Acontece neste domingo (21), às 18h, no Sesc 24 de Maio, em São Paulo, o show de lançamento do CD “Música de Montagem” com o septeto criado pelo compositor, violonista e professor paulistano Sergio Molina.

O Música em Letras esteve na manhã deste sábado (20) no ensaio do grupo e gravou, com exclusividade para o blog, duas músicas que fazem parte do repertório do novo disco e do show: “Parangolé”, de Molina e Lilian Jacoto, e “Melancholia II”, do compositor com Chico César (veja vídeos no final do texto).

Sergio Augusto Molina, 51, começou a estudar violão aos 4 anos. Aos 7, já compunha usando o instrumento. O artista formou-se em composição na USP (Universidade de São Paulo), instituição em que fez mestrado e doutorado.“Sempre fiz música popular, mas os estudos acadêmicos no Brasil ainda são muito em cima da música clássica. Em meu doutorado,  mostrei essa ideia de música de montagem, de criar uma teoria para analisar a música popular feita de 1967 para cá, que é totalmente diferente da música que foi feita antes desse período.”

Segundo Molina, comete um equívoco  quem pensa ser  a música erudita mais complexa do que a música popular. “Isso acontece simplesmente porque tem gente explicando, porque ela [ a música erudita] é mais interessante há 500 anos. Além disso, a música popular está menos presente no meio acadêmico.  Ela é tida como uma coisa espontânea, de talento. Como se ela não tivesse seus segredos que podemos aprender”, disse o professor que aborda em sua teoria músicas que surgiram após o emblemático disco dos Beatles “Sgt. Pepper’s” (1967).

Para Molina, a ideia de colagens e sobreposições –  que ele chama de “montagem” –  passou a ser o principal meio de composição do que entendemos como música pop moderna. “Isso só foi possível na música popular, quando ela passou a ser gravada em vários canais simultâneos. A partir daí, o músico começou a compor como se estivesse pintando uma tela. Quem nasceu depois de 1967, meu caso, já nasceu ouvindo isso. Então, temos uma cabeça para, desde o início, fazer  essas montagens.”

O DISCO

O novo disco de Molina, com nove faixas autorais, busca o que o compositor classifica como  montagens,  registrando contrastes entre seções internas de uma mesma música, composta por várias partes contrastantes no que se refere a sonoridade, clima, andamento, levada e letra. “Quem ouvir os 40 minutos do disco vai passar por situações muito diferentes”, disse o compositor, salientando que o mais interessante, curioso e particular no trabalho está em fazer isso tudo em ligação com a letra. “A letra é que dá o ‘start’ para que a música vá para algum lugar. Qualquer sugestão poética [na letra] que aparece, vamos com tudo atrás dela. E aí, temos uma justificativa: se a letra está sugerindo, a música pode ir junto também.”

O som do disco dá gosto e a gravação é um primor. O CD foi produzido pelo baterista e percussionista André Magalhães e masterizado por Felipe Tichauer, paulistano radicado nos Estados Unidos, que já colaborou como engenheiro de som em projetos envolvendo nomes como Rod Stewart, Ricky Martin, Maria Bethania, Elza Soares, Antonio Adolfo e Arnaldo Antunes, entre outros.

O GRUPO

Há mais de dois anos, Molina montou o grupo composto por ele (composição, voz e violão), Clara Bastos (contrabaixo acústico e elétrico) e Priscila Brigante (bateria e percussão), dupla que toca com o compositor há muito tempo. Molina trouxe para somar ao trio – e criar texturas daquelas que você ouve, mas não sabe de onde vêm –  Rodrigo Bragança (guitarra e processamento de efeitos).“Às vezes, o Rodrigo até faz som de guitarra”, disse rindo Molina sobre o guitarrista e companheiro de banda, que tem um arsenal de pedais e traquitanas que parece reunir em um só case, umas três ruas Teodoro Sampaio.

Por esbanjar versatilidade, a cantora Joana Duah foi inserida no grupo que estava sendo formado por Molina. “A voz dela é incrível, com uma tessitura enorme e segurança para ir atrás de qualquer gênero. Ela faz com que trechos de melodias complexas pareçam fluentes e naturais. Encontrei a Joana quando, de fato, iniciei esse trabalho, em 2015”, falou o músico que acrescentou à banda mais duas vozes femininas: as de Alexia Evellyn (vocais) e Aninha Ferrini (vocais). “A gente fez uma primeira sessão de gravação e achei que tinha muito som instrumental e que seria legal ter mais vozes também. Chamei as duas, que estavam fazendo pós-graduação em canção popular. Eu as tinha visto cantar e achei que eram muito especiais, com uma presença de palco enorme e uma segurança incrível”, contou o artista que recepcionou os dois novos talentos depois de ter sido professor de ambas na graduação e na pós-graduação das cantoras na FASM (Faculdade Santa Marcelina), em São Paulo, onde coordena o curso de pós-graduação Canção Popular – Criação, Produção Musical e Performance há sete anos.

O SHOW

Para quem for ao show de lançamento do CD “Música de Montagem”, Molina previne: “A pessoa tem de estar disponível para passar por sensações diferentes durante o mesmo show. Não pense que você vai ouvir a primeira música e já entendeu. Você não entendeu, porque 15 coisas diferentes vão acontecer. Não há como se prever para onde a música vai, porque ela acaba indo para lugares diferentes. Por outro lado, ela tem suingue, é dançável e tem trechos muito fáceis que, após algumas audições, é possível  cantar junto. Essa música não vai contra o universo da música popular de massa;  ao contrário, ela quer absorver isso e traduzir em ideias mais criativas”.

A concepção visual do espetáculo é de Luciano Pessoa, que criou a capa do disco baseado nas formas dos “Parangolés” e de outras obras de Hélio Oiticica (1937–1980).

Assista, a seguir, aos vídeos com o septeto Música de Montagem, interpretando “Parangolé”, de Molina e Lilian Jacoto, e “Melancholia ll”, do compositor com Chico César.

SHOW DE LANÇAMENTO DO CD “MÚSICA DE MONTAGEM”

QUANDO Domingo (21), às 18h
ONDE Sesc 24 de Maio, r. 24 de Maio, 109, centro, São Paulo, tel. (11) Telefone: (11) 3350-6300
QUANTO De R$ 9 a R$ 30