Acontece nesta quarta-feira (4), no Bar Brahma, em São Paulo, o show da mineira Maria Leite, que compila no espetáculo seus dois discos, “Confessional Urbano” (2013) e “Bonde” (2017).

O Música em Letras esteve no apartamento da artista, em São Paulo, onde a gravou em vídeo e conversou sobre o show que, além de músicas autorais, terá outras de autores conhecidos como Toninho Horta e Djavan (veja vídeo no final do texto).

“MINEIRAISTANA”

Maria Aparecida do Nascimento Leite, 45, cantora, compositora, atriz e violonista – “toco um pouco de piano também”- nasceu em Patrocínio (MG),  mas há 20 mora em São Paulo.

Com 19 anos de carreira estabelecida na música –  Maria Leite foi backing vocal do cantor Edson Cordeiro durante oito anos –, partiu para atuação  solo em 2006. A cantora “atacou” em bares, restaurantes e apresentou-se em um navio de bandeira italiana pela Europa (Itália, Espanha, Ilhas Canárias) e África, durante cinco meses, entre 2007 e 2008, ao lado do violonista e seu professor desse instrumento, Joaquim Rabello.

Contudo, a artista tem formação acadêmica em letras e foi professora de inglês antes de ter estudado música na Fundação das Artes, em São Caetano. Maria Leite teve também aulas com as superpianistas Silvia Goés e Patrícia Lopes, além de Helder Araújo. Voz, a artista estudou com Maria Alvim – professora da cantora Maria Rita- e com Juvenal de Moura, fonoaudiólogo, músico, professor de canto, além de preparador vocal, cantor e regente. “Ainda recorro a ele quando preciso de uns ajustes.”

CDS

“Confessional Urbano” (2013) traz a visão mineira de Maria Leite misturada com a contemporaneidade paulistana, absorvendo o que São Paulo oferece. “São Paulo é um mundo e eu trouxe minha mineirice brejeira para juntar à modernidade da cidade”, disse a compositora. As músicas do disco são recheadas de letras confessionais que surgiram a partir do que Maria Leite observa e do que acontece com ela e pessoas ao seu redor.

Com uma cara mais pop, o CD foi produzido por Joaquim Rabello, pela compositora e pelo exímio guitarrista e homem de todas as cordas, Tuco Marcondes, atual guitarrista de Zeca Baleiro. Entre as músicas, está o hit da bolachinha, “Tudo de Bom!”, que versa sobre o final de um relacionamento com a mensagem de que o mundo gira e vai continuar a girar, mesmo se estivermos sentindo a dor lancinante característica desse momento. Também no CD, “Espelho”, um poprock, foi composta de maneira inusitada. Angustiada e descendo de carro a rua Cardeal Arcoverde, na região de Pinheiros, ao olhar pelo espelho retrovisor, a autora começou a cantar: “Hey, você, meu espelho me incomoda…”. A partir daí, Leite acionou o gravador do celular e ficou dando voltas, descendo a Cardeal e subindo a Teodoro Sampaio, até acabar de compor a música, cuja letra tem uma pegada filosófica.

O CD “Bonde” (2017), realizado por meio de financiamento coletivo, contou com o apoio de 170 pessoas para uma arrecadação de R$20 mil; Leite colocou mais R$ 5 mil do próprio bolso. “É bastante trabalhoso, mas recomendo para quem quer tirar uma ideia do papel.”

O disco ganhou esse nome por conta de a artista ter escolhido a figura do bonde para “representar a música”. “É a música que me traz e me leva às pessoas. O bonde é um meio de transporte muito antigo, mas existe ainda em vários lugares do planeta. Procurei fazer nesse disco um paralelo entre a música tradicional e a música contemporânea”, falou a cantora, que buscou a maneira de fazer melodia e harmonia de uma maneira bem tradicional, gravando com um trio, mas com um olhar atual, com destaque para a presença de uma poesia fácil de ser assimilada. Segundo a leonina, esse é um disco “bem solar”. “Mesmo que tenhamos sentimentos de que a vida não está legal, é melhor termos um olhar amoroso e carinhoso para com ela, porque assim conseguimos continuar.”

Entre as composições, “Sangra e Cura”, balada que se escora em uma onda black bem cadenciada, composta no dia da morte de David Bowie (10 de janeiro de 2016), trazendo à luz um cuidado com a depressão e “um não ao suicídio”. “Jornada”, abarca dois climas. O primeiro acontece no início, por meio de um piano e voz “ad libitum” (expressão latina que significa “à vontade”), que remete a uma música antiga. O segundo clima surge quando a música se apoia em um riff para se tornar uma música dançante. A letra versa sobre as caminhadas musical e de vida da artista. O recado é de que a vida é uma grande roda, no final podemos dar as mãos e fazermos uma dança coletiva.

SHOW

No show, Maria Leite canta e toca violão acompanhada pelo pianista Felipe Brandão, além de Giancarlo Barletta, no contrabaixo, para mostrar 16 músicas autorais que estão nos CDs.

Contudo, há um momento do espetáculo, batizado pela artista de “outros lugares”, cujo intuito é mostrar que os álbuns “Bonde” e “Confessional Urbano” vieram de várias fontes. “Faço um ‘pot-pourri’, com minhas referências”, contou a artista que escolheu quatro músicas para mostrar o que gosta de ouvir e o que estudou para chegar em seu trabalho autoral. No apanhado, “Manuel, o Audaz”, de Toninho Horta e Fernando Brant (1946-2015); “Doralice”, de Dorival Caymmi (1914-2008), calcada na interpretação de João Gilberto; “Beiral”, de Djavan; e “All of Me”, de Gerald Marks (1900-1997) e Seymour Simons (1896- 1949), imortalizada por Billie Holiday (1915-1959).

Quem for ao espetáculo verá uma cantora de música brasileira e compositora contemporânea que preza muito a música tradicional, o que exige estudo. “Será um momento de regozijar corações. Estarei esperando as pessoas com seus corações abertos, vai ser um papo de coração para coração”, falou a artista.

Assista, a seguir, Maria Leite interpretando com exclusividade para o Música em Letras, “Feira”, música de sua autoria e parte do repertório de seu último disco “Bonde”.

SHOW MARIA LEITE

QUANDO Quarta-feira (04), às 21h30

ONDE Bar Brahma, av. São João, 677, Centro, São Paulo, tel. (11) 2039-1250

QUANTO R$ 20

CD “CONFESSIONAL URBANO”

ARTISTA Maria Leite

GRAVADORA Independente

QUANTO R$ 10

CD “BONDE”

ARTISTA Maria Leite

GRAVADORA Independente

QUANTO R$ 20