O trombone eclético de Joabe Reis no palco do Bourbon Street
O Música em Letras esteve nesta segunda-feira (19) no home estúdio do trombonista, arranjador e compositor Joabe Reis, que faz show de seu primeiro CD “Crew in Church” nesta quinta-feira (22), no Bourbon Street, em São Paulo.
Além de conceder uma entrevista ao blog, o artista gravou um vídeo com exclusividade para o internauta e fez um faixa a faixa sobre o disco (veja vídeo no final do texto).
Joabe de Freitas Reis, 29, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim (ES) e trabalha profissionalmente com música desde os 15 anos de idade. Versátil, já acompanhou artistas de diferentes gêneros musicais como a cantora Anitta, o guitarrista e compositor Toninho Horta, o maestro Nelson Ayres e o compositor e cantor Ivan Lins.
O trombonista iniciou os estudos musicais na igreja Assembléia de Deus, em Cachoeiro de Itapemirim (ES). Lá teve aulas de teoria musical. “Paralelo à igreja, comecei a ter aulas na banda da cidade, chamada Banda Lira de Ouro. Em 2006, mudamos para a capital, Vitória, onde ingressei no curso livre da FAMES (Faculdade de Música do Espírito Santo). No mesmo ano, entrei na orquestra Pop&Jazz, onde o Maestro Célio de Paula me ensinou harmonia e me apresentou o jazz e suas vertentes”, disse o artista.
Leia, a seguir, o que o músico disse sobre sua carreira, a pandemia, o disco e o show que fará ao lado de músicos excelentes como ele. A banda do show? Além de Joabe Reis (trombone), participam dela Josué Lopez (sax tenor); Sidmar Vieira (trompete); Cleverson Silva (bateria); Felipe Pizzutiello (contrabaixo); e Leandro Cabral (teclado).
MÚSICA EM LETRAS-Você passou por outros instrumentos antes de chegar ao trombone. O que o levou a optar pelo trombone?
JOABE REIS-O meu primeiro instrumento foi o sax-horn. Toquei por cerca de seis meses esse instrumento; na sequência o maestro me passou para tocar bombardino na banda. E cerca de cinco meses depois, por necessidade de trombonista na banda, o maestro me passou para o trombone e assim começou a minha trajetória nesse instrumento.
Musicalmente, qual a maior contribuição que a igreja deu a você?
Eu passei a minha infância e adolescência na igreja evangélica Assembléia de Deus. A igreja me preparou de diversas formas, pois eu tive contato com a banda marcial, tocava no grupo de jovens da igreja, que era um repertório mais pop, e frequentava os ensaio do coral da igreja com a minha mãe. Tudo isso, somada a influência que eu tive com os discos tradicionais da música gospel, fazem parte da minha vida até os dias de hoje. Quando sento para compor algo, impossível não me lembrar das melodias e harmonias dos hinos da harpa que toquei durante a minha adolescência.
Se você encontrar com Deus, qual tema tocaria para ele e por quê?
“In Pursuit of U”, que é a faixa nove do meu álbum “Crew In Church”. O nome já diz tudo, ‘Em busca de você’… em busca dessa paz, que está além dos céus, para onde vou todas as vezes que pego o meu trombone para tocar.
Sua versatilidade como instrumentista lhe deu a oportunidade de acompanhar artistas de diferentes gêneros musicais, como a Anitta, Toninho Horta, Nelson Ayres e Ivan Lins, entre outros. A que você atribui essa versatilidade?
Acredito que, além do meu empenho no estudo do instrumento, por eu me permitir trabalhar desde muito novo com bandas de gêneros diferentes, como pagode, funk, hip-hop, samba, gospel, salsa, bandas de baile etc. Não ter preconceito com nenhum estilo musical abriu portas para muitas coisas na minha vida.
Qual lição aprendeu tocando com cada um desses artistas?
Tocar com Ivan Lins foi uma realização. Sempre fui muito fã, sempre ouvi toda discografia dele e, para mim, é uma honra ter feitos tantos shows e ter gravado um disco com ele em 2018, o “Brasilidade Geral & Ivan Lins”. Em breve, vou lançar um single de uma música inédita do Ivan, que ele me presenteou há alguns meses. Com Ivan eu aprendi e aprendo sobre compor com o coração.
Nelson Ayres, meu maestro e amigo. Tocar com Nelson é simplesmente um sonho! Conheci o Nelson ainda criança através da TV, quando ele apresentava um programa instrumental na TV Cultura. O Nelson é um dos maiores arranjadores e pianista que eu já conheci. Uma honra poder trabalhar com ele e ter sua amizade. O cara mais generoso que já conheci!
Com Anitta, trabalhei algumas vezes. Uma grande artista, sabe o que quer!!! Incrível ver aonde ela chegou sendo tão nova. A forma como ela administra a carreira me inspira a insistir no meu trabalho também.
Toninho Horta, um querido amigo e ídolo! Desde que iniciei a minha vida musical eu tive contato com esse gênio! Só não imaginava que um dia trabalharia com ele, e mais: teria a honra da participação dele no meu disco. Viva Toninho! Uma aula sempre tocar com ele.
Como você tem lidado com a pandemia, com relação à escassez de trabalho?
A saída foi trabalhar on-line! Quando entramos em quarentena, eu montei um curso de trombone popular com duração de um mês. Os alunos tem quatro aulas, com um material exclusivo voltado para improvisação e harmonia. Fora isso, eu segui com as gravações on-line do meu home studio. Nos últimos meses realizei gravações de trombone solo e naipe de metais para diversos estados do Brasil, Nova York, Porto Rico, Texas e Madrid, entre outros lugares. Além de ter realizado diversas lives e produções musicais aqui de casa.
Qual a maior lição de vida que você teve com a pandemia?
Saber trabalhar a sua carreira na internet. Quem já estava fazendo isso há um tempo soube lidar bem com esse novo formato de trabalho, mas eu vi alguns amigos tendo dificuldade.
A pandemia serviu para muitos entenderem que o futuro (presente) é isso. Temos que saber trabalhar as nossas redes e entender como funciona esse mercado da música no digital.
Defina o conceito de seu disco.
Música urbana! Esse disco é um mix de todo tipo de música que você pode encontrar num domingo na [avenida] Paulista com artistas de rua ou na Sala São Paulo.
O que as pessoas devem ter em mente quando escutarem seu disco?
O jazz sendo tocado de uma forma mais dançante, porém sem perder as complexidades harmônicas encontradas nos solos individuais dos instrumentistas
O que as pessoas devem ter em mente quando forem ao show?
Que será um dia para ficar eternizado em suas memórias musicais.
Como é a sensação de poder tocar ao vivo novamente?
Rola um frio na barriga, mas faz parte! Meus companheiros de palco me deixam muito à vontade! Olhar para o lado e ver esses gênios que me acompanham faz com que eu tire o peso da responsabilidade de subir no palco do Bourbon Street.
FAIXA A FAIXA CD CREW IN CHURCH POR JOABE REIS
1-“Pamplona”, de Joabe Reis
Composta em 15 quando eu ainda morava na rua Pamplona, Jardins. Essa é a composição mais antiga do álbum! Fiz questão de incluir por adorar essa melodia do A.
2-“Mirror of Balance”, de Joabe Reis
Essa composição é de 2018, um “mashup”. Compus essa música após ouvir um som do Tom Misch, e fiquei com a linha de contrabaixo na cabeça. Daí nasceu esse tema, que já ultrapassou 20 mil plays nos streaming.
3-“Crew In Church”, de Joabe Reis
Essa é a faixa que da nome ao álbum. “Gang na Igreja” é a faixa que expressa com clareza essa minha vivência em estilos diversos. Basta ouvir a parte ‘A’ da música e a transição para a parte ‘B’ que você entenderá. Na parte A eu fiz questão de colocar uma harmonia que remete aos hinos das igrejas, e na parte B uma harmonia que remete ao hip-hop. Por isso do nome.
4-“AFGG”, de Joabe Reis e Racco
Essa música é a segunda composição mais antiga do álbum. A.F.G.G. é a única faixa do disco com letra. Convidei um grande amigo e rapper para essa faixa, e dei total liberdade para o Kivitz escrever o que ele sentia ouvindo a minha versão instrumental. E o “papo foi dado”! Ouçam e saboreiem.
5-“J&J”, de Joabe Reis
Essa faixa, que o nome mesmo é: Júlia & Joabe é uma composição de 2019, que fiz em homenagem a minha namorada, Júlia Andreatta. Uma das composições que eu mais gosto no álbum.
6-“Sobre o Mesmo Chão”, de Joabe Reis
Esse nome por conta da linha do baixo que quase sempre está sobre uma nota pedal sem movimentação harmônica! Nessa faixa eu consegui juntar um dos maiores trombonistas de jazz da atualidade, Elliot Mason e o grande percussionista baiano Ricardo Braga. Isso sim é jazz-brasil!
7-“Tema pro Joabe”, de Rafael Rocha
Composição do meu amigo e irmão Rafael Rocha, um dos maiores trombonistas e arranjadores brasileiro. O Rafael compôs essa música em 2017, quando estávamos planejando gravar um disco de quinteto. Como esse projeto não foi a frente, resolvi incluir essa bela composição no meu álbum, que contou com participação do Rafael e do Toninho Horta.
8-“Segundo Reis”, de Bruno Santos
Quando estava no processo de produção do meu disco, pedi para o Bruno Santos, grande trompetista e compositor para fazer uma vinheta para o meu álbum, e ele escreveu essa bela obra! Nessa faixa convidei os meus amigos do Rio de Janeiro: Jessé Sadoc, Altair Martins, Marcelo Martins, Danilo Sinna, Henrique Band, Alberto Continentino, Cleverson Silva, Sergio Assunssão.
9-“In Pursuit of U”, de Kiefer
Música de um grande pianista norte-americano, Kiefer. Esse composição dele, a primeira vez que ouvi nunca mais esqueci. Resolve regravá-la no meu disco, pois a gravação original foi feita por uma instrumentação eletrônica, programações, beat e etc! E ele quando ouviu, adorou! Fiquei muito feliz quando ele me disse: “Isso é exatamente como eu pensei ao vivo”.
Assista, a seguir o vídeo gravado com exclusividade para o internauta do Música em Letras, no qual Joabe Reis dá uma pequena amostra do seu som.
SHOW DO CD CREW IN CHURCH
ARTISTA Joabe Reis
QUANDO Quinta-feira (22), às 21h
ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 194, Moema, São Paulo, tel. 5095-6100
QUANTO Couvert artístico, R$ 50,00 antecipado, e R$ 60,00 na porta