Consuelo de Paula lança o CD ‘Maryákoré’ em show em São Paulo
A cantora, compositora e violonista mineira Consuelo de Paula lança nesta sexta-feira (24), no Sesc Belenzinho, em São Paulo, o CD “Maryákoré”. No show, ela é acompanhada por Carlinhos Ferreira, na percussão e flautas, além de Ana Rodrigues, no piano.
O Música em Letras esteve na última terça-feira (21) na casa do percussionista Carlinhos Ferreira, no Morro do Querosene, em São Paulo, onde os artistas ensaiaram para o show, e, além de entrevistar a compositora e cantora, gravou com exclusividade para o blog a música “Chamamento”, de Consuelo de Paula, uma das dez faixas do disco (veja vídeo no final do texto).
Nascida em Pratápolis (MG), Maria Consuelo de Paula, 57, é uma das artistas brasileiras que melhor representa a MPB em sua essência. “Maryákoré” é o sétimo disco da consolidada carreira da artista. “O conceito desse disco é uma continuação da minha obra, porque é uma obra só. É uma praga isso, porque estou sempre com ela e, cada vez mais, procuro mergulhar nessa essência”, falou a compositora e instrumentista, que revela por meio desse trabalho o namoro bem forte que tem tido com o violão. Pela primeira vez, Consuelo tocou o instrumento em todas as faixas de um de seus discos.
Segundo a artista, o disco traz um movimento de amor e de luta misturados. “Nunca sei se estou fazendo um movimento de amor ou de luta, de guerra juntos.”
Das dez faixas de “Maryákoré”, duas são em parcerias com outros compositores: “Ventoyá”, a que abre o disco, com melodia dela para a letra de Déa Trancoso, e “Remando Contra a Maré”, a nona faixa, tem letra de Consuelo feita especialmente para a melodia de Rafael Altério, o Garga.
Outra faixa, “Andamento”, traz letra e melodia de Consuelo de Paula para os versos do poeta Paulo Nunes, junto com um verso do terno de congo dos Marinheiros de Pratápolis. “Essa música é interessante porque eu cheguei em uma loja com vários artefatos indígenas. Entre eles, um pau de chuva imenso. Olhei para ele, peguei-o em minha mãos e comecei a cantar: ‘Eu vou, eu vou remando contra a maré’ [verso do terno de congo dos Marinheiros de Pratápolis]. Sorte que eu estava com uma amiga que estava gravando, porque passei a imaginar aquele instrumento como um remo, lembrando dos congadeiros de minha cidade com essa toada, que gravei também no fim do disco em ‘Remando Contra a Maré’.”
Em todas as faixas, Consuelo incorporou cantos que, segundo ela, surgiam ao terminar de gravar as canções. “Esses cantos, que têm a ver com a cultura afro, não eram nada racionais, eles simplesmente apareceram e fiz questão de registrá-los porque me emocionava com eles. Cheguei a procurar na internet algumas palavras que recebi durante esse processo de chamamento e descobri que todas elas tinham a ver com a natureza das canções que eu estava gravando. Com isso, percebi haver algumas ligações meio doidas, mas pertinentes ao que eu estava cantando.”
“Maryákoré”, que dá título ao CD, traz uma curiosidade que a autora afirma ser verídica: “É verdade, viu? Eu estava em casa e havia uma tempestade fortíssima. A Kátya Teixeira [cantora, instrumentista, compositora paulistana e pesquisadora da cultura popular brasileira] estava comigo, pois eu estava mostrando para ela algumas músicas que eu estava fazendo para esse disco. Em um momento ela disse: ‘Consuelo, essa tempestade vai derrubar suas coisas, os vidros de sua área e tudo mais’. Mas eu não estava nem aí, fazendo um som no violão e cantando essa música. Por incrível que pareça, isso aconteceu – essa tempestade e essa música surgiram enquanto estavam assassinando a Marielle [Marielle Franco, socióloga e vereadora carioca morta em 2018]. Pode acreditar, foi no mesmo dia e na mesma hora”, contou a autora que estava procurando um nome para o CD quando fez “Maryákoré”, a última a ser composta para o disco.
Para Consuelo de Paula, “Chamamento” é uma faixa repleta de energia. “Comecei a brincar com o violão, como se fosse um berimbau, e a compor essa música antes de um aniversário meu comemorado em um local de resistência que havia em São Paulo. Fiz para tocar e cantar no dia do meu aniversário e para entrar no disco. Ela tem uma coisa de estar chamando mesmo, de chamar o meu povo para o amor, para a luta, para a festa e para estarmos sempre juntos, pois mais que nunca precisamos estar juntos.”
O disco foi gravado como se fosse ao vivo, no estúdio do violonista e compositor mineiro Mario Gil, 57, radicado em São Paulo há 37 anos. “Gravei em dois dias, para não cansar a voz, mas com muita energia, sem repetir música, porque precisava ser assim. Fiz todas as faixas antes e depois chamei o Carlinhos para colocar a percussão e o Guilherme Ribeiro para tocar piano, mas ficou com o clima de gravado ao vivo.”
Quanto ao show, Consuelo garante que será, de toda sua carreira, o espetáculo que terá mais entrega. “De toda minha vida, sem dúvida, é o show em que mais me entrego, porque ele tem uma energia na qual você tem que estar entregue, tem que fluir. Para isso será muito importante a energia de todos que forem, porque estaremos fazendo esse show juntos. É um show coletivo.”
A cantora garante interpretar músicas – toadas e moçambiques – de outros de seus discos, como algumas dos CDs “Samba, Seresta e Baião” (1998) e “Dança das Rosas” (2004), como a “Dança para Um Poema”, música em três movimentos inspirada em um poema da argentina Maria Del Carmen; e “Retina”, esta última instrumental, além de algumas releituras, entre elas “Canción con Todos”, dos argentinos Armando Tejada Gómez (1929-1992) e César Isella, canção imortalizada por Mercedes Sosa (1935-2009).
Assista, a seguir, ao vídeo gravado, com exclusividade pelo Música em Letras, no qual a artista interpreta “Chamamento”, música de sua autoria.
SHOW DE LANÇAMENTO DO CD ‘MARYÁKORÉ’
ARTISTAS Consuelo de Paula (voz, violão e percussão), Ana Rodrigues (piano) e Carlino Ferreira (percussão e flautas de tubos)
QUANDO Sexta-feira (24), às 21h
ONDE Sesc Belenzinho, r. Padre Adelino, 1.000, Belenzinho, São Paulo, tel. (11) 2076-9700
QUANTO De R$ 9 a R$ 30
CD R$ 35