Poema Combate luta contra a mediocridade
Acontece nesta segunda-feira (18), às 20h30, no Bona, em São Paulo, o show Poema Combate, com Taciana Barros (voz e violões) e sua irmã Natalia (voz), acompanhadas por Mauro Dahmer (voz e teclado) e João Parahyba (percuteria), com participações especiais do escritor Marcelo Rubens Paiva e do cantor Max B.O.
O Música em Letras esteve no ensaio do grupo, entrevistou os artistas e gravou com exclusividade para o blog um vídeo com trecho do que vai rolar no show (assista ao vídeo no final do texto).
“Esse é um novo projeto, uma nova loucura experimental, que começou comigo e com o Mauro [Dahmer] fazendo o Piano Combate, com dois pianos. Depois, veio a Natalia lendo os poemas, acrescentamos os violões e a ideia de chamarmos mais convidados, como o João Parahyba na percussão. Daí virou o Poema Combate e juntamos ao projeto convidados especiais como o Marcelo Paiva e o Max B.O.”, disse a cantora e compositora Taciana Barros.
A artista toca quatro violões durante o espetáculo. Cada um deles – um com cordas de nylon e três com cordas de aço – afinado de forma diferente, com algumas dessas combinações inventadas por ela. “São seis afinações diferentes, porque uso capotraste [dispositivo usado para encurtar as cordas tornando as notas mais agudas]. Mas a ideia é usar o máximo possível as cordas soltas.”
Uma das diferentes afinações criadas pela instrumentista está na canção “Venus in Furs”, escrita por Lou Reed (1942-2013). “Na verdade fui encontrando essa afinação. A princípio coloquei todas as notas afinadas em mi e si. O sol quando virou si ficou bonito, mas as cordas começaram a quebrar muito e acabei abaixando o sol para o mi. A ideia dessa afinação foi a de que ela deixasse o som do violão parecido com o de uma cítara”, explicou a artista.
Outra afinação incomum usada por Taciana pode ser ouvida na música “Coyote”, de Joni Mitchell, que a compôs para seu marido Sam Shepard (1943-2017). “Fui olhando no Youtube, além de [seguir] algumas conversas de pessoas pela internet, e cheguei nessa outra afinação que no violão fica com as cordas afinadas da seguinte maneira: dó, sol, ré, fá, dó e mi.”
Tantas combinações distintas não complicam no momento de tocar e cantar? “Sabe que o engraçado é que a gente incorpora [as diferentes afinações] com a prática. Claro que no show, a cada música, você tem que dar uma respirada para ver onde você vai entrar, mas na hora em que se entra no tom em que o violão está afinado, os dedos já seguem um caminho natural que eles mesmos vão achando”, disse a cantora que passou a afinar as cordas mais graves de seus violões, a nota mi, em ré. “Tenho a impressão de que o certo do violão seria afinar o mi em ré, pelo menos para mim, porque me leva para outros lugares nunca antes navegados”.
Outra razão para usar mais cordas soltas nos violões é que o som fica mais preenchido, na opinião da compositora. “Por esse espetáculo contar com poucos instrumentos dá um efeito legal, o som fica mais cheio”, disse a instrumentista que usa também uma pedaleira para colocar mais efeitos nos sons.
O músico João Parahyba foi escalado por Taciana para fazer a diferença. “O João vem com a pitada superbrasileira dele. A ideia foi colocar alguém, que não fosse desse nosso universo do rock, para abrir outros portais nessas músicas, e ele, além de fazer isso, desconstrói essas canções de uma maneira linda.”
No show não há covers das músicas, mas fragmentos delas, com intervenções poéticas. “São trechos dessas músicas conhecidas, que servem para criarmos outras canções misturadas às poesias. Por exemplo, na música ‘Venus in Furs’ tem um poema da Laurie Anderson.”
Entre as canções “citadas” no show estão “The House of Rising Sun”, gravada por vários grupos e artistas como The Animals, Bob Dylan e Joan Baez, “All Along the Watchtower”, de Bob Dylan e imortalizada por Jimi Hendrix (1942-1970), e “Chelsea Hotel”, de Leonard Cohen (1934–2016).
O escritor Marcelo Rubens Paiva foi chamado para integrar o espetáculo, segundo Taciana Barros, por entender muito bem o conceito do show que cria conexões entre pessoas, músicas e poemas. “Ele vem para acrescentar ao trabalho alguns textos criados por ele especialmente para o show. Ao invés de explicarmos para o público cada música, ou cada poema, o Marcelo contextualiza isso com seus textos, costurando as histórias entre si”, falou Taciana, que conta ainda com a performance do rapper Max B. O. na leitura de textos autorais e improvisos.
A ideia do espetáculo Poema Combate é trazer a possibilidade de que o público e os artistas se “salvem” do tempo em que vivemos, por meio da poesia e por novos caminhos musicais. “Este ano foi muito ruim e muito louco politicamente para nós, para o país e para a cultura. O show fez com que mergulhássemos nesse caminho novo para nos salvarmos e respirarmos um pouco em meio a tanta coisa medíocre.”
Assista, a seguir, ao vídeo, no qual o grupo de artistas ensaia para o show
SHOW POEMA COMBATE
ARTISTAS Taciana Barros, Natalia Barros, Mauro Dhamer, com participação especiais de João Parahyba, Marcelo Rubens Paiva e Max B. O.
QUANDO Segunda-feira (18), às 20h30
ONDE Bona, r. Álvaro Anes, 43, Pinheiros, São Paulo, tel.(11) 3812-8400
QUANTO R$ 40