Fora da Virada Cultural, violonista Paulo Porto Alegre faz workshop e recital gratuitos com músicas dos Beatles em São Paulo
O Música em Letras esteve com o violonista paulistano Paulo Porto Alegre, 66, que fará neste sábado (18) um recital, gratuito, com 14 músicas dos Beatles – rearranjadas por ele – e que farão parte de dois discos a serem lançados.
Além de entrevistá-lo, o blog gravou dois vídeos, com exclusividade, nos quais o artista interpreta “Eleanor Rigby”, de John Lennon (1940-1980) e Paul McCartney, privilegiando um lado contrapontístico, e “Hold Me Tight”, de Lennon e McCartney, em um andamento lento, mostrando possibilidades harmônica incríveis embaladas ora por batidas de bossa nova, ora por levadas de jazz (veja vídeo no final do texto).
O recital é precedido por uma aula aberta (workshop), também gratuita, na qual o compositor, professor, instrumentista e arranjador explica o motivo de ter escolhido determinadas músicas e quais caminhos trilhou para conceber suas versões sobre elas.
Os dois eventos – aula e recital – acontecem na Companhia das Cordas, na rua Traipu, 423, Pacaembu, em São Paulo. “Quem quiser participar, é bom chegar antes do horário de cada evento, porque são apenas 40 lugares e as vagas são limitadas”, falou o músico que inicia às 14h, o workshop, com duração de uma hora e meia; o recital está marcado para as 18h30, com duração de uma hora.
No início do recital, o instrumentista toca “Better Days Ahead” e “Letter from Home”, as duas músicas de Pat Metheny, além de “Love Is Here To Stay”, dos irmãos George (1898-1937) e Ira Gershwin (1896-1983), antes de mostrar seus arranjos para as 14 músicas dos Beatles. . “Toco essas músicas para mostrar que ‘Better Days Ahead’ é um samba jazz em compasso de quatro por quatro e que ‘Letter from Home’ tem uma mistura de jazz com clássico, além da balada dos Gershwin, as três com arranjos meus.”
ARTISTA E PROFESSOR
Paulo Roberto Porto Alegre Soares começou seus estudos no violão com 22 anos. Hoje totaliza 44 anos de carreira, sendo dez deles como professor da EMESP (Escola de Música do Estado de São Paulo). “Na EMESP estou há 18 anos, trabalhei 21 anos no conservatório do Brooklin; como professor dou aulas desde 1976”, disse o artista em entrevista ao blog, na sede da EMESP, na última terça-feira (14).
O músico amealha mais de dez discos, em meio a CDs e LPs. Entre eles, dois solo; dois com trio de violões; um com trio de flauta, viola e violão; três com um grupo de música contemporânea; um tocando um concerto de Villa Lobos; e agora deve gravar dois discos solo com o repertório dos Beatles, um dos grupos de que mais gosta.
Paulo viveu sua juventude na época em que o quarteto de Liverpool era a onda e, como ele mesmo diz, não poderia deixar de ser um beatlemaníaco, mas sem esquecer a bossa nova que completava, como gênero musical, o que na época ele mais ouvia. Chegou até a ter um conjunto que imitava os Beatles. “Ouço eles desde criança. Lembro do dia, em 1967, que comprei o ‘Sargent Pepper s’ [LP dos Beatles] e coloquei na minha eletrola Delta. Caí para trás e estou chocado até hoje”, contou o músico que ainda ouve o disco e leu – como todo beatlemaníaco – o livro “Summer of love. The making of ‘Sgt. Pepper’”, de George Martin, que conta em detalhes como o disco foi feito.
A ORIGEM DOS REARRANJOS
Quando Paulo Porto Alegre iniciou seu estudos em violão clássico, permaneceu dez anos fora da cena musical de sua origem, a música popular. Tomou gosto pelo clássico, mas ao passar defronte a um bar, em 1986, ouviu algumas músicas dos Beatles, o que despertou nele uma vontade de tocar tais peças. Em busca de quem tinha feito arranjos para os clássicos do quarteto, com foco no violão solo, deparou-se com resultados de que não gostou. Decidiu fazer, por conta própria, os seus arranjos sobre as músicas.
Em 1987, escreveu seu primeiro arranjo dessa série para a música “Eleanor Rigby”, de John Lennon e Paul McCartney, e a partir daí não parou de escrever para músicas dos Beatles. Em 33 anos, foram 28 arranjos que devem ser registrados em dois discos com 14 faixas cada. “Em julho, gravo o primeiro volume, com certeza.”
Os arranjos escritos pelo violonista serão editados em livros para possibilitar que outros instrumentistas tenham acesso ao toque erudito, jazzístico e de música brasileira que eles carregam.
“A Hard Day’s Night”, de Lenonn e McCartney, é uma das músicas que se apresenta bem diferente da versão original. Paulo Porto Alegre tinha a intenção de escrever uma sonata com as músicas dos Beatles e “A Hard Day’s Night” teria sido o primeiro movimento dela. “Ela está escrita em uma forma alegro, de sonata, com desenvolvimento e tudo mais, mas sem deixar de ser ‘A Hard Day’s Night’, que continua lá, com muitas licenças. Na verdade, tenho uma parceria com eles [Beatles] aí”, disse rindo o instrumentista.
Segundo Paulo Porto Alegre, “Hold Me Tight”, canção composta por Paul McCartney, é “um roquinho fuleiro”. “Não faria um arranjo para ela se não tivesse tido a ideia de abaixar completamente o andamento, fazendo ela passar de uma musiquinha de adolescente para algo com blocos de harmonia cada vez mais complicada e que me levam, a cada momento, por um caminho diferente.”
Outra realização para o arranjador foi “mexer” em “Eleanor Rigby”. “Essa é um clássico. Eu diria que é uma música erudita de tão clássica que é. Fiquei contente de ter descoberto no meio dela algumas possibilidades novas e fui criando. Mas há um grande problema: quando você adapta para o violão uma música cantada por quatro caras e quatro instrumentos, você não pode pensar apenas em harmonia e melodia. Tem que pensar no instrumento [violão] dando o seu melhor. O instrumento dá o seu melhor quando você o explora, saindo do plano da harmonia e melodia. Tem que criar um tecido polifônico muito grande; tem que mudar muita coisa, entre elas melodia e harmonia, e alterar a forma. Mexi em tudo”, falou o músico que prefere chamar esse novo trabalho de Estudos sobre Temas dos Beatles.
Segundo o artista, quem for ao show deve ter em mente que a música dos Beatles foi, e ainda é, maravilhosa. “Mergulhei de cabeça na história deles e dessas músicas que surgiram durante parte dos anos 1960, período em que muitas coisas aconteceram no mundo: o homem foi para a Lua; mataram Martin Luther King; teve a guerra do Vietnã; o movimento hippie, com paz amor e sexo livre. A música dos Beatles reflete a loucura criativa dessa época. O que mostro nesse recital é uma nova visão disso tudo.”
Assista, a seguir, o artista interpretando com exclusividade para o Música em Letras “Eleanor Ribgy” e “Hold Me Tight”.
WORKSHOP E RECITAL DOS BEATLES
ARTISTA Paulo Porto Alegre
QUANDO Sábado (18); workshop, às 14h; recital, às 18h30
ONDE Companhia das Cordas, unidade Pacaembu, r. Traipu, 423, Pacaembu, São Paulo, tel. (11) 3826-8771
QUANTO Gratuito