Violonista Chrystian Dozza lança CD na Austrália
O violonista, compositor, professor, produtor e arranjador mineiro, radicado em São Paulo, Chrystian Dozza, 36, lança, a partir do dia 20 de novembro, em cinco cidades da Austrália, o CD “No Frontiers”, tocando solo e com músicos locais. Durante 30 dias, o artista passa por Melbourn, Kembla, Sidney, Perth e Brisbane. No Brasil, o lançamento do disco está marcado para o final de janeiro de 2020.
O Música em Letras esteve no apartamento do artista, em São Paulo e, além de entrevistar o músico cuja carreira de 23 anos continua em ascensão, gravou com exclusividade para o blog Dozza interpretando “Samba Rock”, peça que mordeu recentemente o primeiro lugar no concurso Nova de violões. Nesta terça-feira (5), o músico embarca para o Rio de Janeiro, onde tem uma sessão de gravação dessa peça, que integra o repertório do disco a ser lançado pelo concurso (veja vídeo no final do texto).
EDIFICANDO A CARREIRA
Experiência não lhe falta. Há nove anos, Dozza é professor de violão erudito e iniciação desse instrumento na Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP). O professor também dá aulas particulares e tem cerca de 20 alunos que disputam os horários de sua disputada agenda.
Como artista, o músico toca há dez anos ao lado dos companheiros de instrumento Fabio Ramazzina, Thiago Abdalla e Sidney Molina. O grupo, que utiliza três violões de seis cordas e um violão de sete cordas, forma o consagrado e internacionalmente premiado Quaternaglia Guitar Quartet. Com o quarteto, Dozza gravou três discos: “Jequibau” (2012), “Xangô” (2015) e o mais recente “Four” (2019). No Trio Opus 12, formado por ele Paulo Porto Alegre e Daniel Murray, Dozza está há quatro anos. Com eles gravou o único CD do trio, “Divertimentos” (2015).
Antes de “No Frontiers”, o CD que será lançado na Austrália, Dozza gravou três discos solo. O primeiro CD, “Songs from the Land” é de 2004, e traz sete faixas autorais. O segundo CD, “Fantasia Mineira” (2009), tem 12 faixas. Três são “fantasias mineiras” sobre temas do cantor e compositor Milton Nascimento. O terceiro CD, “Despertar” (2014), que registra dez novas composições com registro de diversas influências musicais: música brasileira, mineira, rock’n roll e música erudita. Tudo com pitadas do Barroco e da Renascença.
O músico também teve sua composição “Baião de Dois” gravada no CD da segunda edição do prêmio Nova. A “Fantasia para Violão e Orquestra”, peça de Alexandre Guerra, foi gravada por Dozza no CD “Fantasia”, de Guerra, em 2018, com a orquestra sinfônica de Budapeste. “Essa música também está no repertório do meu disco novo”, disse o artista que já se apresentou em vários lugares do planeta, sempre com muito sucesso.
PRÊMIOS
Dozza já foi agraciado por prêmios em vários concursos de violão. Entre eles, o primeiro lugar do concurso Violão Sem Fronteiras, o prêmio BDMG Instrumental e, recentemente, o concurso Nova.
Dirigido pela violonista francesa radicado no Rio de Janeiro, Elodie Bouny – mulher do violonista gaúcho Yamandu Costa -, o concurso de composição Nova incentiva a criação de repertório inédito para violão solo. Em cada edição do evento, jurados selecionam obras para a produção de um CD, com 12 faixas, e de um álbum de partituras. Dozza, além de ter conquistado a primeira colocação, também enfiou uma grana no bolso. “Dois mil reais”, revelou o ganhador daquela que foi a quarta edição do evento. “Por meio de edital, o concurso, que é nacional, convoca os violonistas para enviarem composições inéditas, sem nenhuma restrição de gênero ou idade. A única obrigação é que sejam escritas para serem executadas em violão de seis ou sete cordas, mas com cordas de nylon. A edição deste ano teve mais de 150 composições, todas novas. Os músicos enviam uma partitura e um vídeo para concorrer”, disse o músico sobre a premiação que também classificou Thiago Colombo, no segundo lugar, e Rafael Marino Arcaro, no terceiro. Também foram selecionados no Novas 2019 os compositores Aluísio Coelho, Anderson Chizzolini, André Siqueira, Conrado Paulino, Eduardo Pinheiro, Huayma Tulian, Lucas Telles, Maithan Knabach e Michi Ruzitschka.
“Samba Rock”, composição de Dozza que agradou o júri do concurso e levou o mineiro ao primeiro lugar, foi escrita durante um ano, mas não tinha por finalidade ser apresentada no concurso. “Eu estava finalizando ela [a peça musical], aí pintou o edital do concurso e resolvi inscrevê-la. Em um ano mudei a composição várias vezes, aumentei, encurtei, tirei e acrescentei”, falou o artista sobre a música que tem três versões: a mais curta, ganhadora do concurso, e mais duas versões, nas quais é prevista a utilização de um pedal de looping para contemplar um trecho central da peça, que se tornou uma suíte em três partes, com improviso.
A música foi alcunhada de “Samba Rock”, mas quando Dozza mostrou um trecho dela para o violonista Paulo Bellinati, um de seus mestres, ele falou: “Legal, mas isso daí é rock samba, né?”, contou rindo Dozza que não imaginava ganhar com a composição, embora achasse que ela poderia estar entre as selecionadas.
CD “NO FRONTIERS”
“No Frontiers” é o quarto CD de Chrystian Dozza, mas o primeiro em que ele reúne peças musicais compostas para grupos de música de câmara. Com exceção de “Fantasia para Violão e Orquestra”, de Alexandre Guerra, todas as músicas foram compostas por Dozza. Tratando-se de formações, elas vão crescendo, pois o disco começa com um duo de violão, passa por um trio, quarteto, orquestra de violões, duo de violão e violoncelo, orquestra de violões e guitarra elétrica. O conceito do trabalho está ligado ao universo autoral de Dozza, que tem influência da música popular, erudita e da música do mundo. “Não sigo só uma linha de composição. A cada hora ouço uma coisa diferente e trago isso, essa diversidade, para minhas composições. Esse disco tem uma questão geográfica, porque traz um apanhado de músicas que fui fazendo em diferentes lugares do mundo. Sempre tive esse sonho, essa ideia de gravar um disco com várias formações, mas sempre foi muito difícil de viabilizar, mas agora consegui.”
O músico realizou uma campanha na internet para angariar fundos, no intuito de finalizar o disco. “Era um dinheiro que eu precisava para mixar, prensar, masterizar, e fazer a capa porque tudo já estava gravado. Precisava de 12 mil reais e arrecadamos treze e pouquinho”, contou o artista.
Leia, a seguir, o “música a música” que Chrystian Dozza fez com exclusividade para o Música em Letras do disco que terá dez músicas em 14 faixas. “Algumas músicas ocupam duas faixas, por conta de terem dois movimentos”, explicou o compositor.
MÚSICA A MÚSICA DO CD “NO FRONTIERS”
1 – “Northeast Skie”
“Gravei essa faixa com a violonista australiana, Karin Schaupp. Eu a compus especialmente para esse duo, porque começamos a gravar um disco na Austrália. Terminaremos de gravá-la no final deste ano, e ela me pediu que compusesse algo para nós dois tocarmos juntos. Esse é o primeiro duo de violões que compus. É um baião e a Karin mandou muito bem. Ela toca pra caramba, mesmo não sendo um ritmo familiar para ela. Foi só escrever ‘staccato’ onde é ‘staccato’, onde acentua, que ela toca tudo.”
2 – “Prelydian and Maracafugue”
“Essa [composição] é para trio. O Trio Opus gravou. Como o nome sugere, é inspirada nos prelúdios de Bach, que têm essa forma de um prelúdio seguido de uma fuga. Prelydian é uma ideia em cima do modo lídio, mas cheio de coisas…Cada violão faz um solo em determinados momentos. E a ‘maracafugue’ é uma fuga ritmicamente inspirada no ritmo do maracatu.”
3 – “On a Gismonti´s Theme”
“Aqui aparece o quarteto Quartenaglia. Gravamos essa música no disco ‘Xangô’, do quarteto, mas no disco novo acrescentei um solo a mais para o Thiago [Abdalla].”
4 – “Ginastera´s Dream”
“Nessa faixa entra a orquestra de violões de Brisbane, na Austrália, chamada Riverside Guitar Ensamble. São 12 instrumentistas no total: 11 tocam violões de seis cordas e um toca baixolão. Há cerca de três anos, a Universidade de Indiana, por conta do centenário do Ginastera [Alberto Evaristo Ginastera, compositor erudito argentino (1916 – 1983)], me encomendou essa peça. Ela tem dois movimentos, começa com um prelúdio seguido de um tango, e tem várias citações no meio, tentando ilustrar a coisa do sonho. É como se em um sonho o Ginastera encontrasse vários compositores. O negócio é atemporal, por isso tem citações de Bach, Villa-Lobos e o Astor Piazzolla, entre outros. Ficou muito boa essa música, e outras orquestras de violão estão tocando ela pelo mundo afora.”
5 – “Beetle´s Dance”
“Essa foi gravada em duo com o violoncelista gaúcho Pablo Schinke, que mora em Paris há muito tempo. Ele é integrante do Trio In Uno [formado por Giulia Tamanini (saxofone), Pablo Schinke (cello) e José Ferreira (violão de sete cordas)]. Eu tinha essa música, mas não conhecia um celista que improvisasse, porque ela tem um trecho de improviso e é muito rítmica. Na turnê que o Trio In Uno fez passando por São Paulo, chamei o Pablo e gravamos. Mandei uma partitura para ele uma semana antes, ensaiamos um dia antes de entramos no estúdio e ficou bom pra caramba.”
6 – “Fantasia for Guitar and Orchestra”, de Alexandre Guerra
“Essa é a única que não é de minha autoria e faz parte do crescendo que há no disco. Ela é feita para orquestra; é uma fantasia em três movimentos, escrita pelo Alexandre que cedeu o fonograma para mim de quando gravamos com a orquestra Sinfônica de Budapeste.”
7 -“Elf´s Jig”
“Para finalizar, temos essa peça para uma orquestra de violões e guitarra elétrica. Ela foi composta para o meu primeiro disco e aqui ela aparece em uma versão que fiz para a camerata de violões do projeto Guri, que na época da gravação tinha o Paulo Bellinati regendo e coordenando os cerca de 30 violonistas e um cara tocando baixolão. Eu toco o instrumento solista que é a guitarra elétrica.”
Na versão do CD, que será lançado no Brasil no final de janeiro de 2020, haverá o acréscimo de três faixas: “A Rustic Dance for Maiden”, “Minas” e “Alvorada”.
Assista, a seguir, ao vídeo, com exclusividade para o Música em Letras, no qual o violonista interpreta “Samba Rock”, música de sua autoria, vencedora do concurso Novas de 2019.