Pais e alunos usam música em manifestação de apoio a professores em greve
Um protesto, com música, uniu alunos e seus pais em apoio à greve dos professores da rede municipal de ensino. A manifestação, reunindo 14 crianças do ensino fundamental I, com idades entre 9 e 11 anos, contou ainda com a presença de professores e aconteceu em frente ao prédio da Câmara Municipal de São Paulo, hoje (27), ao meio dia (veja vídeo no final do texto).
O Música em Letras esteve no local e conversou com os manifestantes. Entre eles, uma das organizadoras do evento, a professora baiana Marta Maria de Almeida Arcanjo Hassenteusel, 54 , há 18 anos trabalhando como educadora, e há quatro como professora do terceiro ano do ensino fundamental I da EMEF(Escola Municipal de Ensino Fundamental) Professor Nelson Pimentel Queiroz, na Vila Guarani, zona sul da capital. “A música está aqui para o prefeito entender o que é trabalho, e o que é regalia. Não temos nenhum recurso financeiro da prefeitura. Não tenho o salário que ele veicula na imprensa, mas tiro do meu dinheiro e da colaboração dos pais e de funcionários o valor para comprarmos flautas doces para os alunos. Em nenhum momento, a prefeitura foi ver o trabalho com música que realizamos na escola. Meu objetivo não é formar musicistas, ganhar prêmio ou evidência em jornal, mas sim buscar a qualidade de ensino”, disse a pedagoga que trabalha ensinando matemática por meio da música, o que, segundo ela, melhora a capacidade de memorização, além acalmar e concentrar os alunos.
Hassenteusel ganhou alguns “prêmios” ao criar o método que utiliza música para ensinar matemática. “O primeiro foi de rejeição da Secretária Municipal de Educação a esse trabalho, pois disseram que não tinham dinheiro para pagar hora extra. Os outros prêmios, de reconhecimento, ganhei em campeonatos que aconteceram, em 2017, na SME [Secretaria Municipal de Educação] representando a DRE [Diretoria Regional de Educação] no festival de Música Estudantil”, falou a pedagoga que tem 133 alunos capazes de tocar flauta doce, sem nunca terem aprendido com professores de música ou especialistas no instrumento.
As flautas foram compradas por R$ 2,99 cada uma. Os recursos foram obtidos a partir de uma ação solidária dos pais das crianças. “Tínhamos 54 flautas que sumiram em meio a reformas e limpezas que aconteceram na escola. Hoje, temos 20 instrumentos apenas”, disse a professora que compartilha o uso dos instrumentos entre os alunos. “Passo um alquinho [álcool] e outro aluno usa.”
A professora pediu permissão para os gestores da escola, incluindo a assistente de direção Maria Lúcia Gomes, para realizar o protesto musical, que contou com o apoio de pais e alunos. A EMEF da Vila Guarani está há três semanas sem aulas e conta com 90% de seus funcionários em greve contra o projeto de reforma da previdência municipal de São Paulo. Sobre a ideia da manifestação musical, Hassenteusel disse que achou interessante protestar utilizando a música para mostrar o trabalho e valorizar a participação do professor no ensino.
MANIFESTANTES MIRINS
Aluna do 6° ano na EMEF Professor Nelson Pimentel Queiroz Nelson, Ana Julia Amanda dos Santos Vieira, 11, era uma das manifestantes que tocaram, na flauta doce, entre outras músicas, “Asa Branca”, de Humberto Teixeira (1915-1979) e Luiz Gonzaga (1912-1989); “Fico Assim Sem Você”, de Claudinho (1975-2002) e Buchecha, além do Hino Nacional Brasileiro, de Joaquim Osório Duque Estrada (1870-1927) e Francisco Manuel da Silva (1795-1865), todas em apoio aos professores em greve. Perguntada o porquê de estarem ali, a aluna que participou de cinco ensaios para o protesto, divulgado nas páginas do Facebok, que teve 551 interessados e 194 participantes, respondeu:“ Estão querendo tirar o salário dos professores, e a gente veio protestar, porque nós temos o direito de fazer isso”.
Sandra Maria Arantes, 50, auxiliar administrativa e mãe de Camila Arantes Dias, 10, participantes da manifestação em apoio aos professores, explicou sua presença e a da filha:“ Viemos em apoio aos professores porque lamentavelmente estão sucateando nossa educação, tirando todo o pouco que nós temos, enquanto filhos de deputados tem auxílio escola até os 24 anos. E nossos filhos e professores? Tirar de quem não tem é fácil, não é verdade?”.
Perguntada como a música está inserida nisso, Arantes respondeu: “Música não é só partitura, é matemática, português e engloba outros conhecimentos, além da pauta musical. É superimportante porque esses projetos realizados dentro da escola, com os parcos recursos que tem, ajudam a tirar as crianças das ruas e a evitar a agressividade e violência. Esse é um trabalho que vai além da música, além do ensinar.”
Segundo Camila Arantes Dias, “ninguém pode tirar os direitos dos professores e estamos aqui para que isso seja respeitado”.
Assista, a seguir, ao vídeo no qual os alunos protestam a favor da greve dos professores.