Daniel Santiago une-se a músicos excepcionais em show em São Paulo
Acontece nesta quinta-feira (7), às 21h30, na Comedoria do Sesc Pompeia, em São Paulo, o show do guitarrista brasiliense Daniel Santiago. Ladeado por músicos excelentes – Pedro Martins (teclados e voz), Sergio Machado (bateria) e Frederico Heliodoro (contrabaixo) – , Santiago mostra os elos musicais que os unem por meio do repertório de “Union”, CD do guitarrista lançado apenas no exterior, mas disponível em todas as plataformas digitais.
O Música em Letras esteve no ensaio do grupo que aconteceu ontem (5), em um estúdio da capital paulista, no qual gravou com exclusividade para o blog um vídeo com os instrumentistas interpretando “Na Beira”, de Santiago e Pedro Martins (veja vídeo no final do texto), além de entrevistar o guitarrista e dele colher um faixa a faixa, comentando o CD para o internauta.
“Union” é o quarto CD de Santiago que, além de tocar muito bem violão e guitarra, compõe, arranja, produz, canta e ministra cursos em festivais e instituições de ensino. No próximo dia 3 de julho, o músico completa 40 anos de idade, fazendo jus ao signo de Câncer que abarca talentos como o de João Bosco, Hermeto Pascoal e Arismar do Espírito Santo, entre outros mestres da música. “Não entendo muito de signos, mas sei que tem um monte de músico bom de Câncer, incluindo o Gustav Mahler. Acho bom ser desse signo, cara”, disse o artista brasiliense radicado em São Paulo há oito anos, que apresenta outra forte característica canceriana, o grande apego à família composta por sua mulher, a cantora Joana Duah, 44, também brasiliense, e Valentina, a filha do casal, com 2 anos e 7 meses. “Ela [Valentina] já tem uma musicalidade latente. Um ritmo bom, toca no tempo e sai improvisando umas músicas dela…Mas somos meio doutrinadores e ela ouve de tudo em casa: Bjork, Toninho Horta, Milton Nascimento, Kraftwerk, além de umas sessões que faço para ela só de rock and roll”, contou o pai orgulhoso da pimpolha musical.
Entretanto, não só à família é apegado e se dedica o artista. Sua dedicação à música vem desde os 19 anos quando, ao lado do bandolinista Hamilton de Holanda e do violonista Rogério Caetano, fundou o Brasília Brasil Trio, com o qual lançou, em 2001, o CD “Abre Alas”. Em 2006, lançou seu primeiro CD solo, “On the Way”, e em 2009, “Metrópole”. Entre “Abre Alas” e “On The Way”, Daniel Santiago colaborou, como instrumentista e arranjador, com o trabalho solo de Hamilton de Holanda nos álbuns “Música das Nuvens e do Chão” (2004) e “Brasilianos 1” (2006).
Aos 18 anos, Santiago estudava na Escola de Música de Brasília. Contudo, a atuação e convivência nos shows com Hamilton de Holanda e Rogério Caetano levou-o a mudar-se para o Rio de Janeiro, onde acabou por deixar de lado a vida acadêmica, pois o trabalho nos palcos e estúdios chegou com toda força ao músico. “Fui obrigado a aprimorar meus estudos [musicais] como autodidata, porque conviver com o Hamilton e com o Rogério, não tem como, né?”, contou o músico que já tocou com Hermeto Pascoal, Guinga, Djavan, Ney Matogrosso, João Bosco, John Paul Jones, Richard Galliano e Maria Bethânia entre outros.
“UNION” O CD
O CD “Union” já teve, em 2018, um pré-lançamento no Jazz Nos Fundos, em São Paulo, e no Blue Note do Rio de Janeiro. “O disco saiu na metade do ano passado pelo selo Adventure Music, de Nova York. Ele ainda não saiu aqui no Brasil”, falou o músico.
Segundo Santiago o trabalho traz como característica a união e a colaboração que seus talentosos amigos músicos dão a sua carreira e música. “Temos muita coisa em comum, principalmente com relação à audição e abertura em termos de estética musical que compartilhamos. Gostamos de música brasileira, rock, indie, eletrônica, jazz; esse som do disco tem isso, é um passeio pelas coisas que gostamos. Na verdade, é uma manifestação minha sobre o que acredito, pois a vida acontece por meio de uniões e colaborações. Não acredito em meritocracia, acredito nas pessoas se ajudando.”
FAIXA A FAIXA DE “UNION” POR DANIEL SANTIAGO
1 – “Caminhada”, de Daniel Santiago e Pedro Martins
“Essa música é o início de como o disco surgiu. Compus com o Pedro Martins durante uma temporada em que ele ficou em minha casa e fizemos algumas músicas. É um baião eletrônico que remete ao indie rock inglês e, ao mesmo tempo, há uma atmosfera mineira do Clube da Esquina e das coisas do Milton [Nascimento]. É um baião moderno, em seis por quatro, com um baixo todo deslocado da bateria que toca um baião reto.”
2 – “Bumbah”, de Daniel Santiago
“Na verdade é um bumba meu boi, mas como se ele fosse tocado no futuro, tipo dentro do filme ‘Blade Runner’. Essa música tem o ritmo do bumba meu boi, mas a coisa harmônica e melódica está mais ligada à coisa mineira, modal. São ‘layers’ [camadas] de texturas e ondas que se sobrepõem. Basicamente, a batera e percussão são do boi, e a harmonia é mais aberta, da world music, com uma melodia mais pop que remete ao Miton [Nascimento].”
3 – “Mudança”, de Daniel Santiago
“Esse disco tem um caráter de world music, mas a raiz está no Brasil. Então ‘Mudança’ é um samba canção, em dois por quatro, mas que também poderia estar no filme ‘Blade Runner’ por conta da harmonia e da melodia serem mais mundiais, não tão brasileiras. São essas junções que trouxe para o disco de maneira natural, não é uma coisa forçada. Tudo nesse disco vem do que eu realmente escuto, de Radioheah, Bjork, Milton Nascimento a Toninho Horta e Kraftwerk, entre outros grupos e artistas.”
4 – “Na Beira”, de Daniel Santiago
“Essa faixa é um pouco a mistura da música que eu sinto. Tem um pouco do fusion dos anos 1970, que remete ao som do Wheather Report, do Chick Corea, em ‘Return to Forever’, e principalmente do disco ‘Native Dance’, com o Milton Nascimento e o Wayne Shorter, além da coisa do rock progressivo que curto muito, como o [grupo] Yes. Tem também uns sintetizadores com cara mais retrô, tipo uns sintetizadores mais analógicos.”
5 – “A Barca”, de Daniel Santiago e Pedro Martins
“Essa faz parte da safra em que eu e o Pedro fizemos músicas juntos. É um samba reggae baiano na levada, enquanto a harmonia flerta com uma coisa mais mundial e pop dos anos 1980. Mas como eu dobro com a voz, fica clara a influência marcante do Bituca [Milton Nascimento] com relação aos timbres e à sonoridade dos vocalises junto com a guitarra. Não que eu cante como o Milton, porque está bem longe disso.”
6 – “Terra Molhada”, de Daniel Santiago
“Essa composição é o retrato de minha raiz, com o pé fincado no chão lá de Minas Gerais, com uma coisa que o [violonista] Cainã Cavalcante matou a charada ao dizer que tem um lance do maracatu cearense, como o de ‘Pavão Misterioso’. Isso faz sentido, pois meu pai é de Minas e minha mãe, baiana, mas com família no Ceará. Além disso, há um puta solo de piano do Shai Maestro, que leva a música também para um lado jazzístico.”
7 – “Union”, de Daniel Santiago
“Apesar de ser uma música em compasso de três, há um groove reto de batera nela. É uma mistura da música pop dos anos 1970 e 1980, também com o Bituca e o Toninho Horta e a galera do Clube da Esquina, na sonoridade. O Clube da Esquina é a coluna vertebral do meu som.”
8 – “Eterno Recomeço”, de Daniel Santiago
“É uma mistura de uma coisa fusion anos 1970, com um pouco de elementos da música eletrônica. Essa música tem uma paisagem que dá a ela uma cara de trilha com devaneios harmônicos e melódicos.”
9 – “Valentina”, de Daniel Santiago e Joana Duah
“Fiz essa música e quando mostrei para a Joana [cantora e mulher de Santiago], ela fez uma letra sobre o olhar do pai para a filha, que tem um carinho muito grande. Tive a sorte de ter nessa música o solo do Gregoire Maret, um grande gaitista que tocou com o Herbie Hancock e com o Pat Metheny, além de ser um grande amigo.”
O SHOW
No espetáculo, que tem a direção de produção de Helton Altman e luz pilotada por seu filho, Pedro Altman, há a participação especial da cantora Ellen Oléria, interpretando quatro músicas: “Mandala”, dela; “Mundo Virou”, dela e de Pedro Martins; “Cor do Amor”, de Milton Nascimento e Andreas Vollenweider; além de “Mudança”, de Santiago. “Todas as músicas que a Ellen irá cantar combinam com a sonoridade do disco, que traz os sons dos anos 1970 do fusion, com indie e harmonias abertas, diferente das harmonias tradicionais de samba e bossa nova que mudam o tempo todo.”
Segundo o guitarrista, quem for ao show poderá curtir “em pé e tomando uma cerveja um retorno a um som ‘setentista’, com aquela energia bem forte, mas menos pesada que a do som dos anos 1980, no qual havia muito uso de sintetizadores e edição por computadores. É um som bem orgânico e com bastante mistura de estilos, como rock, jazz e música brasileira, tudo condensado em uma cor”. Duas canções inéditas – “O Que Valerá” e “A Luta”- serão cantadas por Daniel Santiago. Elas já fazem parte de um projeto futuro no qual a sonoridade do Clube da Esquina se fará mais presente: “São músicas muito ‘Clube da Esquina’, a última é mais pop, mas não deixa de lembrar as músicas do Beto Guedes e do Lô Borges.”
Assista, a seguir, ao vídeo gravado com exclusividade pelo Música em Letras, no qual Daniel Santiago toca com seu grupo “Na Beira”.
SHOW
DANIEL SANTIAGO – CD “UNION”
QUANDO Quinta-feira (7), às 21h30
ONDE Comedoria do Sesc Pompeia, r. Clélia 93, Água Branca, São Paulo, tel. (11) 3871-7700
QUANTO De R$ 6 a R$ 20