Violonista ou violinista?

Carlos Bozzo Junior
O violinista Ricardo Herz e o violonista Yamandu Costa
O violinista Ricardo Herz e o violonista Yamandu Costa (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Tanto faz. Se você quer ouvir dois músicos brasileiros que se destacam por tocarem e comporem, com muita propriedade, usando violão e violino, o momento é esse. O violonista gaúcho Yamandu Costa, 37, e o violinista paulistano Ricardo Herz, 39, apresentam-se em três shows gratuitos entre hoje (11) e domingo (13), além de realizarem um bate papo com o público na Caixa Cultural São Paulo, no centro de São Paulo.

O Música em Letras esteve ontem (10) no hotel em que Yamandu Costa está hospedado e gravou com exclusividade “Nocturna”, uma milonga do argentino Julián Plaza (1928-2003), brilhantemente interpretada por ele e pelo violinista Ricardo Herz, além de entrevistar os dois músicos comprometidos com a música de alta qualidade. (Veja vídeo no final do texto)

Curiosamente emparelhados, os dois artistas já realizaram dois shows, também em dueto, há dois anos. No repertório do espetáculo na Caixa Cultural, “Mourinho”, de Herz, uma homenagem a “Mourão”, de Guerra Peixe (1914-1993), um forró meio coco, meio baião, misturado a “Prenda Minha”, música da tradição gaúcha, com levada de milonga do violão de Yamandu, configurando uma fusão musical entre o nordeste e o sul do país.

Outra música de Herz, “Xote Apaixonado”, gravada em seu último disco, “Torcendo a Terra” (2017), com o percussionista e baterista Pedro Ito e com o violonista de sete cordas Michi Ruzitschka, também está no show.

O violinista Ricardo Herz e o violonista Yamandu Costa ensaiando no quarto do hotel (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Acostumado à sonoridade do violão de sete cordas, Herz explicou o que, na sua opinião, diferencia Yamandu de outros instrumentistas. ”O Yamandu tem o jeito dele de tocar. Existe uma pegada do violão argentino, mas com uma ‘patada’ gaúcha só dele. Tem o negócio do instrumento, da sonoridade, mas tem a personalidade de cada músico. A do Yamandu tem muita influência da música gaúcha, do Raphael Rabello, do choro, do samba; e não é só isso, mas também do forró, que ele toca pra caramba”, falou o músico que, junto com Yamandu, interpreta “Te cuida Jacaré”, um baião de Dominguinhos (1941-2013).

Em uma parte do show, mais músicas argentinas como o tango “Nada”, de Horacio Sanguinetti (1914-1957) e José Dames (1907-1994), e o chamamé “Oracion Del Remanso”, de Jorge Fandermole. O samba também tem seu lugar garantido com “Conversa de Botequim“, de Noel Rosa (1910-1937).

O bate papo, segundo Herz é uma incógnita. “Sempre que realizamos isso é uma surpresa. Há quem vá em busca de saber sobre o show, e músicos que formulam perguntas mais técnicas referentes aos nossos instrumentos”, falou o instrumentista que tem conhecimento suficiente, assim como seu parceiro de palco, para mostrar que violonista e violinista diferem muito mais do que a simples troca de duas vogais.

Quanto ao compromisso em entreter e cativar o público, a ideia dos artistas é a mesma. “Queremos que as pessoas saiam do show melhor do que quando entraram. É um show leve para o qual escolhemos o repertório pensando em nossas afinidades e na beleza das próprias músicas. Tocamos músicas instrumentais, mas que são fáceis de serem ouvidas”, falou Herz que quando trabalha em duo tem o costume de “entrar no universo musical” do companheiro de palco, no intuito de “virar um pouco o outro’”.

Yamandu Costa aponta a diferença de tocar com Herz: “Pois olha, o Ricardo pesquisou muito a música do nordeste, principalmente da escola da rabeca, das levadas e dos suingues da mão direita do violino. Juntou tudo isso à formação clássica e faz um som inédito, desmembrando essas músicas e juntando essas linguagens”, falou o artista.

Para o violonista, violão e violino sempre foram parceiros. “Apesar de o violino vir de uma escola erudita, ele circula também dentro da cultura cigana do mundo. Paganini tocava e escrevia para violão e violino; na década de 1930, Django Reinhardt e Stephane Grappelli fizeram essa parceria; no Brasil, mais ou menos na mesma época, Fafá Lemos tocou com o Garoto, e depois o Baden Powell também gravou um disco com o Stephane Grappelli. São instrumentos portáteis que servem para aquecer uma festa. É uma coisa muito prazerosa fazer esse trabalho com o Ricardo”, falou Yamandu, que promete um jogo de bola, com espaço para muito improviso, calcado nos diferentes matizes do panorama musical brasileiro do Norte ao Sul.

O violinista Ricardo Herz e o violonista Yamandu Costa
O violinista Ricardo Herz e o violonista Yamandu Costa (Foto: Carlos Bozzo Junior)

ARTISTAS NO MUNDO DIGITAL

Yamandu está lançando um aplicativo, um portal na web, que as pessoas poderão baixar gratuitamente em seus smartphones e ter acesso às diferentes plataformas do artista: site, Facebook, vídeos e canal de músicas. “Em breve, disponibilizarei partituras também. O aplicativo é atualizado semanalmente para, de maneira interativa, aproximar mais as pessoas do meu trabalho”, disse o instrumentista acrescentando que “basta escrever Yamandu no Google e baixar o aplicativo, que é super leve no telefone”.

A novidade digital de Ricardo Herz é seu curso online para violinistas, violistas, violoncelistas, rabequeiros e contrabaixistas que tocam com arco. “É um curso feito para o pessoal tocar forró, choro, samba e improvisar na música brasileira. Falo muito de suingue nesse curso”, disse o músico que disponibiliza o aprendizado no site ricardoherz.com.br

Virtual ou ao vivo, não importa. O essencial é conhecer, em qualquer formato, a realidade musical desses dois exímios músicos. Juntos, eles fazem da música brasileira uma arte a ser apreciada no âmbito mundial.

Assista, a seguir, os dois artistas interpretando, com exclusividade para o Música em Letras, “Nocturna”, de Julián Plaza.


SHOW YAMANDU COSTA E RICARDO HERZ
QUANDO De hoje (11) a domingo (13), às 19h15
ONDE Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, 111, Centro, tel. (11) 3321-4400
QUANTO Gratuito

BATE PAPO COM OS MÚSICOS
QUANDO Sábado (12), às 14h
ONDE Caixa Cultural São Paulo, Praça da Sé, 111, Centro, tel. (11) 3321-4400
QUANTO Gratuito