Na próxima quinta-feira (7), o Amilton Godoy Trio lança, em show gratuito no Itaú Cultural, em São Paulo, a cura para a ressaca de quem sobreviveu dias consecutivos ouvindo só músicas de carnaval: o CD “Tributo ao Zimbo Trio”, remédio para quem tomou porres de “alá lá ôs”.

Eficaz na luta contra a letal peçonha, o antídoto, ou melhor, o disco, traz a intenção do pianista, compositor e arranjador, Amilton Godoy, 77, de enaltecer a obra do Zimbo Trio – grupo do qual Godoy foi um dos fundadores em 1964 – através da regravação de algumas de suas melhores músicas e arranjos compilados num mesmo disco. “As pessoas poderão ter uma amostragem bastante ampla do trabalho que o grupo desenvolveu ao longo da carreira”, disse o artista em entrevista ao Música em Letras.

O trio de Godoy, formado por ele no piano, conta com mais pajés, ou seja, músicos que há muito curam quem sofre de arritmias ou apresenta problemas de condução: o baterista Edu Ribeiro e o contrabaixista Sidiel Vieira. Os dois, juntos com o pianista, são capazes de milagrosamente tirar qualquer resquício de música ruim que esteja em sua mente e alma.

Na bula, ou melhor, entre as 12 faixas, destaque para “Avião”, de Djavan; “Loro”, de Egberto Gismonti; “Águas de Março”, de Tom Jobim; “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “’Garota de Ipanema’ foi a nossa primeira gravação, feita quando ainda tocávamos na Baiuca [extinta casa noturna de São Paulo], com um arranjo espontâneo que surgiu da criatividade de cada um de nós, na época Rubinho [Rubens Barsotti], Luís [Luís Chaves, 1931-2007] e eu”, contou o pianista sobre a música que em sua origem era executada de uma maneira introvertida, pois na época reinava a bossa nova, e o trio a interpretou de uma forma completamente diferente. “Tocamos mandando brasa no sentido de fazer os improvisos. Se você observar o arranjo, tem uma pequena introdução, a exposição do tema, depois uma boa amostra do que pode ser feito de improviso com o piano. O contrabaixo faz um uníssono com o piano na segunda parte e termina com um solo do baterista para complementar o ‘chorus’. Depois, fazíamos a reexposição do tema, que era uma forma de fazer jazz. Só que era feita com música americana, e nós começamos a fazer com música brasileira.”

Outra música que Godoy citou na entrevista foi “Avião”. “É um tema com bastante balanço e suingue brasileiro bem acentuado. Dá para ver a performance dos músicos fazendo solos livres em cima desse tema. Depois do solo do piano, tem um solo bem grande e livre de contrabaixo em cima da melodia, antes de o baterista fazer a mesma coisa, de maneira livre, para a gente terminar fazendo juntos um fraseado”, disse o pianista sobre o arranjo que dá chance para todos mostrarem sua criatividade.

Sobre “Loro”, de Egberto Gismonti, Godoy comentou: “O Egberto é um compositor erudito misturado com popular. A introdução que fiz nessa música foi pensando na excelência pianística que ele tem. Depois entra o tema e os improvisos bem puros, porque são feitos em cima da harmonia maravilhosa que ele criou para essa música, que acho muito bonita.”

Quem for ao show deve estar de “coração aberto”, segundo Amilton Godoy. “Gostaria que as pessoas soubessem que, desde o início da carreira do Zimbo Trio, despertamos uma admiração pela forma como tocávamos, sempre pautada pelas mais puras raízes brasileiras e com uma grande influência jazzística, considerando que eu, o Rubinho e o Luís tínhamos uma formação jazzística bastante acentuada. Mostramos que o Brasil tinha temas maravilhosos e que não precisávamos mais tocar standards originais para fazermos jazz. Mostramos isso para o Brasil e para o mundo”, falou o músico que levou o som do Zimbo Trio para mais de 40 países “em 49 anos de vida e com 51 discos gravados”.

Caso os “alá lá ôs” retomem insistentemente espaço em sua cabeça, haverá uma segunda chance de cura, mas desta vez paga, no dia 3 de abril, quando o trio se apresenta em duas sessões no Blue Note, em São Paulo.

SHOW

LANÇAMENTO CD “TRIBUTO AO ZIMBO TRIO”

ARTISTAS Amilton Godoy, Edu Ribeiro e Sidiel Vieira

ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, Bela Vista, São Paulo, tel. (11) 2168-1777

QUANDO Dia 7 de março, às 20h

QUANTO Gratuito ( ingressos serão distribuídos uma hora antes do espetáculo. Um ingresso por pessoa)

ONDE Blue Note, av. Paulista, 2073, Cerqueira César, São Paulo, tel. (11) 3179-0050

QUANDO Dia 3 de abril, às 20h e às 22h30

QUANTO De R$ 70 a R$ 90

Nos shows o disco será vendido a R$ 30