Dupla tira canções de canções

Carlos Bozzo Junior
Camila Brasiliano e Felipe Borim
A cantora Camila Brasiliano e o violonista, compositor e arranjador Felipe Borim (Foto: Carlos Bozzo Junior)

O Música em Letras recebe discos praticamente todos os dias. Entre eles, há exemplares ótimos, muito bons, bons, regular, ruins e inusitados. “Sós”, primeiro disco fruto da parceria entre a cantora Camila Brasiliano, 34, e o violonista de 7 cordas Felipe Borim, 34, que será lançado amanhã (6) em show no Teatro Brincante, em São Paulo, inscreve-se em duas categorias, muito bom e inusitado.

Muito bom pela qualidade de som, repertório (canções clássicas da MPB, além de contemporâneas) e interpretações que por meio de arranjos inovadores, embora simples, reinventam com bom gosto a tão manjada formação voz e violão. Daí o inusitado.

O blog esteve na casa da cantora, no bairro de Perdizes, zona oeste da capital paulista, entrevistou a dupla e gravou com exclusividade um vídeo que você pode assistir no final do texto.

Músicas como “Voltei” e “Refém da Solidão”, as duas de Baden Powell (1937-2000) e Paulo César Pinheiro, e “Camisa Amarela”, de Ary Barroso (1903-1964), além das novas “Água”, de Felipe Borim e Roberta Zerbini, e “Moda Miúda”, de Ricardo Herz e Luis Felipe Gama mostram, além de um encaixe diferenciado entre voz e violão, a cumplicidade musical que Camila e Felipe têm desenvolvido durante os 11 anos em que tocam juntos.

“O Felipe é um superinstrumentista, muito vigoroso e criativo. Em todas as versões que fazemos, ele traz coisas muito novas e intensas para as músicas. Essa intensidade é muito bonita e nos dá liberdade para cantarmos músicas conhecidas, mas de uma maneira natural e diferente”, falou a cantora, dona de um timbre grave, envolvente e marcante.

Camila Brasiliano e Felipe Borim
Camila Brasiliano e Felipe Borim (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Entre as músicas do CD e do show figuram “Cabecinha no Ombro”, de Paulo Borges. Gravada primeiramente por Alcides Geraldi (1918-1978), em 1958, a canção foi sucesso no Brasil e no exterior, com mais de 150 versões, inclusive em espanhol, francês, japonês e guarani, mas nenhuma como no disco “Só”.

“Pelo fato dessa música ter sido muito gravada, por
exemplo, pelo Almir Sarter, e vários sertanejos, pensamos nela de uma forma diferente. Gravamos como uma canção de ninar, inclusive minha mãe cantava para mim quando eu era pequena. Então, tentamos encontrar esse outro aspecto da música, que nem sempre foi tão explorado”, disse a cantora.

Outra “diferentona”, que não está no disco, mas faz parte do repertório composto por 15 músicas do show é “Tão só”, com letra e música de Felipe. Apesar de ter sido composta no violão, com arranjo para esse instrumento, incluindo partes de violão solo, foi inspirada pelo som do grupo Radiohead, banda inglesa de rock alternativo, formada em 1985.

Capa do disco “Sós”, de Camila Brasiliano e Felipe Borim (Foto: Carlos Bozzo Junior)

No disco, a dupla elegeu belas canções do repertório popular, além de músicas novas para trabalharem criativamente pensando sempre no som do violão, não só como acompanhamento, mas dialogando com a voz, a letra e a melodia, ou seja, com a canção, de uma maneira prazerosa aos ouvidos. A sonoridade do duo foge daquele violão simples que apenas acompanha a voz, como exaustivamente ouvido e visto nos formatos tradicionais. É por meio de arranjos com novos elementos que a dupla deixa as músicas diferentes. Por exemplo, “Camisa Amarela”, geralmente interpretada como um samba mais rápido, na criação do duo ficou mais “falada” e cantada de uma maneira mais lírica, mostrando um outro sabor da composição. (veja vídeo no final do texto)

“É quase como tentar tirar uma canção de dentro das canções que já existem”, falou o violonista, arranjador e compositor, que atualmente mora no Rio.

É ele quem alerta quem for ao show de amanhã : “O nome do disco ‘Sós’ remete a isso pontualmente. São apenas a voz e o violão. Por sermos um duo, a comunicação com o público é muito direta e intensa. Há muita troca de sentimentos e emoções que expressamos ao tocar esse som.”

Para Camila o som do duo é intimista. “Nosso show é para ser ouvido sentado, de maneira a estar atento à forma íntima e aconchegante com que trabalhamos o repertório popular.”

Além das músicas do disco, outra composição do violonista,“Cantar”, com influência de música nordestina e uma pegada “mais pra cima, alegre, uma música de esperança”, está no show. Felipe mostra ainda sua intimidade com o violão de 7 cordas executando dois arranjos para violão solo que escreveu para “Ternura”, de K-Ximbinho (1917-1980) e “1×0”, de Pixinguinha (1897-1973).

O exímio percussionista Caíto Marcondes faz uma participação especial no show da dupla tocando, entre outras, a composição “Água”, de Felipe. “Ilu Ayê” (“Terra da vida”), de Norival Reis e Cabana (1924-1986), samba-enredo da Portela em 1972, também ganha um toque especial com a percussão de Marcondes e a voz de Camila.

Para quem acha que não há mais nada a ser criado na formação de um duo de violão e voz que contempla a MPB, essa é uma excelente oportunidade para mudar de opinião e rever conceitos.

Assista ao vídeo, a seguir, no qual os artistas interpretam “Camisa Amarela”, de Ary Barroso, com exclusividade para o Música em Letras.


SHOW LANÇAMENTO CD “SÓS”
ARTISTAS Camila Brasiliano e Felipe Borim
QUANDO Amanhã (6), às 21h30
ONDE Teatro Brincante, Rua Purpurina, 412, Vila Madalena, São Paulo, tel. Fone (11) 3816 0575
QUANTO De R$ 20 a R$ 40

CD “SÓS”

ARTISTAS Camila Brasiliano e Felipe Borim

SELO Independente

DISTRIBUIÇÃO Tratore

QUANTO R$ 30