A cantora Giana Viscardi e o pianista Gustavo Bugni apresentam-se nesta terça-feira (10), às 21h30, no Bourbon Street, mostrando a base do “flow” do disco “Rios Flutuantes”. O show faz parte da programação da Semana das Mulheres na Música, que abrange vários estilos de cantoras e propostas musicais recepcionadas pela casa.

O Musica em Letras esteve no ensaio dos artistas, que aconteceu no apartamento do pianista, no bairro da Pompeia, em São Paulo, entrevistou os integrantes do duo e gravou, com exclusividade para o blog, um vídeo no qual interpretam a canção pré-bossa nova “Solidão”, de Tom Jobim (1927-1994) e Alcides Fernandes.

A paulistana Giana Viscardi Nunes, 44, é cantora, compositora, professora de música e amealha 20 anos de carreira. Quatro anos mais novo que ela é seu parceiro de duo e conterrâneo, Gustavo Bugni, pianista, compositor, arranjador e também professor de seu instrumento, na estrada dos sons há 25 anos.

Os dois artistas se encontraram pela primeira vez atacando no Baretto, bar do hotel Fasano, em São Paulo. Do encontro surgiu a vontade de tocarem juntos por conta da identificação musical que tiveram. Montaram um grupo maior para o disco que estão gravando, “Rios Flutuantes”, o próximo de Giana Viscardi, e estão trabalhando, ou melhor, transitando nisso. “São parcerias nossas, arranjos do Gustavo e releituras”, disse Giana Viscardi.

Entre as 11 músicas que serão apresentadas, no show do Bourbon, dois standards de jazz: “Skylark”, de Johnny Mercer (1909-1976) e Hoagy Carmichael (1899-1981), e “You Do Something To Me”, de Cole Porter (1891-1964). “Tem poucos standards de jazz.  ‘You Do Something To Me’ foi arranjada com influências da bossa, daquela que foi gravada pelo João Gilberto. É um arranjo feito com essa ideia, da gravação dele”, disse Bugni, arranjador do disco e das músicas do show.

O arranjo do pianista feito para “Água de Beber”, abrange o conceito exposto no título do disco “Rios Flutuantes”.  Segundo Giana Viscardi, “toda a massa de água que evapora vai para o ar, navega e vai para outros lugares. Precipita num lugar, depois evapora e vai para outro lugar. Essa música [‘Água de Beber’], com esse arranjo, foi para os Estados Unidos, com o Al Jarreau, funkeou, voltou e a gente está fazendo uma coisa que é brasileira, mas que também é influenciada pela música americana. ‘Solidão’, do Tom Jobim, por exemplo, vira meio chá-chá-chá, que o Donato [João Donato] já fez, foi para Cuba e voltou. Então é essa troca mútua, contínua e contemporânea das influências, de duas mãos, que vai, vem e se retroalimenta”.

A data de lançamento de “Rios Flutuantes” ainda é uma incógnita, pois está sendo feito, segundo a cantora, “aos poucos”. “Não tenho ideia ainda de quando lançaremos. Temos dois singles, com dois vídeos, para serem apreciados no meu canal do YouTube”, falou Viscardi, que realiza o trabalho com o recurso financeiro de crowd funding  -em outros tempos conhecido como a boa e velha “vaquinha”. “Vamos captando dinheiro, entramos no estúdio e gravamos. Pegamos um pouco mais de dinheiro e novamente entramos no estúdio e gravamos. Por isso, estamos fazendo aos poucos e sem pressa.”

Gustavo Bugni enfatiza que o encontro dos dois foi realizado no meio de um “play”. “A gente se encontrou no som. Temos uma afinidade de ritmo, do que tocar e para aonde ir tocando, que é muito boa. É uma presença no som muito entrosada e muito afinada”, disse o artista que construiu com a cantora uma relação forte de amizade e, a partir dessa conexão, busca uma maneira de se expressar musicalmente.

A união dos dois talentos já deu frutos que serão apresentados no show: “Pássaro Desperto” e “Miragem”. “Curtimos muito como cada um interage dentro da música, mas quando vi o trabalho do Gustavo como arranjador, em especial o que fez no ‘Limpa’  com a Soundscape [música de Bugni com arranjo dele para a big band Soundscape, formada por cinco saxofones, quatro trombones, quatro trompetes, baixo acústico, bateria, piano e guitarra], eu disse: ‘Nossa, eu quero isso pra mim!’. E ele disse: ‘Tudo bem, mas, vamos fazer um pouco menos né?’”, contou rindo a cantora.

Estar aberto para o novo é uma das dicas para quem for assistir ao show. “Estaremos lá, não necessariamente para mostrarmos uma coisa que agrade, mas para levarmos uma mensagem, uma ideia, porque esse repertório que apresentaremos no show é bem propício a uma exploração. Para mim, também será uma surpresa o que vai sair, porque conforme vamos passando as músicas sempre aparece uma coisa nova para buscarmos. Então, quem for ao show deve estar aberto a isso, pois estamos nos colocando dessa maneira”, disse Gustavo Bugni.

Segundo o pianista, sua companheira de duo é quem pensa a palavra, assim como a dramaturgia da apresentação, enquanto ele pensa “mais para o lado da música”. “Essas coisas vão se complementando e surgem músicas com um ‘que’ estranho, que é bom demais, mas às vezes não é o que as pessoas estão esperando. Prefiro pensar que o que estamos fazendo está mais para o sentido de uma mensagem, com abordagem artística”.

Quem for ao show no Bourbon poderá ver, ouvir e sentir esse rico encontro, que tem na bagagem pertences do universo da música instrumental, misturados ao da palavra e seus significados, em busca do novo, do risco, do inesperado e em constante mudança, em meio a belas canções colocadas à prova da transitoriedade.

Assista, a seguir, o duo interpretando “Solidão”, de Tom Jobim (1927-1994) e Alcides Fernandes, no vídeo gravado com exclusividade pelo blog.

SHOW GIANA VISCARDI E GUSTAVO BUGNI

ARTISTAS Giana Viscardi, voz, Gustavo Bugni, piano.

ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo, tel. (11) 5095 6100

QUANDO Terça-feira (10), às 21h30

QUANTO De R$ 35 a R$ 45