Sérgio Reis, Renato e Chico Teixeira mostram raízes de suas roças
“Raízes Sertanejas” é o nome do show que acontece no próximo domingo (4), no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Nele, o compositor e cantor Chico Teixeira recebe os convidados Renato Teixeira, Sérgio Reis, além da cantora espanhola Irene Atienza e do músico Gabriel Sater.
O Música em Letras esteve com Chico Teixeira no ensaio do show e conversou com o artista que apresenta músicas de seu novo CD “Saturno”, entre outros clássicos da MPB.
Assista aos vídeos, no final do texto, nos quais Chico Teixeira interpreta “Chama da Floresta”, de sua autoria, e “Cuitelinho”, música do folclore pantaneiro de Mato Grosso.
SOM NA VEIA VEM DOS “VELHOS”
Francisco Teixeira de Oliveira, 36, paulistano, tem mesmo música no sangue. Além do pai, o músico, compositor e cantor Renato Teixeira, também herdou os genes musicais de sua mãe, a jornalista e pianista clássica Sandra Teixeira, 66. “Minha mãe trabalhou como apresentadora de jornal em quase todas as emissoras de TV, no Brasil. Quando estava grávida de mim, ‘fazíamos’ o jornal Hoje, da rede Globo. Minha estreia foi cedo”, disse rindo o compositor sobre a mãe que também esteve nas bancadas de jornais diários no SBT e na TV Cultura, entre outras emissoras, realizando uma carreira curta, mas expressiva e respeitada.
É Sandra quem abre o espetáculo de domingo, mostrando sua dedicação ao piano, que estuda há muito, principalmente depois que deixou o jornalismo, em 1984, e com a família foi morar na serra da Cantareira. “O piano na vida dela existe desde a infância. Quando tinha 12 anos, já era assistente de sua professora. No fundo, ela tem uma relação de amor e ódio com esse instrumento, que é bem ingrato, mas minha infância inteira passei ouvindo-a estudar de seis a sete horas por dia. Houve períodos em que ela se afastou um pouco do piano, mas agora está em sua melhor fase, dando aulas e tocando Beethoven e Chopin para apurar cada vez mais a técnica”, falou o artista que se considera inconscientemente influenciado pelos estudos realizados pela mãe e também pela convivência musical com o pai.
COMEÇO
A primeira participação de Chico Teixeira, tocando violão e cantando, aconteceu quando o músico tinha 16 anos, no disco “Aguar a Terra” (1996), de Xangai e Renato Teixeira, pelo selo Paradox, com participação na música “João Alegre”, de seu pai.
Três anos depois, Chico Teixeira participou do disco feito por seu pai e Zé Geraldo, “O Novo Amanhece” (1999), pela gravadora Kuarup, no qual fez uma releitura de “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves (1909-1969) e Mario Lago (1911-2002), além de cantar uma música composta por ele e sua irmã Antônia, “Nada além de um sonho”.
Antes dessas gravações, o compositor se apresentava em vários bares da noite paulistana. “Toquei em muitos lugares, no Piu Piu e em outras casas do Bexiga, além de tocar no Fidalga 33, na Vila Madalena. Mas o primeiro lugar em que ganhei um troco mesmo foi na ZN [Zona Norte], no bar e cachaçaria Terra Nova. Desse meu primeiro cachê, foram descontados uma água e uma porção de amendoim, o que me deixou muito puto”, contou rindo Teixeira, que também teve com sua irmã uma banda de blues que atacava em festas, garagens e na rua, e no Blue Note, outra casa noturna de São Paulo.
O PRIMEIRO CD
Em 2002, Chico Teixeira gravou seu primeiro disco, homônimo, de voz e violão. “Fiz tudo escondido dos meus pais. Terminei a escola e decidi ir para a estrada. Juntava o dinheirinho dos bares e ia gravando o disco. Fiz tudo sozinho e só quando ficou pronto mostrei para eles, que acharam engraçado e ficaram espantados ao saber que eu tinha feito tudo na miúda. Foi uma conquista, pois queria provar para mim mesmo que conseguiria fazer tudo sozinho, e consegui”, disse o músico que gravou, entre as faixas do disco, “Laranja Madura”, de Ataulfo Alves, “Soneto ao temporal”, de Nô Estopa, e outras doze músicas de sua autoria.
Entre as 12 composições do primeiro CD, “Outra Era” foi composta enquanto Chico Teixeira passava um carnaval no Pantanal, no pesqueiro de Almir Sater. A canção descreve toda a cena que o artista vivenciou incluindo o pôr do sol no local, o rio e a simplicidade de uma casinha onde se hospedou e dormia em uma rede. “Essa música é muito importante porque foi a partir dela que senti haver um lance relacionado à composição”, disse Chico Teixeira, que nunca mais voltou ao Pantanal. “É muito longe, cara! É um trampo ir para lá. Tem que pegar um trator para enfrentar a cheia ou ir de aviãozinho. Mas quero muito voltar para esse lugar.”
Esse primeiro disco é simples, honesto e verdadeiro. Além de apresentar as composições na forma em que foram feitas, apenas com voz e violão, mostra a preocupação e o desejo intuitivos do artista em resgatar a história por meio de músicas. Segundo ele, “é fundamental conhecermos o que foi feito antes para conseguirmos nos posicionar melhor no presente e no futuro.”
Embora tenham sido prensadas cinco mil cópias desse primeiro disco, hoje a bolachinha é rara, esgotada há tempos. “Vendi tudo em shows, vivenciando a experiência de olho no olho com quem o comprou e autografando a maior parte deles”, disse.
A partir daí, em 2003, o músico começou a acompanhar o pai em shows. “A banda era eu e ele. Eu dirigia, passava o som, arrumava o palco e fazia tudo. Essa foi uma escola muito importante para mim”, falou o músico que, entre a estrada e o descanso, compôs mais de 40 músicas.
“MAIS QUE VIAJANTE”
O segundo disco do artista é “Mais que o viajante” (2011), pelo selo AP (Agência Produtora), que traz a busca do artista pela própria sonoridade. Nele, Chico Teixeira experimenta diferentes bandas com a participação de diferentes músicos. Com 12 faixas o disco assegura o intuito de Chico Teixeira em mais um resgate, dessa vez, por meio da canção “Mochileira”, de Geraldo Roca (1954-2005), com participação de Dominguinhos (1941-2013). “A gentileza do Dominguinhos era impressionante. Ele fez questão de não cobrar dizendo que era um serviço que ele estava prestando para a música”, contou Teixeira que na ocasião mostrou outra música de sua autoria- ainda sem nome- para o sanfoneiro, que a gravou com três sanfonas. “Essa música está guardada para lançá-la em uma ocasião especial. Posso adiantar que é uma canção bem brasileira”, disse.
“Mais que viajante”, a canção homônima ao título da bolacha, é de Chico Teixeira e foi inspirada pelas leituras que o artista realizou de “Cartas a um Jovem Poeta”, de Rainer Maria Rilke (1875-1926). “Era um período de chuva e muito vento na serra da Cantareira e eu fissurei nesse livro. Li quatro vezes seguidas.” Uma versão de Chico Teixeira e Renato Teixeira da música “Father and Son”, do compositor inglês Cat Stevens, também aparece na bolachinha, com o título traduzido ao pé da letra, “Pai e Filho”. “Passamos a tocar essa música nos shows e foi um tremendo sucesso. Essa música tem bastante impacto e uma receptividade do público muito grande. Tem reconciliado um monte de pais e filhos.”
“SATURNO”
“Saturno” é o mais novo álbum de Chico Teixeira. Em breve estará em plataformas digitais e, em 2017, será lançado em CD. São dez músicas autorais com arranjos mais unificados, bem definidos e com uma banda só. O artista está muito contente com o resultado do trabalho por achar que esse é seu disco “mais maduro”. “Abrindo o disco, gravei ‘Saturno’, uma música com pegada meio punk de autoria do meu irmão João, que acabei trazendo mais para o violão. Conversávamos muito sobre esse trabalho, porque ele iria produzir o disco. Batíamos um pouco de frente, ele sempre fazia o contraponto. Na hora em que fui gravar essa música especificamente, levei em consideração todos os nossos papos e resolvi homenageá-lo”, contou o artista que lembrou do suicídio de João, em 2014, durante o tratamento de uma depressão.
A segunda música do disco, é “Song Swan”, do Geraldo Roca. “É uma canção emblemática, uma obra prima da qual o Roca tinha muito ciúme e por isso tive muito trabalho para conseguir sua liberação”, disse Teixeira, sobre o compositor que cometeu suicídio uma semana após ter liberado os direitos autorais da música para o artista gravá-la.
Entre as demais faixas, “A vida é feita de sonho”, de Chico Teixeira e João Carreiro, que segundo Teixeira é “bem na onda dos pantaneiros, mostra um lado bem regional; as outras músicas vão mais para um lado da MPB”.
SHOW
Chico Teixeira (voz, violão de seis e de doze cordas) será acompanhado no show por músicos muito bons, que há cinco anos trabalham em conjunto. São eles: Thadeu Romano (acordeom e piano); Daniel Doctors (contrabaixo); João Oliveira (violão); e Camilo Zorilla (bateria).
No repertório do show estão também “Chama da floresta” e “Fico com Deus no peito”, ambas do CD “Saturno”. A última música é de Chico e Renato Teixeira que dividem o palco cantando juntos. Sérgio Reis cantará “Boiadeiro Errante”, “Chico Mineiro”, “Chalana”, “Amora”, “Tocando em frente”, “Panela velha” e “Menino da Porteira”, todas com arranjos musicais de Chico Teixeira, que também é o diretor musical do espetáculo.
Revisitando clássicos da MPB, Chico Teixeira passa por “Cuitelinho” (veja vídeo no final da matéria), “Jardim da fantasia” e “Eu apenas queria que você soubesse”, entre outras. Além de realizar um encontro de gerações, o espetáculo pretende movimentar a cultura popular. “É muito importante buscarmos um equilíbrio entre o comercial e o cultural. O cultural pode passar sem o comercial, mas o comercial não”, conclui Chico Teixeira.
Essa é uma excelente oportunidade para colher o que há de melhor na música de raiz brasileira. Aproveite a safra.
SHOW RAÍZES SERTANEJAS
ARTISTAS Chico Teixeira, Sérgio Reis e Renato Teixeira, e outros
QUANDO Domingo, dia 4 de novembro, às 19h
ONDE Auditório Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Parque do Ibirapuera,tel.(11) 3629-1075
QUANTO R$ 10 e R$ 20