Europa conhece ‘Canção pra Dois’ antes do Brasil

De malas prontas, o casal de músicos Alex Maia e Carol Andrade embarca no dia 2 de setembro para a Europa onde lança, em shows, o CD “Canção pra Dois”, ainda inédito no Brasil.

Os shows acontecem na Holanda, no dia 7 de setembro, na Fenix Music Factory, em Roterdã, e no dia 8, no Munganga Theater, em Amsterdã. No dia 13, a dupla mostra seu trabalho no Art N’Ativa, e, no dia 14, no Art Base, os dois locais em Bruxelas, Bélgica, antes de finalizar a pequena turnê, no dia 15, no Latin American Club, em Luxemburgo.

O Música em Letras conversou com os artistas e registrou-os interpretando “Doralice”, de Dorival Caymmi (1914-2008) e Antonio Almeida (1911-1985), com exclusividade para o internauta do blog (assista ao vídeo no final do texto).

A paulistana Carol Andrade, 40, é cantora, compositora, formada em canto popular pela ULM (Universidade Livre de Música) e há 14 anos, professora de canto na EMT (Escola de Música e Tecnologia), em São Paulo. Alex Maia, 43, também paulistano, é arranjador, violonista, produtor e há 16 anos, professor de violão, além de atualmente coordenar o Instituto de Violão e Tecnologia na EMT.

Sobre o CD “Canção pra Dois”, Maia contou: “É um emaranhado de casal, uma forma de bordar a vida a dois através da canção”. Para Andrade, o disco é “uma celebração de duas pessoas que se encontraram e estão há 20 anos fazendo música e vivendo essa aventura”. O álbum registra a sensibilidade musical de ambos com músicas de compositores que muito os influenciaram, mostrando a vivência não apenas do lado romântico, mas do amor cotidiano, do dia a dia.

Entre as 10 faixas, músicas conhecidas como “Valsinha”, de Chico Buarque e Vinicius de Moraes (1913-1980), mas aqui com um arranjo para uma dança em três movimentos, começando com uma valsa lenta. “Como ela se repete três vezes, a segunda parte tem uma valsa mais movida, mais brilhante. E na terceira, que é o ápice, o momento que eles [personagens da canção] resolvem ter a noite de amor que irá contagiar o bairro inteiro, fizemos um tango. Virou uma peça que é quase uma ópera, bem interessante e eufórica”, disse Maia.

Outra música também conhecida, “O Quereres”, de Caetano Veloso, gravada como um baião por Gal Costa, ganhou reforço do gênero escolhido e gravado originalmente pelo autor. “Baseado na gravação do Caetano, fiz um arranjo superrock’n’roll, com um violão cheio de power chords [acordes tocados com distorção], mas com sonoridades do violão erudito”, contou Maia.

A música que mais deu trabalho para que o violonista “achasse” um arranjo foi “Somos Dois”, única composição de Carol Andrade no disco. Embora seja originalmente uma valsa, Maia vestiu-a de blues. O motivo não foi à toa: “Quis homenagear a forma como nos conhecemos, tocando em uma banda de blues”, contou sobre a música que alerta a quem pensa, equivocadamente, que o casal forma uma única pessoa. “Escolhemos olhar para vida juntos, mas com desejos diferentes e não com o mesmo olhar. Nosso olhar é meio caolho, um precisa do olhar do outro para enxergar panoramicamente tudo o que vivemos. Essa música fala disso”, explicou Maia.

Carol e Alex
Carol Andrade e Alex Maia em entrevista ao Música em Letras (Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

Durante o processo de criação dos arranjos para o CD, o violonista foi aconselhado pelo mestre Paulo Bellinati a tocar “menos cheio, a esvaziar mais a harmonia”. “Isso mudou minha forma de tocar e no disco percebe-se que, por exemplo, às vezes dou apenas duas notas, mas com a nota de Carol, vira um acorde gigantesco”, contou o músico.

Completam o CD, a homônima “Canção pra Dois”, de Márcio Celli, compositor e cantor gaúcho; “A Nível De”, de João Bosco e Aldir Blanc; “Aliás”, de Djavan; “Sanfona Sentida”, de Dominguinhos (1941-2013) e Anastácia; “A Linha e o Linho”, de Gilberto Gil; e “Brigas Nunca Mais”, de Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes.

A dupla esteve na Europa em 2014 para realizar oito shows com o repertório do CD “Outras Mulheres”. Nessa pequena turnê de 15 dias, formaram um grande público. “Sempre recebemos mensagens perguntando quando iríamos voltar para nos apresentarmos novamente. Agora, iremos e pretendemos rever essas pessoas levando o Brasil conosco em forma da música de que eles tanto gostam”, disse a cantora sobre os fãs belgas e holandeses, que, entre outros de países como o Japão, participaram do financiamento coletivo do disco.

No Brasil, a dupla lança o trabalho no dia 22 de setembro, no teatro Brincante, em São Paulo, apenas para os apoiadores do projeto. “Esse é um show ‘recompensa’ para quem contribuiu para o disco. Não é aberto ao público”, disse Maia que em breve pretende fechar data e local para apresentações em São Paulo e outras cidades brasileiras para mostrar o que a dupla tem criado, elaborado, produzido, trabalhado, retrabalhado, gravado e mixado (pelo competente Adonias Junior, no Arsis Estúdio) e masterizado (pelo mago Homero Lotito, no Reference Master Studio), com muita qualidade. A capa e contracapa do CD tem fotos de Anaryá Mantovanelli e design gráfico de Erich Favalli.

Capa do CD “Canção pra Dois”( Foto: Carlos Bozzo Junior/Folhapress)

“Canção pra Dois” traz mais do que a arte de um casal de músicos que se expressa, com muita verdade, por meio de um diálogo rico e embasado entre voz e violão, prazerosíssimo de ser ouvido. O disco é portador de uma identidade nacional de alta qualidade musical e poética, merecedora de ser exportada e que enche de orgulho os brasileiros, e de inveja quem não é.

Assista, a seguir, à dupla interpretando “Doralice”, de Dorival Caymmi e Antonio Almeida.