O forró universal de André Marques no Japão
Neste mês, o compositor, arranjador, pianista e professor paulistano André Marques, 43, tem seis shows agendados no Japão. Com o grupo de Hermeto Pascoal – Marques toca com o multi-instrumentista há 25 anos- fará cinco espetáculos. Entre eles uma apresentação solo, em Tóquio, para mostrar parte do repertório de seu novo disco, “Forró de Piano”, a ser lançado no segundo semestre deste ano.
O Música em Letras esteve no CVMU (Centro de Vivência da Música Universal), escola de música do artista, onde o entrevistou e gravou, com exclusividade para o blog Marques tocando “Canto da Ema”, de João do Vale (1934-1996), imortalizada por Jackson do Pandeiro (1919-1982) e uma das 14 músicas que integram “Forró de Piano”
Virginiano do dia primeiro de setembro, Marques faz jus ao signo. Afinal, para tocar em grupos como o de Hermeto Pascoal, Trio Curupira, Vintena Brasileira [orquestra brasileira com 21 músicos] e André Marques Sexteto, entre outros projetos musicais de que faz parte, só tendo muita organização e disciplina.
Além dos CDs de Hermeto Pascoal, Marques têm na lista de gravações cinco discos com o Trio Curupira, quatro com o Vintena Brasileira, e três com o André Marques Sexteto, fora os registros de seu trabalho individual, como o álbum “Solo” (2007), ou em outras formações, como o disco “Choro Universal”, no qual o pianista ataca com o baterista Rodrigo Digão e o baixista Marcel Bottaro, e “Rio São Paulo”, no qual André faz o som rolar bonito em companhia do baterista Marcio Bahia e de Michael Pipoquinha, no contrabaixo, entre outros músicos de igual brilho. “Viva Hermeto”, gravado em 2014 nos Estados Unidos, traz André Marques, no piano, John Patitucci, no contrabaixo, e Brian Blade, na bateria, além da participação especial de Rogério Boccato, na percussão. No total, são 18 discos lançados pelo pianista.
Segundo Marques, o novo álbum, “Forró de Piano”, é uma tentativa de trazer para o piano solo a linguagem do forró misturada ao que o artista chama de “música universal”. Para isso, Marques selecionou um repertório que inclui de forrós clássicos de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Jackson do Pandeiro aos mais “modernos”, de Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal e Toninho Horta, além de duas de suas composições, “Forrózinho Nº 1” e “Forrózinho Nº 3”. “Essas músicas têm a linguagem do forró, mas de uma maneira mais contemporânea, o que faz com que elas fujam um pouco do ritmo tradicional. Há uma mistura de estilos no que chamo de música universal, por exemplo, de folclore com linguagem erudita, baião com samba”, disse o músico sobre as peças que têm em suas harmonias muito a ser ouvido, assim como na polirritmia que apresentam.
Nas músicas do disco há muito improviso, mas que são realizados sempre mantendo a linguagem do gênero. “Loro”, de Egberto Gismonti, talvez seja a interpretação que mais tenha a característica do improviso. “Gravei esse disco em um dia, aqui em São Paulo, no estúdio Sambatá, vai fazer um ano em junho…Dei uma esquecida nele. Tem 14 músicas, entre elas um pot-pourri com uma seleção de quatro quadrilhas, que são chamadas de ‘rasta pé’. Tem outras músicas que ficaram conhecidas na voz de Luiz Gonzaga como ‘Que Nem Jiló’, ‘Acauã’ e ‘Sabiá’, além de ‘Loro’, do Egberto Gismonti que sentei [ao piano] e saí improvisando mesmo.”
No show em Tóquio, que acontecerá no dia 14 de maio no Musicasa, local conhecido por apresentar shows com formações mais reduzidas ou solos – o piano do local é um Steinway -, Marques tocará, além das músicas do disco novo, “Córdoba”, composta em homenagem à cidade espanhola e que está em seu primeiro disco solo, além de “Vó Iza”, uma valsa tocada de maneira bem livre que o artista compôs para sua avó.
Mais informações sobre o artista e seus projetos educacionais no site do músico http://www.andremarques.mus.br e no Instagram, andremarquespianist
Acompanhe, a seguir, André Marques tocando “Canto da Ema”, uma das 14 músicas que integram o disco “Forró de Piano”. “Nessa música tive a ideia de usar um ‘ostinato’, uma nota [lá bemol] que é repetida no arranjo inteiro. Repetir nota é muito comum no forró, fui inspirado por isso”, disse o pianista.