A Música Sem Fonteira de Chrystian Dozza
Acontece amanhã, terça feira (25), no auditório da biblioteca Mario de Andrade (BMA), no centro da capital paulista, às 19h30, um concerto gratuito de violão com o violonista mineiro radicado em São Paulo Chrystian Dozza. No dia 28, o músico comemora 25 anos de atividade do Quaternaglia Guitar Quartet, em show no Auditório Ibirapuera.
O Música em Letras conseguiu uma brecha, durante o último feriado (21), na repleta agenda de compromissos do artista e esteve no apartamento do compositor, no bairro de Perdizes, para entrevistar esse arranjador, professor e exímio instrumentista, além de gravar uma das músicas a serem apresentadas no concerto (veja vídeo no final do texto).
Superatarefado e dedicado totalmente a música, o artista recepcionou o blog após o término de uma das muitas aulas particulares que acontecem em seu apartamento. Há sete anos Dozza é professor de violão erudito e iniciação desse instrumento na Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP). As vagas para suas aulas na instituição são muito concorridas.
“Para mim não há feriado. Tenho cerca de 20 alunos na EMESP e uns dez particulares”, disse o também integrante do Quaternaglia Guitar Quartet e do Trio Opus 12. Dozza acaba de retornar de uma turnê solo na qual se apresentou na Austrália e também participou do line up do importante evento International Guitar Nigth, 2017, realizando 28 shows nos Estados Unidos (20 cidades) e no Canadá (oito cidades).
MÚSICO DE CARTEIRINHA
Caso você não conheça a carreira de Dozza, 33, mineiro nascido na cidade de Machado, leia e assista neste blog o post intitulado “Violonista Chrystian Dozza chega ao paraíso na International Guitar Nigth, 2017”, de 17/07/2015.
Há cerca de 7 anos, Dozza toca ao lado de seus companheiros de instrumento, Fabio Ramazzina, Thiago Abdalla e Sidney Molina no grupo que utiliza três violões de seis cordas e um violão de sete cordas para formar o consagrado e premiado internacionalmente Quaternaglia Guitar Quartet. No próximo dia 28 de abril, sexta-feira, às 21h, o quarteto comemora 25 anos de existência, em show que acontece no Auditório Ibirapuera, no parque Ibirapuera, em São Paulo.
“No repertório do show, apresentaremos, entre outras, o ‘Four for Tango’ (1988), de Astor Piazzolla [1921-1992], com um arranjo do Fabio Ramazzina; uma peça minha chamada “Sobre um tema de Gismonti” (2012), além de uma peça nova que é um desafio, “Danças Sinfônicas de West Side Story”, de Leonard Bernstein [1918-1990], com arranjo do maestro Thiago Tavares”, falou o músico. Na ocasião, o quarteto ainda homenageará importantes compositores brasileiros contemporâneos de diferentes estilos. Entre eles, Ronaldo Miranda, 69, com “Suíte nº. 3” (1973); Marco Pereira, 67, com “Dança dos Quatro Ventos” (2006); Sergio Molina, 50, com “Canção Sem Fim para Sons sem Palavras” (2014); Paulo Bellinati, 67, com “Maracatu da Pipa” (2004); e Egberto Gismonti, 70, com “Um anjo” (1999).
Outro grupo que Dozza integra é o Trio Opus 12, formado, além dele, pelos excelentes violonistas, compositores e também arranjadores Paulo Porto Alegre e Daniel Murray. O grupo gravou em 2015, o CD “Divertimentos”. “Estamos preparando um novo repertório, com composições dos participantes do trio para tocarmos e depois, com o repertório amadurecido, gravarmos um novo disco”, falou o músico que está terminando a composição de um maracatu que já foi bem humoradamente batizado de “Prelídio Maracafuga”.
CDS AUTORAIS
Dozza gravou três discos solo. O primeiro CD, “Songs from the Land” (canções da terra), é de 2004, e traz sete faixas autorais. O segundo CD, “Fantasia Mineira” (2009), tem 12 faixas. Três são “fantasias mineiras” sobre temas do cantor e compositor Milton Nascimento. O terceiro CD, “Despertar” (2014), que registra dez novas composições com registro de diversas influências musicais: música brasileira, mineira, rock ‘n’ roll e música erudita. Tudo com pitadas do Barroco e da Renascença.
TURNÊ
No final de 2016, o músico realizou, na Austrália, sua primeira turnê solo. Durante 20 dias, ministrou master classes, participou de bancas de concursos para violão- entre eles do Melbourne Guitar Festival- e realizou concertos em cinco cidades: Brisbane, Melbourne, Perth, Kebra e Sidney. “Espantei-me com a receptividade que tive tocando músicas próprias. Foi uma surpresa muito boa sentir o retorno de um público que nunca havia escutado minhas músicas. Eles gostaram muito. Hoje, há gente na Austrália tocando minhas peças. As pessoas querem tocar algumas músicas minhas para as quais nem escrevi a partitura ainda. Gravei-as, mas a música está só na cabeça”, falou rindo o músico que, após suas apresentações na turnê australiana, era constantemente procurado por fãs e instrumentistas.
INTERNATIONAL GUITAR NIGHT 2017
Segundo Dozza, tocar nesse evento foi, de longe, a maior experiência de sua vida. “Foi um divisor de águas. As fichas estão caindo até agora. Foram 28 concertos em 40 dias, entre janeiro e fevereiro deste ano, que começou no Canadá e seguiu para os Estados Unidos.”
A International Guitar Nigth é um evento que se caracteriza por mostrar o som de diferentes tipos de violões acústicos. O festival existe há mais de 20 anos e tem por tradição convidar quatro violonistas, de diferentes partes do mundo. Além de Dozza, neste ano de 2017, o festival contou com a presença do italiano Luca Stricagnoli, do alemão Lulo Reinhardt (sobrinho-neto de Django Reinhardt) e do indiano Debashish Battycharia.
Dozza apresentou-se como violonista e compositor da escola clássica, utilizando um instrumento com cordas de nylon. Lulo Reinhardt representou a sonoridade do gypsy jazz, misturando-a ao flamenco e à música latina, utilizando um violão similar ao de seu tio-avô, com cordas de nylon tocadas com palheta para acompanhar e executar escalas de maneira ultrarrápida ao improvisar.
O indiano Debashish Battycharia tocou um instrumento de sua invenção, o chaturangui, que mistura a cítara indiana com a guitarra havaiana e conta com 31 cordas de aço. Perguntado sobre a dificuldade de se afinar um instrumento com tantas cordas, Dozza respondeu: “Brincávamos que ele afinava mais rápido do que a gente, que tínhamos apenas seis cordas. Era impressionante. Ele é muito rápido e preciso na afinação. Nos shows, falávamos que ele era um gênio, pois afinava 31 cordas em 31 segundos”.
Luca Stricagnoli tocou um violão com cordas de aço, assegurando seu lugar entre os grandes fenômenos mundiais do fingerstyle, técnica de tocar apenas com os dedos, sem o uso da palheta. “Ele tem 25 anos e milhões de views no YouTube, com suas versões de músicas do Guns N’ Roses e do AC/DC, usando uma técnica percussiva muito legal.”
Os shows foram divididos em duas partes. Na primeira, cada músico realizou 15 minutos de solo e na segunda, duos antecederam o som do quarteto que encerrava as apresentações com “Refletions of Love”, composição feita especialmente para o evento por Debashish Battycharia.
Alguns brasileiros já mostraram seus talentos na International Guitar Night. Todos mestres na hora de tocar e de compor para o violão. Entre eles, Marco Pereira, Paulo Bellinati, Badi Assad e Alexandre Gismonti, filho de Egberto. Na praia do “violão jazz”, Diego Figueiredo, 34, esteve no evento em 2014 e fez uma apresentação memorável.
O maior ensinamento que Dozza teve ao participar do evento foi a confirmação de que na música não há fronteiras. “Embora fôssemos violonistas, todos tinham suas particularidades, mas na hora de tocarmos juntos compartilhávamos nossas experiências sem nenhum problemas, e as pessoas adoravam”, disse o músico que participou dos shows que duravam três horas. “As pessoas ainda queriam ouvir mais. Isso não é muito comum tratando-se de violão e música instrumental.”
CONCERTO NA BMA
Para o concerto de amanhã, dia 25, no auditório da biblioteca Mario de Andrade (BMA) Dozza deve executar um repertório formado, na maioria, por músicas de seu último disco solo, “Despertar”. Entre as composições, três são bem brasileiras: “Baião de Dois”, “Balada” e “Sobre um Tema de Egberto”, uma variação inspirada em “Sete Anéis”, de Egberto Gismonti. “Sinos do Paraíso”, música minimalista em que se trabalha bastante a repetição está garantida. “Homenagem a Tedesco”, dedicada ao compositor italiano Mario Castelnuovo-Tedesco (1895-1968) também está no programa. “Ellas Jig”, uma giga (dança barroca popular originada a partir da jig britânica) renascentista, meio roqueira também está no repertório do concerto. “Passacaglia Coral” (dança em andamento moderado do início do Barroco) que tem uma sequência harmônica muito utilizada nesse período, acrescentada de dissonâncias que produzem sonoridade diferente será interpretada. Dois estudos também fazem parte do disco e do concerto: “Estudo 1- Harpa Eólia” e “Estudo 2- Harpa Jônia”, ambos inspirados nos Estudos para violão nº1 e nº 2 de Villa-Lobos (1887-1959).
Outras músicas do concerto fazem parte do CD “Fantasia Mineira”, como a “Minimal Rock”, além de uma peça nova, “Auto Ostinato”, batizada por alguém do público que colaborou com o financiamento coletivo para o lançamento do CD “Despertar”. “Mostrei essa música, ainda sem nome, para as pessoas que estiveram no show de lançamento do disco e solicitei sugestões, que me foram entregues escritas em guardanapos. Não sei quem escreveu esse nome, mas achei perfeito”, falou o músico sobre a composição que traz uma célula rítmica que se repete no seu decorrer, ou seja, um ostinato.
Quem for ao concerto na Biblioteca Mário de Andrade terá uma excelente oportunidade para ouvir músicas feitas para violão e dispostas a dialogar com todas as culturas, gêneros e estilos musicais. Um música sem fronteiras.
Assista ao vídeo, aseguir, no qual Dozza interpreta com exclusividade para o Música em Letras “Balada”, música que o compositor fez em homenagem aos seus pais.
CONCERTO
ARTISTA Chrystian Dozza
QUANDO Terça-feira (25/04), às 19h30
ONDE Auditório da Biblioteca Mario de Andrade, rua da Consolação, 94, República São Paulo, tel.(11) 3775-0002
QUANTO Gratuito
SHOW 25 ANOS QUARTENAGLIA GUITAR QUARTET
QUANDO Sexta-feira (28/04), às 21h
ONDE Auditório Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, Portão 2, parque Ibirapuera, Ibirapuera, São Paulo, SP, tel. (11) 3629-1075
QUANTO R$ 20