Banda OKKA faz dois shows em São Paulo
Uma das bandas mais promissoras, original, instigante, criativa, musical e “de verdade” que o repórter deste blog ouviu e assistiu (veja vídeo no final do texto) é a OKKA, que faz seus dois primeiros shows, neste final de semana, em São Paulo. No sábado (15), a apresentação é gratuita e acontece no Centro Cultural da Juventude. No domingo (16), o grupo se apresenta no Teatro da Rotina, com ingressos vendidos a R$ 30.
O Música em Letras esteve na segunda-feira (12) no ensaio do grupo, que aconteceu na casa de um de seus integrantes, o compositor, arranjador, cantor, produtor, violonista e guitarrista pernambucano Raul Misturada, 33, que mora na Vila Mariana, em São Paulo. Nos dois shows, Misturada canta, toca violão, guitarra e sintetizadores. A paulistana Dandara, 29, compositora e performer, canta e toca contrabaixo no espetáculo, enquanto o compositor, arranjador, cantor e “cuiabano de Minas” Paulo Monarco, 32, canta, toca violão, guitarra e viola de cocho, em cima de ritmos sempre muito bem conduzidos e percutidos pelo compositor, cantor, arranjador, produtor e também pernambucano Jota Erre, 37, que além de cantar, toca bateria, entre outros instrumentos de percussão.
Achou o parágrafo acima grande, e repleto de informações? Ele foi escrito dessa maneira com o propósito de mostrar que a grandeza desse grupo não reside apenas nas letras maiúsculas do nome da banda OKKA, mas principalmente na multiplicidade de talentos que se cruzam nesse encontro.
Perguntados sobre o que cabe embaixo do teto dessa OKKA, os integrantes responderam cada um a sua maneira, da mesma forma que descreveram, depois, para este repórter, algumas das músicas que serão interpretadas nos espetáculos. Afinal, aqui é o Música em Letras.
EMBAIXO DO TETO DA OKKA
“Embaixo dessa OKKA cabe tudo. Tudo que vier no amor, na alegria, na intenção de compartilhamento, de ampliação de horizonte, de conexões e de transformações. A gente se comunica pela música, mas cabe arte e tudo que for da comunhão, sabe?”, respondeu Dandara.
Para o percussionista Jota Erre nessa OKKA cabe : “Gente, gente que acredita no amor, na transformação através da arte, do conhecimento, do pensamento e da expansão. Cabe isso tudo”.
“O que cabe debaixo do teto dessa OKKA? Memória que é presente, passado e futuro, né? História, mestres, mestras, comunhão e o desejo de através da coletividade a gente se mergulhar na gente mesmo, como Brasil nação, como espaço de celebração da música, da arte e de furar as bolhas para que agente possa dialogar sendo amor total”, disse Paulo Monarco, que nasceu em Belo Horizonte, mas mudou-se cedo com a família para Cuiabá e, por essa razão, considera-se um autêntico “cuiabano de Minas” .
Raul Misturada completou as respostas: “Cabe o exercício da presença na distância e o experimento, a descoberta de uma unidade de som, de arte de performance que seja uma extensão da nossa comunicação, daquilo que agente conversa, daquilo que a gente fala no cotidiano, né? Nós aqui, irmãos, companheiros de trabalho e de vida”.
O SHOW
O que as pessoas devem ter em mente quando forem ao espetáculo?
“O amor, a alegria, a celebração, o encontro, o coração aberto para estar. Acho que todos, mesmo antes da OKKA, e agora juntos, temos esse desejo de relacionar, de comunicar e de compartilhar pela música, né? Quem quiser ir num dos shows da OKKA tem que ir com esse espírito de alegria, de amor, para a gente abrir um portal ali e vivermos coisas juntos”, falou Dandara.
Para Jota Erre, quem for ao show, “tem que ir com a mente aberta, de como quem vai ouvir música, vai absorver arte. Acho que é isso, essa abertura da alma para a entrada de coisas novas, de outros ambientes e de outras pessoas. É isso aí.”
“O que as pessoas tem que ter em mente? Eu não sou muito adepto a ‘tem que’ nada, mas espero que todo mundo vá no estilo livre, no seu estilo livre, que viva o que quiser. Espero que a gente celebre, se abrace e troque muito, porque isso tudo que estamos preparando e fazendo é com muito carinho mesmo, e com muita vontade de trocar essa ideia, entendeu? De celebrar, não só de pensar, mas de dançar, de curtir. Acho que nesse momento tão tudo que está rolando aí, a gente precisa se abraçar, se afetar, dar um sorrisinho…Isso vale, está valendo. Chegue no amor”, disse Paulo Monarco.
“A gente está separado pela distância geográfica, mas cada vez mais eu percebo que temos um interesse muito grande pela música, mas mais pelo encontro. A música é um ponto de referência para a gente se encontrar. É uma extensão do que a gente está a fim. Se as pessoas esperarem só encontrar a gente, já está massa. Porque a gente está esperando só isso também”, disse Raul Misturada, que como Jota Erre mora em São Paulo, enquanto Paulo Monarco mora na Chapada dos Guimarães (MT) e Dandara em Zurique, na Suiça.
AS MÚSICAS DA OKKA
“#TBD”, de Jota Erre, Paulo Monarco e Bruno Batista, por Jota Erre
“É essa porra e tudo o que está acontecendo, e é isso velho. Não tem muito o que explicar. É muito direto. É um papo muito reto ali. Não tem muita explicação. Não é uma coisa do passado, é uma coisa que está acontecendo agora e neste momento. Então o #TBT é muito mais para dizer: ‘Óh, não é TBT, hein? É agora a parada, está acontecendo agora.”
“Na Passagem”, de Jesse Santo, por Jota Erre
“É uma reflexão do que a gente veio fazer aqui nesse ambiente de terra, né? Então é muito mais uma reflexão de conhecer esse rolê todo aqui e dizer: ‘E aí? Qual que é o principal lance de se fazer aqui, né?’”
“Asa do Desejo”, de Okka e Bruno Batista, por Dandara
“Essa música é uma ode ao amor. Ela nos lembra que o amor é o grande veículo, sempre foi e sempre será o grande veículo de expressão da humanidade, sabe? É uma música muito poderosa, uma avalanche.”
“Cronos e Kayrós”, de Paulo Monarco, por Paulo Monarco
“Trouxe esse tema porque faz muito parte das coisas que eu tento sacar do mundo, da minha câmera [ disse apontando para o próprio olho]; Cronos sendo esse Deus contado, do tempo cronológico, e Kayrós, que é um outro tempo, o tempo das coisas, o tempo de cada um, e como a gente dança nesses lugares do tempo. É um momento gilbertiniano, de divagação sobre o tempo. ‘Tempo de Acordar/ Tem outro tempo despertar’, quer dizer: acordar é muito diferente de despertar, né? Em que tempo e qual o tempo que a gente precisa para despertar para tais questões. A questão do clima no mundo. A questão da fronteira, dos problemas sociais, da fome no mundo, da beleza…Qual o tempo que cada um precisa para se perceber amigo de alguém e precisar de um acolhimento. E, ao mesmo tempo, agora já está correndo. Daqui a pouco já é hora do almoço, né? Então corre, o tempo corre. Chega boleto e a gente vive esbarrando nisso. É no que está virando essa canção: ‘Cronos e Kayrós’.”
“Merci Beaucoup”, de OKKA, por Paulo Monarco
“Essa música nasceu de uma vontade de mandar os franceses para a put…que o sei lá o quê, como um agradecimento, porque a gente estava passando por uma situação desafiadora [A banda surgiu, em 2018, do encontro entre os quatro artistas durante uma turnê na Europa, que compreendia uma temporada de residências artísticas, passando pela Suíça, França, Espanha e Alemanha.], e ou a gente mandava todo mundo a merda, ‘à la merde’, ou agradecia e veio esse grito de ‘merci, merci beaucoup!’. A gente agradece, porque agradecer é muito importante.”
“A Roda”, de OKKA, por Dandara
“A gente está em uma viagem, da qual nunca saímos. E essas turnês que fizemos pela Europa fez com que nos conectássemos mais profundamente ainda com o que temos de característica, de bagagem e que nos forma como seres. Não à toa, muitas das canções que surgiram nesse período são quase mântricas, sabe? Canções de coisas que parecem que são simples e complexas ao mesmo tempo e que retomam coisas muito básicas da gente como seres. E a ‘Roda’ faz parte dessa reflexão da gente se perceber num momento tão estendido, onde tudo parece tão extremo, e que tudo parece tão distante, e as pessoas estão distantes em qualquer lugar do mundo, né? Todas essas tecnologias e tal que a gente vive hoje. A virtualização dos processos, das relações. Acho sempre importante lembrar que estamos próximos, apesar das distâncias geográficas, físicas, psicológicas…O interessante dessas canções que têm soado aqui, na OKKA, são essas canções que falam da nossa conexão com o todo. É isso que nos aproxima, estamos todos em um mesmo lugar, o planeta Terra, e a ‘Roda’ fala disso e cada pecinha tem sua particularidade.”
“Madrigal”, de Paulo Monarco, Dandara e Bruno Batista, por Paulo Monarco
“Cantar, né? Eu participei de uma experiência recente, que me trouxe uma mensagem muito forte: ‘Você veio pra cá pra cantar e dançar pra curar’. Cada um tem o seu caminho de cura, né? Percebi que o meu veículo é o canto, é a música. Seja lá qual for o veículo de quem busca e exerce no seu trabalho, na sua função, como peça dessa história toda, né? Que seja entregue com sinceridade.”
“Equilibradamente Insano”, de Raul Misturada e Gregory Haertel, por Raul Misturada
“Essa é a música título do último disco que lancei e que retrata justamente o início do momento em que eu comecei a perceber as preliminares dos meus privilégios e das coisas que eu precisava romper, né? A engatinhar com essas coisas das fronteiras internas do machismo, e um monte de coisa que a gente é submetido e vai se acostumando na criação. Aí vai caindo as fichas de deixar para trás um monte de coisas. E é difícil deixar para trás os hábitos e ser movido pela intuição. Porque nós da OKKA temos essa característica de sermos movidos pela intuição. Se pensar muito, a gente não faz as coisas. Tem que dar o start e tem que ter o cara que dá a pilha.”
“Pedras” de Raul Misturada, por Raul Misturada
“Essa canção surgiu de um picho que tem em Itajaí de um artista plástico muito importante, que tem um trabalho social incrível e que partiu recentemente, o Caelum. Ele escreve o seguinte: ‘Estou construindo pedras, não tenho casa própria, mas tenho pedras próprias’. Quando eu li fiquei muito comovido por me reconhecer nisso. Enfim, essas pedras estão rolando aqui, agora, né?”
Assista, a seguir, ao grupo ensaiando a música “Fronteira”, de autoria de Raul Misturada e César Lacerda, no vídeo gravado com exclusividade pelo blog.
SHOW OKKA
QUANDO/ONDE Sábado (16), às 20h, no Centro Cultural da Juventude (CCJ), av. Dep. Emilio Carlos, 3641, Vila dos Andrades, São Paulo, tel. (11) 3343-8999; domingo (17), às 20h, no Teatro da Rotina, r. Simão Alvares, 697, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3582-4479
QUANTO Sábado, gratuito; domingo R$ 30