Em carreira solo, Luiz Bueno celebra o momento da criação
O violonista, compositor, arranjador e produtor Luiz Bueno, 70, mudou totalmente de vida durante a pandemia. Mudou-se de um apartamento para uma casa, de estado civil e encerrou sua atividade como integrante do Duofel, no qual atuou ao lado do violonista, compositor e arranjador Fernando Melo por 42 anos.
Atualmente solteiro, após um casamento de 30 anos, o músico está namorando a arte de amealhar os sons em busca de um único objetivo: “Fazer a música que tenho vontade de tocar, na hora”.
Para isso, trabalho não lhe falta. No período de um ano e meio, Luiz Bueno lançou mais de 30 músicas, em dois álbuns, e vários singles, além de ter realizado uma infinidade de projetos envolvendo várias lives, uma peça de teatro, um curso, 50 podcasts entrevistando outros músicos e ressignificou para si o mercado fonográfico.
O Música em Letras esteve com o artista em um estúdio de gravação, em São Paulo, e gravou com exclusividade para o blog uma das músicas que fará parte da série “Anthares”, que de acordo com Luiz Bueno marca seu primeiro trabalho “sério” pós-Duofel. Um trabalho no qual o momento da criação é celebrado, registrado e compartilhado. “Deus quer que a gente crie e não que a gente copie”, disse.
Leia, a seguir, a entrevista exclusiva que o instrumentista concedeu ao Música em Letras e assista, no final do texto, ao vídeo no qual o artista concebe “Cria”, música de sua autoria.
Música em Letras – O que provocou o fim do Duofel?
Luiz Bueno – O Duofel sempre foi “fora da curva”, e por conta disso correu por fora no segmentado mercado fonográfico brasileiro, o que demandou muito trabalho no dia a dia, por detrás da música em si. Criamos uma estrutura que acabou dando certo, por outro lado, foi cansando a convivência diária. Com a chegada da COVID e da pandemia, resolvemos dar fim a nossa parceria de 42 anos.
É incrível, mas um violonista depende de um milímetro de unha para que sua performance seja satisfatória e, durante a pandemia, em casa, álcool em gel o dia todo, as unhas foram quebrando…parecia até um anúncio dos céus. O produto musical do Duofel depende totalmente da interação e isso significa prática diária.
Não foi fácil colocar um ponto nessa jornada, mas em julho de 2019 finalizamos o duo com uma live memorável em nosso canal do YouTube.
Qual a maior lição que você aprendeu com o Duofel durante os 42 anos de sua existência, como músico e como pessoa?
Ética e verdade na sua arte são os primeiros pilares na estrutura de um trabalho artístico e isso ficou muito claro em nossa trajetória. Não querer agradar, mas sim se apresentar, dar a cara a bater transmitindo seus pensamentos e vivências em sua arte, seja ela qual for.
Outra coisa que ficou evidente para mim é que não tem conversa, tem que trabalhar diariamente. Criar é como malhação, é [com exercício] diário que se constrói o corpo saudável para as ideias transitarem. A autenticidade é o elemento-chave para o crescimento e desenvolvimento técnico, pessoal e de critérios de conteúdos artísticos.
O mais importante para mim foi entender que sozinho a vida é bem mais difícil, e aí, sim, tem que se criar uma estrutura sólida como um tripé: arte, ciência e espiritualidade. Esse é o maior legado dos 42 anos de Duofel.
Nesses 42 anos de Duofel, você ganhou dinheiro o suficiente para sair da ralação?
Não, aliás isso já se deve saber muito antes de querer ser e viver de música, e não é só no Brasil, mas sim em todo e qualquer lugar do mundo. Tem que ralar todo dia e em diversas direções, como estudar a parte técnica, manter equipamento sempre de ponta, que demanda investimento e mais…
O músico em geral não tem visão de mercado e capital, o que eu acho um grande erro, pois o sistema está aí, gira e funciona. Poematizávamos dinheiro…Não tem dinheiro? V ao banco, faça um empréstimo e toque seu negócio para frente. Daí você tem retorno e continua ralando como todo mundo, igualzinho, e com uma grande diferença, você está investindo em seu prazer de viver, com qualidade e compartilhando seu talento único com a humanidade.
Como você tem enfrentado o período da pandemia com relação ao trabalho?
No dia 11 de março de 2020 completei 69 anos de vida, e dois dias depois, era anunciado em todo o mundo a pandemia por conta da COVID-19. Sempre fui uma pessoa muito crítica em relação a formas de se viver no consumismo desenfreado. Posso dizer que cada viagem do Duofel eram momentos profundos de observação e reflexão que nasciam sobre como as pessoas vivem em seus núcleos de cidade e família, então não me surpreendi com a notícia, mas, ao contrário, dei início à minha forma de pensar sobre a vida dentro de uma perspectiva quântica e espiritual.
Inaugurei um curso totalmente gratuito cujo tema era Vivência para Criação de Conteúdo Artístico e Cultura por onde passaram 57 pessoas de todas as idades, gêneros e cor. E foi refletindo sobre o momento pandêmico, que pensei que aquela era a hora de cada um refletir também sobre sua vida e voltar à velha casa, nos dois sentidos, físico e introspectivo.
Pois bem, isso me levou a lembrar que quando meu irmão mais velho, Nelson, foi morto em um assassinato brutal, eu havia gravado algumas músicas espontâneas, sem pensamento, somente expressão dramática ao violão naquele momento (2002) e fui buscá-las em meus arquivos de ProTools [programa de edição de música]. Chamei o produtor e músico Raul Misturada para que ele criasse uma ambiência onírica como se fosse a trilha de um filme que nunca existiu…Claro que ele topou, afinal é um grande parceiro no pensamento da música. Lancei nas plataformas digitais, com capa de Gal Oppido [fotógrafo], tudo feito a distância, com sete temas que passeiam pela velha casa, como o tema “De Volta à Velha Casa”.
Iniciei também duas lives no Instagram, sendo que uma delas, “Cafezinho na Padoca”, foi ao ar por um ano e seis meses trazendo um ambiente descontraído para se falar e fazer arte, sempre às terças, às 17h. Também em formato de live no Instagram, criei um programa de entrevistas, um talk show nomeado “A Música que Sustenta o Mundo”, que se tornou um podcast, que está no ar em todas as plataformas digitais com bate-papo e canjas de 47 artistas, entre eles Hermeto Pascoal, Elle Oleria, Benjamin Taubkim e muitos outros.
Também compus a trilha para a dançarina e antropóloga Sofia Osório, contemplada pelo Itaú Cultural. Junto com o ator João Signorelli, criei o “Pílulas de Reflexão”, onde João grava em sua casa alguma frase de grandes personalidades e eu faço a música da minha casa. Publicamos quase 50 pílulas desde 2020 e ainda criamos o espetáculo dramático musical “Com Fernando Pessoa a Música Voa”, sempre criando a música em tempo real, ou seja, no fluxo. Deste projeto fizemos duas apresentações presenciais no hotel Ponto de Luz e três outras em lives.
Outra frente que abri foi com a novidade em NFT [tecnologia que permite comprar obras digitais originais] com Gal Oppido. Criamos uma série de gifs com três episódios que inclui arte gráfica, música e vídeo, e também com a escritora de foto e grafia, Vanessa Basda, uma série com três episódios que inclui vídeo, fotos, música e poesia.
O meu maior projeto nesses tempos foi e está sendo o “Música no Fluxo”, no qual crio e gravo a música que me toca ou que ouço enquanto gravo.
E sigo… Tudo isso para que o maior número de pessoas possa pela arte “voltar pra casa”…
Como você vê o mercado fonográfico na atualidade?
Agora você tocou num ponto que há tempos venho percebendo e estudando: o mercado atual e a música que estamos fazendo. A quem atende?
Vamos às contas: quanto custa gravar um single com alta qualidade de áudio em bom estúdio, mixar e masterizar, com capa assinada por algum artista gráfico? Não sai por menos de R$ 5 mil reais.
É claro que não para um solista que tem um amigo dono de um estúdio e tal, mas isso não vale como regra. Continuemos nas contas: o streaming paga por volta de R$ 0,001 por streaming, então quando poderíamos reaver os R$ 5 mil investidos? Essa conta não fecha para nós instrumentistas. E, veja bem, nossa linguagem instrumental requer excelência em tudo que envolve o conteúdo e o produto em si.
Se pensarmos em um álbum em vinil, aí então pode esquecer. Por outro lado, os carros e computadores há tempos não mais possuem equipamentos para tocar CDs ou DVDs, o que me faz perceber que agora a maneira de se ouvir música é outra, em playlists eletrônicas, onde o ouvinte quase nunca sabe ou mesmo se interessa pelo que está tocando, e isso faz com que não se crie fidelização artista/fã.
Já deu para ver que o negócio da música foi catapultado. Apenas os donos de banda larga, telefonia, plataformas, fabricantes de celulares e aplicativos de música é que estão fazendo dinheiro, menos os autores e intérpretes.
Tudo isso junto me fez mover para uma outra forma de viver de música. A princípio não posso gastar muito para gravar e realizar todo o processo que envolve uma gravação até estar disponível para consumo. Então, agora penso a música não como aquela forma a que estamos acostumados desde a sua criação.
Partindo do princípio de que já trilhei uma boa jornada na música e sou um dos maiores expoentes mundiais, isso me credencia a criar a música enquanto gravo, ou seja, agora a gravação “escaneia” o momento da criação, sem pensamento ou direção, mas o simples momento criativo que será registrado e colocado à disposição para ser ouvido a qualquer instante em alguma playlist.
Certamente o custo irá cair brutalmente e passa a tornar viável investir para colocar uma música no ar.
Qual a melhor maneira e onde a música instrumental pode ser difundida?
Entendo a música instrumental com um papel bastante interessante em qualquer situação e em qualquer lugar do mundo. Ela “fala” e se expressa em todos os lugares, pois não tem a barreira da língua, da letra, da poesia; ela só cria um espaço e cada um preenche e se preenche desse espaço à sua maneira.
E acho bem difícil falar nisso, sobre a melhor maneira e onde a música instrumental pode ser difundida, pois conheço a mídia; ela não tem interesse em divulgar os trabalhos de arte, e a música instrumental é mais artística mesmo.
Não sei o melhor lugar. Nós, os músicos, fazemos a nossa parte, produzimos e disponibilizamos nas plataformas digitais, entra e joga o jogo, mais ou menos como sempre foi no caso da música instrumental. Eram outros meios, mas nunca foi simples ou fácil.
E ainda sobre fazer música na hora e as playlists, entendo que hoje, com as plataformas digitais, a gente precisa jogar com o algoritmo, entender o tempo de postagem entre um lançamento e outro. No meu caso, produzo singles tendo como objetivo a compilação deles em um álbum.
No último lançamento foram nove singles, um a cada mês, nove meses, e no décimo mês, o álbum, a coletânea. O álbum funciona como playlist e se você lançá-lo no algoritmo da plataforma digital que está querendo trabalhar é possível sim ampliar o alcance e o público desse trabalho.
Escolhi a plataforma Spotify e lanço um single novo a cada 28 dias, como no calendário Maia, e é interessante. Seguindo as análises do Spotify para artistas, tive um aumento de 20% na última música que divulguei no mês passado, chamada “Engraça”, que fará parte do próximo álbum.
Explique como é o processo de produção do que é gravado no estúdio.
Como falamos anteriormente, o processo de produção hoje se dá pelos singles, a compilação em álbum e por fim a playlist. Essa é a jogada do mercado e eu venho fazendo isso.
Agora estou na segunda fase do projeto de implantação desse entendimento, vamos dizer, desse novo momento, novo mercado.
Não vejo a menor possibilidade de investir muito dinheiro em uma gravação hoje, então vou para um bom estúdio (inclusive estou em um dos melhores do Brasil, o Space Blues, comandado pelo mestre na engenharia de gravação que tem Disco de Ouro, Grammy Internacional, o querido Alexandre Fontanetti), loco por apenas duas horas o espaço do estúdio e o técnico. Esse período inclui gravar criando a música, aquele escâner a que me referi anteriormente e isso é muito interessante, pois todo músico tem esse criar no momento, ele é extasiante e também passa por erros e aqui está o ponto: poucos querem fazer desse modo.
Voltando ao processo, enquanto o técnico está envolvido na própria tecnicidade que envolve a gravação, nos microfones, sigo aquecendo, vou tocando, e a música vem, porque faço isso todo dia, não é um evento. O momento especial é registrar, e quando o som está totalmente equalizado começo a gravar para valer. Geralmente faço quatro ou cinco takes de músicas não longas.
Entendo também que não precisa ser longo, sem muita “pira” no tempo, pois a música instrumental tem isso de criar espaço… Então, nessas duas horas, a gente mixa (são quatro microfones a se juntarem a uma panorâmica que se ouve e as ambiências de reverbe) e, por fim, o processo de masterização.
Nos 15 minutos finais desse período de duas horas, fazemos várias audições e volto pra casa, muito feliz, já ouvindo a música pronta pra subir na plataforma.
E é isso o que quero dizer, custo-benefício, usei duas horas de estúdio e saí com uma música pronta. O alto custo das vias tradicionais não retorna. Recebo hoje um retorno, vem melhorando, mas ainda é bem pouco.
A criação musical espontânea que foi gravada na terça-feira (17/8/2021) já tem um nome?
Esse é um trabalho muito especial. Primeiro porque venho trabalhando desde meu primeiro disco, aos 16 anos, com quatro músicas autorais, na época com minha bandinha do bairro. E antes ainda dessa idade, com uma percepção de que a vida poderia ser diferente, com um outro olhar.
Trilhei uma jornada bem longa, principalmente com o caminho do Duofel, que me levou aos maiores palcos do mundo, e à convivência com incríveis criadores do mundo das artes e do etéreo, onde aprendi muito até chegar nesse momento, agora. Esse novo trabalho parte de um processo criativo muito interessante e contemporâneo, que envolve muita coisa.
Quando concluí o “Música no Fluxo” e “Luiz com Z”, em julho, estava no processo de seguir com uma nova música a cada 28 dias no ar. De repente, tive um estalo dentro do Instagram. Encontrei uma artista que me trouxe sinais de que trabalha de uma forma quântica. Eu trabalho assim e é difícil encontrar quem também trabalhe desse modo e somente nesse tempo, nos meus 70 anos, isso veio a acontecer.
Essa artista posta combos artísticos de foto e grafia: poemas com versos em linguagem subliminar e de formas novas, acompanhados de fotos incríveis. Eu a conheci através do Gal Oppido, somos amigos em comum, e quando me deparo com o perfil dela leio na descrição da bio: “Há celebrador de partículas”. Foi exatamente o ponto de conexão que cria pra mim essa viagem ao mundo de Anthares.
Então estou criando uma viagem a essa estrela, Anthares. E é muito louco porque na minha adolescência fui escoteiro e tinha um grito de guerra: “Pelos caminhos árduos até as estrelas. Anthares. Anthares. Anthares!”. Isso ficou na minha cabeça e eu nunca entendi, mas logo na sequência, no começo dos anos 70, assisti a um filme -e depois li o livro- chamado “Matadouro 5”. A história é sobre uma pessoa que tem uma grande viagem na vida, um momento em que ela se conecta com um lugar onde só tem ela, e é uma estrela. Entendeu a conexão? Pronto, cheguei aonde eu queria…Cheguei aos 70 anos sem o Duofel de 42, sem meu último casamento de 30 e os outros anteriores, sem muitos amigos que fiz questão de cortar relação, e parti para um mundo novo e aí começa esse projeto, pois nesse lugar de Anthares, todas as coisas que eu consigo criar podem acontecer e esse é o átomo principal desse projeto. Cada música se relaciona com uma foto e grafia da Vanessa Basda e é muito interessante porque nós não nos conhecemos pessoalmente; nós só nos reconhecemos como pessoas e é um alimento. Vou para o estúdio, entro e faço a música que eu sinto na hora.
Embora venha estudando as afinações, como por exemplo nessa música que se chama “Cria”, que você presenciou a gravação, usei uma afinação alternativa em um violão de nylon, com algumas cordas diferentes também, como a primeira nota em fá, a segunda em dó, a terceira é sol, a quarta é ré, a quinta é sol, a sexta é sol, sendo que a quinta e sexta, as duas cordas, são de calibre mais grosso para poder segurar a onda grave e abrir o espectro de criação e aí entra Deus. Deus é criação, Deus é criar, né?!
Sinto um negócio muito maior que tesão ou o que se costuma ter como referência para falar sobre prazer…Registrar a criação com seus erros e dificuldades…E isso se tornará um álbum em vinil; já estou conversando com Gal Oppido, que é quem fará a capa e foi a pessoa que nos uniu e vamos disponibilizar todas as fotos e poemas que fazem parte de cada música.
Então, estou muito empolgado com o álbum, com a criação desse momento, acho bastante contemporâneo. Não gosto de olhar para trás, embora às vezes seja preciso, mas só pelo espelho, sabe?!
Escolhi fazer um álbum para audiófilos, por isso o vinil, com uma média de 16 minutos (tempo que a gente pode considerar a melhor qualidade de som) de cada lado, lado A e lado B. No take da música “Cria” tivemos a participação do Raul Misturada produzindo a faixa junto com o Alexandre Fontanetti.
Você já criou duas séries, a “Música no Fluxo”, com 9 músicas, e a série “Old Surfers”, com 16 músicas. Defina-as citando duas músicas de cada uma delas, descrevendo-as musicalmente.
Sim, já criei duas séries, a “Música no Fluxo”, com nove músicas, e a série “Old Surfers”, com 16 músicas, e já gravei mais umas oito [músicas]. Estou fazendo muitas coisas mesmo, estou no fluxo.
Vou citar duas músicas do álbum “Música no Fluxo”, primeiro a “Luz de Egberto”, porque fiz essa música com Egberto Gismonti na cabeça. Ele havia ligado pra mim na noite anterior e batemos um papo de quase duas horas, e no dia seguinte ele apareceu na gravação, feita com violão tenor. Foi de uma espontaneidade tão maravilhosa que, quando ouço, eu choro. E eu não ouço, tem mais essa…Mas quando ouço, choro.
Mas é difícil escolher duas músicas pra citar, parece que estou deixando sete dos meus nove filhos de fora…Mas como falei da “Luz de Egberto” falo também de uma, super- astral, que nasceu numa noite de ayahuasca, nesse fluxo, e no dia seguinte fui gravar. A música se chama Ixã, que é o nome do pajé da tribo Huni Kuin, no Acre, a quem dei um violão que ele aprendeu a tocar e toca muito bem, e doei os direitos para a peça “Tribo” com NAWA. Nessa música tive a participação de um xará e toquei contrabaixo, violão de aço e ukulele barítono, tudo na hora. Sobre “Old Surfers” é o seguinte: gosto de experimentar. Se você pegar os 13 álbuns do Duofel, você verá que um não parece com o outro, não há uma sequência, é sempre um experimento, e essa era muito a minha parte. Quis experimentar com música eletrônica meus diversos instrumentos. Então, chamei o Manoel Vanni para que produzisse algumas faixas e ele se entusiasmou tanto que chamou o Renato Patriarca e formamos um trio. E deu muito certo.
Recentemente assinamos um contrato com a Universal Music e as músicas estão entrando em playlist. Todas as músicas trazem nomes de elementos surfers, como a “Sex Wax”, uma parafina que se usava nos anos 70. Nela toco violão de nylon com música eletrônica, um lounge, e em “Aloha”, com uma guitarra muito livre, meu primeiro instrumento, quase jazzístico com um timbre característico dos anos 60.
Essas séries têm gerado uma boa repercussão?
Esse negócio de música instrumental é um nicho. Entendo que é muito difícil construir uma imagem fora do Duofel com a idade que tenho, de uma forma realista, ao olhar o mercado. Então, não estou dando muita bola pra isso, estou simplesmente fazendo o que tenho que fazer. Vim pra fazer isso.
Hermeto Pascoal dizia pra mim há uns quatro ou cinco anos: “Lula (é assim que ele me chama), você tem que largar o Fernando, sua música é outra. Você já está livre daquela música, tem que fazer um outro som.” E acho que esse outro som que o Hermeto falava está vindo agora, nesse novo projeto.
A partir do momento que abri o Spotify e comecei a trabalhá-lo um pouco mais, os números estão aumentando. O Duofel, que é quase uma instituição, tem 1.100 ouvintes mensais no Spotify. Eu, solo, tenho 490, antes tinha 100. E quando falo que trabalho, trabalho no algoritmo. O meu trabalho verdadeiro é criar.
Tem dado certo sim, tenho sido procurado por alguns veículos da mídia de forma espontânea, que querem saber e entender sobre a música no fluxo e percebo que aos poucos está criando uma expectativa para quem gosta de experimentações, do novo. Fiz vários programas de TV, lives, rádio, tudo dentro desse ambiente virtual.
Complete as frases a seguir.
Mudar é…Mudar pra mim não tem sentido. Gosto de mutar, experimentar.
Mudei porque…é preciso; se é preciso, eu muto.
Sabemos que é hora de mudar quando… Quando a gente acorda e sente, a gente sente, tem dias que a gente vai lá faz o que é preciso ser feito, uma complementação de ontem e você tem que terminar hoje, e tem dias que você muda. E eu vou te falar, estou mudando cada dia.
Criar é…Deus, criar é piar, quem cria, pia, quem copia, não pia…
Crio músicas na hora porque…pra mim a hora de se fazer música é essa, agora. As pessoas estão precisando de verdade. Quando você cria uma música na hora, é a máxima expressão da sua verdade naquele momento e você pode mudar, viu?
O mercado fonográfico deveria…prestar mais atenção em mim e em pessoas como eu, que dão a cara a bater.
O músico deveria…praticar sua música e ter um compromisso com o não copiar.
O governo deveria…governar. Simples.
A mídia deveria…Interessante, deveria “midiar”, contemplar pessoas que têm verdadeiros talentos únicos para a profissão.
A música instrumental possui a capacidade de…promover a viagem ao invisível.
Assista, a seguir, ao vídeo no qual Luiz Bueno cria a música “Cria”.