Domingo é dia de rock com Zé Geraldo, Guarabyra, Tavito, Tuia e Vignini em São Paulo
Acontece neste domingo (17), no Sesc Pinheiros, às 18h, em São Paulo, o show de lançamento do CD “Nós do Rock Rural”, reunindo artistas que jogam muito bem nesse campo. Entre os craques, veteranos e nomes ainda não muito reconhecidos da cena de compositores e cantores do gênero: Guarabyra, 71, Tavito, 71, Tuia, 40, e o violeiro Vignini, 45, além da participação especial de, Zé Geraldo, 74.
O Música em Letras esteve no ensaio do show com alguns desses artistas e gravou em vídeo, com exclusividade para o blog, “Pássaro”, de Sá e Guarabyra, uma das músicas presente no disco e no show (assista ao vídeo no final do texto).
ENCONTRO DE MESTRES E PROFESSORES
O show, que existe há mais de dois anos, por onde passa lota de gente jogando, ou melhor, cantando com esses craques músicas vestidas com novos uniformes, mas que nem por isso deixaram o emblema do time rock rural fora de suas camisas e calções, ou melhor, canções. Entre elas, estão as consideradas verdadeiras jogadas de mestres, não só pelo importante lugar que ocupam dentro da história da MPB, mas pelo valor poético e musical que têm. É o caso de gols de placa como “Casa no Campo”, de Zé Rodrix e Tavito; “Rua Ramalhete”, de Tavito; “Senhorita” e “Galho Seco”, de Zé Geraldo; “Sobradinho”, de Sá e Guarabyra, e “Espanhola”, de Guarabyra e Flávio Venturini.
Contudo, nem só de jogadas consagradas vivem os mestres que mantêm o rock rural vivo com muito ritmo, harmonia, melodia e poesia. Exemplo disso desabrocha em “Flor”, música do cantor e compositor de Jacareí (SP), Tuia. “Essa música é a cara do rock rural. Ela tem a levada do shuffle de rock rural. Falo isso porque as pessoas dizem que ao ouvirem essa canção são remetidas ao som do Sá e Guarabyra”, contou o compositor da música que, não à toa, registrou-a muito bem no seu CD “Reverso Folk”, com a participação de Guarabyra.
Outra composição que está no disco de Tuia, com participação de Tavito, e no show, com os craques citados, é “Vermelho Coração”. “Essa música tem um pouco mais de mineirice. O Tavito ouviu, gostou, começou a cantar junto comigo e gravamos”, disse Tuia que ainda interpreta, dele mesmo, “Pote Azul”, composição que mostra a influência da batida de pagode de viola, do Vale do Paraíba, na obra do autor que a utilizou de uma maneira mais pop. “Cresci em Jacareí, ouvindo duplas de viola caipira que se reuniam no Mercadão, aos domingos. Então, para mim, essa é um tipo de música muito familiar e natural.”
O exímio violeiro e compositor paulistano Vignini deve tocar, de sua autoria, “Capuxeta”, com pegada de bluegrass [gênero musical do sul dos Estados Unidos] que tem rumo certo para agradar o público, além da melodiosa e não menos querida “Alvorada”, entre outras. “Devo fazer essas duas, mas na hora posso mudar de ideia, né?”, disse o músico influenciado pela “música do sertão do mundo” e que tem certeza de ter aprendido muito musicalmente com a convivência com os mestres Tavito, Guarabyra e Zé Geraldo. “O Tavito, por exemplo, tem sido meu professor de harmonia durante esses shows que fazemos juntos. O mais legal é ver como cada um deles harmoniza e de maneiras diferentes. O Guarabyra pensa harmonicamente diferente do Tavito, mas tudo funciona muito bem. O Zé Geraldo também é um professor para mim”, contou o músico que em março lança o CD “Viola de Lata”.
Conhecido como o “violeiro do rock and roll”, Vignini alerta: “É engraçado isso. A galera fala que eu sou o violeiro do rock and roll, mas foi o trio Sá, Guarabyra e o Zé Rodrix que começou com essa história de colocar a viola no rock and roll. Então, é bom que as pessoas saibam que eu não fiz nada de inovador ou diferente, porque eles já faziam isso há muito tempo.”
O trio formado por Sá, Rodrix e Guarabyra ficou conhecido por ter criado o rock rural. “Chegar aos 71 anos de idade e ver que nosso trabalho, nossa sacação, a criação do rock rural, está dando resultado com essa geração nova formada pelo Tuia e pelo Vignini é muito legal. É muito importante saber que uma coisa que começamos lá no passado, continua no presente com uma turma nova”, disse Guarabyra, afirmando haver, além da continuidade do gênero, um “aperfeiçoamento”.
Segundo o compositor de “Dona”, outra das músicas que está no disco e no show, a contribuição dos artistas mais jovens, como Tuia e Vignini, é essencial para manter o gênero vivo e se desenvolvendo. “Eu tenho aprendido bastante com eles. Se não tivermos mais gente contribuindo com mais detalhes e outras cores para esse nosso movimento, vamos estagnar, cristalizar e ficaremos só como folclore. É isso que dá ao movimento a atualização que ele precisa para continuar, agora e no futuro, porque esperamos que outras gerações o continue.”
Perguntado qual a maior lição que o experiente artista obteve com os jovens companheiros de profissão, o músico respondeu: “Principalmente, descobrir outra maneira de fazer aquilo que você já sabia, como acordes, sequências e encadeamentos harmônicos diferentes. Coisas que você não sacaria sozinho. Tem de ter essa contribuição deles para a coisa [rock rural] evoluir”.
Segundo Guarabyra, quem for ao show deve ter em mente que “esse Brasil que as pessoas acham que não existe, que é bonito, rico e cheio de inspiração, existe sim. É só você chegar lá [no show] com a mente desarmada e o coração aberto para receber.” Para Tuia, assim como para o autor desse blog, há muito em comum na música e no futebol. “Você pode juntar um monte de craques e não dar liga, mas com a gente deu liga de cara. Aprendemos com esses caras [Zé Geraldo, Tavito e Guarabyra] e trouxemos outras referências para a música deles.”
O violeiro Ricardo Vignini alerta aos de corações fracos. “Esse é um show para se emocionar com músicas que têm mais de 50 anos. Por exemplo, ‘Senhorita’, do Zé Geraldo.”
Assista, a seguir, ao trio Guarabyra, Tuia e Vignini interpretando, com exclusividade para o Música em Letras, “Pássaro”.
SHOW
LANÇAMENTO CD “NÓS DO ROCK RURAL”
ARTISTAS Guarabyra, Tavito, Tuia,Vignini e participação especial de Zé Geraldo
QUANDO Domingo (17), às 18h
ONDE Sesc Pinheiros, r. Pais Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3095-9400
QUANTO De R$ 12 a R$ 40