Trio Corrente reforça elos em show de lançamento de CD em São Paulo
Acontece neste sábado (31) no Blue Note, em São Paulo, o show de lançamento do CD “Tem Que Ser Azul”, do Trio Corrente, formado pelo pianista Fabio Torres, 48, pelo contrabaixista Paulo Paulelli, 45, e pelo baterista Edu Ribeiro, 44, que tocam juntos há quase 20 anos.
O disco é resultado de uma gravação realizada em uma tarde no estúdio Indiehub, em Milão, na Itália, durante um intervalo da última turnê do grupo pela Europa, em julho de 2018.
O Música em Letras esteve na noite de quinta-feira (29), na Faculdade Santa Marcelina, no bairro de Perdizes, em São Paulo, com os três exímios músicos, os entrevistou e fez um faixa a faixa do disco novo, além de gravar, com exclusividade para o blog, um vídeo no qual o Trio Corrente interpreta “ Êxtase”, de Djavan, parte do repertório do disco e do show (veja vídeo no final).
O DISCO
Para o pianista e arranjador Fabio Torres, o conceito do disco se resume a uma palavra: “Amadurecimento”. Para o compositor, contrabaixista e arranjador Paulo Paulelli, a palavra escolhida foi: “Afinidade”. Enquanto que para Edu Ribeiro, baterista, professor, compositor e arranjador, a síntese do trabalho ficou um pouco maior: “É um retrato do Trio Corrente em 2018”.
O disco foi gravado em 9 de julho de 2018 por Stefano Giungato, também responsável pela mixagem e masterização. O design da capa e encarte foi realizado por Marina Barbensi, com fotos de Fatima Batista, além das notas do encarte escritas pelo próprio Trio Corrente, assim como a produção que o grupo realizou para a Abeatrecords. “Por enquanto o disco só existe em CD e importado. Futuramente será lançado na internet, mas ainda não sabemos quando”, falou Fabio Torres, sobre a bolachinha italiana que será vendida na noite do show por R$ 30.
O título do disco “Tem Que Ser Azul” é também o título da oitava faixa do álbum, composta por Messias Santos Junior, o Messias (1941- 1985), violonista, guitarrista, compositor e arranjador morto precocemente em um acidente de carro. “Era para o Dirceu Batera estar com meu tio no carro. Eles armaram uma pescaria, mas o Dirceu não foi. Meu tio foi sozinho e na volta pegou uma carreta Scania, de frente”, contou Paulelli, citando o celebre baterista Dirceu Medeiros. Messias, que era tio do contrabaixista do Trio Corrente, entre outras atribuições, foi arranjador de João Gilberto (1931-2019) e parceiro de Chico Buarque. O integrante do trio também é neto do “Arnesto”, personagem que morou no bairro do Brás, em São Paulo, e acabou imortalizado por Adoniran Barbosa (1910- 1982) na música “O Samba do Arnesto”. Entendido o grau da linhagem do contrabaixista?
Esta não é a primeira vez que uma música de Messias Santos Junior tem a honra de ser tocada pelo sobrinho e seus “cheganças”. No show de apresentação do disco de Paulelli, “Insight Moments”, que aconteceu em 2009, no Sesc Instrumental, com Paulo Paulelli, no contrabaixo, Fábio Torres, no piano, Marcus Teixeira, guitarra e violão, além do saudoso Vinícius Dorin (1962-2016), no teclado e sopros, o grupo tocou “Ao Meu Amigo Marajó”, outra obra do músico e multi-instrumentista.
Perguntei a Paulelli como ele teve acesso à obra de Messias, se ele havia deixado grades com arranjos escritos e partituras. “ Foi por meio de fitas K-7. São gravações que ele fazia e deixou. Essa que dá título ao nosso disco, ‘Tem Que Ser Azul’, eu mostrei pra eles [Fabio Torres e Edu Ribeiro] que gostaram e gravamos na hora. Ouço essa música desde que eu era molequinho, porque minha mãe a cantava para mim”.
FAIXA A FAIXA DO CD “TEM QUE SER AZUL”
1 “Amor Até O Fim”, de Gilberto Gil
“Essa música acompanha a gente há muitos anos. Outra que também está no disco e está conosco há muito tempo é o ‘Assanhado’ [faixa 7]. Quisemos regravar essas músicas porque são standards brasileiros que sempre tocamos de uma maneira muito pessoal. Ela tem um espírito do Miles Davis, quando ele tocava com o quinteto sempre as mesmas músicas de uma maneira que elas vão evoluindo e permitem que você também evolua dentro de um mesmo assunto. O Trio Corrente tem duas aproximações [para o desenvolvimento do trabalho]: uma é renovar o repertório e a outra é visitar os mesmos temas e ir amadurecendo-os. A gente quis registrar essa versão, tipo os filhos cresceram, mostrando uma fotografia atual dessas crianças”, falou Fabio Torres.
2 “Só Tinha De Ser Com Você”, de Tom Jobim
“Essa música é outra que fazemos juntos há muitos anos. É o tipo de música que engana quem ouve, até músicos, porque na forma que a tocamos parece que há um monte de convenções e arranjo, mas não tem arranjo. Temos uma estrutura, mas é tudo intuitivo. Depois que a tocamos várias vezes ela toma uma forma, que é bem maluca, e que fazemos do nosso jeito”, disse Paulelli.
3 “Frevelli”, de Fabio Torres
“Esse é um frevo dedicado ao Paulo Paulelli. É bem virtuosístico e difícil de ser tocado no piano. Eu estava superpreocupado quando formos gravar essa música, pois tínhamos pouco tempo, mas ela saiu de primeira, em um take só, e todo mundo tocou muito nessa faixa”, disse Fabio Torres.
4 “Retrato Em Branco E Preto”, de Tom Jobim e Chico Buarque
“Essa é uma homenagem ao João Gilberto, que é uma grande influência para todos nós. Um mestre. Um dos nossos pilares, embora toquemos a música brasileira de uma forma diferente. Quando gravamos a música, ele [João Gilberto] ainda estava vivo. Especialmente nessa faixa pode-se perceber que estamos tocando de uma maneira bem delicada e com todo o respeito à melodia, seguindo a estrutura da bossa nova”, falou Paulelli.
5 “Êxtase”, de Djavan
“Esse arranjo foi o Fabio quem trouxe para nós. Ela não estava no repertório e chegou com tudo, ocupando o lugar de uma das coisas novas que fizemos especialmente para esse álbum”, contou Edu Ribeiro.
6 “Eu E A Brisa”, de Johnny Alf
“O Johnny [Alf] foi um compositor maravilhoso. O Fabio trouxe essa música para nós quando fizemos um programa para a TV Cultura gravado em homenagem ao Johnny. Essa música já é linda, com uma harmonia linda, mas o Fabio conseguiu fazer um arranjo bem diferente da versão original, em compasso de três por quatro, de uma beleza incrível”, falou Edu Ribeiro.
7 “Assanhado”, de Jacob do Bandolim
(Leia comentário sobre a faixa 1)
8 “Tem Que Ser Azul”, de Messias Santos Jr.
“É uma composição do meu tio, uma pessoa que me influenciou muito e que foi da turma que construiu a bossa nova. Se o ouvinte prestar a atenção na estrutura desse tema, irá perceber que ela parece muito com a da música ‘Esse Seu Olhar’, até a parte harmônica. Mas eu dei uma mexidinha, uma mudadinha na harmonia, sem desvalorizar a melodia. Ela tem a estrutura da bossa nova que fizemos como uma baladona”, disse Paulelli.
9 “Cinco”, de Edu Ribeiro e Chico Pinheiro
“Essa é uma música antiga minha, já tem onze anos, compus para o primeiro álbum que fiz , ‘Já Tô Te Esperando’ [2006]. É um maracatu em compasso de cinco por oito em que eu brincava com os tempos daquela época. Foi uma gravação para aquele disco, que revitalizamos agora”, contou Edu Ribeiro
10 “Jobim Passeando Em Rivera”, de Paulo Paulelli
“Fiz essa música pensando no Paquito [Paquito D´Rivera, saxofonista], que gosta muito de música brasileira. Fiz com as características e a forma de compor as melodias do Tom Jobim. É uma homenagem do Tom Jobim para o Paquito”, falou Paulelli.
11 “Baião Do Salomão”, de Fabio Torres
“Escrevi esse baião dedicando-o ao pianista Salomão Soares, que é um jovem [Salomão tem 28 anos] que está arrebentando no piano. Fiz essa música pensando nele e em uma harmonia moderna com muito suingue”, disse Fabio Torres.
SHOW
Para Edu Ribeiro, quem for ao show vai assistir a um espetáculo de música feito por um trio de jazz brasileiro, com improvisações, mas que terão por base canções brasileiras conhecidas, além de uma ou outra música autoral. “Quando tocamos músicas que fazem parte da vida das pessoas, damos um abraço nelas”. O contrabaixista Paulo Paulelli, avisa: “Esse é um show feito para agradar todo mundo. Infelizmente percebe-se que na música instrumental, principalmente, músicos tocam tendo prazer só para eles. Nós queremos ter esse prazer com as pessoas que estão ouvindo. A ideia que o Trio Corrente persegue é essa de dividir a música junto com o público e sentir o que eles estão sentindo. Dessa maneira, penso que fazemos as pessoas e a nós felizes.” Já para o pianista e arranjador Fabio Torres, “as pessoas que forem ao show devem esvaziar a mente para sentirem a música desse trio que fala com o coração, o corpo e a cabeça”.
Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo Música em Letras, no qual o Trio Corrente interpreta “Êxtase”, de Djavan.
SHOW DE LANÇAMENTO DO CD “TEM QUE SER AZUL” DO TRIO CORRENTE
ARTISTAS Trio Corrente: Fabio Torres, piano; Edu Ribeiro, bateria, e Paulo Paulelli, contrabaixo
QUANDO Sábado (31), primeira sessão às 20h; segunda sessão às 22h30
ONDE Blue Note, av. Paulista, 854, quiosque 12, piso Paulista, São Paulo, tel. (11) 945451511
QUANTO De R$ 35 a R$ 90