas sim que a arte é isso: te toca? Provoca? Mexe? Enfim, foi muito impactante o quanto havia de conteúdo no que ela chama de combo, a foto e o texto, escrita contemporânea, criação de palavras, metáforas, símbolos e uma textura de aflições humanas. Não sou um cara dos livros, mas o combo é forte, é pra se ler várias vezes e se faz como música, começa a “tocar” na cabeça.

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Por que você decidiu levá-la ao palco para dividir esse espaço com você e sua música?

O que me fascina na vida de viver de arte é um mix de verdade, criatividade, dar a cara a bater, mas, fundamentalmente, expressar seu tempo na Terra, sua cultura. Hoje, aonde nada se pega, tudo está no ar, em frequências e partículas, não vejo a música como a via há dois anos: a repetição e forma estética agora já são outra coisa.

Por outro lado, o Duofel, dueto de violões do qual participei 40 anos, acabou. Me senti bastante livre para experimentar caminhos e linguagem. Convidei Vanessa para um collab no Instagram e ela topou de imediato. Com algumas autofotos dela, criei e musiquei vídeos de 20 segundos; ela completou com textos e assim criamos uma série com quatro vídeos, que por consequência de serem veículos contemporâneos, tornaram-se NFT [ tipo de certificado criptográfico ligado a um produto digital e que garante sua autenticidade].

Legal dizer que tudo aconteceu no plano virtual dentro do ambiente do Instagram. Nossa conexão artística é quântica e há dois meses iniciei um novo projeto de álbum e, aí sim, uma fonte inesgotável de criação COM e JUNTO surge de forma bruta, em pedra, cristalina, reflete e cria espectros.Do nada recebi um convite para realizar um show no Teatro da Rotina. Não tem pensamento, né?! Dá uma vontade, um feeling do tipo: “seria maravilhoso fazer deste convite um piloto para um show que reflita esse tempo de hoje, setembro de 2021”.

Mandei uma mensagem e Vanessa disse sim, de novo, de imediato. Faz 15 dias que nos conhecemos pessoalmente.

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O que é “Matemagia em Música e Letra”?

Não é um show, mas um CYPHERS, linguagem do hip-hop, rap e o que estamos propondo batizamos de RHeL, ritmo, harmonia e literatura, com uma grande diferença: vamos usar o Instagram como interação e publicação do que estaremos criando em tempo real, e a plateia interage com seus celulares. O que será contemplado é a criação em tempo real, no fluxo.

O que há na escrita dela que o inspira a compor e tocar?

Adorei a pergunta, porque a resposta é muito simples: mexe comigo! Fiz uma escolha de viver no fluxo, no aqui e agora com o que me define no instante e o que a Vanessa escreve, às vezes, corre nas veias; outras parece que é comigo, mexe comigo, percorre, reflete e eu mexo.

Luiz com Z e Vanessa Basda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O que as pessoas devem ter em mente quando assistirem ao show?

Nada, gostaria que não tivessem nada em mente, mas sim coração e alma porque a proposta pontual é que possam acessar suas emoções e viver a criação enquanto em curso, hoje uma verdadeira joia. Entre os pré-requisitos para assistir ao show, o público deve entrar no teatro com o celular ligado e carregado.

Se o espectador receber uma chamada durante o espetáculo poderá atendê-la?

Sim, o celular carregado e sem som e não deve atender a chamadas. Mas isso não me preocupa, pois acredito pra valer na força em arte final e energia contida. Seremos um todo, em pedra cristalina.

Assista, a seguir, ao vídeo exclusivo que o Música em Letras fez, trazendo um pouco do que vai rolar nesse encontro artístico no qual a palavra e o som se entrelaçam de maneira pouco ortodoxa.

TEXTO DE VANESSA BASDA

pra onde é que a gente vai em quando chega?
há casa, lar casulo de corpo
carro-céu vascularizado
de caminhante no movimento
infindo em acontecimento
chega a ser remédio, há dose da razão
de morada de desejo
de lembrar de vivo,
de adentro há ver eco, natural órgão
carne em dádiva, divino em canto
com tento de íntimo contentamento
de feito amadurecimento
de criança ser o imenso
de há celebrar partículas que deixa
o velho do camelo
e depois diz não, aquele do leão
de livrar-se ser de lendo
em ato contínuo, diz circuito
virtuoso e ativo. vínculo!
chama sim e afirmativo
de forjar e bendizer de fogo em rio,
de novo desenho
há arquitetar às águas, diz afetos,
de construir à caminho
e floRIR
há mando de não ser vencido
pela vitória, vem sendo de agente
de começo ser sem fim, de feito cypher
de zerar, iniciático em acabamento
e não chega, com passos
de indo, expansivo,
de feito arte de viver
de cartografar de lendo símbolos,
já nela, cruza de há travessa, há borda
faz litoral, descoloniza e vaza…
VB

 

MATEMAGIA EM MÚSICA E LETRA

ARTISTAS Luiz com Z e Vanessa Basda

QUANDO Quinta-feira (30), às 20h

ONDE Teatro da Rotina, rua Simão Álvares, 697, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 910449493

QUANTO R$ 50 (ingressos antecipados) e R$ 100 na porta