Diretora da EMIA vazou

Carlos Bozzo Junior
Manifestação realizada no MASP , dia 12/02/2017, com professores, pais e alunos da EMIA (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Polêmicas envolvendo a EMIA (Escola Municipal de Iniciação Artística) de São Paulo, parecem estar longe de um fim.

Conforme posts publicados por este blog (“A EMIA miou?”, de 11/02/2017, e “A EMIA chiou!”, de 12/02/2017), a instituição vem passando por um período de instabilidade nos quadros administrativo e docente.

A última notícia, enviada por pais de alunos da escola para este blog, comprova o escrito acima.

Leia, a seguir, a carta pública escrita por Luciana Schwinden, diretora da escola que pediu seu afastamento do cargo ontem, segunda-feira (27), junto à Secretaria Municipal de Cultura.

“Um mês que equivale a um ano.

Carta enviada ao Secretário de Cultura, ontem, tarde da noite…
São Paulo, 27 de março de 2017

Carta pública direcionada ao Sr. Secretário de Cultura André Sturm

Secretário, hoje é o dia mundial do Teatro, data tão simbólica para uma tomada de decisão tão difícil.

Quero deixar claro que comemorei sua chegada na crença de que fosse um excelente nome para ficar a frente da Secretaria de Cultura. Me coloquei ao seu lado e assumi ser da sua equipe também publicamente.

Hoje quero dizer que não posso mais continuar e aproveito essa carta para reiterar os motivos de minha saída da SMC, após tantos anos me dedicando a cidade de São Paulo.

Acreditei de verdade que eu pudesse fazer um ótimo trabalho na EMIA, preservando a continuidade do projeto artístico pedagógico instaurado todos esses anos e que sempre foi inspirador a tantos projetos de formação da cidade, dois deles aos quais respondi pela coordenação geral: o Piá e Vocacional.

Sabe Secretário, eu me formei artista orientadora no Vocacional, eu me formei coordenadora, professora, gestora e pesquisadora cultural vivendo o dia a dia desses programas que foram feitos a muitas mãos, pés, palavras, processos e muito suor.

Eu sou uma artista Secretário, gosto e me dediquei ao campo administrativo na gestão pública para melhorar a qualidade desses programas. Me cerquei de pessoas competentes e cheias de paixão pelo seu ofício e sempre fui uma artista pesquisadora, isso faz parte do meu histórico. Foi essa postura que me fez chegar até aqui.

Como sabes muito bem, pois já tive oportunidade de dizer pessoalmente, que nossas diferenças são muito grandes e poderíamos ter convivido com elas desde que eu não passasse por cima de princípios que acredito e que me fazem ser quem eu sou.

Não vamos mais adiar essa decisão que já está tomada por ambos os lados desde nossa última reunião.

Hoje é um dia simbólico, um dia que gostaria de estar ao lado de meus colegas e tantas pessoas que admiro, mas para preservar a equipe não compareci. Muitos da equipe da EMIA estiveram presentes, com minha aprovação e apoio no segundo ato contra o descongelamento. Todas essas pessoas tem direito de se manifestar e sempre defenderei isso.

Os atos violentos não aprovo de forma alguma, mas é preciso compreender a máxima ” toda ação está sujeita a uma reação “. As ações tomadas até agora pela Secretaria provocaram isso. Sim, existem muitas pessoas que ainda defendem seus umbigos e não querem abrir mão de privilégios, mas a grande maioria tem total razão de ir para a rua em luta.

A minha chegada na EMIA me fez constatar que a Escola tem muitos problemas de ordem estrutural, administrativa e funcional. Meu plano inicial era corrigir esses ajustes e muitos vícios que se acumularam durante longos anos de distanciamento do que significa ser um equipamento público, subordinado a Secretaria Municipal de Cultura.

Hoje porém, também percebo que não tenho o apoio necessário da equipe docente e da comunidade de pais e mães da Escola para permanecer.

Todas as injustiças que sofri ao longo desse período me trouxeram a certeza que eu não sou a pessoa certa para ficar lá gerenciando a Escola.

Portanto, eu também saio por isso. Peço que não mexa na estrutura da equipe, muitas pessoas sérias e comprometidas com o trabalho poderão ser afetadas com a minha decisão. Peço que tenha discernimento para considerar ao menos esse pedido.

Eu desejo que você escute as muitas vozes, e que volte atrás de algumas decisões que tem tomado.

Erramos muito nesse começo e por isso me retiro.

Deixo claro também que se essa minha curta passagem pela Escola trouxer um pouco de realidade para as ações que sempre foram tomadas sem viés público, como o caso da eleição democrática da última direção, que nunca foi informada para a cidade e ficou em âmbito privado, ingenuidade de muitos que acabaram me expondo de forma descabida e cruel. Justiça seja feita, eu sei que o Sr. também não sabia desse procedimento interno.

Eu agradeço sua indicação, mesmo sem me conhecer o Senhor fez a melhor escolha para a Escola. Sem nenhuma modéstia eu poderia ter feito o melhor trabalho, mas muitos olhares agudos, palavras duras e sentenças injustas me fazem agora recuar e sobretudo, que apesar de não ter partido, pois não tenho filiação nenhuma, eu não consigo me afinar com essas propostas que caracterizam um início certeiro de desmonte.

Eu lhe desejo melhores dias, mas agora eu preciso seguir ao lado de quem me fez ser o que sou – eu preciso ficar ao lado dos artistas.

Peço que reflita. A assessoria jurídica como bem diz a palavra, deve assessorar o Secretário de Cultura e não pautar as ações de decisão final acerca dos processos.

Fale com as pessoas antes de tomar decisões finais sem consulta pública. Um Secretário de Cultura deve ser representante das classes artísticas envolvidas. E se essas classes não forem ouvidas elas perderão a voz de tanto gritar. Somos incansáveis, já apanhamos muito. Temos a pele calejada. Somos resistentes. Não vamos parar.

Força e bom senso é o que lhe desejo, e para toda a sua equipe.

Eu errei muito nesse curto espaço de tempo, eu recuo e peço desculpas a todas as pessoas que se sentiram atingidas por decisões que tiveram minha participação nessa direção da EMIA.

É por tudo isso que encaminho meu pedido oficial de exoneração.

Estou exausta de todo esse processo e agora sinto que está abalando minha saúde física e emocional. Estou esgotada. Sempre me considerei forte mas aprendi com tudo isso a reconhecer meus limites.

Aceite meu pedido de exoneração do cargo da Escola Municipal de Iniciação Artística. É definitivo e público.

Obrigada e seguimos, agora em lados opostos.
Luciana Schwinden”

Manifestação realizada no MASP , dia 12/02/2017, com professores, pais e alunos da EMIA (Foto: Carlos Bozzo Junior)