Em formação inusitada, Edu Ribeiro, Toninho Ferragutti e Fábio Peron lançam disco com show em São Paulo
Acontece nesta sexta-feira (15), no Sesc Pompéia, em São Paulo, o lançamento do CD “Folia de tReis” do trio formado pelo baterista Edu Ribeiro, o acordeonista Toninho Ferragutti e o bandolinista Fábio Peron.
O Música em Letras esteve no ensaio do trio e entrevistou os artistas. O blog também fez um faixa a faixa com as dez músicas do disco, além de gravar, com exclusividade, três delas (assista aos vídeos no final do texto).
Eduardo José Nunes Ribeiro, o Edu Ribeiro, 44, nasceu em Florianópolis e é baterista, compositor, arranjador e professor de seu instrumento. Antônio de Pádua Ferragutti, o Toninho Ferragutti, nascido em Socorro, no interior de São Paulo, três dias após o show completará 60 anos, amealhando experiências como acordeonista, compositor, arranjador e professor. Já Fábio Cury de Andrade, o Fábio Peron, 28, paulistano, é compositor, arranjador, bandolinista e “recentemente ‘bandolãonista’ por conta de um instrumento que inventei – o bandolão –, além de ser um pouco professor”.
Segundo Ferragutti, o CD “Folia de tReis” nasceu de uma ideia de Edu Ribeiro em fazer um disco “não muito convencional”. “É um encontro de três instrumentistas, tocando suas composições, sem um apoio convencional de uma base [violão, baixo ou piano]”, disse o instrumentista que no início ficou apreensivo com o resultado. “Não tinha ideia de como iria soar, por ser um pouco arriscado, mas fomos nos adaptando ao sentirmos como deveríamos atuar nesse tipo de formação.” O resultado, no entanto, além de ter satisfeito o músico, foi revelador. “Desde que você assuma que há um buraco e que ele não precisa ser preenchido, no caso pela cozinha [baixo, bateria, percussão], fica fácil atuar, tocando sem querer ser mais do que já é.”
Para Edu Ribeiro, tocar sem o contrabaixo é muito difícil, mas atuar em formações não convencionais o atrai. “Bateria sem contrabaixo não é uma coisa que a gente costuma encontrar, mas fizemos ensaios sem ele [contrabaixo] e tivemos uma surpresa boa”, falou o consagrado baterista que havia escalado o baixista Sidiel Vieira para integrar o time. Impossibilitado de gravar por conta de uma agenda cheia, Vieira perdeu a boca e, sem saber, propiciou algo inusitado e de excelente bom gosto musical. O fato foi que, sem o contrabaixo, Edu Ribeiro, Ferragutti e Fábio Peron passaram a tocar de maneira diferente de modo a suprir a ausência do instrumento.
A admiração pessoal e musical entre os integrantes do trio foi a mola propulsora da gravação do disco nessa formação, com três músicas de cada um deles. Fábio Peron trouxe para o grupo uma invenção sua, o bandolão, no intuito de preencher a carência sonora dos graves ajudando a conduzir o som, o que deu muito certo. “Esse disco se difere de outros pelo fato de que, na maioria das vezes, quando vamos gravar pensamos em uma sonoridade e depois em quem iremos chamar para tocar. O processo de gravação desse CD foi ao contrário. O Edu [Ribeiro] nos convidou pensando nas pessoas. E foi a partir disso que achamos uma sonoridade.”
Interessante é notar, ao se escutar o disco, que a formação pouco comum não provoca estranheza, mas sim uma beleza permanente por conta das composições e suas interpretações livres, poéticas e comedidas o bastante para que cada um dos integrantes expresse sua arte em meio a uma sonoridade peculiar e muito agradável. Trata-se de um disco – como foi dito por Fábio Peron – no qual os músicos “jogam muito pelo time”. “Todos estamos muito antenados no que o outro está tocando, achando os espaços para tocar. Apesar de desafiador, não foi tão difícil conseguir achar esses espaços, foi natural. Desde a primeira passada de som, fomos achando o caminho.”
O bandolão, instrumento criado por Peron, tem uma razão para existir. “O bandolim é um instrumento um pouco limitado harmonicamente, mesmo o de dez cordas que apresenta mais possibilidades. Por ser um instrumento que soa mais na região aguda, o bandolim não dá a sensação de base, de cama. Por isso imaginei como seria um bandolim de dez cordas com uma oitava abaixo”, contou o músico que inicialmente criou o protótipo do bandolão usando o corpo de uma viola caipira de dez cordas, antes de encomendar para o luthier Saraiva um corpo de instrumento maior e específico para sua criação. Único no mundo, o som do instrumento já foi gravado, ainda como um protótipo, no disco de sua autoria “Confraria do Som” (2015).
Fábio Peron pretende patentear em breve o instrumento que tem “cordas para guitarra de jazz”. “São cordas de aço, lisas, que os violonistas de sete cordas estão usando bastante”, disse o músico. É o que fazem dois grandes mestres desse instrumento: Rogério Caetano e Gian Correa.
Ao ouvir o disco pronto, Peron se surpreendeu com a “timbragem”, que ficou muito interessante. “Quando a gente grava, você sabe exatamente o que você e o que cada um também está fazendo. Sabemos que o groove está encaixado, quem vai fazer a melodia em tal hora. Mas quando você ouve o resultado, com um som muito legal, como o desse disco, no qual a captação, a mixagem e a masterização são excelentes, você vê que deu certo. Deu música”, falou o bandolinista que teve o som de seu inusitado instrumento captado e mixado pelo técnico Thiago Monteiro, com a assistência de Joel Lauand Jr., no Rivière Studios, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
O nome “Folia de tReis” foi criação de Ferragutti. “A ideia é brincar com a formação do trio, ao mesmo tempo que remete à folia de reis, com um ‘t’ minúsculo”, disse o acordeonista.
Leia, a seguir, o faixa a faixa do CD “Folia de tReis”, em que cada compositor comenta as músicas de sua autoria.
FAIXA A FAIXA “FOLIA DE tREIS”
1 – “A Física”, de Edu Ribeiro
“Fiz a música para esse projeto. Ela tem a peculiaridade de ter sido a primeira música que fiz no piano. É uma balada com uma estrutura bem simples, ABA. Quando vejo a simplicidade de minhas músicas acho que não vão dar certo, mas lembrando de quem vai tocá-las me tranquilizo porque eles [os músicos] sempre as salvam. E eles salvaram esta.”
2 – “Mogiana”, de Toninho Ferragutti
“Trouxe esta música especialmente para o grupo. Lembro do som de um trem com essa música, de um maracatu. Ela é um maracatu.”
3 – “Tá Sobrando Carisma”, de Fábio Peron
“É uma música um pouquinho complicada, em compasso de sete por oito, o que não é muito usual e, sim, um pouco quebrado. Dentro desse compasso sete por oito tem um groove invertido que dá uma fritada na cabeça, mas depois que deixamos a coisa orgânica funcionou legal.”
4 – “Cainã”, de Edu Ribeiro
“Eu adoro a música do sul do país. O ritmo é um chamamé com uma harmonia que me lembra as músicas do Toninho Horta, que eu gosto muito.”
5 – “Choro Suspirado”, de Toninho Ferragutti
“É a regravação de uma música que fiz de encomenda para o curta-metragem ‘Toda Coração’, que conta a história de uma mulher que não podia tomar susto. Ela vai ao médico e diz ser ‘toda coração’. Quando o médico pergunta o que ela quer dizer com isso, ela cita o [poeta] Maiakovsky. Como o médico não conhece o poeta, ela não permite que ele a atenda dizendo que se ele não conhece poesia não poderia mexer no coração dela. Depois o médico passa a se inteirar mais sobre poesia e a ajuda. O filme é do Flávio Ermírio de Moraes e a música faz parte da trilha que fiz para esse curta.”
6 – “Procure Saber”, de Fábio Peron
“Na verdade é ‘Prócure Saber’, que fiz para um amigão, o Messias Brito, um supercavaquinista que usa essa frase o tempo todo: ‘Prócure Saber’. Como o Messias tem uma técnica absurda tocando cavado, fiz esse frevo bem agulhado, rápido e cheio de notas em homenagem a ele. Aí imaginei o Toninho [Ferragutti] fazendo essa melodia e o Edu [Ribeiro] fazendo uns compassos sozinho de bateria e ficou maravilhoso.”
7 – “O Guarani da Palhoça”, de Edu Ribeiro
“Esta é a única música que trouxe para o grupo que eu já havia gravado com o Trio Corrente. É um samba em compasso de sete, supersimples. Tocamos uma vez, fizemos uma introdução coletiva e ela já ficou pronta. Guarani da Palhoça é um time que tem em Florianópolis, bem fraco. Eu sou figueirense [torcedor do Figueirense Futebol Clube, de Florianópolis]. Quando estava terminando essa música soube que o Figueirense tinha perdido para o Guarani da Palhoça. Aí eu resolvi homenagear o vencedor.”
8 – “Vinheta”, de Edu Ribeiro
“Esta vinheta é um solo que existe dentro da música ‘Guarani da Palhoça’, que era para fechar o disco, mas numa falha de comunicação ficou entre as últimas músicas do CD.”
9 – “Alfredo”, de Toninho Ferragutti
“É uma regravação [de uma faixa] de um disco em duo com o pianista Salomão Soares. Compus essa música, uma espécie de milonga, por conta dessa coisa de nomes duplos. Tenho um irmão chamado Alfredo Danilo e nunca chamei ele de Alfredo. Então resolvi registrar isso para não esquecer que o nome dele é Alfredo, além de Danilo.”
10 – “Choro Materno”, de Fábio Peron
“Fiz esse choro para minha mãe, e música para mãe tem de caprichar, tem de ser bonita. Minha mãe é, além de adorada por mim, uma supermusicista, mestre em contraponto e excelente professora. Ela sabe muito de música, mas a doçura dela não deixa que ela esbanje isso. É um choro relativamente simples, mas de coração.”
Para quem for ao show, o trio adverte: “Tem que ir, sentar e ouvir as coisas curiosas que conseguimos fazer com essa formação, dentro desse nosso repertório que traz a fusão do experimental com o tradicional”, disse Ferragutti. “Espero que as pessoas compareçam com a cabeça aberta para ouvir a junção desses três músicos, porque qualquer um de nós que não estivesse no grupo faria com que o repertório e a maneira de tocar fossem bem diferentes. Esse encontro vai refletir isso”, falou Ribeiro. Por fim, quem sinaliza o que será o show é Fábio Peron: “Não será um show de choro, frevo, baião ou samba, mas de músicas brasileiras nossas, preparadas com muito carinho para o público.”
Assista, a seguir, aos vídeos gravados com exclusividade pelo Música em Letras, nos quais cada um dos integrantes do trio mostra uma de suas composições.
SHOW
LANÇAMENTO DO CD “FOLIA DE tREIS”
ARTISTAS Edu Ribeiro, Toninho Ferragutti e Fábio Peron
QUANDO Sexta-feira (15), às 21h
ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, Água Branca, São Paulo tel. (11) 3871-7700
QUANTO De R$ 9 a R$ 30
O disco será vendido no espetáculo por R$ 30