Músico especialista em violão tenor faz show em São Paulo

Acontece neste sábado (4), às 20h, no CCB (Centro Brasileiro Britânico), em São Paulo, o show solo, gratuito, do multinstrumenta carioca Renato Anesi, que se apresentará tocando, entre outras, músicas de seu último CD “Um Concerto para Violão Tenor”, atacando de violão de seis cordas e de violão tenor.

O Música em Letras esteve no motorhome em que o artista vive, estacionado pelas ruas de São Paulo, entrevistou-o e gravou um vídeo, com exclusividade para o blog, no qual o compositor toca, no violão tenor, “Travessia”, música de sua autoria (assista ao vídeo no final do texto). “Moro em São Paulo eventualmente. Tenho viajando bastante. Já morei em vários lugares. A partir de 2010, passei a ir para os Estados Unidos com mais frequência. Mudei para lá em 2014 para ficar três anos, mas tive de retornar antes para o Brasil, porque minha mãe morreu e estou há um ano morando nesse motorhome”, disse o artista que além de Rio de Janeiro e São Paulo, morou em Ilhabela, Espanha, Inglaterra, Suiça, e em tantos outros lugares, que já nem se lembra. Quanto à alma tem certeza de ser “cigana, mesmo”.

O motorhome faz parte de um projeto que coloca o artista na estrada no intuito de encontrar talentos musicais pela vastidão do Brasil. “O nome do motorhome é Milhas Sonoras, e faz parte de um projeto homônimo de reconhecimento de vários talentos musicais que existem em lugares pelos quais passamos para fazer shows. São povoados e cidades pequenas, mas sempre tem alguém ou alguma manifestação musical de um compositor, cantor ou tocador que todo mundo conhece”, contou o músico que nas horas vagas ataca de marceneiro e mecânico para cuidar do ônibus Mercedes, branco, 1987, modelo 371.

Originalmente o ônibus é um modelo rodoviário. O músico o comprou com as poltronas dos passageiros da época em que o veículo era fretado pela viação Silveira, em Piracicaba, (SP) e o reformou com madeira – restos de cenários –, além de outros materiais reciclados. O resultado da transformação gerou um banheiro, um quarto de casal, uma cozinha e uma sala que pode virar quarto.

Renato Anesi e sua família no motorhome (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Quando esteve morando e trabalhando em Chicago, Renato Anesi conheceu sua mulher, a arte-terapeuta, e artista plástica norte-americana, Anjalee, 30, com quem casou e teve dois filhos, com dois e cinco anos. “Meus filhos, Atreyu e Arawak, e minha mulher vieram há cerca de um mês dos Estados Unidos. Moramos todos no motorhome. Antes me desapeguei de tudo que tinha e morei sozinho no ônibus para sentir como era e me adaptar. Tudo o que eu tenho está aqui dentro desse ônibus”, falou o músico que teve problemas com segurança apenas uma vez quando ao se ausentar uns dias de casa, ou melhor, do motorhome e teve as baterias do ônibus roubadas.

A água que preenche os 300 litros do reservatório do motorhome vem de uma nascente que Renato Anesi descobriu em uma praça, perto de onde estacionou o veículo. “Tem muitas nascentes em S.Paulo e algumas foram canalizadas e bem tratadas. Tenho água potável e de graça”, disse o músico que estaciona o ônibus em lugares permitidos de bairros seguros. O bairro de Pinheiros tem sido sua última morada. “Procuro sempre lugar plano, com água, sombra e segurança.”

O MÚSICO E O SHOW

Renato Anesi Gnanni Ernesto, completará 50 anos de idade, em julho próximo. Nesse quase meio século, o músico tem mostrado por meio de sua carreira – que começa quando ele tinha 16 anos metendo o pé na estrada para acompanhar o cantor Zé Geraldo –, ser dedicado como pesquisador, compositor, arranjador e instrumentista de vários instrumentos de cordas, com preferência e devoção maior pelo violão tenor e pelo violão de seis cordas.

São três CDs, “Corda Coral” (1996); “Rosa dos Tempos” (2002); “10 Anos Depois” (2006) antecedendo “Concerto Para Violão Tenor” (2017) que terá seu repertório solado no show. Entre as 10 músicas do disco, cinco são autorais e cinco de compositores consagrados como Jacob do Bandolim (1918-1969), Ernesto Nazareth (1863-1934), e Pixinguinha (1897-1973).

No início do show, Anesi se apresenta tocando “Tristeza de um Violão”, de Garoto (1915-1955), com o violão de seis cordas, e de sua autoria mostra, empunhando o mesmo instrumento, “Suíte em Mi Menor”, que faz menção a diversos gêneros musicais executados no violão de seis cordas – que o músico considera parte de sua formação como instrumentista-, entre eles, tango, flamenco, blues e choro.

Composta por Anesi exclusivamente para o violão tenor, “10 Anos Depois” é a primeira música que ele irá tocar no show com esse instrumento.

Renato Anesi em entrevista ao Música em Letras (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

O violão tenor não é instrumento que se encontra com facilidade em apresentações solo, como Renato Anesi faz. Anesi já teve sete violões desse tipo; o primeiro ganhou do pai com 16 anos de idade. “De todos os instrumentos de cordas que toco, foi no violão tenor que mais desenvolvi uma maneira própria de tocar. Agradeço muito ao Paulo Bellinati e ao Paulo Porto Alegre [violonistas concertistas e consagrados], que dizem que eu recriei uma forma de tocar o violão tenor”, disse o músico sobre o instrumento que tem suas quatro cordas afinadas em intervalos de quinta, ou seja, do grave para o agudo a primeira corda é dó; a segunda, sol; a terceira, ré e a última, lá, como acontece com violinos, violas e violoncelos.

A segunda música do repertório para o violão tenor é “Orangotango”, que traz um fraseado de choro “atangalhado” pelo instrumentista. “O choro e o tango tem muito a ver. No início do século 20, o que compunham e hoje chamam de choro era chamado de tango brasileiro, que Ernesto Nazareth tocou muito, por exemplo.”

Outra música feita para o violão tenor e de autoria de Anesi é “Agora ou Nunca”, peça longa – cerca de 10 minutos-, e sofisticada, com vários movimentos.

Renato Anesi só grava e toca músicas de sua autoria ou das quais consiga se apropriar completamente por meio da paixão que elas despertam no artista. “As músicas que não são minhas toco como se fossem compostas por mim”, falou o artista que interpreta, por exemplo, “Vibrações”, de Jacob do Bandolim, que ganhou um arranjo novo, uma quinta abaixo do tom original, mas com Anesi fazendo todas as inversões de acordes que Jacob fazia ao tocar com o regional Época de Ouro. “Carícia”, também de Jacob do Bandolim ganhou uma pegada de tango pelas mãos de Anesi.

Duas de Ernesto Nazareth estão garantidas: “Odeon”, mesmo tocada praticamente como ela é, soa especia,l pois a sonoridade do violão tenor lhe confere essa particularidade; “Floreaux”, também de Nazareth pode ter sido ouvida pelo piano do próprio compositor ou pelo bandolim de Jacob, mas com certeza ganha novas cores com o violão tenor de Anesi. “Carinhoso”, de Pixinguinha foi a primeira música trabalhada por Anesi para ser executada no violão tenor; o resultado é surpreendente.

Segundo o músico, quem for ao espetáculo não deve ter nada em mente. “As pessoas devem ir de cabeça vazia e aberta para receberem uma coisa nova. O violão tenor é pouco tocado e existem poucas referências sobre ele. As pessoas podem encontrar músicos tocando esse instrumento, embora sejam raros, de uma maneira mais bonita e até melhor do que eu, mas como eu ninguém toca, porque é uma maneira muito própria. Isso só é possível ouvir em meus discos e em meus shows.”

Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo Música em Letras, no qual o artista toca de sua autoria “Travessia”.

SHOW SOLO RENATO ANESI

ONDE CCB (Centro Brasileiro Britânico), r. Ferreira de raújo 741, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3819-4120

QUANDO Sábado(4), às 20h

QUANTO Gratuito