Toninho Horta mostra seu reino harmônico em show
O compositor e guitarrista mineiro Toninho Horta, 68, está em São Paulo para realizar amanhã (15), no Bourbon Street, um show no qual o repertório compreende canções de seu songbook “108 partituras”, livro de 330 páginas, com melodias e cifras de suas composições, além de fotos e fatos de seus 50 anos de sólida carreira.
Participações especiais como a da cantora portuguesa Susana Travassos, entre outras, garantem a jam do final do espetáculo. “Além dela, deve aparecer mais gente como o Arismar do Espírito Santo, a cantora Alaíde Costa, a baterista Vera Figueiredo, e o Daniel Dias, um cara que toca contrabaixo, violão e canta muito bem”, falou o músico sem descartar mais surpresas “O Fagner está na cidade, somos amigos e ele disse que quer assistir ao show. Convidamos a Gal também, não sei se eles vão aparecer. Vamos ver o que vai acontecer.”
O Música em Letras esteve no último domingo (13), Dias dos Pais, no hotel em que o músico está hospedado para entrevistá-lo e gravou com exclusividade um vídeo no qual o compositor de “Beijo Partido”, dedica “Pilar”, outra de suas composições, ao seu pai. (Veja vídeo no final do texto.)
Dispostas em décadas no livro “108 Partituras”, as músicas de Toninho Horta são comentadas pelo compositor revelando suas influências, o que estava acontecendo e como ele estava se sentindo nas ocasiões em que as compôs. “Era para ser 120 músicas, mas 108, segundo minha irmã, é um número cabalístico, de sorte, e sagrado na Índia. Por isso, escolhemos 108”, contou o músico.
De todas as décadas, o compositor considera que os anos 1970 tenham sido seu momento mais criativo harmonicamente. “Eu tinha ouvido muito jazz e música clássica em minha infância. Nos anos 1960, comecei a tocar e fiz minha primeira música com 14 anos. Acordes de bossa nova já soavam como manteiga porque eu já conhecia muito, de ouvido, aquela praia”, falou ao blog.
Toninho Horta foi para o Rio de Janeiro em 1970. Tocou com Elis Regina (1945-1982), antes de atacar na cidade maravilhosa com Milton Nascimento, em 1972, passando uma década gravando em estúdios com Dominguinhos (1941-2013) e Jackson do Pandeiro (1919-1982), entre outros. “Isso me deu um background muito grande. Nessa época, o Naná Vasconcelos me mostrou o Jimmy Hendrix, conheci Emerson Lake & Palmer, Frank Zappa e, ao mesmo tempo, gostava de ouvir Wes Montgomery. Acho que aí dei uma avançada na parte de harmonia”, disse o músico sobre uma das características que destacam seu trabalho e é endossada, no livro, por depoimentos de outros artistas.
Entre os que asseguram o talento do músico estão Hermeto Pascoal, Larry Corryel e Luiz Eça (1936- 1992), que o chamava de “Debussy da guitarra”. “Além do meu background, que adquiri gravando e acompanhando cantores, sempre misturei o jazz com a bossa nova, a música de Minas, a modinha, o samba e a música do nordeste. Só não sou muito da praia do choro, né?”
Toninho Horta é o tipo de músico que arrisca bastante em termos de harmonia. Essa talvez seja uma de suas mais fortes características. “Na música tem que haver espaço para o criador voar, e isso é o bacana, tocar e compor de uma forma muito livre. A partir do momento que descobri, aos 15 anos, que mudar uma nota faz com que você mude totalmente o sentido de um acorde, passei a seguir essa linha, a de arriscar sempre. Deixei de ir atrás das escalas e da velocidade para descobrir cores e lugares inusitados que a harmonia nos leva.”
Um disco pronto do compositor, “Belo Horizonte”, gravado nos últimos dois anos, com 17 músicas inéditas, deve ser lançado até o final deste ano. “Falta só mixar. O CD sai junto com o aniversário da cidade que neste ano completará 120 anos.”
No show de amanhã, um quinteto formado por Toninho Horta (guitarras elétrica e acústica), Marcelo Soares (contrabaixos acústico e elétrico), Sérgio Machado (bateria), Lisandro Massa (teclados) e Marquinho Sax (sax). Músicas como ” Dona Olímpia” e “Manuel Audaz” estão garantidas.
Veja, a seguir, o vídeo no qual Toninho Horta canta um trecho de “Pilar” em homenagem ao seu pai. “Seu Prudente era um grande guerreiro, meio filósofo, descendente de índio. Adorava cozinhar, jogar sinuca e tomar uma cachacinha. Ele fez de tudo na vida: foi fazendeiro, vendeu cristal, estudou medicina, engenharia, e como todo pai queria que eu tivesse uma carreira de futuro, com horário e uma verba garantida. No princípio, ele teve uma certa resistência ao me ver trocando as aulas do colégio para ficar tocando violão. Mas quando viu as pessoas começando a gravar minhas músicas, disse: ‘Olha meu filho, eu já entendi o que você quer ser, mas você tem que fazer uma música por dia”, contou o artista, acrescentando que tudo o que faz é dedicado a sua família.
TONINHO HORTA QUINTETO
QUANDO ter. (15), às 21h30
ONDE Bourbon Street, r. dos Chanés, 127, tel. (11) 5095-6100
QUANTO R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
SONGBOOK 108 PARTITURAS
EDITORA Independente
QUANTO R$ 150