O “Brasileirismo” de Makiko Yoneda
Acontece segunda-feira (16), às 19h, no Sesc Consolação, em São Paulo, o show do disco “Brasileirismo” da pianista e compositora japonesa Makiko Yoneda, 45. Ao lado dos experientes e exímios músicos Márcio Bahia (bateria) e Jamil Joanes (contrabaixo) Yoneda forma um trio “brasinês”, com muita musicalidade .
O Música em Letras esteve na casa da pianista, no bairro de Perdizes, em São Paulo, onde a entrevistou e a gravou tocando “O que é isso, vagabundo”, uma das 10 músicas do disco (veja vídeo no final do texto).
Makiko Yoneda nasceu em Chiba, região metropolitana de Tóquio, no Japão, mas mora no Brasil há 8 anos. Aos três anos, iniciou seus estudos de piano e só deixou de tocar o instrumento quando estava com 18 anos. Depois disso, cursou uma faculdade onde se formou em relações internacionais, com especialidade na área de educação. “Até fui pegar o certificado para ser professora, mas não gostei”, disse a instrumentista que teve como base musical uma formação erudita, “nem sabia o que era jazz”.
Dos 18 aos 32 anos, Yoneda abandonou o piano. “Só brincava nele, mas bem de leve.” O motivo que a levou a parar no som com o instrumento foi a dedicação exclusiva, nos moldes japoneses, assumida ao ser contratada pela multinacional Häagen-Dazs, no Japão. O emprego a levou a traçar um rumo completamente diferente em sua vida. “Fazia tudo lá, propaganda e educação. Ganhava muito bem, mas não era feliz. Deixei de trabalhar depois de seis anos porque faltava felicidade; senti que a vida é só uma”, contou a compositora.
Antes de ser empregada, ainda quando estudava em Nagoia, Yoneda assistiu, em um restaurante, a um vídeo do carnaval brasileiro. Foi assim que se apaixonou pela dança e pelo Brasil. “Apaixonei-me pela paixão e pela alegria das pessoas, porque isso, na verdade, não existe no Japão. Aí eu queria ser como aquelas pessoas, né? Dançar e ficar alegre, mas o emprego me tirou desse caminho. Acho que eu mantinha o emprego por meus pais e não por mim.”
Em busca da felicidade, a artista japonesa optou, depois de deixar o emprego, por procurar na dança sua realização. Foi para os Estados Unidos, Cuba e só depois chegou ao Brasil. “Fiquei em Nova York experimentando tudo de dança. Fiz o mesmo em Havana, mas percebi que não tinha o dom. Todo mundo voava no ar, e eu não”, contou ela que se encontrou na quadra da escola de samba Vai-Vai, onde foi recepcionada por todos como uma excentricidade pelo fato de ser japonesa e sambar muito bem. “Fui ganhando espaço nos ensaios e recebi até o título simbólico de rainha de bateria porque eles achavam legal uma japonesa dançando bem o samba e divulgando a escola. Até a Globo foi lá e me filmou”, contou rindo a pianista e dançarina que, segundo ela, ganha mais curtidas no Facebook e no Youtube quando aparece dançando.
De volta ao piano
O piano foi retomado quando Yoneda decidiu estudar novamente o instrumento, mas abordando o lado popular. A decisão teve um empurrãozinho aqui no Brasil, em Recife, por meio de uma pessoa que ela conheceu no hotel em que se hospedava. Eles se comunicavam em inglês, pois na ocasião Yoneda não falava português. “Falei para esse senhor que eu queria voltar a estudar piano e aprender música brasileira. Aí, ele me disse que o melhor lugar para isso era lá mesmo, em Recife, e decidi ficar por lá”, contou a pianista sem saber que seu interlocutor era o compositor Alceu Valença.
Depois disso, Yoneda retornou ao Japão, tirou novo visto para o Brasil, com maior tempo de permanência, voltou para Recife e começou a aprender português com um professor particular e por meio das novelas. “Assistia muita novela com o dicionário na mão. Lembro de ‘Senhora do Destino’, que me ensinou a falar o português”, contou a pianista que em Recife acabou conhecendo um músico e casou-se com ele. “Hoje, ele mora no Japão e eu aqui.” Casamento moderno? Não. “Hoje, ele é meu ex-marido”, explicou a pianista que morou durante seis anos no Japão com o músico brasileiro antes de retornar ao Brasil.
Aos 39 anos, Yoneda chegou novamente ao Brasil para morar, dessa vez em São Paulo. “Vim para cá sozinha, não conhecia ninguém e retomei os estudos de piano com Silvia Góes, que foi indicada pelo Walmir Gil [trompetista da banda Mantiqueira]”, disse Yoneda que estudou dois anos com a pianista.
Mundo musical
Yoneda veio ao Brasil em busca da riqueza rítmica do país, principalmente a que existe no samba, no frevo e no baião. A vontade de misturar esses ritmos a sua cultura fez com que a artista se dispusesse a criar um mundo musical só seu. “Brasileirismo”, o CD, é isso, com muito baião, samba-choro, afro-samba, ijexá, maracatu e marcha-rancho. Tudo sob a supervisão musical de um dos maiores craques da música brasileira, o pianista, compositor e arranjador Cristóvão Bastos.
A contribuição do baterista Marcio Bahia e do contrabaixista Jamil Joanes também foram fundamentais para a realização do disco. “Eles ensaiavam comigo vários dias e gravavam tudo. Depois iam para casa, ouviam e, no dia seguinte, apareciam cheio de ideias boas. Essa atitude deles confirma que é por isso que são mestres, né?”
Para Yoneda, a música é uma ferramenta que permite oferecer o melhor de si para o mundo. “Parece muito grande, mas é muito simples, né? Fico muito feliz tocando. É difícil, mas no momento em que tocamos não tem nada melhor.”
Segundo a artista, a melhor coisa no Brasil é a criatividade e a pior está relacionada à qualidade geral dos lugares onde se apresenta. “No Japão, tem piano de cauda sempre bem preparado e todo mundo te trata bem. Somos muito detalhistas e temos muita tecnologia, mas por isso, talvez, não tenhamos tanta criatividade.”
No show, Yoneda espera que as pessoas tenham liberdade de escutar o som “sem pensar muito”. “Não quero que pensem que estarei tocando música brasileira. Toco música e faço isso para as pessoas ficarem felizes. Se gostarem ou não, tanto faz para mim, porque quero que o som chegue ao coração delas e que sintam alguma coisa. Só isso.”
Assista, a seguir, ao vídeo
SHOW CD BRASILEIRISMO
ARTISTAS Makiko Yoneda (piano), Marcio Bahia (bateria) e Jamil Joanes (contrabaixo)
QUANDO Segunda-feira (16), às 19h
ONDE Sesc Consolação, r. Doutor Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo, tel. (11) 32 24 3000
QUANTO Gratuito
CD BRASILEIRISMO
GRAVADORA Independente
QUANTO R$ 25