Acontece nesta sexta-feira (5) e no sábado (6), no Jazz B, em São Paulo, os shows do pianista porto-riquenho Edsel Gomez, 56. Morando em Nova York desde 1997, há dois anos Gomez não vinha à capital paulista. “Adoro vir para São Paulo. Tocar aqui para mim é um enorme prazer, pois sempre são momentos muitos especiais”, disse o músico, um dos principais pianistas de jazz latino do planeta.

O Música em Letras esteve com o pianista, nesta quarta-feira (3), na casa de espetáculos onde se apresentará e além de entrevistá-lo, gravou o instrumentista tocando “Maria Cervantes”, de Noro Morales (1912-1964), uma das músicas que está no repertório dos shows (veja vídeo no final do texto).

O autor deste blog conheceu Edsel Gomez em 1983, em Boston, na Berklee College of Music, instituição na qual o artista se formou, em 1985, e foi agraciado pelo disputado prêmio Count Basie, por seu enorme talento demonstrado ao tocar com monstros como o vibrafonista Gary Burton, o pianista Chick Corea e o trompetista Jerry Gonzalez. Desde nosso primeiro encontro, recordo que Edsel Gomez já tocava absurdamente bem e diretamente para a alma de quem o escutava.

O músico amealha 47 anos de sólida carreira. Só ao lado da cantora de jazz Dee Dee Bridgewater, o pianista completou 17 anos, tocando e arranjando em inúmeros projetos da artista. Nomes como o do percussionista Carlos “Patato” Valdes (1926-2007) e da cantora Celia Cruz (1925-2003), ambos cubanos, além dos cantores de salsa, os porto-riquenhos Marvin Santiago (1947- 2004) e Cheo Feliciano (1935 -2014), além do cantor e trompetista Willie Colón, entre outros, tiveram o acompanhamento primoroso do piano de Edsel Gomez. No Brasil, o pianista trabalhou com inúmeros craques da música instrumental e popular. Entre eles, o príncipe Paulinho da Viola, João Bosco e Caetano Veloso, além de ter atacado ao lado de Wilson Simonal (1938-2000).

Nos dois shows que irá realizar em São Paulo, Edsel Gomez ataca de trio, mas em duas formações. No show de sexta-feira (5), completam o som do piano Thiago Alves (baixo) e Cuca Teixeira (bateria). No sábado (6), além de Edsel Gomez (piano), Evaldo Guedes (baixo) e Jônatas Sansão (bateria) garantem a festa com muita música de qualidade.

Perguntei a Gomez  qual a diferença de tocar em cada um desses trios: “Todos são músicos excepcionais, mas cada um com uma personalidade musical própria. Vou tentar explorar temas direcionados para a personalidade de cada um deles. Na primeira noite, serão temas tocados com mais energia e puxados mais para o jazz. Entre eles, ‘Feijoada Completa’, de Chico Buarque, e ‘Nothing Personal’, de Don Grolnick [tema imortalizado pelo exímio saxofonista Michael Brecker, em seu disco de 1987]. Na noite seguinte [sábado], serão explorados alguns temas brasileiros como ‘Carinhoso’ e outros como o do compositor porto-riquenho Noro Morales, do qual tocaremos ‘Maria Cervantes’. Nesta última noite, será um som que passeia mais por uma linha caribenha”.

Outra música que faz parte da apresentação da noite de sábado é “Empty House”, composta por Edsel Gomez e parte do repertório de seu disco “Cubist Music”, que mostra o conceito de improvisação de Gomez baseado no Cubismo. A inspiração para a peça, que tem ares de música erudita, aconteceu após o artista ter passado uma temporada com seus filhos, quando ainda eram crianças, logo depois de ter se separado de sua mulher. “Eles [os filhos] foram embora e quando voltei para casa – era um final de semana –  a casa ficou vazia. Senti um enorme vazio também no meu peito, o que motivou essa composição. Para essa música, o Guedes [contrabaixista] está preparando uma coisa bem bonita para ser tocada com o arco”, disse o músico que teve dois filhos com a pianista e produtora musical brasileira, Cilene Peres, com quem foi casado.

Um dos filhos do casal, Edsel Daniel, tornou-se doutor em física e mora em Boston, enquanto o outro filho, Dennis Robert, tornou-se pianista clássico. Robert deve dar uma canja nos shows do pai tocando “Naima”, música composta pelo saxofonista John Coltrane (1926-1967) em homenagem a sua mulher que tinha este nome. “Além dessa, ele deve tocar alguma peça erudita que é a onda dele, mas ainda vamos definir.”

Segundo Edsel Gomez, quem for aos shows pode ter certeza de que irá “passar por momentos fantásticos”. “Vamos tocar de coração e darmos o melhor de nós em termos de energia, pois invocaremos todas as forças espirituais para que nos abençoem e assim possamos passar, por meio da música, essa energia para o público.”

Após os dois shows em São Paulo, o pianista faz uma apresentação em Curitiba e retorna para os Estados Unidos onde tem um compromisso importante. “No dia 13, chego em Nova York às 6h da manhã e às 9h tenho que encontrar 27 crianças carentes, com idade entre seis e 17 anos, em um espaço cultural no Bronx chamado Music for the People [Música para o Povo]. Essas crianças e adolescentes fazem parte de um projeto social, no qual cuido da parte de ensino musical, enquanto outros profissionais as ajudam com os problemas que elas enfrentam com suas famílias”, contou o artista que toca todas as quintas-feiras e domingos no Minton’s Playhouse, famoso bar e clube de jazz, que fica na 210 West 118th Street, no Harlem. O local, fundado em 1938, pelo saxofonista tenor Henry Minton, é um dos pontos mais importantes da história do jazz em Nova York.

Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo Música em Letras, no qual Edsel Gomez toca “Maria Cervantes”, de Noro Morales.

SHOW DO PIANISTA EDSEL GOMEZ

ARTISTAS Edsel Gomez (piano), Thiago Alves (baixo), Cuca Teixeira (bateria), Evaldo Guedes (baixo) e Jônatas Sansão (bateria).
QUANDO Sexta-feira (5), às 21h, com Edsel Gomez (piano), Thiago Alves (baixo) e Cuca Teixeira (bateria). No sábado (6), com Edsel Gomez (piano), Evaldo Guedes (baixo) e Jônatas Sansão (bateria)
ONDE Jazz B, r. General Jardim, 43, República, São Paulo, tel. das 10h às 18h, (11) 3088-0645 / 9 9559-9751; e de segunda a sexta das 18h às 24h: (11) 3257-4290
QUANTO De R$ 35 a R$ 40