Arismar do Espírito Santo conta como foi tocar na Europa, em tempos de pandemia
O multi-instrumentista Arismar do Espírito Santo, 65, retornou há uma semana da Europa, onde esteve em quatro países: Áustria, Suíça, Alemanha e França. Neles realizou, em 25 dias, sete shows: dois, em Viena; dois em Basel; um, em Genebra; e dois em Saint André de Najac, além de três masterclasses em Viena, Karlsruhe e Genebra.
Para saber mais sobre essa turnê leia e assista em https://musicaemletras.blogfolha.uol.com.br/2021/08/25/multi-intrumentista-arismar-do-espirito-santo-leva-cataia-para-europa/.
O Música em Letras entrevistou o artista para saber sobre as apresentações que ele realizou em trio, com o contrabaixista Glauco Solter e o baterista Mauro Martins, e como está sendo esta retomada de shows presenciais, entre outros assuntos.
Leia, a seguir, o que Arismar do Espírito Santo disse nesta entrevista concedida exclusivamente para o blog.
Música em Letras – Qual e onde foi a melhor apresentação, e por quê?
Arismar do Espírito Santo – Todas as apresentações foram ótimas. Cada qual com sua dinâmica e seu calor humano. O primeiro show foi na embaixada do Brasil na Áustria, onde fomos muito bem recebidos pelo embaixador Antonio Marcondes [José Antonio Marcondes de Carvalho] que liberou, desde o primeiro dia de nossa estadia (Glauco e eu cumprimos quarentena de cinco dias lá), a sala de concertos com um piano Steinway maravilhoso. Foram cinco dias em que Glauco e eu tocamos o tempo todo, passando nove temas novos, que seriam gravados ao vivo em Basel, na Suíça, uma semana depois. No quinto dia chegou Mauro Martins e o som do trio voou. Esse foi um grande show, com o gosto de ser o primeiro de uma temporada, para representantes de vários países. Na apresentação, o público cantou junto, abrindo vocal. Foi lindo.
As outras apresentações também foram perfeitas, cada qual com um público e uma dinâmica muito especial. No Porgy and Bass, um concerto de jazz; em Basel, a gravação ao vivo dos temas; em Genebra, um concerto especial para alunos; e na França homenagens ao grande Raul de Souza, com Glauco Solter e Zazá Desidério [baterista e percussionista]. Talvez tenha sido o show com maior emoção, onde tocamos um tema que fiz em homenagem a ele “Na cuida de um sonhar livre”.
Como você lidou com as medidas sanitárias que estão sendo tomadas na Europa para a realização de shows e masterclasses presenciais e o que deveríamos copiar no Brasil?
Meu nariz virou uma cuíca. Em 25 dias de viagem foram quatro testes de covid. Para todos os shows e aulas, para comer nos restaurantes, para se hospedar nos hotéis, para as viagens de trens e avião, para transitar livremente sempre era exigido o teste PCR, com validade e comprovante de vacina. Eu fiz todos os shows e masterclasses de máscara: vovô de surdina. Um cuidado a mais com todos.
No Brasil, o que precisa ser feito é uma cobrança da vacina e do teste da doença, sistematicamente. Devem cobrar, como em vários lugares da Europa, o certificado de que a pessoa foi vacinada, caso contrário ela não entra no local.
Passaram algum aperto por conta da pandemia?
Difícil manter distanciamento, em especial após os shows e masterclasses. A vontade é abraçar, ficar perto, trocar afetividade, mas nesses tempos não podemos. Não passamos perrengue. Fomos acolhidos por amigos, antigos e novos, em todos os lugares. Esse carinho e calor superou a necessidade de afastamento social.
O que vocês ganharam com essa experiência?
Foi um verdadeiro resgate de confiança e coragem depois de 18 meses no “case”. Vinte e cinco dias de música e parceria, fazendo cada vez mais crer na força dos sons, do improviso, da saúde mental e física e da liberdade universal que acolhe e abraça o ser músico. Estou ansioso para fazer esse show do disco “Cataia” no Brasil.
Com relação ao seu trabalho, o que está por acontecer, onde e quando?
Algumas coisas vão acontecer online, outras, presenciais. Tenho a finalização do CD gravado ao vivo nos dois concertos realizados no Bird’s Eye, em Basel, na Suíça. No dia 29 deste mês gravo uma aula para o Instituto Acqua – Ação, Cidadania, Qualidade Urbana e Ambiental para o projeto Música Livre. Na sequência festivais e camps de música no Pará, a convite do fantástico Sebastião Tapajós; no Maranhão, com o show do “Cataia”, no palco Mundo do Lençóis Jazz e Blues Festival 2001; no Ceará, em Jericoacoara e Sambaíba; e na Ilha do Mel, no Paraná. No dia quatro de dezembro participo do concerto do projeto “Encontros Históricos – Série 1”, como convidado da Orquestra Jazz Sinfônica, ao lado de Hamilton de Holanda e de de Hermeto Pascoal, na Sala São Paulo.