Sabrina Parlatore estreia show em São Paulo
Acompanhada de uma banda formada por sete músicos, duas backing vocals, e um coral de 20 vozes, além de bailarinos, a apresentadora, modelo e cantora Sabrina Parlatore, 42, estreia o show Mistura Fina, amanhã (17), às 21h, no Teatro Porto Seguro, em São Paulo.
Na última segunda-feira (9), a cantora concedeu uma entrevista com exclusividade à Folha e ao Música em Letras no estúdio em que ensaia e estuda canto, na zona sul da cidade. “Retomei minhas aulas de canto no ano passado, com isso resolvi reiniciar minha carreira musical e montar esse espetáculo”, disse a cantora que estudou piano dos 10 aos 15 anos em um conservatório de Analândia, cidade do interior de São Paulo. “Aí começou uma doideira com minha vida profissional, porque virei modelo e parei de estudar, mas pretendo um dia retomar meus estudos de piano.”
Combinando elementos de música clássica e do jazz, “Rhapsody in Blue” (1924) foi a composição de George Gershwin (1898- 1937) que marcou a memória de Parlatore, além de outras de Tom Jobim (1927-1994). “Na minha casa sempre teve muita música. Meu pai tocava piano popular, erudito e ouvíamos muitos discos. Por exemplo, ouvíamos de cabo a rabo um disco que tinha ‘Rhapsody in Blue’, infinitas vezes”, falou a cantora, acrescentando que bossa nova e muita MPB sempre estiveram presentes no repertório que ouvia em sua casa.
Parlatore lembrou que o tratamento de um câncer de mama, diagnosticado em 2015, passando por cirurgia, sessões de quimioterapia e radioterapia durante um ano e meio, fez com que atravessasse um período de muita reflexão e de revisão de vida. “Foi durante o período da quimioterapia e da recuperação. Levei um tranco, uma chacoalhada que fez com que eu pensasse o que eu estava fazendo com minha vida, para onde eu estava indo e se era aquilo mesmo o que eu queria. Sempre gostei e quis cantar. Aí decidi realmente investir nisso. Eu gosto e porque não? Vou tentar, vou fazer sem grandes pretensões e as coisas foram rolando”, contou a artista que recebeu um convite para participar do PopStar, na Rede Globo, competição musical, entre artistas.
A artista disse que não imaginava que sua participação ocasionasse a imensa repercussão obtida. O programa estreou em julho deste ano e Parlatore causou excelente impressão nos jurados e no público a cada apresentação. Por pouco não abocanha o prêmio que ficou com André Frateschi. “Fazer o PopStar foi a coisa mais difícil da minha vida. É punk. Primeiro porque era ao vivo, na Globo, com uma audiência nas alturas, e dois minutos para você mostrar a que veio, na frente de pessoas de gravadoras e artistas. Fiquei muito nervosa, uma pilha. Não acho que fui incrível, como dizem. É que as pessoas como nunca me ouviram cantar se surpreenderam. Eu saía de lá e me odiava. Pensava ‘puta minha voz falhou por causa do nervoso’. Achava que não deveria ter escolhido tal música por não me valorizar…Enfim, saía puta da vida. Sempre fui muito exigente e perfeccionista, se um músico dá uma nota errada faço cara de paisagem, por que sou fofa, mas quero morrer”, contou a artista que embora desclassificada, ficou contente com o resultado e com os profissionais com quem trabalhou durante a competição.
Marcelo Sussekind foi o produtor musical de Parlatore durante o PopStar. “Eu estava no meio de profissionais e músicos excepcionais. O Sussekind é um cara de um bom gosto incrível e entendeu minha voz, sabendo valorizá-la por meio de arranjos muito bons. Eu recebia a base dos arranjos para treinar em casa e chorava de alegria.”
O que mudou na vida da apresentadora depois de ter participado do PopStar? “É tudo muito recente ainda, mas a repercussão foi imediata. O primeiro programa foi ao ar e uma avalanche de gente me procurou pra fazer show, sem falar da rede social que bombava. Milhares de mensagens de pessoas surpresas positivamente com o fato de eu cantar, enquanto eu estava ali puta por ter errado uma nota”, contou rindo a artista.
MISTURA FINA
Parlatore vem “dando umas cantaroladas” desde 2014, quando fez seu primeiro show no Terraço Itália, interpretando clássicos do jazz e da bossa nova. A partir desse show, rolou um monte de convites para cantar em festas, eventos corporativos e clubes. Foram cerca de 50 shows, cantando músicas de Gershwin a Tom Jobim. Entre elas, “’S Wonderful”, “Desafinado”, “Fotografia” e “Corcovado”.
Nesse início da carreira de cantora, ela lembra de ter passado por perrengues relacionados a equipamentos de som e técnicos ruins. “Som sem retorno é um pesadelo. Eu estava no fatídico show do João Gilberto no Credicard Hall e agora entendo o que ele passou”, falou.
No show atual, músicas do rock, pop, soul, jazz e bossa nova. Entre a diversidade de gêneros, a artista disse não se identificar com nenhum em especial. “Na verdade, esse show é uma mistura de todos esses gêneros, porque não tenho um estilo musical definido. Até porque ainda estou buscando e experimentando coisas novas. O que tenho é um estilo de cantar, que é mais delicado. Canto o que é a minha voz, que é suave”, falou a cantora que pende mais para o lado do jazz e bossa, mas não dispensa se arriscar em umas “pauleiras” durante o espetáculo.
Contudo, Parlatore está mais para a praia que remete a Norah Jones, Carla Bruni e Madeleine Peyroux pela maneira soft de cantar. “Sem querer ser pretensiosa identifico-me muito com todas elas, mas sem me comparar”, falou a cantora que acha Maria Gadu “um arraso” e Marisa Monte “impecável”.
Entre as músicas do repertório do Mistura Fina, várias são conhecidas. “I Will Survive”, de Freddie Perren (1943-2004) e Dino Fekaris, canção lançada no final de 1978 pela cantora norte-americana Gloria Gaynor, foi escolhida por Parlatore como símbolo do momento de superação por ter sobrevivido ao câncer que a acometeu. Mas adverte: “Essa música está numa pegada muito bossa, não tem nada a ver com o dance”.
Lançada em 1984, “Dance me to the End of Love”, de Leonard Norman Cohen (1934-2016) também está no show. “Canto essa música, na versão da Madeleine Peyroux porque ela é uma das minhas inspirações como cantora”.
“Georgia On My Mind”, de Hoagy Carmichael (1899-1981) e Stuart Gorrell (1901-1963) é de 1930, mas ficou famosa em 1960 pela interpretação do cantor Ray Charles (1930-2004) em seu álbum “The Genius Hits the Road”. A música foi escrita para uma pessoa chamada “Georgia”, mas em 1979, a canção foi oficialmente adotada como hino do estado da Geórgia, nos Estados Unidos. A balada também integra o repertório de Parlatore desde seu primeiro show no Terraço Itália, em São Paulo. “Ela sempre está no meu repertório, as pessoas amam quando eu começo a cantar essa música”, falou a cantora que ouve Ray Charles desde criança e tem uma ligação particular com o estado norte-americano. Durante três anos, ela participou da cobertura da cerimônia do Oscar para o programa Tapete Vermelho, do canal TNT, em Atlanta. “Me identifico demais com aquele lugar, ali tudo me agrada. Tenho amigos e já passei férias lá, pois tenho uma relação muito especial com a Geórgia. ”
O show do dia 17, em São Paulo, contará com a participação do cantor e ator Cláudio Lins, que ficou em segundo lugar na competição do PopStar. “Nos conhecemos no programa e me identifiquei muito com ele. O estilo de cantar e o repertório dele me deixaram com vontade de fazer algo juntos. Agora é o momento”, disse a artista que interpretará com o colega “Eu Preciso Dizer Que Te Amo” e “With a Little Help From My Friends”.
No show, a artista deve surpreender mais ainda. “Ao vivo, no teatro, estarei melhor. Porque quando você canta para a TV é diferente, o som é outro. No teatro a coisa muda de figura. A maioria das pessoas não me viam desde a MTV, apesar de eu ter feito uma série de outras coisas e ter apresentado programas em outras emissoras. O público não me viu na Cultura, na Band ou apresentando o Oscar. Agora, as pessoas vão me encontrar não como aquela mocinha da MTV, mas como uma mulher que amadureceu, sofreu, amou, caiu e levantou”, falou rindo a artista que não representa mais do estereótipo da apresentadora que lidava apenas com o pop e o rock. Parlatore tem, além de uma voz bonita, uma cultura musical cultivada desde cedo. Quebrar expectativas será tarefa fácil para ela.
Seu ritual antes de entrar no palco inclui apenas o silêncio para se concentrar. “Passo o show inteiro em minha cabeça, antes de entrar no palco. Nesse momento, preciso ficar quieta, em silêncio, e não gosto de conversas paralelas ou de falar de outros assuntos uma hora antes do show. É uma questão de concentração.”
MÚSICA ACIMA DE TUDO
A cantora pretende gravar um disco, mas ainda não definiu repertório, selo, ou datas para isso. Contudo, externou sua vontade de gravar alguma composição de Lulu Santos, além de Nando Reis e Samuel Rosa.“O Nando Reis e o Samuel Rosa eram jurados do PopStar e um dia, durante o programa, sugeriram que eu gravasse ‘Resposta’, composição deles. Adoraria gravar essa música. Quem sabe faço um dueto com o Samuel, em uma nova versão no meu disco?”, falou a artista que tem recebido músicas de outros compositores, entre eles Daniel Carlomagno, de quem gosta muito do trabalho.
Recentemente, Parlatore gravou uma música relativamente nova e não muito conhecida de Paul McCartney. “Filmei um clip dessa música na semana retrasada. Fica pronto em breve para ser lançado. Só não sei o que a gente vai fazer com ele”, disse rindo.
Perguntada se teme não emplacar como cantora, o que aconteceu com algumas celebridades tal qual a apresentadora Ana Maria Braga, que em 2003 resolveu mostrar seus dotes musicais no disco “Sou Eu”, com participações de Zezé di Camargo & Luciano, Fábio Jr, e Louro José, entre outros, Parlatore respondeu: “Ela canta, não sabia. Não temo por isso. Vou ser sincera, nunca tive e não tenho grandes pretensões. Se você me perguntar onde espero chegar, não tenho a menor ideia. O que me interessa é continuar cantando. Não interessa de que forma e onde. É claro que temos que buscar a evolução, mas não penso nisso. A música para mim está muito acima de qualquer título. É uma coisa da alma. Sempre tive muito respeito por ela, desde novinha. Por isso, nunca me joguei para fazer algo com música antes, por não estar preparada”, disse a artista que durante sua carreira de apresentadora recebia constantemente convites para cantar, mas recusava por não se sentir preparada.
PARCERIA COM “MENESCA”
Em 2016, a cantora fez show em um festival de jazz em Gravatá, cidade pernambucana a 85 quilômetros de Recife. Chegando no aeroporto, conheceu o compositor Roberto Menescal que também acabara de desembarcar. Foram juntos para o hotel, no mesmo carro. Jantaram juntos e no dia seguinte estavam ensaiando para tocarem juntos no evento. “Ele sempre diz que a vida é feita de encontros. O nosso foi muito legal. Nos conhecemos e ele me convidou para fazermos o show. Deu supercerto. Cantamos ‘Dindi’, ‘Georgia On My Mind’, além de ‘S’ Wonderful’ e o público adorou, disse a cantora que há duas semanas participou, em São Paulo, a convite do compositor, de um show em comemoração a seus 80 anos, em que foi ovacionada por sua bela participação. “Foi uma apresentação que eu e o Simoninha fizemos com o Menesca. Cada um de nós cantou nove músicas com ele, isso com um ensaio só. No dia anterior, teve a participação de Ivan Lins e da Leila Pinheiro. Até falei para o Menesca que ele tinha me colocado no meio só de gente muito fera. E ele me disse: ‘Mas você pertence a nossa turma Sabrina’. Que chancela, né? Fiquei muito feliz.”
UM OUTRO UNIVERSO
No início do tratamento do câncer que a acometeu, Parlatore achava que não devia divulgar o fato. “Era um momento muito delicado pelo qual estava passando. Cada um lida com isso de um jeito. Eu queria ficar na minha, quieta num canto, sem levantar bandeira nenhuma. Só que com o passar do tempo percebi o quão valioso é trocar experiências sobre o assunto, pois efetivamente ajuda quem está passando pela mesma situação. Acabei revelando minha história em um programa do Edgard [Edgard Piccoli ex-VJ da MTV], meu amigo, e que tratou essa questão com muito respeito. Não imaginava a repercussão que teria. Não imaginava que tanta gente também passasse por isso, que tanta gente me procuraria pedindo ajuda e que houvesse tanto interesse das pessoas em ouvir minha história. Comecei a dar muita entrevista e a me sentir bem. Entrei num grupo de whatsapp formado por mulheres que passam ou passaram por isso e cheguei a fazer eventos beneficentes sobre o assunto. Descobri um outro universo, o de se ajudar, e é incrível como as pessoas me veem hoje como uma inspiração de superação. Certamente tudo isso me impulsionou para liberar a vontade de ser cantora, ou seja, abracei uma nova profissão. Depois que passei por esse baque, pensei que não tinha nada a perder, pois achava que sofreria preconceito por ter sido da TV, por acharem que tinha resolvido cantar para ver se daria certo. Sabe esse tipo de comentário? Para mim não cabe porque a música veio antes de tudo em minha vida”, contou a cantora.
Ainda sobre a doença, Parlatore manda seu recado: “Tem que bater sempre nessa tecla da prevenção, do diagnóstico precoce. Porque o câncer de mama tem cura, desde que diagnosticado precocemente. Mulheres, fiquem atentas! Percebeu uma alteração no corpo, vá ao médico e questione. Eu sofri um erro médico, pois um caroço já existia em meu seio e o médico negligenciou, ignorou, dizendo que não precisava de uma investigação. Não quero penalizá-lo, mas quero servir de lição para alertar outras pessoas pois isso acontece muito. O câncer de mama não é um lacinho cor de rosa. É muito mais sério! Estejam atentas.”
Assista, a seguir, o vídeo no qual a artista convida o internauta do Música em Letras a comparecer no show de amanhã.
SHOW MISTURA FINA
ARTISTA Sabrina Parlatore
QUANDO Dia 17 de outubro, terça-feira, às 21h.
ONDE Teatro Porto Seguro, Al. Barão de Piracicaba, 740 – Campos Elíseos – São Paulo, tel. (11) 3226-7300
QUANTO R$ 80,00 plateia, e R$ 60,00 balcão e frisas.