João Suplicy faz show com big band em São Paulo
Acontece neste domingo (3), no Bourbon Street, em São Paulo, um show do cantor e compositor paulistano João Suplicy, 44, acompanhado por 12 músicos que compõem a big band Na Gaveta. “Vai ser um puta show! Sou suspeito, mas se não achasse isso, nem fazia”, falou o músico, em entrevista ao Música em Letras realizada na última quarta feira (30), na casa do artista, em São Paulo.
O blog gravou com exclusividade o compositor interpretando a música “Solteiro e Vagabundo”, dele e Gabriel Moura (veja no final do texto). “Fiz essa música um pouco depois de me separar. Foram sete anos casado, separei, sofri, fiz músicas de cortar os pulsos, depois que passou eu estava solteiro e vagabundo”, contou sobre a música composta originalmente como um samba, antes de se tornar um rock and roll gravado com sonoridade das bandas de suingue dos anos 1950.
Perguntado sobre suas habilidades como arranjador, o artista que toca violão como um guitarrista disse que faz arranjo para as bandas que o acompanham, mas não para naipes de metais ou cordas – na banda há oito metais. “Faço arranjo de base, por exemplo, o que o baixo e a bateria vão fazer. Aliás, no meu CD [“João”] toco a maior parte dos instrumentos, baixo, teclado, violão, guitarra e faço vocais. Só a parte percussiva não sou eu quem toca. Às vezes, dou algumas ideias para o sopro, mas não sei escrever [arranjos musicais] por não saber como cada instrumento vai soar em cada região”, disse o cantor que estudou música, durante um ano, quando tinha 18 anos de idade, no Musicians Institute, em Los Angeles.
Segundo o músico, antes e depois de sua passagem pela instituição norte-americana ele teve professores muito importantes em sua formação. “No Rio de Janeiro, o Sérgio Benevenuto foi o cara que mais me acrescentou em termos de harmonia. Em São Paulo, tive professores mais específicos, de instrumentos como guitarra. Nisso, o Mozart Mello e o Jarbas Barbosa me ajudaram muito. Mas também sou autodidata em muita coisa.”
Perguntado como o guitarrista da banda Mantiqueira Jarbas Barbosa o ajudou musicalmente, o artista disse que, entre outras coisas, a solfejar. “Tive aulas com ele antes de ir para os Estado Unidos. Lembro que usávamos muito o método para estudar solfejo do Pozzoli, além de tocar muitas peças de violão, todas clássicas.”
Com o guitarrista Mozart Mello, João Suplicy contou ter atendido sua expectativa, na adolescência, de tocar guitarra na praia que mais curtia. “Gostava da onda do Van Halen, Steve Vai e Joe Satriani, mas depois acabei indo para outros lados. Eu aprendi muito mesmo ouvindo grandes violonistas e guitarristas.” Ao citar alguns nomes o músico deu ênfase aos dos violonistas João Bosco, Baden Powell (1937-2000) e Gilberto Gil, como “caras que influenciaram muito no meu jeito de tocar”, além do guitarrista norte americano Stevie Ray Vaughan (1954-1990).
Nessa mistura de sonoridades, entre o violão e a guitarra, o músico se descobriu tocando violão de um jeito “guitarrístico”. Isso ficou mais evidente durante sua participação na Brothers of Brazil, dupla de pop rock formada com seu irmão Supla. “Toquei bastante com meu irmão, fazendo turnê por um circuito muito roqueiro. Como era só bateria, violão e nós dois cantando, comecei a usar uma distorção no meu violão, desenvolvendo um jeito guitarrístico e brasileiro de tocar.”
A maior paixão de João Suplicy “sempre foi e sempre será Beatles, por influência do Supla e do André [seus irmãos]”. Dos pais, Marta e Eduardo Suplicy, João colheu boa parte da obra de Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil misturando-a aos sons de bandas como U2, Duran Duran e Genesis, chegando a enveredar até pelos caminhos do samba brasileiro.
Contudo, foi o pernambucano Lenine, por meio do disco “Olho de Peixe” (1994) – dele, com o percussionista Marcos Suzano – que fisgou João na alma. “Para mim é um dos melhores discos da década de 90. É um acumulo de canções maravilhosas que vieram de uma forma bombástica. O jeito deles [Lenine e Marcos Suzano] tocarem me disse muito. O Lenine está certamente entre os caras que me influenciaram.”
Nos anos 1980, João Suplicy não era muito apaixonado pelo rock brasileiro.“Vim gostar de algumas coisas muitos anos depois. Nessa época, meus amigos gostavam de Legião Urbana e eu, mais de rock da gringa. Aquilo não batia tanto em mim. Depois é que eu falei, ‘puta, mas é legal pra caramba essa letra do Legião’”, contou o músico, revelando que a exceção era o Paralamas do Sucesso. “Dessa banda, sempre gostei. Desde o começo, quando era aquela coisa mais para The Police. Depois passaram a tocar com um som mais brasileiro e continuei a gostar.”
O SHOW E A BANDA
Segundo o artista, a ideia de se apresentar ao lado de uma big band nasceu há cerca de três anos, quando ele participou em shows com a banda Na Gaveta pelo interior de São Paulo, seguido por oito apresentações – quatro em São Paulo e quatro em Recife. “A maior parte dessa galera vem do interior de São Paulo, como Campinas e Jundiaí, além de gente da capital. Não é fácil juntar todos, mas o Tiago Pallone [baixista, arranjador, diretor e idealizador da banda] consegue”, falou o artista sobre o grupo que entre seus integrantes tem bons arranjadores, entre eles, o saxofonista soprano Jorge Cirillo.
Cirillo tocava em um trio rockabilly montado por João Suplicy. Um dia convidou o cantor para participar de um show, em Campinas, com a big band Na Gaveta. “Ele me convidou dizendo que não tinha muita grana, mas poderia ser o começo de uma ideia. Fui, cantei músicas de Ray Charles, Elvis Presley e umas duas minhas. Gostei muito. Montamos o show e já lançamos seis singles autorais e temos mais três para serem lançados”, contou o artista.
Além de Cirillo, um dos oito sopros da big band, integram o grupo, Edmar Pereira, sax alto; Fernando Sagawa, sax tenor; Eduardo Furtado, sax barítono; Bruce William, trompete; Lucas Joly, trompete; Marco Almeida, trombone; e Glaucio Sant’Ana, trombone. O guitarrista Bruno Mothe, o baterista Danilo Moura e o gaitista Paulo Gazela completam o time que toca, entre outras, “Coronel Antonio Bento”, de João do Valle (1934-1996) com Luiz Wanderley (1931-1993), e imortalizada por Tim Maia (1942-1998).
Para não enfadar o público com a massa sonora constante da big band, o artista escolheu cantar algumas músicas mais relax. “Se você assistir um show inteiro com uma big band tocando, uma hora o som não te impressiona mais. Então, depois de umas cinco músicas entramos com ‘Eu sei que vou te Amar’, do Tom Jobim e do Vinicius de Moraes”, falou o cantor que interpreta ainda “Consolação”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes (1913-1980), com uma pegada de surf music, além de “Corsário”, de João Bosco e Aldir Blanc, com mais um arranjo mortal de Cirillo.
Entre as 16 músicas do espetáculo, Elvis Presley (1935-1977) será lembrado por meio de “Suspicious Minds” e os Beatles, por “I’ve Just Seen a Face”. Das composições de João Suplicy, figuram, entre outras, “Um Abraço e Um Olhar” – gravada no CD “João” com a participação especial de Zeca Baleiro. “Essa música, um roquinho inocente é muito atual por falar de nosso dia a dia ao lado da tecnologia que não largamos. É uma crítica à tecnologia, que é maravilhosa e sensacional, mas às vezes fica over. Sempre ouvi que as máquinas fariam coisas por nós e ficaríamos mais livres. Na verdade, somos escravos da tecnologia e o nosso trabalho aumentou. Atualmente, não temos descanso e, ao mesmo tempo, a tecnologia tira nossos empregos. Então tem algumas coisas que temos de repensar.”
“Deixa O Tempo Trabalhar” é um blues de autoria do compositor. “A história dessa música é a seguinte: eu já tinha feito de tudo para poder conquistar uma garota; já tinha gastado todas as minhas fichas e pensei em deixar o tempo trabalhar para, no final, acontecer uma mágica.”
Inédita ainda, “Terror da Vizinhança” tem letra de Evandro Mesquita e música de João Suplicy. “Ele me mandou essa letra e eu achei o maior barato. Ela casou muito bem com a big band e com um arranjo sensacional do Bruno Mothe [guitarrista] .”
Assista, a seguir, o artista interpretando “Solteiro e Vagabundo”, parceria dele com Gabriel Moura, no vídeo gravado com exclusividade para o Música em Letras.
Show
JOÃO SUPLICY & BIG BAND NA GAVETA
QUANDO Domingo (3), às 20h
ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 194, Moema, São Paulo, tel. (11) 5095-610
QUANTO R$ 50