O violeiro e contador de ‘causos’ Paulo Freire lança livro com histórias de todo o Brasil

Paulo Freire, violeiro, escritor e contador de histórias, continua fazendo jus a essas qualificações tocando bem, escrevendo bem e contando histórias igualmente bem. Prova disso é o livro “Chão – Uma Aventura Violeira” do qual é “pai e mãe”.

Freire emprenhou-se do “minino”, como ele se refere ao apanhado de histórias que relata sua passagem por todas –  esta última palavra se torna gigante quando significa os 26 estados, mais o Distrito Federal – as 27 unidades federativas que compõem o Brasil, realizando, entre 2015 e 2016, 120 shows em mais de 100 cidades, ao lado do amigo violeiro e luthier Levi Ramiro.

Os dois músicos integraram naquele período a 18ª edição do Sonora Brasil, o maior projeto brasileiro de circulação musical, promovido pelo departamento nacional do Sesc (Serviço Social do Comércio). Com duração de dois anos a cada edição, o projeto passa pelas cinco regiões do país, promovendo a formação de novos ouvintes e divulgando artistas que trabalham com músicas não comerciais, além de valorizar a cultura regional. Um dos grandes diferenciais do Sonora Brasil é que as apresentações são acústicas.

Na ocasião de abertura daquela edição da qual Paulo Freire e Levi Ramiro fizeram parte, realizada em 28 de maio de 2015, em Vitória (ES), o Música em Letras esteve lá e ouviu de Paulo Freire que, ao dar uma caminhada por Vitória, encontrou um moço que gritava: “Cláudia, faz dois dias que você não aparece em casa. Os seus filhos, Cláudia, os seus filhos…”. Enquanto ouvia o lamento gritado, o músico reparou que estava ao lado da igreja de São Gonçalo, santo protetor dos violeiros. Ficou na dúvida se continuava a ouvir o rapaz ou entrava na igreja. Optou pela igreja, mas dentro dela – que abriga a imagem do santo, mas sem a violinha pendurada – o silêncio promoveu ainda mais os gritos por Cláudia, fazendo com que a voz ocupasse todos os espaços de seus pensamentos. Paulo ainda chegou a pensar: “São Gonçalo que me perdoe”. Mas, para ele, a moça decerto estava dormindo na casa do amante, e o pobre marido foi chamá-la à razão, humildemente, em nome dos filhos.

O violeiro e “fofoqueiro” saiu da igreja e foi em direção ao moço que ainda bradava o nome de Cláudia, embaixo de um edifício de escritórios que estava fechado. Como ele começou a cantar e dançar, Paulo concluiu que se tratava de um doido e que havia perdido um “bom causo na cachola”.

Contudo, é aí que se estabelece um equívoco, pois a história do “doido” de Vitória tornou-se um dos divertidos “causos” avistados pelo músico durante as viagens integrando o megaprojeto  Sonora Brasil. “Chão – Uma Aventura Violeira” é como um diário de bordo dessa enorme viagem que Paulo Freire fez com seu “compadre” Levi Ramiro, apresentando as violas caipira e do sertão.

Dá para ler numa sentada as 240 páginas do livro editado pela E-Galaxia e que é vendido por R$ 20. Assim o fiz em um voo, semana passada, entre São Paulo e Natal, embora tenha deixado um pouquinho para ler no hotel, com dó de terminar o prazer da leitura. Mas nem só de coisas engraçadas o músico concebeu seu “minino”, pois há na publicação reflexões sérias, pontuais, além de descobertas e aprendizados sobre um Brasil que poucos de nós conhecemos. Tudo com o esmero de quem é detalhista, mas sem ser mala, chato ou enfadonho.

Uma delícia de ler e de conhecer. Ah, não estranhe se ao ler esse “minino” você escutar as violinhas do Paulo e do Levi que, mesmo em letras, estão ali.

CHÃO – UMA AVENTURA VIOLEIRA

Autor Paulo Freire

Editora E-Galaxia

Preço R$ 20 (240 págs.)