Targino mostra em show forró sem limites
Acontece nesta quinta-feira (10) o show Targino Sem Limites, no Bar Brahma, em São Paulo, com o compositor, cantor, sanfoneiro e empreendedor cultural pernambucano Targino Alves Gondim Filho, 45. O evento conta ainda com a participação da cantora Mariana Aydar, convidada pelo artista para juntos fazerem forrós “for all”.
O Música em Letras esteve com Targino Gondim, na Chapada Diamantina (BA), na beira do rio Paraguaçu, onde entrevistou o sanfoneiro – um dos autores de “Esperando na Janela”, junto com Raimundinho do Acordeom e Manduca Almeida –, além de gravar com exclusividade o artista tocando esse sucesso (veja vídeo no final do texto). A música também ganhou a voz de Gilberto Gil e deu ao artista espaço no filme brasileiro, “Eu, Tu, Eles” (2000).
Targino Gondim é sanfoneiro, cantor, compositor, curador e um dos criadores, do arrebatador Festival Internacional da Sanfona, que acontece todos os anos em Juazeiro (BA), um dos muitos que o artista pilota com maestria.
O artista, que nasceu em Salgueiro (PE) – a 100 quilômetros de Exu, terra de Luiz Gonzaga (1912-1989)-, foi vencedor, em 2001, do Grammy e do Prêmio da Música Brasileira, comemorando 22 anos de uma sólida carreira.
APTIDÃO PRECOCE
Desde os 12 anos, o músico toca sanfona, instrumento que entrou em sua família por conta de Luiz Gonzaga. O caminhoneiro Zeca Targino, 88, pai de Targino, sempre foi fã do Rei do Baião e viajava com frequência para São Paulo e Rio de Janeiro. “Em uma dessas viagens, ele inventou de comprar uma sanfona de 80 baixos, no Rio de Janeiro, mesmo sem saber tocar. Naquele tempo, os pais de Luiz Gonzaga, dona Santana e seu Januário, criavam um menino. Quando Luiz Gonzaga mandou um carro pegar os pais para irem morar com ele no Rio de Janeiro, dona Santana levou o menino junto, que cresceu e aprendeu a tocar sanfona com Luiz Gonzaga”, contou o artista sobre Eugênio Gonzaga, que, ao voltar para o interior de Pernambuco, chegou sem sanfona e foi procurar Zeca Targino, que o ensinou a dirigir caminhão em tocar de aprender o instrumento.
Foi com o pai e com Eugênio, até hoje grandes amigos, que Targino aprendeu o instrumento. “Com meu pai, aprendi ao vê-lo tocar, mas confesso que no início não gostava e ficava chateado com a sanfona. Menino pequeno tinha que acompanhar meu pai tocando na varanda de casa enquanto queria mesmo era brincar”, contou o artista que bem novo viu e ouviu o pai tocando “Asa Branca”, pediu a sanfona e imediatamente saiu tocando.
O pai se empolgou ao constatar a aptidão do filho e deixou o instrumento com a cria. Foi o bastante para que Targino desenvolvesse sua musicalidade, registrada, até agora, em 32 CDs –“praticamente um por ano” –, e uma infinidade de shows. “Não sei precisar quantos faço por ano, mas só no mês de junho [mês das festas de São João] faço mais de 30 shows. Muitas vezes, dois por dia. Este ano, por exemplo, tem um dia em que farei quatro shows”, disse o sanfoneiro.
FORRÓ É FORRÓ
Para o show de amanhã no Bar Brahma, está confirmada a participação de alguns músicos da excelente banda de Targino. Entre eles, Tadeu Gouveia, na guitarra; Garga Mel, na bateria; e Luiz Maia, no contrabaixo, além de Targino na sanfona e voz. “Minha intenção é mostrar que a música que represento, o forró, não tem limites, barreiras ou gostos provenientes de apenas uma classe ou etnia. Falta ao forró ser reconhecido como uma das grandes bases da música popular brasileira. Foi a partir do forró e do samba, gêneros genuinamente brasileiros, que surgiu o tropicalismo e a bossa nova”, disse o músico que já gravou e faz shows ao lado de Moraes Moreira, Leonardo, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Mariene de Castro e Ivete Sangalo, entre outros.
Ainda sem o repertório definido, Targino revelou duas músicas que serão interpretadas por ele e Mariana Aydar: “Esperando na Janela” e “Xote das Meninas”, esta última de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.
Para Targino não há forró pé de serra e nem de qualquer outra denominação. “Quando me perguntam se meu forró é pé de serra, digo que não porque meu forró é forró. Forró só existe um, ou é forró ou não é forró. Tanto Dominguinhos [1941- 2013] quanto Luiz Gonzaga nunca chamaram o forró deles de pé de serra. Eles cantavam as saudades deles, em versos do chão de cada um, que ficava no pé de serra, mas o forró sempre foi só forró.”
MÚSICO EMPREENDEDOR
Outra faceta de Targino é a do empreendedor de eventos culturais. Entre eles, o Conecta Chapada, na Chapada Diamantina, cuja primeira edição, em abril, foi acompanhada pelo Música em Letras, que constatou a importância do evento, que contou com a participação de Zeca Baleiro, Mariene de Castro, Armandinho e o quinteto Sanfônico, entre outros artistas. “Além do Conecta Chapada, desde 2009 realizo o Festival Internacional da Sanfona, durante cinco dias, em Juazeiro, [cidade] às margens do rio São Francisco. Ali, reúno mais de 30 músicos que tocam para um público de 6 mil pessoas nos shows do teatro e 30 mil na orla, o que assegura grande sucesso para o evento. Já se apresentaram muitos artistas ligados à sanfona, como Elba Ramalho, Fagner, Nando Cordel. Dominguinhos foi em todos, Oswaldinho também, e continuará a se apresentar. Também já participaram do festival os acordeonistas italianos Mirko Patarini e Antonio Spaccarotella, além dos norte-americanos Murl Sanders e Frank L. Marocco [1931-2012], o papa da sanfona mundial. Também levei o ucraniano Alexander Hrustevich, e os argentinos Hector Del Curto e Gabriel Merlino”, falou o instrumentista.
No entanto, esse não é o único festival que o músico empreendedor realiza. Está para acontecer o segundo Festival de Forró da Chapada, que rola durante três dias, no feriado de 12 de outubro, em Mucugê. “Nem montei a programação ainda e a cidade já está lotada, sem vagas nos hotéis e pousadas. Muita gente que mora em Mucugê passou a alugar suas casas para os turistas durante os dias do festival”, disse Targino que recebeu um convite para realizar mais um festival de forró em São Félix do Coribe, município baiano, além de dar continuidade ao de Itacaré, no litoral baiano, que foi como todos um tremendo sucesso.
Religiosamente, Targino se apresenta na festa de Luiz Gonzaga que acontece em Exu, no dia 13 de dezembro, data de nascimento do Rei do Baião. “No dia de meu aniversário, réveillon ou Natal, pode vender show meu que vou, mas na semana do dia 13 não marco nada. Meu irmão Paulinho [empresário] fica até puto comigo por isso, mas é uma coisa que Dominguinhos sempre pedia, para mim e para outros artistas, para não deixarmos de ir.”
SANFONA NA POLÍTICA
Entre seus 32 CDs, o músico destaca “Canções Divinas” (2014), álbum que, além de “Romaria”, de Renato Teixeira, traz uma composição de Targino feita exclusivamente para o papa Francisco, que ouviu o disco e retribuiu a homenagem enviando para o músico uma carta de agradecimento. “Além desse disco ser o melhor de todos que já gravei, ele mexe comigo, é o que mais me sensibiliza. O meu melhor está nele, pois através de minha música falo de Deus, da paz, e levo mensagens de amor e de carinho como um porta-voz do povo nordestino, alguém que conta e canta seus pedidos, sofrimentos e agradecimentos”, contou o artista que é católico, mas não praticante.
Mariana Aydar, que participa do show no Bar Brahma, disse ao blog estar muito contente em dividir o palco com o músico empreendedor. “Targino é um cara muito importante como instrumentista e compositor, além de ser um grande agitador da cena do forró por levar essa bandeira com seriedade. Targino abre muito caminho para o forró, que ainda sofre muito preconceito, embora seja um gênero musical que fura esses preconceitos quando as pessoas o escutam.” Para Aydar, trata-se de um preconceito do Brasil com ele mesmo, “de achar que é menos, de não curtir sem ter ouvido”.
Targino pretende lançar, em breve, sua candidatura a deputado federal, o que não tem aprovação de seu irmão e empresário Paulinho. Ele teme que a carreira artística do músico possa ser prejudicada pelas atividades políticas. “Vou tentar mesmo assim”, falou o músico, que pretende contribuir melhorando a qualidade de vida de seus futuros eleitores.
Por enquanto, aproveite para ouvir e ver o talento desse grande artista, antes que ele enverede pelos não tão amáveis e pouco harmoniosos caminhos da política.
Assista, a seguir, Targino tocando com exclusividade para o Música em Letras “Esperando na Janela”, dele, Raimundinho do Acordeom e Manduca Almeida.
TARGINO SEM LIMITES
ARTISTAS Targino Gondim e Mariana Aydar
ONDE Bar Brahma, Av. São João, 677, Centro, São Paulo, tel. (11) 2039-1250
QUANDO Quinta-feira (10), às 20h
QUANTO R$ 50