Mesmo encolhido, Bourbon Festival Paraty expande música de qualidade

Carlos Bozzo Junior
O trompetista Wallace Roney, que se apresenta no Bourbon Festival Paraty (Foto: Carlos Bozzo Junior)

A partir da próxima sexta-feira (9) até domingo (11), acontece a 9ª edição do Bourbon Festival Paraty, que fará ecoar na no município do litoral fluminense, por meio de shows gratuitos, os sons do jazz, blues, soul e da música brasileira.

No palco, localizado na praça da Matriz, que fica no centro histórico da cidade, três atrações internacionais: o quinteto do trompetista Wallace Roney, o guitarrista Joe Louis Walker, e o gaitista Grégoire Maret.

O Música em Letras esteve ontem (6) no Bourbon Street, em São Paulo, onde o Wallace Roney Quintet se apresentou, e gravou a passagem de som desses músicos (assista ao vídeo no final do texto), além de entrevistar Roney, líder do grupo, e Edgard Radesca, idealizador e produtor do evento em Paraty.

O Wallace Roney Quintet é formado por Benjamin Robert Solomon (sax tenor), Oscar Williams (piano), Curtis Lundy (baixo) e Eric Allen (bateria). Todos liderados pelo trompetista Wallace Roney, que antes de tocar com Clark Terry (1920-2015), McCoy Tyner e Sonny Rollins, aperfeiçoou-se em seu instrumento com Dizzy Gillespie (1917- 1993) e Miles Davis (1926-1991), entre outros mestres.

Wallace Roney, trompetista que lidera o Wallace Roney Quintet (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Para Wallace Roney a diferença entre tocar no Brasil e em outros países é a atmosfera do público, que para ele é ideal. “A atmosfera que o público brasileiro cria, a vibração, o ar e a energia dessa terra, nos deixa com muita vontade de tocar”, falou Roney.

“ A música brasileira para mim é como o jazz. Bonitas melodias, bonitas harmonias, lindos ritmos, é jazz. Eu amo a música brasileira”, disse Roney que estende seu elogio aos músicos do país: “Conheço Lilian Carmona, ótima baterista; Cláudio Roditi, excelente músico; e outros que também são geniais, como Milton Nascimento e Hermeto Pascoal”, disse o músico que conhece e classifica como “lindo” o som do percussionista brasileiro Cyro Baptista, radicado há muitos anos em Nova York.

Roney não conhece Paraty. “Nunca toquei lá e não conheço o local, mas disseram que é bem bonito. Não sei o que vou encontrar lá, mas sei que como o Brasil é muito bonito, com certeza vou me surpreender com esse lugar. Estou esperando boas surpresas por lá”, falou o artista que pede para quem for assisti-lo “ir com a cabeça vazia de pensamentos. Quero que as pessoas apareçam apenas para ouvir e sentir a música”.

Edgard Radesca, idealizador e produtor do Bourbon Festival Paraty (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Segundo o produtor do evento em Paraty, o paulistano Edgard Radesca, 70, o festival está sendo feito este ano sem margem de lucro, com um orçamento reduzido a cerca de um quarto daquele da última edição, sem revelar de quanto é o valor investido no festival. “Toda essa situação política influencia a economia e faz com que haja uma retração de investimentos. E investimentos em cultura acabam sendo os primeiros a serem cortados, sejam eles considerados como marketing ou como ação de apoio à cultura”, falou o organizador que capta o que precisa para viabilizar o evento por meio de leis de incentivo, além de contar com um aporte da prefeitura de Paraty.

Por conta da queda do orçamento, o festival terá apenas um palco, ao invés dos três da edição de 2016, que reuniu cerca de 30 mil pessoas. “Contudo, conseguimos montar um elenco com a qualidade artística de sempre e dispomos da mesma qualidade técnica para apresentar o melhor para o público, mesmo correndo o risco de pagarmos por isso, pois o importante é fazer. Estamos trabalhando para manter o festival, sem nenhuma margem de ganho, se é que não teremos de pagar alguma coisa do nosso bolso”, explicou Radesca.

O guitarrista Louis Joseph Walker Junior nasceu há 67 anos, em São Francisco, na Califórnia, e traz influências musicais, entre outras, de T-Bone Walker (1910-1975) e B.B. King (1925-2015). Ainda jovem, Walker já tocava com artistas do naipe de Muddy Waters (1913-1983), Otis Rush, John Lee Hooker (1917-2001), Thelonious Monk (1917-1982) e John Mayall.

O guitarrista Joe Louis Walker (Foto: Divulgação)

Para Louis Walker cantar, tocar e suingar, Anthony Cage o acompanhará na bateria; John Bradford, no baixo; e Murali Illya Coryell, na guitarra. Seu show poderá ser assistido hoje (7), no Bourbon Street, em Moema, antes de sua apresentação em Paraty no sábado, que promete abalar as mais sólidas estruturas da cidade colonial.

O gaitista Grégoire Maret (Foto: Divulgação)

Domingo, em Paraty, é a vez do gaitista suíço Grégoire Maret, que já tocou e gravou com os guitarristas  Pat Metheny, George Benson; o pianista, Herbie Hancock; o baixista Marcus Miller; e a cantora Cassandra Wilson, entre outros. Ele se apresenta com os brasileiros Thiago Espirito Santo (baixo), Cuca Teixeira (bateria) e Bruno Cardozo (piano). No show, composições próprias, standards de jazz e alguns clássicos da música brasileira.

Mas há muito mais atrações no evento. Entre elas, Léo Gandelman, com Julio Bittencourt Trio, Marcinho Eiras e Filó Machado. Veja programação completa em www.bourbonfestivalparaty.com.br

ATENÇÃO MÚSICOS DE RUA

A intenção de Radesca é fazer com que haja música por todos os cantos da cidade. “Para isso, contamos com três pontos onde se apresentarão músicos de rua. Muitos deles, que não estão na nossa programação, vão ao festival para tocar, passar o chapéu e vender seus CDs, mas como o padrão é muito alto eles têm que mostrar qualidade”, falou o criador do evento que contará com os pontos Rosário (ao lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário), Santa Rita (em frente à Igreja de Santa Rita) e Quadra (ao lado da Igreja da Matriz).

O empresário revelou ainda que está programando, para São Paulo, uma noite só com músicos de rua. O evento deve acontecer dentro de dois meses, no Bourbon Street, com a apresentação de cinco grupos em uma única noite. “São bandas e artistas selecionados, que se apresentam na avenida Paulista, na Vila Madalena e nas esquinas da cidade. Queremos prestigiar o músico de rua”, contou Radesca que ainda não tem o nome do festival definido, mas cogita algo como Bourbon Buskers Festival – Festival de Músicos de Rua.

Radesca manda seu recado para quem está sentindo a crise no bolso e tem dificuldade em manter projetos culturais ativos. “Hoje, tem que saber conversar e ser criativo. Tanto o artista quanto o empresário devem trabalhar com acordos que sejam viáveis. Se hoje temos 14 milhões de desempregados, há dois anos tínhamos um pouco mais do que a metade disso, e talvez no final do ano tenhamos 15 milhões. É preciso trabalhar de acordo com as circunstâncias reais. Pensar no real e não se amarrar em fórmulas antigas, criando, por exemplo, outras combinações ao juntarmos um músico com outro, buscando shows que sejam absolutamente originais.”

Assista ao vídeo da passagem de som de Wallace Roney Quintet gravada com exclusividade pelo Música em Letras.

BOURBON FESTIVAL PARATY

QUANDO De sexta-feira (9) a domingo (11), a partir das 21h

ONDE Paraty

QUANTO Gratuito

PROGRAMAÇÂO COMPLETA www.bourbonfestivalparaty.com.br