Dizer só “obrigado” virou arte
Quem procura agradar a todos, não agrada ninguém. Isso também vale para quem agradece? Sim.
Há muito virou praxe em finais de shows – geralmente antes do bis – , o artista agradecer às pessoas participantes do evento: “Quero agradecer ao Luiz da luz, ao Giba do som, à Lu, nossa produtora, ao Paulo, pela colaboração, ao Zé, nosso roadie, à dona Maria pelo café, ao seu Luís, por nos transportar, a essa equipe [sempre] ma-ra-vi-lho-sa daqui do [entra o nome da casa ou da organização que promoveu o evento], que nos acolheu de uma maneira [sempre] in-crí-vel. Luli, adorei! E, gente, obrigado por vocês terem vindo!”
Além de silenciar a música a que o público estava exposto, trazendo-o de maneira enfadonha de volta à realidade – cortando o barato, pisando na bola e estragando tudo -, perceba que ninguém nesses híbridos discursos de agradecimento tem sobrenome. Desnecessárias, essas falas veiculam informações sem qualidade. Qualquer um pode ser Zé, Maria, Giba, Paulo (que colaborou com o quê mesmo?), Lu e Luli (o que fez a Luli, pelo amor…!). Idem para Luiz, com “s” ou com “z”, com acento ou sem, tanto faz. Nem o aliterado “Luiz da luz” escapa. Tem uma pá deles pelos palcos do mundo. Dar sobrenome aos bois alongaria mais ainda a tortura. Mas, não é essa a questão.
Dia desses, fazendo matéria para o Música em Letras, encontrei um compositor da MPB, violonista e cantor, que não quis se identificar, mas na questão acima foi pontual: “Não tem que agradecer, isso diminui o artista. Os produtores pedem para agradecermos com a intenção de fazer uma média com a casa. Sou mais o modelo Caetano Veloso, que não agradece. Eu não vejo ele agradecer o roadie, o cara da luz ou do som”, disse.
Outro artista experiente, compositor e guitarrista, que também pediu para não ser identificado, falou: “As pessoas que estão sendo agradecidas, na maioria nem estão lá para ouvir, mas agradecemos assim mesmo. Muitas vezes, já entregam no camarim a lista com os nomes de gente que nem sabemos quem são. Nunca as vimos. Concordo, é chato e não tem sentido”.
Afinal, excluindo familiares, namoradas (os) e amigos (as) dos citados em listas de agradecimento, qual o impacto que esses nomes e apelidos- sempre genéricos- terão na vida de quem está assistindo ao show? Nenhum. A não ser aborrecer e desvirtuar mentes e almas para prestarem a atenção em um falar burocrático, mecânico, datado, previsível, desnecessário e muitas vezes hipócrita.
Só um “obrigado”, em alto e bom som, basta.