Resgatado no Sebo-‘Como Viajar 70 Anos pela Viação Cometa Através da Música Popular’
Neste post da série Resgatado no Sebo, com o registro de itens relacionados à música garimpados em sebos, o destaque vai para o livro: “Como Viajar 70 Anos pela Viação Cometa Através da Música Popular”, sem registro de autor.
A promessa de capa do livro está em letras maiúsculas, em três tamanhos diferentes, o que propositalmente induz o leitor a erro: “VOCÊ PODE VIAJAR SETENTA ANOS (*), DE GRAÇA, NOS CONFORTÁVEIS ÔNIBUS DA VIAÇÃO COMETA! (*) (ATRAVÉS DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA)”.
Com 240 páginas, o livro encadernado no formato brochura faz jus ao tipo de encadernação, brochando qualquer leitor que queira saber sobre a data de sua publicação ou o nome de seu autor -ou autores.
Quanto ao último desses dois mistérios, talvez o repórter deste blog tenha desvendado parte dele, ou seja, um dos autores da obra, o compositor Nelson Ferreira (1902-1976).
Pernambucano, Nelson Ferreira foi compositor de vários gêneros musicais, mas especializou-se em frevo, além de ter sido diretor artístico da fábrica de discos Rozenblit, detentora do selo Mocambo, nos anos 1950, e da Rádio Clube de Pernambuco.
Na página três do livro, o nome de Nelson Ferreira está grafado abaixo dos dizeres escritos em letras maiúsculas: “OS BONS LIVROS SOMENTE PODEM PODEM SER EMPRESTADOS AOS VERDADEIROS AMIGOS”. Aspas que, na mesma página, são ironicamente rebatidas, por um tal de H.Diniz, talvez coautor do livro: “OS VERDADEIROS AMIGOS JAMAIS PEDEM EMPRESTADOS OS BONS LIVROS”.
O tom jocoso continua na informação sobre a edição do livro, que na página dois é grafada da seguinte forma: “Primeira e única edição (Já esgotada)”.
Depois da palavra “Copyrigth”, o tom divertido assemelha-se aos bailes de Carnaval, pois parece não ter hora para terminar. O livro, segundo a dedicatória, destina-se a “toda Vila Maria, Braz, Barra Funda, Bexiga, Lavapés, Vila Esperança (SP), Estação Primeira, Estácio, Mangueira, Portela, Salgueiro, Vila Izabel, Praça Onze (e todos os demais redutos da música popular brasileira). Bem como a “Águas da Prata, Aparecida, Araraquara, Batatais, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Catanduva, Curitiba, Franca, Jundiaí, Guaratinguentá, Itapetininga, Juiz de Fora, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, São Carlos, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São Roque, Sorocaba, Tatuí, Três Rios, etc.”
Contudo, o conteúdo da obra deixa bem feliz quem busca informações sobre músicas carnavalescas, suas letras, autores e anos de lançamento, além de fatos relacionados ao Carnaval.
Da página cinco até a página dez, há um texto que faz uma correlação entre a música popular, seus autores e o Carnaval com os motoristas, os ônibus e a política da Viação Cometa, empresa de ônibus rodoviários criada em 1948 e uma das pioneiras nas interligações da região sudeste.
Da página 11 até a 35 o livro traz datas “inesquecíveis”, entre os anos de 1835 a 1965, registrando grandes acontecimentos referentes ao Carnaval. Entre eles, um acontecimento de 1835: “Chegam ao Rio de Janeiro as primeiras máscaras carnavalescas (de cera), cujo carnaval era feito na base das valsas, dos xotes e das quadrilhas, inclusive óperas!”. Há outro, do dia 9 de novembro de 1889, histórico: “É feita a primeira gravação oficial no Brasil (em cilindro), reproduzindo a voz do Visconde de Cavalcanti”. E, complementando esse último fato há o registro de que no dia 13 de novembro de 1889: “a Princeza Isabel pede que seja repetida a experiência anterior do dia 9, agora em seu palácio, para que seus filhos, os príncipes do Grão Pará e D. Augusto, possam conhecer o fonógrafo e a forma de gravação. Após a demonstração o Sr. Conde D’Eu declarou: ‘…achar a invenção muito boa, mas tinha certeza de que o público não a adotaria pois acreditaria que fôsse artes do diabo, ou almas do outro mundo”.
Antecedendo as quase 300 letras de músicas de carnaval, entre elas “Bandeira Branca”, “Me dá um Gelinho”, “Periquitinho Verde” e “Pierrot Apaixonado”, com os nomes de seus autores, há um índice cronológico com o ano de lançamento de cada uma. Segundo o índice, “Ó Abre Alas”, aparece como a primeira, em 1900. Procede, pois a música, composta em 1899, por Chiquinha Gonzaga (1847-1935), uma marcha-rancho carnavalesca, foi a primeira marchinha de Carnaval que se tem notícia.
Uma vasta e rica bibliografia, citando outros 147 livros, finaliza o livro, com a seguinte nota: “Na bibliografia constam dois livros que, aparentemente, não deveriam aparecer; um sobre os Beatles e o outro sobre Sinatra; constam porque, direta ou indiretamente, envolvem as transformações musicais ocorridas, principalmente no Brasil”.
Embora de autoria praticamente desconhecida, o livro traz informações preciosas que talvez ficassem perdidas, não fosse o registro de mais um livro resgatado no sebo pelo Música em Letras por R$ 6.
COMO VIAJAR 70 ANOS PELA VIAÇÃO COMETA
AUTOR Nelson Ferreira e H.Diniz (não confirmado)
EDITORA Informação não disponível
QUANTO R$ 6 (240 páginas)