Voz da música universal, Ana Malta lança CD em show em São Paulo

Acontece neste domingo (4), às 19h, no Instituto Brincante, o lançamento de, “Outra Voz”, primeiro CD autoral da cantora e compositora Ana Malta, uma expert em música universal.

O Música em Letras esteve no ensaio do show, no qual a artista se apresenta com um quinteto – formado por músicos excelentes –  e a entrevistou, além de fazer um faixa a faixa com ela e gravar com exclusividade para o blog um vídeo mostrando uma das músicas do disco que está no show (veja vídeo no final do texto).

Fazem parte do grupo de músicos, Oscar Aldama (piano), Dô de Carvalho (sax alto, tenor e flauta), Jackson Silva (baixo), Raphael Sampaio (trompete e flugelhorn) e Rodrigo Digão Braz (bateria). O show terá participações especiais de Jota P. (sax soprano) e Fábio Leal (guitarra e cavaco), também mestres nos fazeres musicais.

O pianista Oscar Aldama (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Ana Carolina Malta Ávila, 39, é cantora, arranjadora, compositora, produtora, além de professora. Nasceu em Caieiras, município localizado na região metropolitana de São Paulo. Títulos? Sim, ela é licenciada em música pela UNIMES (Universidade Metropolitana de Santos), formada em canto popular (MBP e jazz) e em canto lírico pelo Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, de Tatuí, onde depois de cursar licenciatura tornou-se, em 2009, professora de canto popular. No total, são mais de 20 anos estudando e trabalhando pelas estradas da música .

O saxofonista e flautista Dô de Carvalho (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Hermeto Pascoal chama a música que faz de universal, na qual são misturados vários os elementos possíveis em um gênero musical, sem rótulos ou preconceito, promovendo uma mistura natural, por meio do conhecimento de todos os ritmos e linguagens. Entre os adeptos dessa concepção musical estão dois grandes mestres do gênero: o contrabaixista Itiberê Zwarg e o pianista André Marques. Os dois músicos, que atuam também como arranjadores e compositores, há muito integram a banda de Hermeto e dão continuidade, em alguns de seus próprios trabalhos, ao conceito de música universal, que antes de tudo é o de se fazer música de maneira livre e com muita propriedade. Nessa trilha, nasceu pelas mãos de André Marques o grupo Vintena Brasileira, do qual Ana Malta é cantora há mais de 15 anos e gravou quatro discos: “De Baque às Avessas” (2006), “Labirinto” (2011), “Bituca” (2015) e “(r)Existir” (2018).

O contrabaixista Jackson Silva (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

A maior lição que Ana Malta teve com André Marques foi: “Ter liberdade musical e aprender a confiar em mim”. Já a maior lição que a artista pensa poder dar para alguém que está iniciando seus estudos no canto é: “Busque o seu som, a sua voz. Não compare; voz é igual a impressão digital: cada um tem a sua com seu timbre. Por focarmos muito em nossos ídolos, em pessoas que ouvimos, queremos imitá-los, mas não adianta. Você não vai conseguir tirar o som da Elis Regina ou da Luciana Souza. E não é para tirar. Você tem de ter seu som, ir atrás dele para sacar suas limitações técnicas e resolvê-las, não escondê-las. Estude o que você precisa para ser completo, mas buscando sempre o seu som, o que te move musicalmente”.

trompete
O trompetista Raphael Sampaio (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Para Ana Malta, improvisar com a voz é diferente de improvisar usando qualquer outro instrumento. “Outros instrumentos têm digitação, memória muscular, e alguns ainda proporcionam a visão do que se está fazendo. Na voz você tem só o ouvido interno, por isso tem desenvolver bastante a percepção melódica, harmônica e rítmica. O processo de improvisação com a voz é muito gradativo, mas compensa. Tem que estudar acorde por acorde, solfejar, abrir as vozes, cantar as extensões e tudo mais, mas no final o prazer de se improvisar sem usar padrões recompensa.”

O baterista Rodrigo Digão (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Segundo a cantora, que é soprano, o CD “Outra Voz” é um passeio pelas possibilidades da voz como um instrumento. “É um convite para observarmos e aprendermos que a voz tem outras possibilidades que não só acompanhar a letra. Temos um cancioneiro maravilhoso, com obras maravilhosas, e talvez por isso ficamos presos a relacionar cantoras com canções. Esse disco é diferente porque traz a voz sem a letra, com improvisos, contrapontos, melodias e muita rítmica.”

A mixagem do disco, todo produzido de maneira independente, ficou a cargo de Edu Malta, produtor e contrabaixista, irmão de Ana. “Tem muito dele nesse disco. Quando eu tinha 9 anos  comecei a ouvir Weather Report, Jaco Pastorius, Herbie Hancok, Hermeto Pascoal, Tom Jobim e Chico Buarque, entre outras coisas instrumentais, com ele. Como ele sabe qual é minha veia, conseguiu colocá-la no som final do trabalho.”

Ana Malta dá uma dica para quem for ao show: “Vá com a alma e o coração abertos para ouvir essa outra possibilidade vocal. Certamente será curioso ouvir a voz em um outro lugar, desenvolvendo um outro papel em uma outra situação. Não é nem melhor e nem pior do que a voz com letra, mas sim um outro jeito. Espero colocar uma sementinha de curiosidade no público para que busquem outras cantoras que também fazem instrumental”.

Leia, a seguir, o faixa a faixa que a artista fez com exclusividade para o blog.

Capa do CD ‘Outra Voz’, de Ana Malta (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

FAIXA A FAIXA CD “OUTRA VOZ” 

1- “Sete Anos”, de André Marques

“Essa música tem uma fórmula de compasso, que é nove por oito, não muito convencional.  O André Marques compôs em homenagem ao filho [Tito], quando ele completou 7 anos. No disco, os solos de piano são do André Marques, mas no show será com o Oscar Aldama, além de mim, na voz, e o Dô Carvalho, no sax. Ela começa com um contraponto, vou caminhando com a melodia, dobrando com o piano, e no final, dobro com o trompete. No meio da música, que também tem momentos mais melódicos, há intervenções, umas ‘camas’, com melodias vocais, enquanto os sopros fazem o contraponto, uma loucura porque é muita informação; são muitas linguagens rolando ao mesmo tempo.”

2- “Inconstante”, de Ana Malta e Oscar Aldama

“É uma música em [compasso de] sete e também traz vários elementos como o maracatu. Desdobramos a melodia, o tema, e assim aparecem várias fórmulas de compasso. Passamos para um compasso de dois por quatro fazendo uma toada e depois um maracatu com esse mesmo tema. Ou seja, pegamos o mesmo tema melódico e o tocamos com outros ritmos. Eu começo solando e depois vem o solo de trompete do Raphael Sampaio.”

3- “Amigo Leal”, de Ana Malta

“Fiz em homenagem ao guitarrista Fábio Leal, que conheço lá de Caieiras desde que ele era molecão, tinha uns 15 anos e tocava com meu irmão [Edu Malta] e o Digão [baterista]. Nessa época começamos uma amizade muito legal. Ele me ajudou muito no conservatório, em Tatuí, nas vivências musicais. Como ele fez um samba para mim, ‘Samba para Ana’, fiz o ‘Amigo Leal’ para ele, representando nossa amizade.”

4- “Movimento”, de Ana Malta

“Essa é uma balada. No início ela tem uma melodia bem livre e solta, depois entra o ritmo com  outros instrumentos. Ela é bem melódica, interpretativa e bem solta. No final, improvisamos eu, Dô de Carvalho e o Raphael Sampaio, juntos.”

5- “Nosso Samba”, de Ana Malta e Oscar Aldama

“O Oscar [Aldama] fez a parte A do tema e juntos fizemos as partes B e C. No começo tem cara de um samba não muito tradicional, mas depois entra uma rítmica mais abrasileirada. Depois que fizemos essa música, escrevi o arranjo para essa formação do disco.”

6- “Chacarera à Tatuí”, de Ana Malta

“Esse arranjo também é meu para a música na qual homenageio a cidade de Tatuí, onde fui para estudar e há 10 anos dou aulas de canto de MPB e jazz. Nessa cidade vivenciei muita música e aprendi muito. Foi lá que conheci o André Marques, entre outras pessoas importantes, além de ter começado minha carreira musical. Como em Tatuí tem bastante gente de outros países, principalmente da América Latina, usei a ‘chacarera’, um ritmo argentino, para homenagear a cidade.”

7- “Vamu toma uma?”, de Fábio Leal

“Pesquisando as músicas do Fábio [Leal, guitarrista e compositor] achei essa e de cara resolvi gravar. É um maracatu bem sincopado, com uma fórmula de compasso bem difícil, em cinco. Ela é bem legal, uma delícia de tocar e tem a participação do Fábio Leal na guitarra.”

8- “Sem Palavras”, de Ana Malta

“Essa foi minha primeira composição, é de 2010. Ela é bem melódica e acaba virando um ‘ostinato’ [motivo ou frase musical que é persistentemente repetido], repetindo, repetindo e repetindo. No disco o solo de escaleta é do André Marques, mas no show, o solo será do Raphael Sampaio, no trompete.”

9- “Pro André”

“Minha homenagem para meu grande professor e mestre André Marques. Foi ele quem me iniciou na música, na voz instrumental com improvisação e nessa escola da música universal, que ele trouxe do Hermeto Pascoal para Tatuí. Com ele aprendi sobre a música livre, onde há liberdade para se criar. Essa concepção musical é a de se fazer um som livre, mas sempre com tudo embasado em muito estudo. Nessa concepção você tem liberdade de linguagens musicais. O André me chamou para cantar na Vintena Brasileira e com ele aprendi tudo, por isso a homenagem.”

O disco estará à venda no show por R$ 20.

Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo Música em Letras, durante o ensaio do show.

SHOW LANÇAMENTO CD “OUTRA VOZ”

ARTISTAS Ana Malta (voz), Oscar Aldama (piano), Dô de Carvalho (sax alto, tenor e flauta), Jackson Silva (baixo), Raphael Sampaio (trompete e flugelhorn) e Rodrigo Digão Braz (bateria). Participações especiais de Jota P. (sax soprano) e Fábio Leal (guitarra e cavaco)
QUANDO Domingo (4), às 19h
ONDE Instituto Brincante, rua Purpurina, 412, Vila Madalena, São Paulo, tel. (11) 3816-0575
QUANTO R$ 40