Versão audiovisual do CD ‘Bai’ é lançada nesta quinta-feira (4)

Acontece nesta quinta-feira (4), às 20h30, no YouTube em https://youtu.be/26gwS_C2y0s, o lançamento da versão audiovisual de “Bai”, primeiro CD do violonista, cantor e compositor baiano Henrique Cartaxo.

O disco se chama “Bai”, em alusão ao apelido que deram ao músico, em São Paulo. “Um ‘baiano’ abreviado com carinho”, disse o artista entrevistado com exclusividade pelo blog, por telefone, de sua casa em São Paulo, onde mora há oito anos.

Bai, 33, é um dos compositores do “Samba da Quarentena”, postado neste blog em https://musicaemletras.blogfolha.uol.com.br/2020/03/23/em-meio-a-tanta-lama-nasce-uma-flor-em-forma-de-samba/

Leia, a seguir, a entrevista concedida ao Música em Letras pelo artista, que, além de falar sobre o disco, fez um faixa a faixa do novo trabalho para o internauta do blog.

Formado em midialogia pela UNICAMP, Bai é editor de vídeo e trabalha com cinema. É dele a edição das imagens que veiculam nos vídeos de cada música da versão audiovisual do disco.“São imagens minhas e de amigos que recolhi especialmente para esse trabalho”, disse o músico que terá o áudio do disco lançado nesta sexta-feira (5) nas plataformas digitais. Por conta da pandemia, o CD físico não tem data prevista de lançamento.

Bai não tem formação acadêmica em música, mas desde adolescente trilha o caminho traçado pelo cancioneiro popular. “A canção brasileira é um método, uma forma, uma linguagem de pensamento. No Brasil, a canção é a forma mais potente de nossa filosofia. Aqui, a música é a medicina, a psicanálise, e meu disco vai nessa linha. São músicas que fiz ao longo do tempo em que já estava morando em São Paulo. Por isso, ele traz muito sobre a minha experiência de vida na cidade. É mais um disco de um baiano morando aqui [São Paulo] e tem um pouco do estranhamento com a cidade, misturado às influências que passei por meio de relações humanas, e de estar sozinho. É uma mistura de saudade com os percursos da vida.”

No disco, que tem 11 faixas com músicas autorais, Bai toca violão, canta e escreve os arranjos, em parceria com Ivan Gomes e André Bordinhon, produtores do álbum.

Segundo o compositor, o disco deve ser ouvido com o intuito de acessar as emoções. “Quero abrir meu coração e um caminho para as pessoas acessarem seus sentimentos e refletirem sobre a vida.”

Leia, a seguir, o faixa a faixa do CD “Bai”, pelo compositor.

(Fotomontagem: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

1-“Taiobas”

“Em ‘Taiobas’ há um dedilhado meio meditativo que percorre a música toda, exceto em um refrão que entra uma coisa meio chacarera [ música e dança popular originária do noroeste da Argentina], uma coisa goiana. Fiz essa música quando estava em Parati, no Rio de Janeiro, fazendo um trabalho. Morava em uma casinha que tinha umas taiobas [planta comestível] no quintal que ficava observando. Na versão audiovisual, as taiobas originais que inspiraram a música aparecem. Depois que elas cresceram, eu compus essa música para elas e acabei por comê-las.”

2-“A Vizinha”

“Essa é a música mais mineira do disco por ter uma expressão musical mais forte em cima do Clube da Esquina. Eu passei um final de semana com o Toninho Horta fazendo um trabalho de vídeo de um show do qual ele participou para o lançamento do disco do Daniel Dias, que também está nesse meu disco, na faixa seis. Fiquei vendo os dois ensaiarem, voltei para minha casa cheio de ideias musicais e fiz essa música. Para gravá-la no disco chamei o Chicão [Rafael Montorfano, músico, arranjador e produtor musical], pianista maravilhoso que toca com a Gal Costa e é da Quartabê [banda que conta com Mariá Portugal (bateria), Joana Queiroz (sax, clarinete e clarone), Maria Beraldo (clarinete e clarone) e Rafael Montorfano (piano)]. O Chicão captou rapidamente a harmonia que criei para essa música e, quando ele começou a tocar, virou um sonho.”

3-“Hoje Vai Chover”

“Nessa música trato sobre o mês de Janeiro em São Paulo. É como um dia de verão, no qual vamos vendo o dia quente se transformar em um dia de chuva. Ela tem uma introdução que lembra uma caixinha de música, em compasso de 11 por 8, entra em um compasso de 4 por 4 e termina numa catarse, com pegada de maracatu bem contemplativa.”

4-“Piatã”

“Essa é uma balada, uma música mais pop. A letra foi feita com coisas que disse na minha primeira infância. São coisas que meus pais me contaram, não são de minha memória. É um olhar de criança, e por isso tem umas frases que não ficam tão bem, porque é um jeito infantil de falar. As histórias são reais, como a que lembro no refrão sobre um coqueiro que caiu. Estávamos eu e meus pais em Piatã, onde morávamos, quando vimos um coqueiro tombar na praia. Eles olharam para mim achando que eu iria me assustar, mas com a maior naturalidade eu disse: ‘O coqueiro caiu’. Eles se espantaram ao ouvir uma frase completa, porque eu estava aprendendo a falar. São memórias de infância que entraram nessa música junto com as saudades da Bahia.”

5-“Manifesto”

“Tem esse nome por ser uma declaração do motivo de eu fazer música, descrevendo canções, um jeito de cuidar de meu coração e de superar uma dor. É uma música de coração partido. É como se eu estivesse lançando um movimento artístico solitário, só meu.”

6-“Servo Bardo”

“É um samba-canção com uma certa bossa. Nessa faixa Daniel Dias, um mestre da harmonização, tocou violão, e  André Bordinhon fez um solo de guitarra de elegância ímpar. Ela vem de uma reflexão sobre o papel do homem nas relações amorosas. Somos educados para sermos dominadores, mas será que isso é mesmo interessante pra todo mundo? Podemos muito bem inverter isso.”

7-“A Tarde”

“Essa é minha música mais antiga. É de 2008, era uma música muito solar, muito para cima, celebrava uma vida tranquila, na qual você vai passear, dormir e seguir seu rumo normal. Mas, quando fomos fazer o arranjo, a política e a sociedade brasileira já não estavam muito bem e isso refletiu no arranjo deixando-a mais sombria. Ela acabou ficando mais tensa, mais pesada. Hoje, na quarentena, fazer uma música falando sobre passear ganha esse peso a mais também.”

8-“O Céu de São Paulo”

“Essa é a música mais Radiohead [banda britânica de rock alternativo] do disco, com referências bem claras musicalmente. É uma observação de uma sensação que tenho de que o céu aqui [São Paulo] é um teto. Em Salvador temos a sensação de que o céu está ao nosso redor, é uma abóboda, uma cúpula sobre nós. Aqui, não. É um teto reto mesmo. Não é uma metáfora, é uma observação mesmo sobre a desorientação da cidade rodeada de prédios e sem um horizonte claro.”

9-“Um Gigante”

“Aqui há um grito de força, de potência. Essa música demorou muito para ser feita. O refrão foi feito em 2006, quando sai de Salvador e cheguei em Campinas, mas ela teve várias versões antes dessa que me deixou satisfeito. Ela tem uma pegada Pink Floyd, atmosférica, interestelar, que virou esse grito. Sempre gostei de cantar alto, forte, e minhas músicas sempre foram calminhas, baixinhas. Então quis fazer essa. Quando ela ficou pronta, resolvi gravar no disco, por ser um recorte.”

10-“A Musa do Xerife”

“Uma música com jeitão meio de samba-canção. É a mais inspirada na obra de Caetano Veloso, que é uma referência para todo mundo. Ela dialoga com o filme ‘Onde os Fracos Não Têm Vez’, dos irmãos Coen. Tem várias situações diretas do filme, como a história de perseguição de gato e rato desse filme de ação, comparado com uma história de amor.”

11-“Presente”

“É um pouco oculto e meio difícil de captar, mas para mim ela é uma mistura das músicas ‘Paula e Bebeto’, com ‘Amor de Índio’ e um toque de ‘Vento no Litoral’. Foi um presente que fiz para dois amigos e que fala da vida de um artista de um jeito poético e cifrado, que cada um vai interpretar de uma maneira. Para mim é sobre o sacerdócio diário do artista, que tem de estar todos os dias trabalhando até encontrar uma pérola e poder ir em frente.”