Acontece neste sábado (1º), na Audio, em São Paulo, o show do disco “Gigantes” (2018) do rapper carioca BK’, artista que abocanhou o título de “show revelação”, em abril, no Lollapalooza Brasil 2019, e está confirmado como headliner do Espaço Favela, no Rock in Rio. BK’ acaba de retornar de sua primeira turnê pela Europa, com apresentações – todas com ingressos esgotados – em Porto, Lisboa e Barcelona.

O Música em Letras esteve com BK’ na manhã desta sexta-feira (31), no hotel em que está hospedado na capital paulista, onde entrevistou e gravou, com exclusividade para o blog, um vídeo com o multiartista mandando um trecho de “Titãs”, dele e de Felipe Perdigão Hiltz. A música é uma das 11 faixas do CD “Gigantes” (veja vídeo no final do texto).

Abebe Bikila Costa Santos é o nome de origem africana de BK’, 30, rapper, compositor e videomaker. “Trabalhei bastante com vídeo, mas agora faço só alguns de meus clips, quando consigo, dirigindo. A maioria dos roteiros são do meu irmão. Só que agora, o foco total é na música, mas conseguimos fazer uma dobradinha com vídeo”, disse o artista em entrevista ao Música em Letras.

BK’ apresenta no show, além de músicas do disco “Gigantes”, outras de seu primeiro CD, “Castelos e Ruínas” (2016), no intuito de trazer o público para o universo das muitas histórias contadas nesses dois discos. Por que essas histórias e seus shows são sempre um grande sucesso? “Sempre quando fazemos um trampo, a gente quer que a galera o receba da melhor forma. Mas tenho certeza que estamos com mais amadurecimento e mais experiência. Por isso, estamos chegando no palco com uma performance melhor e, com isso, conduzimos melhor o público e as faixas. No fundo é a junção de um trabalho, que vem sendo realizado há algum tempo, com a mente.”

Segundo BK’, nessa notória evolução, ele percebeu inclusive que está cantando melhor. “Estou fazendo aulas de canto e tenho uma fono [fonoaudióloga] que me ajuda muito. Quero voltar a cuidar também do corpo, mas é muita correria. Para a música e para o show você deve estar sempre com um bom condicionamento físico, na voz e na mente, temos que cuidar da cabeça também. Indico isso para todos os irmãos que trabalham com música porque é muito necessário. Sem esse condicionamento é impossível fazer uma hora ou duas de show.”

No show, dando uma força na massa sonora produzida pelo artista, há uma banda de peso formada por Magno Brito (contrabaixo), Théo (bateria), Ariel Pedro (teclado), El Lif Beatz (DJ). “Além deles, tem o mano Jonas, que fica fazendo o backing (vocal) comigo, e algumas participações, como o Luccas Carlos”, disse o artista citando o rapper e seu parceiro de longa data com quem compôs “Planos”, uma das ótimas músicas de “Gigantes”.

A intenção de BK’ é que o show traga ao público uma experiência “boa pra geral”. “O disco [Gigantes] foi feito para ser uma experiência completa, desde os clips, em que investimos bastante, às músicas. Tem várias músicas e esquemas de rimas diferentes, que é pra galera poder entrar em vibes diferentes. Tanto o disco quanto o show é como se fosse uma casa com vários quartos e várias salas para as pessoas entrarem e curtirem esses ambientes diferentes, mas em uma mesma casa”, falou o músico que conta com a troca de energia do público, o que considera ser o principal do espetáculo.

Na sua mais recente turnê pela Europa, BK’ sentiu a força da música brasileira no exterior e entrou em contato com sua popularidade como artista. “Cara, as pessoas me paravam na rua, e me reconheciam, como o pessoal que me para nas ruas aqui no Brasil. Isso é novo para mim. Em Portugal, onde eles [portugueses] pronunciam meu nome como B Kapa, para todo lado que eu ia ouvia chamarem meu nome dessa maneira. Muito maneiro isso, quase chorei um dia, de ver onde estamos chegando e o quanto ainda temos para alcançar.”

Para BK’ uma boa letra é: “Escrita de forma criativa, com ideias, e tecnicamente bem feita”. Um bom flow? “É o suingue em cima do que o MC ou a MC está contando. É o suingue da boa letra. O bom flow é uma boa letra com suingue”. Uma boa rima? “O conjunto de uma boa letra e um bom flow. O conjunto dessas duas coisas leva à uma boa rima, uma boa construção”. Uma boa mixagem? “Arthur Luna, ele é o cara da boa mixagem. Obrigado Arthur, estamos juntos”. Boa masterização? “Arthur Luna, também. A gente fez uma agora com o Chris Gehringer [engenheiro de masterização norte-americano, conhecido por trabalhos realizados com Rihanna e Lady Gaga, entre outros artistas]. O lance é fazer com que a galera consiga ouvir tanto os elementos do beat quanto a letra. Tem quem goste de deixar a voz mais alta que o beat e o contrário, o beat mais alto que a voz. Eu gosto da voz de dentro do beat e eles [Arthur Luna e Chris Gehringer] conseguem fazer isso.  Um bom instrumental? “Jonas Profeta, Nanci, El Lif e Nave Beatz.” Boa participação? “Eu gosto de que a participação venha somar com a faixa, como foi em ‘Correria’ [música do disco ‘Gigante’] que teve um verso do Akira Presidente e Drik Barbosa. Eles entraram no espírito da track [faixa] e conseguiram colaborar para que aquilo fosse maior. Essa é a ideia de uma boa participação.”

De acordo com BK’, ter tantas ideias boas para rimar vem de ter lido, visto e vivido bastante coisa. “Junto tudo isso e a partir dessas vivências e referências tento escrever de forma criativa, com uma boa técnica, pensando em um bom flow, que são os pré- requisitos do rap, tá ligado?”

Sobre a atual conjuntura política e econômica do Brasil o artista disse ser totalmente contra o atual governo. “A cada vez sai mais escândalos e histórias novas. Acho que está na hora do pessoal que foi a favor deste governo entender que não é questão de você ser contra quem estava antes [governando], mas ser pelo certo. Defenderam cegamente e votaram, mas não precisam continuar a defender cegamente tudo o que está aparecendo, a toda hora, com relação às atitudes dele [o presidente eleito, Jair Bolsonaro] e da família dele, além dos escândalos envolvidos. Não precisam ficar batendo o pé e fazerem pirraça. Nossa principal meta agora é encontrar, como população, como povo, um caminho que seja bom para todo mundo. Não adianta a gente ficar matando um ao outro enquanto o game entre eles funciona de outra forma. Acho que eles são menos inimigos do que a gente acha, e a gente acaba se tornando mais inimigo por causa do que eles montam como estratégia de poder. Temos que entender que estamos em um momento ruim para todo mundo, e a tendência é piorar. Quem foi a favor disso [do governo] não precisa continuar sendo, pode se arrepender, ver que fez besteira e mudar de lado, de opinião. Juntos podemos encontrar uma forma de transformar esse país, que é potencialmente incrível, em um país incrível de fato.”

Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo Música em letras, no qual o artista interpreta um trecho de “Titãs”.

SHOW BK’
QUANDO Sábado (1°), às 22h
ONDE Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, São Paulo, tel. (11) 3862-8279
QUANTO De R$40 a R$ 80.