A Barca reza no Auditório Ibirapuera

Depois de uma “hibernada”, o grupo paulistano A Barca apresenta “Tempo de Reza”, novo show da trupe que acontece no próximo domingo (17), no Auditório Ibirapuera, em São Paulo
O Música em Letras esteve no ensaio desse grupo maior de idade -afinal são 18 anos de existência- e conversou com seus integrantes, responsáveis pelo trabalho de pesquisa, coleta e registro das mais diferentes formas da expressão musical em todo o Brasil. “Há músicas que foram recolhidas pelo grupo há mais de 20 anos e que só agora estão entrando no repertório, que é muito grande e tem possibilidades infinitas”, disse o cantor Marcelo Pretto, 48, do A Barca.
Nos últimos três anos, o grupo, que sempre reuniu excelentes artistas com trabalho solo, entrou em um período sabático. Os cantos de Sandra Ximenes e de Juçara Marçal, além da rabeca e do saxofone de Thomas Rohrer, deixaram de fazer parte do som de A Barca. André Magalhães (percussão) e Lincoln Antonio, 45 (piano, acordeon e flauta), que ainda fazem parte do grupo, resolveram “mochilar” durante um ano pelo Brasil. Ari Colares, 52 (percussão), e Chico Saraiva, 43 (voz e violão), também resolveram “dar um tempinho”. “Aconteceu naturalmente. Não foi uma resolução, nem teve uma discussão nesse sentido. Durante esse período, atendemos alguns convites para apresentações sem termos nos rearticulado efetivamente”, disse Saraiva sobre o grupo que agora conta com duas novas integrantes: Laetícia Madsen, a Laê, 43 (voz), e Renata Amaral, 46 (baixo e voz).
O espetáculo “Tempo de Reza” é uma iniciativa do grupo, já testada em apresentação na Companhia do Feijão, em São Paulo, em junho. “Apresentamos um show reunindo o ‘Tempo de Reza’ e o Tempo de Festa. A reza é festiva e a festa é sacra”, disse Ari Colares.

No repertório de “Tempo de Reza”, composto por cerca de 20 músicas, o grupo traz melodias do catimbó nordestino recolhidas por Mário de Andrade (1893-1945). Entre elas, “Mestre Fulô da Ameixa” e “Rainha Encantada”, ambas de domínio público. “Essas músicas foram anotadas, de próprio punho, por Mario de Andrade. Nós as harmonizamos e só de colocarmos o piano, baixo e violão muda o caráter do gênero. Mas temos a preocupação de não forçar um arranjo na música, de não transformá-la, e sim de complementá-la com elementos que vemos dentro dela”, falou Renata Amaral sobre as melodias que constam no livro “Música de Feitiçaria”, do intelectual modernista.
Das doutrinas do tambor de mina, o grupo interpreta, entre outras, “Mina Terê Terê”, melodia gravada pela missão de pesquisas folclóricas organizada por Mario de Andrade em 1938. Há também doutrinas de Ossain (orixá das folhas), Oxum (orixá rainha das águas) e de Dan (deus da transformação). “Essas músicas não têm um nome específico. São chamadas pelos nomes dos orixás e dos voduns e são cantadas até hoje nos terreiros do tambor de mina, no Maranhão”, contou Renata Amaral.
Alguns pontos do candomblé jejê nagô, além de um samba de caboclo do candomblé angola, “Mamãe Eu Quero Água”, e toadas do boi maranhense, como “Santo Antônio me Avisou”, da mestra Zezé Menezes, também fazem parte do espetáculo.
Os integrantes do grupo acreditam que quanto menos expectativas as pessoas tiverem para ver o “Tempo de Reza”, melhor. “Elas devem ir com a mente vazia para aproveitarem o show”, disse Renata Amaral, complementada por Ari Colares: “O grupo continua com a mesma linguagem e intenção de divulgar a riqueza da musicalidade tradicional do país”.
As crenças de cada um dos integrantes são diferentes, passando pelo catolicismo, cristianismo e religiões afro, mas todos são unânimes na devoção e fidelidade à música.
Assista ao vídeo, a seguir, no qual os integrantes de A Barca convidam o internauta do Música em Letras para assistirem ao novo show do grupo.
SHOW TEMPO DE REZA
ARTISTA A Barca
QUANDO Domingo, dia 17 de julho, às 19h
ONDE Auditório Ibirapuera, parque do Ibirapuera , Av. Pedro Álvares Cabral, tel. (11) 3629-1075
QUANTO R$ 20 e R$10