‘Chão de Flutuar’ é preciosidade a ser lançada em show em São Paulo
Acontece neste sábado (27), no auditório Ibirapuera, em São Paulo, o show de lançamento do CD “Chão de Flutuar”, com o duo formado pelo pianista Salomão Soares e a cantora Vanessa Moreno.
O Música em Letras ouviu o disco – que é ótimo -, esteve em ensaio do duo, entrevistou os artistas, fez um faixa a faixa com a dupla e gravou, com exclusividade para o blog, um vídeo no qual Salomão Soares e Vanessa Moreno mostram “Ninho de Vespa”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, música do disco e do show (veja vídeo no final do texto).
“Chão de Flutuar” nasceu de uma ideia de Rafael Altério, o Garga, compositor e proprietário do estúdio Gargolândia, ao testemunhar a dupla brincando [tocando e cantando] no local. “Ele [Rafael Altério] ouviu a gente fazendo música juntos, disse para gravarmos lá e que deixássemos tudo por conta dele, já marcando a data da gravação para o mês seguinte”, contou Salomão Soares que, com o apoio de Garga, gravou em três dias, com Vanessa Moreno, o repertório das 12 faixas do disco.
Vanessa Moreno da Silva, 32, nasceu em São Bernardo (SP) é cantora, compositora, toca violão e instrumentos de percussão. A cantora, formada em canto popular pela faculdade Souza Lima, em São Paulo, tem 12 anos de carreira. “Chão de Flutuar” é seu quarto disco.
O pianista, compositor e arranjador Salomão Soares de Carvalho, 29, nasceu e foi criado em Cruz do Espírito Santo, no interior da Paraíba. O músico, cuja carreira completou 13 anos, mora em São Paulo há oito. Estudou no conservatório de Tatuí, mas não se formou. No entanto, tocou tanto na noite de São Paulo – e ainda toca – que a considera sua escola. “Minha faculdade foi a noite”, disse o artista que com “Chão de Flutuar” tem quatro discos lançados.
OPINIÕES EM DUPLA
“Chão de Flutuar” por Vanessa Moreno: “Piano e voz. Gostamos muito de tocar em duo. Nessa formação mais ‘pelada’, desenhamos juntos em espaços que criamos, tendo como base raízes da música popular brasileira e espaço para improvisarmos. Achamos caminhos diferentes, não aqueles que propiciam uma coisa mais estática.”
“Chão de Flutuar” por Salomão Soares: “Procuramos explorar outras possibilidades de piano e voz, que é uma formação convencional. São ritmos brasileiros de compositores que gostamos bastante; de Egberto [Gismonti], que é do instrumental, a Tom Jobim, que é do cancioneiro brasileiro. Com o improviso ficamos muito livres; a cada vez que tocamos, vamos nos reinventado. É um disco que tem arranjos, mas também muita criação, que aparece no momento em que estamos executando.”
Cantar com Salomão Soares é… “Não sei nomear apenas uma coisa, pois é um conjunto delas que fazem ser diferente cantar com ele. Eu me sinto muito bem quando canto com Salomão, porque ele tem uma coisa da rítmica muito forte e, ao mesmo tempo, me deixa livre para e criar, e vai me cutucando para que eu possa achar caminhos diferentes, que talvez eu já tivesse em mente. O Salomão é um pianista que me instiga a sair da minha zona de conforto e isso é muito especial”, disse Vanessa Moreno.
Tocar com Vanessa Moreno é… “Sempre gostei de provocar as pessoas com quem estou tocando. Quando percebo que a pessoa tem muita coisa para ser provocada, procuro provocar em todos os aspectos. Conheci a Vanessa quando cheguei em São Paulo, em 2011, no forró do Zé Pitoco. Todo mundo já falava muito bem dela porque, na parte técnica, ela tem tudo 100%, na afinação, ritmo e na interpretação. O nível dela é muito alto e, como disse, gosto de provocar quem tem dentro de si muita música, pois pode dar um caldo interessante. E não deu outra, né?”, disse Salomão Soares.
“Quando vou assistir [a um show de] uma música que me instiga, uma música viva, fico aberta para ser afetada. Espero que as pessoas estejam assim no dia desse show, com vontade de ver a nossa pintura e também de pintar com a gente, porque o feedback das pessoas faz com que aconteça a troca que torna esse quadro bonito”, disse Vanessa Moreno.
“Nossa música não está 100% formatada, pois até para a gente ela é uma surpresa. O grande barato é nos abrirmos para essa situação de improviso, deixar a coisa acontecer, e o público também sente isso. É como uma final de Copa do Mundo, porque há uma adrenalina forte no show”, disse Salomão Soares.
FAIXA A FAIXA “CHÃO DE FLUTUAR”
1 – “Correnteza”, de Tom Jobim e Luiz Bonfá
“Essa é uma música que sempre gostei de ouvir, mas gravamos de uma maneira que ficou totalmente fora do esperado. As pessoas esperavam que gravássemos coisas super-rápidas e super-rítmicas, por termos isso como pontos muito fortes. No entanto, fomos por outro caminho onde saí de minha zona de conforto e flutuei. O Salomão fez o arranjo”, falou Vanessa.
“Essa música já foi muito ouvida. Preparei um pouco mais o arranjo dessa faixa porque é uma música conhecida e achei interessante dar uma roupagem para as pessoas verem uma coisa um pouco diferente”, completou Salomão Soares.
2 – “Boca de Leão”, de Filó Machado e Judith de Souza
“Essa música retrata bem o que eu e a Vanessa temos em comum, que é a coisa da rítmica brasileira em um samba rápido. Por ser do Filó, a música já vem suingada, então não é preciso fazer muita coisa”, falou o pianista. “Essa é uma música boa de tocar e de ouvir”, falou a cantora.
3 – “Conversando no Bar”, de Milton Nascimento e Fernando Brant
“Essa tem uma letra muito atual e demos uma cara da África para ela”, disse o pianista.
4 – “Quebradeira de coco”, de Roque Ferreira
“Há muito que estava querendo gravar essa música do compositor baiano Roque Ferreira, com uma letra muito bonita. Apresentei para a Venessa porque não é uma música muito conhecida. É um coco, e eu queria mexer na harmonia dela, desconstruindo e deixando-a de uma forma mais singela. Fiquei muito feliz de ter gravado ela assim”, falou Salomão Soares.
5 – “Sanfona”, de Egberto Gismonti
“Egberto é um compositor e intérprete que exerce uma das maiores influências em mim. Fizemos ela instrumental e a cada take ela foi para um lugar diferente. Essa música muda a atmosfera de um lugar”, falou Salomão Soares, sendo completado por Vanessa: “Escolhemos esse take porque quando terminamos de tocar lembro de termos tido a sensação de pensar: ‘Nossa, que legal termos conseguido chegar nesse lugar”.
6 – “Pedro Brasil”, de Djavan
“A Vanessa sugeriu que gravássemos uma música do Djavan. Eu imediatamente pensei nessa música, a mesma que ela citou”, falou Salomão Soares. “No começo e no meio dessa música tem umas coisinhas que faço em uníssono com o Salomão, dobrando. É um samba bem suingado, mas um pouco mais para trás do que o ‘Boca de Leão’, que é mais ‘agulhadinho’”, contou Vanessa Moreno.
7 – “Via Crucis”, de Guinga e Edu Kneip
“O título ‘Chão de Flutuar’ foi encontrado na letra dessa música. O que reflete termos um chão sólido, mas aberto para flutuarmos nele, como se estivéssemos flutuando sobre as músicas. É uma balada maravilhosa”, falou Salomão Soares. “Para mim é uma música desafiadora. A frase ‘Chão de Flutuar’ é uma das mais graves da música e fez com que eu saísse novamente de minha zona de conforto. Isso fez com que ela ocupasse um lugar muito especial porque a proposta do disco é essa, sair da zona de conforto”, falou Vanessa Moreno.
8 – “Xi, de Pirituba a Santo André”, de Rafael Altério e Kleber Albuquerque
“Sempre gostei muito dessa música. Cheguei a cantá-la em um quarteto que eu tinha, ela sempre esteve em minha cabeça. Essa música surgiu para nós no estúdio, sendo a última a ser gravada. Ela veio coroar o trabalho”, contou Vanessa Moreno.
9 – “Canção do Amanhecer”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes
“Essa foi a música que eu e a Vanessa estávamos executando no estúdio e que fez com que ele [Rafael Altério] nos convidasse para gravar o disco”, contou Salomão. “Essa música dá seu recado por si, com uma letra superdensa”, disse Vanessa Moreno.
10 – “Sanfona Sentida”, de Dominguinhos e Anastácia
“Não podia faltar uma de Dominguinhos, né? Como essa música é muito conhecida e faz parte do repertório tradicional do forró, quis mexer nela, desconstruindo-a um pouco para mostrar que uma música pode ter vários pontos de vista. Mas não deixa de ser um forró que começa com algo que remete a um aboio”, falou Salomão Soares. “É importante dizer que musicalmente foi no forró que eu e o Salomão nos encontramos”, disse Vanessa Moreno.
11- “Ninho de Vespa”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
“Sugeri para a Vanessa que, pelo fato de ela cantar com facilidade melodias rápidas, fizéssemos um frevo. Mas como eu queria dobrar com ela a melodia, tinha de ser um frevo que obviamente eu soubesse tocar. Escolhi esse que não é dos mais fáceis, mas aprendi”, disse Salomão Soares.
12 – “Fica Mal com Deus”, de Geraldo Vandré
“Gosto bastante da letra e dessa música do Vandré, acho muito interessante. Levantei uma ideia de arranjo, deixando-a aberta para deixarmos rolar”, conclui Salomão Soares.
Assista, a seguir, ao vídeo feito com exclusividade pelo Música em Letras com esses dois talentosos artistas. Incentivados por outro do mesmo quilate – Rafael Altério – fizeram um disco ótimo, repleto de suingue, sentimento, poesia, técnica e criatividade. Uma preciosidade que mostra como deve ser tratada a arte de amealhar os sons: com muito respeito.
SHOW DE LANÇAMENTO DO CD “CHÃO DE FLUTUAR”
ARTISTAS Salomão Soares, no piano, e Vanessa Moreno, voz
QUANDO Sábado (27), às 21h
ONDE Auditório Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/n, São Paulo, tel. (11) 3629.1075
QUANTO R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
O disco será vendido no dia do show por R$ 30