Nuno Mindelis faz show em São Paulo e lança CD com tempero angolano

Acontece na próxima quarta-feira (13), no Bourbon Street, em São Paulo, o show de lançamento do CD “Live at The Suwalki Festival Poland”, do guitarrista e compositor angolano Nuno Mindelis, 61, gravado no Suwalki Blues Festival, na Polônia, em julho de 2018. Entre os nomes de consagrados artistas que dividiram o palco principal do evento, além de Nuno Mindelis, estavam Eric Burdon (The Animals), Billy Gibbons (ZZ Top) e Mavis Staples (Staple Singers).

O Música em Letras esteve com Mindelis no ensaio do show, que aconteceu em um dos estúdios da fábrica de guitarras Music Maker, em São Paulo. Lá, entrevistou e gravou vídeos com exclusividade para o blog, no qual o artista toca com sua banda músicas que estão no repertório do show e do novo disco (assista no final do texto). Um faixa a faixa do CD “Live at The Suwalki Festival Poland” também foi realizado por Mindelis, que em letras disponibiliza para o leitor do blog o som do disco.

Mindelis continua sendo um dos mais reconhecidos guitarristas de blues dentro e fora do país. Prova disso é a excelente acolhida que teve pelo público que esteve em seus shows, no ano passado, em Austin, nos Estados Unidos, em Luanda, Angola, e em Suwalki, na Polônia, onde fez apresentações no Eastside King´s Festival, no Jazzing Festival, e no Suwalki Blues Festival, evento no qual gravou o CD.

Em entrevista ao blog o artista falou sobre o disco, o show e um livro – uma “autobiografia romanceada” -, no qual relata parte do que viveu durante a guerra civil angolana (1975-2002) e de sua vida como exilado. “Saí [de Angola] aos 17 anos, com a roupa do corpo. Perdemos tudo. Uma foto de minha infância e adolescência tem mais valor para mim do que qualquer grana. O que mais dói no exílio não são as coisas que você perdeu e das quais você se lembra. São as coisas das quais você nem se lembra que perdeu. É um trauma campeão.”

MEMÓRIAS DA GUERRA

A experiência do conflito em Angola deixou sinais indeléveis no artista. “É muito marcante. Tinha surtos de cólera e peste bubônica porque havia cadáveres não sepultados nas casas, prédios e ruas, e não tinha mais água. Eram três exércitos brigando entre eles, na cidade, e a gente ali, no meio deles. Colapsou. Então, tudo que a gente comia, pão, maçã, ou qualquer coisa que você fosse colocar na boca, tínhamos de passar direto no fogo. Fomos [o artista, um irmão mais velho e a mãe] para o aeroporto e encontramos um puta monte de gente dormindo lá, há meses, tentando sair do país.”

Segundo o músico, ele embarcou com parte de sua família para o Brasil no último voo da Varig que saiu de Luanda para o Rio de Janeiro, antes da extinta companhia brasileira deixar de operar essa rota, em 1975. “Sabe por que foi o último voo? Porque a Varig havia dito que se atirassem novamente nos aviões, eles deixariam de operar em Luanda. Certamente atiraram, porque decolamos com as luzes da pista e de dentro da aeronave apagadas.”

Na ocasião, o Brasil acolhia refugiados angolanos, e o artista foi beneficiado por esse acolhimento. “Interessante, porque em três dias consegui[documentos de] permanência no Brasil. Lembro de ter visto uma edição do ‘Pasquim’ e nela havia uma foto de angolanos, teoricamente chegando no Brasil em um barco a remo, e o pessoal, supostamente brasileiros, fazendo cara de nojo”, contou o músico entre outras lembranças que o marcaram quando de sua chegada ao Brasil. Entre elas, Mindelis lembra que no Rio de Janeiro, em 1975, havia “150 mil fuscas”. “Olhei pela janela do hotel em que fiquei, na Cinelândia, e só tinha fusca”.

O guitarrista e compositor Nuno Mindelis (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Após três dias no Rio, Mindelis embarcou para o Canadá, onde tinha parte de sua família morando. Por lá permaneceu pouco mais de um ano. O pai do músico ficou em Angola para tentar salvar os pertences da família. O que conseguiu juntar – sofás, roupas, instrumentos musicais, livros, discos, etc. – acomodou em contêineres de madeira vazados. No entanto, segundo o artista, tudo foi saqueado no porto angolano e a família perdeu tudo. Entre os bens saqueados estavam 2 mil LPs, entre eles, dois exemplares de “Absolutely Live”, primeiro álbum ao vivo da banda The Doors, lançado em 1970, e cinco violões, alguns ingleses “com pinho sueco, monstro”.

“Aposto o que você quiser que minhas coisas estão em Cuba. Digo isso porque os ônibus angolanos da empresa EVA (Empresa de Viação de Angola), que eram branco e laranja, foram vistos em Havana ainda com a mesma pintura. E como só havia navegação entre Cuba e Moscou saindo do porto onde as coisas foram saqueadas, penso que foram parar lá em Cuba”, disse o artista que nunca foi à ilha, mas se um dia for, “não saberia por onde começar para reaver minhas coisas, mas adoraria recuperá-las”.

MULTITALENTOSO

Três anos antes de sair de Angola, o músico já tocava profissionalmente. “Com 14 anos eu já tocava e ganhava cachê da Polygram [gravadora], tocando nos estúdios dela uma mistura de música africana com blues, como algumas dessas que estou fazendo. O produtor mandava me buscar na escola – eu vestindo ainda um calção de tão criança que era –, para fazer um som de Jimmy Hendrix com merengue e semba africano.”

Segundo o artista, o livro que contempla a história de sua vida espera um acordo rentável com uma editora. “Sempre fui independente na música; na literatura deixa eu ser dependente. Isso porque, no mínimo, tenho a certeza estratosférica de que [o livro] está bem escrito.”

“Eu falei com o Agualusa [José Eduardo Agualusa, jornalista, escritor e editor angolano] para fazer um prefácio para o livro, porque, além de o pai dele ter sido quem me ensinou a nadar, antes de ele [Agualusa] ser reconhecido como escritor, ele me entrevistou para rádio e jornal porque era meu fã. Ele achou bem legal eu ter escrito o livro e me perguntou se eu já tinha editora. Respondi que não e ele nunca mais me respondeu.”

De acordo com Mindelis, o título talvez seja “Porque Não Sou um Bluesman”. “A guitarra é 5% ou 2% daquilo que eu poderia fazer, porque eu nasci com várias habilidades. Como diz minha mulher, ‘você só sabe fazer o que não dá dinheiro’. Eu pinto quadros, escrevo livros e toco guitarra”, contou rindo o guitarrista, escritor e pintor.

Ainda sobre a publicação, Mindelis adverte: “Não é uma biografia linear de músico, tipo, ‘eu nasci, depois veio a guitarra…’; é uma biografia de vários caras, com várias vidas aparentemente bem diferentes, mas que no fundo são a mesma pessoa e que reflete minha vida”.

A GUITARRA

Além de uma banda com exímios músicos, acompanha Mindelis uma guitarra vintage da marca Gibson, modelo Es 335, fabricada em 1966, desenhada por Ted McCarty (1909-2001). “Demorei anos para achar esse instrumento; é uma lenda que fala mais que as outras.” Segundo o músico há na guitarra componentes fabricados com um níquel pós-guerra e um cobre especial. E além disso, seu peso equivale ao de um violino. “Você vê essa guitarra desse tamanho e se espanta quando a pega, porque sente que ela é levíssima, sólida e acústica. Foi inventada com essa coisa de semiacústica, usando uma barra no meio para dar solidez e não apitar. É um primor de instrumento, desde a madeira até qualquer outra coisa que há nele, como os captadores humbuckers PAF, que são considerados o máximo e também lendas”, contou o instrumentista que adquiriu a guitarra de um colecionador em Seattle, nos Estado Unidos.

À esquerda, Nuno Mindelis, no ensaio com sua banda (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Quando viaja para tocar, Mindelis tem sempre momentos de tensão antes de embarcar com o estimado instrumento, pois algumas empresas aéreas insistem para que ele despache a guitarra para o porão do avião. “É muito chato e tenso isso. Umas três vezes tentaram fazer com que eu me separasse dela, mas não conseguiram. A guitarra só viaja comigo. Apesar de eu ter um case que suporta uma tonelada, temo que ela não apareça depois na esteira. Tinha de ter uma lei, como há nos Estados Unidos, que assegura o direito do músico de embarcar com o instrumento em aviões”, disse o músico.

A BANDA

No show, Mindelis conta com uma banda formada por Allex Bessa, nos teclados, Marcos Klis, no baixo, e Dhieego Andrade , na bateria– para realizar algumas releituras com outras sonoridades.

O tecladista Carlos Alexandre Bessa Rodrigues, 52, o Allex Bessa, estudou seis meses no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical) em Santos, cidade onde nasceu. “Praticamente inaugurei o CLAM em Santos, fui um dos primeiros alunos, mas fui expulso, junto com meu professor, depois de seis meses por estar no sexto livro. Como estava adiantado e isso não podia, porque tinham que segurar a matéria, fomos expulsos”, contou o músico que já tocava profissionalmente no Panela de Barro, em São Vicente, e no bar Reciclagem, em Santos, além de outras casas em São Paulo.

Allex, que tem um estilo mais voltado para o rock progressivo, já tocou e gravou vários gêneros de música, como jazz, MPB, pagode, samba e música sertaneja, e já atacou com Rita Lee, entre outros artistas. Versátil, o instrumentista considera que depois de um ano e meio com Nuno Mindelis perdeu o medo e aprendeu a tocar blues. “Toquei com o Sérgio Dias do Mutantes e aprendi algumas coisas com ele, mas aprendi mesmo com o Nuno. Quando ele me chamou para tocar, eu disse que não sabia tocar blues e ele me disse: ‘Você sabe sim, mas você não sabe que você sabe’. A partir daí ele me deu várias dicas e continuo aprendendo.”

Entre as maiores lições que teve de Mindelis, Allex lembrou: “O blues não é técnica ou tocar escalas. É muito feeling. Tive que aprender a tocar menos. Todo mundo deve aprender a tocar blues antes de tocar rock”, disse o músico que da gravação do disco na Polônia recorda muito do momento em que o público cantou e dançou com a banda “Mas que Nada”, de Jorge Benjor. Allex garante que tocar com Mindelis é ter a certeza de que um show nunca se repete, mesmo tocando-se as mesmas músicas.

O contrabaixista Marcos Klis nasceu em São Paulo, mas foi registrado em São Bernardo do Campo. Aos 17 anos, começou a tocar violão como se toca contrabaixo, acompanhando um amigo violonista. O repertório era o que rolava nas revistinhas VIGU (Violão e Guitarra) da época. Muito pop e MPB, além de um pouco de rock. Com o tempo comprou um baixo elétrico e o amigo, uma guitarra. Juntaram-se a um baterista e passaram a tocar na noite de São Bernardo e São Paulo. Na capital tocou nas extintas Show Days Saloon e Taste. “Tocava rock, MPB e muito cover”, disse o músico que estudou um ano na Fundação das Artes, em São Caetano, mas abandonou o curso por já tocar profissionalmente na ocasião.

A partir da esquerda Nuno Mindelis, Dhieego Andrade, Allex Bessa e Mascos Kliss (Foto: Divulgação)

Klis já acompanhou a cantora Roberta Miranda e praticamente todos os artistas do blues. Entre eles, estão nomes como o gaitista Flávio Guimarães (Blues Etílicos), o pianista Ari Borger (Ari Borger Trio) e JJ Jackson (1942-2018). Em São Paulo, Klis tocou em casas como Baretto, Mancini, no hotel Renaissance e atualmente toca no Frank Bar, no hotel Maksoud.

Na banda com Mindelis desde 2009, Klis afirma que o guitarrista é muito generoso ao tocar: “Ele deixa você fazer o que quiser, mas ao mesmo tempo ele é muito exigente com relação à linguagem do blues”. “Temos de ser fiel ao estilo”, disse o músico que considera Mindelis uma “enciclopédia”, por saber muito sobre rock e blues. “Ele sabe o nome do guitarrista que substituiu, sei lá, um cara do grupo tal, na época tal. Impressionante isso.”

A maior lição que teve tocando com Mindelis, além de manter a linguagem do blues, foi: “No blues, o baixo e a bateria é como um trenzão que você tem de fazer andar. Temos de tocar para servir um solista, temos de ajudar. Se você tem muito ego, tem de ter cuidado porque a gente tem de tocar como se estivéssemos ouvindo. Então querer pôr muita nota não resolve. Essa disciplina aprendi a ter com o Nuno.”

Quanto ao novo disco, gravado no show da Polônia, o músico lembra de ter pego o baixo “na mão” 40 minutos antes de entrar no palco. “Não levei o meu instrumento porque tinha uma questão com relação à bagagem e resolvemos que eu usaria um baixo descolado pela produção do festival. Só que demorou muito para me entregarem o instrumento e quando peguei já estava na hora de tocar”, disse o instrumentista que, nem com as cordas leves que estavam no instrumento – ele usa cordas pesadas -, deixou de cumprir sua tarefa, ou seja, a de tocar bem.

Dhieego Andrade, 32, nascido em Araraquara, estudou na UNICAMP, onde se formou bacharel em música popular e terminou um mestrado ano passado. Músico profissional há 15 anos, tocou em bandas de baile, bares e restaurantes. MPB, blues, soul, jazz e forró eram alguns dos gêneros que o bateristas conduzia em suas apresentações. O baterista chegou até Mindelis por meio da internet, onde fizeram contato e marcaram de fazer um som; desde 2017 tocam juntos. “Perdi a conta de quantos shows já fizemos, mas foram muitos, com certeza, dentro e fora do Brasil.”

Entre as várias lições que aprendeu com Mindelis, Andrade ressalta a maneira de como se portar na banda: “Acho que é o jeito de tocar; por exemplo, no ensaio, tocar já valendo. Tocamos no mesmo volume que tocamos ao vivo, porque ele pensa na performance do show, ao vivo. Ele me ensinou, entre várias outras coisas, a pensar em estar no palco mais por inteiro; a ser performático”, contou o músico que ficou espantando ao ver o público no exterior a reagir com muita empatia ao som que fazem.

O SHOW E O DISCO

Para Mindelis, quem for lançamento do CD “Live at The Suwalki Festival Poland”, em São Paulo, “deve ter em mente que receberá uma dose de música na verdadeira acepção do termo, executada, sem truques, por exímios instrumentistas, com um repertório alegre e bastante inusitado, em alguns momentos, para quem conhece o meu trabalho. Pelos depoimentos que recebo quase diariamente, ninguém sai [do show] igual ao que entrou.”

No novo álbum, oito faixas compreendem várias músicas. São medleys que, segundo Mindelis, “são muito úteis em shows de 50 minutos ou uma hora”.Uma novidade do disco é que pela primeira vez o artista canta músicas em dialeto kimbundu (falado na região de Luanda). Segundo o guitarrista, “o blues nasceu na África e eu também. Angola tem dezenas de línguas, onde nasci é ibinda, onde cresci (Huambo) é ombundu”, disse acrescentando que no dialeto kimbundu há palavras usadas tanto no Brasil como em Portugal. Entre elas “kassuada”, que significa zombaria.

Perguntado sobre qual o conceito do disco, o primeiro “ao vivo” que o artista grava, respondeu: “A ideia central era captar o show aproveitando um festival importante no gênero, com um público muito grande, para mostrar um lado inédito na carreira, que é a música angolana revisitada. Meus heróis de adolescência incluem Bonga, Ngola Ritmos, Elias Dia Ki Muezo e muitos outros que vieram no mesmo pacote dos heróis americanos e ingleses do blues, rock, soul etc. Benjor também faz parte desse pacote. Pode-se dizer que o conceito é a junção desses ‘zilhares’ de influências que tive, resultando em algo novo que tem recebido reações bastante elogiosas, efusivas até. Depois desse prelúdio angolano [duas músicas], digamos, pretendo fazer um álbum inteiro dedicado a esse tipo de música.”

Capa do CD ‘Live at The Suwalki Festival Poland’, de Nuno Mindelis (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

FAIXA A FAIXA DO CD “LIVE AT THE SUWALKI FESTIVAL POLAND” POR NUNO MINDELIS

1- Medley: “Funky Mama”, de John Patton; “Don´t Break Our Thing”; e “Hugs”, de Nuno Mindelis

“Funky Mama é um clássico do shuffle (ritmo que considero o samba americano), de John Patton, muito conhecida na guitarra de Danny Gatton que a resgatou nos anos 80 ou 90. É um tema interessante para abrir shows pela batida instigante. Curiosidade: toco essa música há muitíssimo tempo, mas recentemente o pessoal começou a dizer: ‘Que legal, você toca a música do CQC’, porque o prefixo do programa era esse. A segunda do medley é uma música que criei chamada ‘Don’t Break Our Thing’, assentada sobre uma rítmica que tem origem no Swamp Blues, nas levadas de Slim Harpo, como ‘Te-Ni-Nee-Ni-Nu’. A terceira música do medley é ‘Hugs’, de minha autoria, que gravei no álbum ‘Texas Bound’, de 1996, com a Double Trouble (de Stevie Ray Vaughan). O nome dessa levada nos Estados Unidos é ‘country western’. No meu caso, bastante eletrificado e com guitarra nervosinha. Como curiosidade, essa música ficou em 1º lugar em execuções de blues elétrico (internacional), um pouco após seu lançamento e começaram a chegar em casa cheques em dólar sem que eu soubesse do que se tratava.”

2- “Mona Ki Ngi Xica”, de Bonga

“A música é um clássico de Bonga que ‘bluesifiquei’ e virou um groove, digamos. Originalmente é uma balada triste, como a maioria das canções da época da colonização, somente com violão e percussão. Aluken Ngolo fuá (cuidado, a morte ronda) é a primeira frase da letra, que fala sobre uma filha em perigo. Essa filha poderá ser a própria Angola – o autor estava exilado. Bonga é um de meus heróis de adolescência, como já disse. Recentemente mandei-lhe uma gravação da música ao vivo e agradeceu, emocionado. Imagina eu! Se só respondesse já estava bom. A música é em dialeto kimbundu (falado no noroeste de Angola e em Luanda).

3- “Texas Bound”, de Nuno Mindelis

“’Texas Bound’, de minha autoria, está no meu álbum do mesmo nome, cuja estrutura rítmica e harmônica é chamada de ‘green onions’. E assim é porque Booker T & The MGs – meus enormes heróis de todos os tempos! – fizeram uma música com esse nome que passou a designar um gênero. Qualquer coisa que tenha essa estrutura será um ‘green onions’. Outro exemplo de um ‘green onions’ é ‘Help Me’, famosa com Buddy Guy. ‘Texas Bound’ é literalmente exigida nos meus shows, obrigatória. De tanto fazê-la, há tanto tempo, entrei numas recentemente de desconstruí-la meio pesado.”

4- Medley: “They Call Me The Beast”, de Nuno Mindelis; “A Rã”, de Caetano Veloso e João Donato; e “Looking Good”, de Samuel Maghett

“Outro medley que tem uma música (de novo do álbum Texas Bound) chamada ‘They Call Me The Beast’, em rítmica atribuída a Bo Diddley e que era chamada, na Louisiana – olha só – de ‘Candomble’, pronunciando-se a tônica no ‘dom’. No meio dela, fazemos uma citação da música brasileira ‘A Rã’ e ao Magic Sam, bluesman de Chicago morto muito prematuramente e cuja importância ainda está por ser devidamente resgatada.”

5- “It´s All About Love”, de Nuno Mindelis

“‘It’s All About Love’ é um rock – da época em que o rock era blues – daqueles que tem um solo épico no final. Compus e gravei originalmente para o meu disco anterior, ‘Angels & Clowns’ (2014), gravado com produção e participação de Duke Robillard e banda, para a gravadora dele mesmo, Blue Duchess & Shining Stone.”

6- Medley: “Nbiri Nbiri”, canção tradicional de Angola; “In Trouble” e “B.B.King Tribute”, de Nuno Mindelis

“Esse é o medley final, com ‘Nbiri Nbiri ‘(que numa Angola colonizada virou Birim Birim), uma outra adaptação que fiz para a música da minha infância e adolescência. A música ficou bastante conhecida na voz dos Ngola Ritmos, cujo fundador foi Liceu Vieira Dias, considerado ‘o pai da música angolana’, que morava perto de mim e nos emprestava equipamentos para ensaiar numa garagem. Como habitualmente, o original de ‘Birim Birim’ é uma balada triste, com uma melodia linda ao violão e percussão. Nós a adaptamos para uma marcação suingada, emprestada do soul, blues e rock, preservando a melodia sagradamente. Essas duas músicas do disco tocam em pelo menos uma rádio influente em Angola. Segue-se ‘In Trouble’, tema do meu disco ‘Blues On The Outside’ (Trama, 1999), também com Double Trouble. É uma estrutura entre o ‘swamp’ e o rock também, com pitadas de jazz nas improvisações de solos. Normalmente faço o solo de guitarra em uníssono com ‘scat’ vocal em algumas passagens. E, finalizando, faço um tributo ao Rei do Blues, que ouvi aos 10 anos e mudou a minha vida, com ‘BB King Tribute’. A base é de novo o shuffle raiz, apresento a banda, aviso o público sobre a homenagem e imito os solos do mestre.

7 e 8- Bis e “Mais Que Nada”, de Jorge Benjor

“O bis no show não era previsto por ser um festival, com horários cronometrados, mas foi tão explosivo que o diretor do evento pediu para voltarmos e mandamos um ‘Mas Que Nada’. A galera polonesa pode ser ouvida cantando ‘Obá Obá Obá’ na gravação.”

Assista, a seguir, aos vídeos gravados com exclusividade para o Música em Letras, nos quais Nuno Mindelis e banda tocam músicas do disco novo que estarão no show.

SHOW
LANÇAMENTO DO CD “LIVE AT SUWALKI FESTIVAL POLAND”
ARTISTAS Nuno Mindelis e banda
QUANDO Quarta-feira (13), às 21h
ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 127, Moema, São Paulo, tel. (11) 5095-6100
QUANTO R$ 50