Banda Leela e Fausto Fawcett comemoram 20 anos de parceria em show em São Paulo

Acontece nesta quinta-feira (5), no FFFront, em São Paulo, o show que celebra 20 anos de parceria entre o escritor e compositor Fausto Fawcett com os músicos Bianca Jhordão e Rodrigo O’Reilly Brandão, os dois da banda de rock Leela.

O Música em Letras esteve no ensaio da banda com Fausto Fawcett e, além de entrevistá-los, gravou com exclusividade um vídeo para o blog no qual os artistas interpretam “Fome de Viver- Fuga Pelo Twitter”, uma das muitas composições que Fawcett tem com a dupla (veja vídeo no final do texto).

Limite de uma calçada com a entrada de um prédio, na rua Cardoso de Almeida, em São Paulo (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

COPA EM SAMPA

Fausto Fawcett nasceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, ou talvez Copacabana tenha nascido nele. Repleto de atribuições, entre elas a de roteirista, Fawcett preferiu ser qualificado por este repórter “basicamente” como escritor e compositor.

Toda quarta-feira do mês Fawcett aparece na rua Capitão Salomão, no centro histórico de São Paulo, para proferir palavras embasadas em emoções fortes, no evento Trovadores do Miocárdio. “O lugar fica entre a avenida São João e o Anhangabaú. Acontece sempre nas quarta-feiras, mas sem ter uma quarta-feira certa. Os próximos serão amanhã [hoje, dia 4] e no dia 16 de outubro. Lá, faço parte de uma trupe com mais três convidados, entre eles o Mário Bortolotto [ator, diretor, dramaturgo, escritor e compositor] com textos sobre amores rascantes e aquele lado negro dos desejos amorosos e das relações.”

O evento, segundo Fawcett funciona da seguinte maneira: “São escolhidas duas ou três canções por pessoa. A voz dessas canções são subtraídas e declamamos textos no lugar delas sobre o que é sugerido na letra”. Por meio dessa experiência, o escritor já criou palavras que levam a ideias, sensações e emoções para, entre outras, a canção “Perfect Day”, de Lou Reed .

Outro trabalho que Fawcett tem desenvolvido em São Paulo é a constante e fértil parceria com Bianca Jhordão (voz, guitarra e theremin), Rodrigo O’Reilly Brandão (vocais, guitarra e sintetizador) que, juntos com Dourado (baixo) e Fabiano Paz (bateria), formam a banda Leela.

GÊNESE DA PARCERIA

Segundo Fawcett, em 1999, ele estava “de bobeira”, assistindo a um programa de TV quando viu Bianca Jhordão em uma reportagem sobre meninas no rock. “Aí eu falei: ‘Nossa, que garota bacana. Quero que ela faça parte da minha vida e eu da dela’.”

O escritor e compositor se informou e soube que, após alguns dias, Bianca Jhordão se apresentaria, ao vivo, com o poeta Chacal, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Fawcett rumou para o local, encontrou Bianca, e “na maior cara de pau e entrão” convidou-a para trabalhar com ele. A moça topou e juntos já fizeram uma infinidade de shows, além de composições.

Mas o que levou Fawcett, 62, a juntar sua criatividade com a do casal Bianca Jhordão, 42, e Rodrigo O´Reilley, 44? “Obviamente um entendimento nítido e fluido. Aceitei o convite deles para compormos juntos e até hoje nos reunimos para isso, o que é uma delícia.”

Capa do CD ‘Leela’ (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O resultado da união dos três artistas começou a ser registrado a partir do primeiro disco da banda, “Leela” (2004) – também conhecido como “Ver o Que Faço” (Arsenal/EMI) -, no qual constam as músicas “Qualquer Um”, “Último Jantar”, e “Romance Fugitivo”, todas de Rodrigo, Bianca e Fawcett. Descritas por Rodrigo, “Qualquer um” é “uma balada, uma música mais lenta”; ‘Romance Fugitivo’, um rockão, e ‘Último Jantar’, uma música climática, que no disco conta com a participação do Fausto”.

Capa do CD ‘Pequenas Caixas’ (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Do segundo disco do Leela, “Pequenas Caixas” (Arsenal/Universal Music, de 2007), constam quatro das composições do trio: “Amor Barato”, “1 Beijo Pede Bis”, “Mundo Visionário” e “Delirium”.

Comentadas por Rodrigo, “Amor Barato” é “um rock acelerado, com um riff meio surf music; ‘1 Beijo Pede Bis’ também é uma música bem dançante; ‘Delirium’ é um indie rock; e ‘Mundo Visionário’ é uma das músicas mais legais que eu e a Bianca já fizemos em nossas carreiras”, falou o músico sobre a composição inspirada na série de história em quadrinhos “Sandman”, do britânico radicado nos Estado Unidos Neil Gaiman. Foi por essa razão que “amarraram” na letra da música o Destino, a Morte, o Sonho, a Destruição, o Desejo, o Desespero e o Delírio, personagens do universo de “Sandman”. “Em inglês todos esses nomes começam com a letra ‘d’”, disse Rodrigo, que nasceu na Inglaterra, sobre a balada.

Capa do CD ‘Música Todo Dia’ (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Do terceiro disco do Leela, “Música Todo Dia” (2012), Fawcett, Bianca e Rodrigo, junto com o baixista Tchago Kochenborger, compuseram “Topo Tudo”, “um rock com um riff bacaníssimo”, segundo Rodrigo. Outras do mesmo disco são “Por Um Fio/Hey Baby”, um rock bem dançante que pontua as relações das pessoas pela internet, além de “Cidade Sitiada” e a balada “Tô Pronta”.

Banda Leela e, no centro, Fausto Fawcett (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Do quarto álbum do Leela, lançado apenas virtualmente, sete músicas são de autoria do trio. Entre elas, “Youtube Mine”, que brinca com o modo de os youtubers se apresentarem e com o narcisismo que há nesse meio; “Fanáticos Online”, abordando o universo das redes de gamers, é uma das mais ouvidas do grupo pela internet. Já “Momento Presente” conta com a colaboração da compositora Andrea Borges para mostrar como as pessoas são sugadas, na rede digital, por inúmeros assuntos que as desviam de seus reais objetivos. “Temos que prestar atenção ao que está acontecendo na realidade real, não só na virtual”, alertou Rodrigo.

Outra música do trio no álbum virtual, dessa vez com a colaboração do norueguês Kjell Sandvik, é “Cada Vez Mais”. “Ela versa sobre a conexão com o nosso interior, para compreender sobre o que estamos passando, pois se não nos conectarmos com nós mesmos ficamos perdidos”, disse Rodrigo.

Já “Fome de Viver – Fuga Pelo Twitter”, de Bianca, Rodrigo e Fawcett, trata de um surto de abandono. “São crianças, entre sete e dez anos, que, pelo Twitter, redes sociais e na ‘dark baby web’, combinam uma fuga”, disse Fawcett. “Todos os pais e avós ficam sem seus filhos e seus netos. Isso vira notícia. Um repórter consegue achar uma dessas crianças que, com oito anos de idade, explica porque tinha fugido: ‘A minha fome de viver, você não vai entender’. É uma inquietude, um varejão de existencialismo.”

UNIÃO ESTÁVEL E AMADURECIDA

Como é o clima de trabalho do trio?“A Bianca sempre me passava um briefing de um sentimento ou de alguma coisa que ela tinha na cabeça, nos reuníamos na casa deles, fazíamos um brainstorm trocando ideias e, quando víamos, estávamos há seis, sete horas tocando, conversando e obviamente comendo e bebendo alguma coisa para não desmaiar”, contou rindo Fawcett.

O entendimento entre o casal e Fawcett foi “se aperfeiçoando, se refinando”. Em 2010, os três artistas resolveram assumir uma personalidade que não pertencesse a nenhuma das duas bandas nas quais atacavam, a Robôs Efêmeros e a Leela, e assim criaram o grupo The Tríceps.

A partir daí, as conversas entre Fawcett, Bianca e Rodrigo acabaram por convergir para uma mesma perspectiva: pensar sobre assuntos sociais, psicológicos e sentimentais. Isso deu origem ao último disco da banda Leela, que aborda temas referentes a redes sociais, fragmentação de personalidades e de uma sociedade de massa jogada nas redes. “Mostramos, nesse último trabalho do Leela, como estamos paranoicos, vivendo vidas duplas em função de aplicativos. É um mergulho nessa vasta temática de atualidades, de redes sociais e de tecnologia, influenciando e provocando mutações de comportamento e sensibilidade nas pessoas.”

O SHOW

“Editorial”, música inédita do trio, será apresentada no show de quinta-feira (5). Qual a pegada dela? “Tem um bolero no disco ‘Trilogy’, do Emerson Lake & Palmer, com um tom marcial e eu achei aquilo perfeito para o que a gente estava querendo dizer”, falou Fawcett.

Versões de “2000 Light Years From Home”, dos Rolling Stones, e “Bela Lugosi’’s Dead”, do Bauhaus, também estão previstas no show. Sobre a primeira, Fawcett adianta: “É uma homenagem nossa para os Rollings Stones. Faço uma inserção de texto falando sobre os 50 anos do homem na lua em uma reprogramação de uma música que gostamos muito”.

O show comemora a maturidade entre os três artistas, que fazem, numa espécie de escambo, a troca de briefings para comporem e se expressarem pelo som e pela palavra. Segundo Fawcett, o espetáculo é “instigantemente” comemorativo e sobre a atualidade. “É um comentário psicodélico sobre o que está acontecendo. Artista é para botar luz em conflito, não para promover harmonia. Harmonia já basta as que os músicos fazem quando compõem”, disse rindo.

O intuito de colocar “luz no conflito” é para o escritor a possibilidade de “botar à prova sua energia, sua afirmação da vida. Mas você não pode afirmar a vida sem lidar com as negatividades, senão você vai ser um bobo alegre”.

Perguntei se há um conflito específico no qual Fawcett estava “lançando luz”, e ele respondeu: “Os conflitos estão todos generalizados. Há anarquia por todos os lados”.

Ok. Mas nem em meio à polianarquia podem faltar os hits “Kátia Flávia” e “Rio 40 Graus”, confirmadas para o espetáculo.

Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo blog com a banda Leela, tocando “Fome de Viver – Fuga Pelo Twitter”, de Bianca Jhordão, Rodrigo O´Reilly e Fausto Fawcet.

SHOW 20 ANOS DE PARCERIA LEELA E FAUSTO FAWCETT

ARTISTAS Fausto Fawcett (textos, voz), Bianca Jhordão (voz, guitarra e theremin), Rodrigo O’Reilly Brandão (vocais, guitarra e sintetizador), Dourado (baixo) e Fabiano Paz (bateria)

ONDE FFFront, r. Purpurina, 199, Sumarezinho, São Paulo, tel. (11) 99495-0331

QUANDO Quinta-feira (5), 22h30; a casa abre às 19h

QUANTO R$15