A música cênica de Nath Calan
Unir teatro e música de uma maneira que você provavelmente nunca viu é a intenção da atriz e percussionista paulistana Nath Calan no espetáculo Concerto de Música Cênica Nath Calan, que acontece no teatro Rotina, em São Paulo, na próxima quinta-feira (23).
O Música em Letras esteve na casa da artista, em Cotia, e entrevistou-a ao lado de sua simpática companheira Latika, uma cadela da raça border collie, boa praça e que curte um som.
Leia, a seguir, mais sobre o espetáculo, a atriz, cantora, percussionista que, além de alimentar almas carentes de novas expressões artísticas, é nutricionista formada e trabalhou em uma grande multinacional japonesa de produção de alimentos. Pediu demissão e “atravessou a ponte da felicidade”.
“NOMEROLOGIA”
Natali Calandrin Martins, 39, é paulistana nascida e criada na zona oeste da capital. Atualmente, mora em Cotia. “Estou há um mês nessa casa”, disse a percussionista que divide o espaço do sobrado, em um condomínio na Granja Viana, com vários instrumentos, o marido Danislau (vocalista do grupo Porcas Borboletas) e a cadela Latika.
Quando começou a estudar percussão, em 2002, Natali teve Dinho Gonçalves como um de seus primeiros professores. O mestre sugeriu que ela usasse Nat como nome artístico. Ela topou quando sacou que Nat era metade de Natali e adotou o mesmo procedimento para o sobrenome Calandris. Daí surgiu Nat Calan. Mas e o “h”? “Fui a uma numeróloga, adoro numerologia, e ela me disse que, com a inserção do ‘h’ em meu nome, teríamos 11, o número perfeito”, contou a percussionista dizendo que na numerologia esse é o chamado “número mestre”.
FORMAÇÃO
Mestres não faltaram na vida de Calan. Segundo ela, o pai, engenheiro, é “extremamente musical”. Com ele, Calan tem suas primeiras lembranças relacionadas a música. “Ele tocava no violão ‘Águas de Março’, ‘Ronda’, mais alguns sambas, e me punha para cantar. Tinha 5 anos e já amava. Era minha brincadeira predileta.”
Adolescente, inseriu no repertório que fazia com o pai “Lua de Mel”, de Lulu Santos, e “Chuva de Prata”, de Ed Wilson e Ronaldo Bastos, entre outras canções interpretadas por Gal Costa.
A mãe da percussionista é pedagoga, geógrafa e trabalhou na rede estadual e municipal de ensino. Calan estudou em duas dessas instituições. Na EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Professor Olavo Pezzotti, no bairro da Vila Madalena; e na EE (Escola Estadual) Professor Manuel Ciridião Buarque, no bairro da Lapa.
Da mãe herdou o amor por cozinhar. “Adoro. Era assistente dela na cozinha. Aprendi vendo ela cozinhar”, disse a percussionista especialista em bacalhau ao Bráz, escondidinho e arroz carreteiro, entre outros pratos.
Calan se alimentou de conhecimento na rede pública e cursou nutrição na USP (Universidade de São Paulo), antes de se formar em percussão na UNESP (Universidade Estadual Paulista).
EPIFANIA
Aos 13 anos, Calan foi matriculada pelos pais na ACM (Associação Cristã de Moços) para que praticasse esportes. A moça nunca gostou de competir. Um dia, indo para onde não gostava mudou de rota. O motivo? Leu em uma placa: Curso de Teatro. “Entrei. E quando eu entrei, o palco e o cheiro me mostraram, na hora, que aquilo era o que eu queria para minha vida. Rolou um negócio que me disse: ‘Eu quero viver isso’”, contou Calan que frequentou o grupo até ser vetada pelos pais. “Vetaram dizendo: ‘Ih, ela está com essa coisa de teatro’.”
Depois do veto, Calan foi convidada por uma amiga, sobrinha do ator Celso Frateschi, para participar de uma oficina do tio. A atriz lembra ter comemorado seu aniversário de 15 anos, ensaiando uma peça com as pessoas dessa oficina. “Foi a maior alegria. A galera falava em festa de debutante e eu queria passar o dia inteiro no teatro. Meus pais ficaram contrariadíssimos. Odiavam isso. Só que eu pirei o cabeção e nunca mais parei de fazer teatro.”
A ATRIZ QUE VIROU NUTRICIONISTA
Calan frequentou várias oficinas de teatro até ter que optar por uma área para dar continuidade aos estudos formais. Seus pais perguntaram: “O que você vai prestar no vestibular?” Contaminada pela vivência dos palcos, a moça respondeu: “Teatro”. “Nem pensar!”, responderam os pais, que passaram a “bombardear” a moça com perguntas: “Assim que você se formar você vai trabalhar onde exatamente? Você vai entrar em cartaz com seus 20 colegas de curso? Vai ter três pessoas na platéia. Você já viu como é o teatro alternativo no país? Ou você quer ser uma atriz ‘global’ e se submeter a coisas que não gosta?”, contou Calan.
A moça escolheu estudar nutrição baseada na errônea ideia de que o curso não demandaria muito tempo ou estudo, e que poderia lhe propiciar uma “carreira meio sossegada”, para que pudesse “continuar a fazer teatro pelo resto da vida”. Revelou a escolha para uma professora de teatro e recebeu um conselho: “Não faça isso. Profissão é uma só. Meus pais também não queriam que eu fizesse teatro. Eu me vestia de branco e mentia dizendo que estava fazendo medicina”. Inútil, Calan cursou cinco anos de nutrição.
Com um mês de curso, Calan quase largou tudo quando ouviu o professor iniciar uma aula com a frase: “Anatomia do aparelho digestivo”. A carga horária era puxada, além de o curso não ser “moleza”. Mesmo assim, Calan se formou em 2000.
SELECIONADA PELO TEATRO
Após se formar, Calan leu um anúncio: “Ajinomoto contrata nutricionista”. Nessa ocasião, a grana andava curta. Crises e tretas na casa dos pais aumentaram, pois a moça insistia em ter uma vida acadêmica permeada pelo “tal do teatro” e da música. Resolveu fazer o teste para abocanhar uma vaga na empresa japonesa de alimentos. Afinal, diziam que pagava bem. Fez o teste e passou. E passou por conta do teatro.
A encarregada de recursos humanos da empresa aplicou um teste de seleção, que para Calan mais parecia uma brincadeira de teatro. “Ela deu uma folha de papel para cada uma das candidatas e disse que aquela folha era um barco, e que todos estavam no meio do oceano. Quando ela batesse palma, tínhamos que colocar o papel no chão e subir nele. No meio da brincadeira, ela tirou a folha de uma menina do meu lado e eu puxei essa menina para o meu barco. Uma coisa do teatro que trabalha a sintonia do junto. Ganhei a vaga aí”, contou a então nutricionista, que se surpreendeu com o salário. “Pensava que ia ganhar o piso da época, R$ 750, mas quando a chefe disse que o salário era de R$ 1.800, fiquei sem ar.” Calan tinha planos para esse dinheiro.
ACIDENTE EVITA ACIDENTE
Logo que ingressou na Ajinomoto, Calan “estava mais ou menos noiva” de um médico, em Recife. “Estava doida para juntar uma graninha e ir viver com ele lá.” Na capital pernambucana, pretendia ingressar em uma faculdade de Educação Artística.
Tudo calculado, pediria demissão da empresa e iria para Recife. Fez até uma festinha de despedida. Uma semana antes se demitir, andando no corredor do prédio onde trabalhava, sofreu um acidente. Um extintor de incêndio caiu em cima de seu pé esquerdo, estraçalhando-o. Quebrou-o em mais de três lugares. Ao examiná-la, o médico disse que uma cirurgia seria necessária. Calan informou-o que estava de mudança para Recife na semana seguinte. O médico deu a previsão: três meses sem andar.
Nesse período, a “mais ou menos noiva” descobriu que o tal médico pernambucano, seu “mais ou menos noivo”, estava cuidando demasiadamente bem de outra mulher, que nem doente ou paciente era. O relacionamento capotou, a nutricionista ficou em casa se recuperando dos acidentes de trabalho e do coração. O remédio foi contratar uma professora de percussão.
NUTRINDO A ALMA
Na metade do curso de nutrição, em 1998, um amigo a convidou para participar da Oficina dos Menestréis com Oswaldo Montenegro. Em um dos exercícios dessa oficina, Calan interpretou com o amigo Ubiratan canções da ópera “Porgy and Bess”, à capela.
Outro amigo e companheiro de oficina, Jonathan Silva, compositor, cantor e violonista capixaba, ouviu a apresentação e os convidou para entrar em sua banda, a Zabandá, fazendo backing vocal. “Éramos da mesma época do A Barca e Baque Bolado. O Zabandá teve um destaque e foi muito legal”, falou a atriz sobre o grupo que em sua formação contava com as percussionistas Adriane Riveiro e Dani Zulu, ex-integrante do Barbatuques.
Na Zabandá, pedidos de inserção de um ganzá aqui e um agogô ali, além de reco-reco e tambor de onça acolá, levaram a, até então, cantora (soprano), atriz e estudante de nutricionismo para o mundo maravilhoso dos instrumentos de percussão. Calan passou a cantar e, ao mesmo tempo, citar trechos de um maracatu ou de um ijexá, encorpando o som da banda com eficiência. “Ficava na instância dos instrumentos acessórios”, explicou.
Foi ainda gravando com o Zabandá que Calan ouviu do compositor, maestro e poeta Jaceguay Lins (1947-2004) a avaliação: “Você é uma grande percussionista”. A moça, então com 23 anos, rebateu dizendo que não era percussionista. Vidente, o mestre a direcionou: “Pois deveria ser”.
PERCUSSÃO EM DOMICÍLIO
As primeiras noções de percussão vieram de uma ex-aluna do percussionista Dinho Gonçalves, enquanto Calan se recuperava do pé quebrado. Durante um mês, a garota deu alguns toques para Calan utilizando um par de congas (tumbadoras) e disse: “Agora você já pode ter aulas com o Dinho”.
Com o percussionista, Calan aprendeu mais sobre o universo da percussão popular. Demitiu-se da Ajinomoto, prestou vestibular para educação artística na UNESP (Universidade Estadual Paulista) e entrou na faculdade.
“A menina de recursos humanos da empresa disse que eu era muito corajosa, pois as pessoas têm só que atravessar uma ponte para encontrar a felicidade do outro lado, mas elas nunca atravessam por ficarem com medo. Ela me disse que o que eu estava fazendo era atravessar a ponte.” Entretanto, Calan não gostou do que encontrou do outro lado da travessia. “O curso de educação artística era focado mais para a licenciatura. Eu queria ser atriz ou percussionista”, falou.
Por força do destino, ao lado da sala em que Calan cursava educação artística funcionava o PIAP (grupo de Percussão do Instituto de Artes da UNESP). Embora tivesse algum conhecimento de percussão, ela não conhecia vibrafone ou marimba. Foi o som desses instrumentos vazando pelas paredes que atraíram a moça para o grupo.
Calan imediatamente procurou saber como ingressar no PIAP e foi informada pelo professor e compositor Carlos Stasi que era tarefa difícil, pois eram apenas três vagas anuais (atualmente são cinco), muito disputadas por alunos formados em instituições renomadas, como o Conservatório de Tatuí.
Diante do quadro apresentado, Calan desanimou e disse para o mestre que estava “velha” para começar, afinal tinha mais de 20 anos. Ao que o experiente professor respondeu: “O maior tablista da Índia começou a tocar com 50 anos de idade. Nunca se está velho para aprender”.
Convencida da possibilidade, Calan abandonou o curso de educação artística e passou a ter aulas semanais de percussão com o regente, timpanista da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e professor Ricardo Bologna. Calan não sabia ler música, não sabia que o piano era instrumento de percussão, nunca tinha assistido a um concerto e se apaixonou pela marimba. Estudou muito, mas na primeira tentativa não entrou no PIAP. Reforçou os estudos com a timpanista Elizabeth Del Grande.
PIAP
Calan entrou na EMESP (Escola Municipal de Música de São Paulo), mas seu sonho continuava sendo ingressar no PIAP. Foi o percussionista, na ocasião baterista da banda Zabandá, Homero Basílio, quem descolou um vibrafone para Calan estudar. “Estudava oito horas por dia, todos os dias”. O professor e “preparador” Ricardo Bologna emprestou uma caixa, pois para ingressar no PIAP, Calan deveria apresentar um solo de teclado e um de caixa. Instrumentos para se preparar já tinha. O incentivo vinha do mestre Bologna: “Você é muito dedicada, tem ritmo firme, talento e está evoluindo”. Previsão correta, Calan foi aprovada no PIAP, onde teve convívio intenso com alunos da instituição.
No segundo ano do curso no PIAP, Calan prestou concurso e entrou na Banda Sinfônica Jovem do Estado. No terceiro ano, concorreu e ganhou a vaga no Projeto Academia da OSUSP (Orquestra Sinfônica da USP). No quarto ano, decidiu prestar outro concurso e preencheu a vaga de timpanista que havia na Orquestra Sinfônica de Santos.
QUEM PROCURA ACHA
Enquanto estudava e tocava no PIAP, Calan sentia saudades do teatro. Retomou a antiga paixão como atriz na peça “Fodorovska”, participou de quatro curtas e fez filmes publicitários que lhe deram visibilidade. Foi nesse período que começou a vislumbrar que poderia juntar as duas coisas de que mais gostava, música e teatro, trabalhando com o conceito de música cênica, termo para obras instrumentais nas quais o compositor também utiliza, além de elementos sonoros, material visual e teatral.
Ao pesquisar o assunto, Calan passou a encontrar obras escritas para percussão que são executadas e interpretadas com música aliada a dramaturgia. Antes ainda de se formar no PIAP, a percussionista leu o texto da peça “Valsa nº 6”, de Nelson Rodrigues (1921-1980). Percebeu que havia indicações do autor para que a atriz, em alguns momentos, tocasse trechos de valsas em um piano. Imediatamente, Calan pensou em montar trechos da peça utilizando um vibrafone no lugar do piano, com valsas adaptadas para ele.
Assim, Calan chamou o diretor Bira Honorato e montou “Waltz”, com trechos do texto de “Valsa nº 6”. O espetáculo, financiado pela própria artista, permaneceu cinco meses em cartaz. Ao mesmo tempo, Calan foi convidada para tocar na orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP, sob regência do maestro João Carlos Martins, além de ter conquistado um cargo de suplência na Jazz Sinfônica.
Depois de dois anos trilhando esse caminho, a percussionista decidiu realizar um mestrado em música. Fez os estudos na UNICAMP (Universidade de Campinas) e concluiu a pós-graduação, em agosto de 2015, com um recital em que apresentou obras de música cênica de autores como Vinko Globokar, Thierry de Mey e trechos da peça “Valsa nº 6”.
BATERA POP
Ao mesmo tempo em que desenvolvia seu trabalho com a música cênica, Calan foi convidada para tocar bateria com a cantora Fernanda Takai. “Foi uma superexperiência. Estreei tocando batera com ela no Circo Voador, no Rio, e foi muito bom”, disse a percussionista que também substitui o baterista do grupo Porcas Borboletas, chamando a atenção da galera do pop.“Agora, estou de batera em duas bandas pop. Uma é a Barraca de Beijo, que está para lançar um CD”, disse Calan sobre a banda formada pelo vocalista Danislau, o baixista Saulo Duarte e mais um guitarrista.
A outra banda em que Calan “ataca” de baterista e cantora é a Meia Noite e Meia, grupo com repertório autoral formado por Marcella do Carmo (teclados e vocal), Ricardo Kudla (baixo) e Vitorino Papini (guitarra). “Adoro tocar batera em pop, rock e punk”, disse Calan.
A instrumentista também participa fazendo percussão no grupo Seis com Casca, que mistura o clássico com elementos da cultura tradicional brasileira para eliminar fronteiras entre a música erudita e popular. O grupo que já gravou dois CDs, “Plano Inclinado” e “Num Dia, No Outro”, é formado por Bruno Monteiro (piano), Potiguara Menezes (guitarra e arranjos), Diogo Maia (clarinete), Nikolay Iliev (violino), e Mauricio Biazzi (contrabaixo). “Temos um CD incrível gravado com esse grupo e a Leila Pinheiro, mas está engavetado porque não temos patrocínio para lançar”, contou Calan sobre o disco que traz 12 canções eruditas de autores como Gustav Mahler (1860-1911) e Erik Satie (1866-1925), entre outros, arranjadas com uma linguagem popular, e adaptações das letras realizadas por Carlos Rennó.
Em meio a tanta atividade, a percussionista ainda dá aulas na Escola do Auditório Ibirapuera para seletos quatro alunos. “Não tenho tempo livre. Sou produtora de mim mesma. Vivo trabalhando ou inventando trabalho.”
CONCERTO DE MÚSICA CÊNICA
No espetáculo que apresenta na próxima quinta-feira (23), Calan interpreta várias obras de percussão mescladas a atividades teatrais. Entre elas, interações cênicas com criação de personagens, ações e falas, mas tudo anotado nas partituras.
O repertório para música cênica começou a aparecer na década de 1960, mas o apresentado por Calan é atual e inclui composições nacionais. O concerto conta, dependendo da disponibilidade da agenda dos músicos, com a participação dos também percussionistas Fernando Reis, 19, e Paulo Zorzetto, 40. A iluminação do espetáculo é de responsabilidade de Cristiano Pedott, que alia à luz projeções de imagens em um telão, reforçando os momentos de silêncio e som das peças. Os figurinos da artista, um para cada peça apresentada, também ficam expostos no palco.
O espetáculo começa com a peça “Silence Must Be”, de Thierry De Mey. Nela, a coreografia é feita com movimentos das mãos de Calan, na maior parte do tempo em silêncio.
“Toucher”, de Vinko Globokar, é a segunda música do espetáculo. Antes da apresentação, a atriz, cantora e percussionista explica rapidamente para o público o conceito de música cênica. No caso de “Toucher”, a obra relaciona 13 fonemas com 13 timbres percussivos. Durante o decorrer da peça, são recitados trechos de “A Vida de Galileu”, de Bertolt Brecht (1898-1956), obedecendo estritamente a relação entre os fonemas do texto e sons da percussão (veja vídeo a seguir).
A terceira obra é uma composição de Arthur Rinaldi, “Sonhos”, inspirada no filme homônimo de Akira Kurosawa (1910-1998). São seis microcenas, chamadas de movimentos, identificadas pelos nomes que aparecem projetados no telão. Passagens do filme ganham trilhas com climas distintos. Calan executa a peça transcrita para o vibrafone, embora o compositor a tenha composto para marimba.
A quarta música é “? Corporel”, de Vinko Globokar, composta para ser executada por um percussionista em seu próprio corpo e que o autor indica que seja executada com a parte de cima do corpo desnuda. Calan, que usa um top para interpretá-la, considera essa a peça mais “doida” do espetáculo. “É uma obra muito expressiva, que dura de nove a dez minutos, mas é muito específica. A partitura explicita, por exemplo, que um centímetro é igual a um segundo”, disse a atriz e percussionista sobre a duração e o tamanho de cada movimento que realiza sobre si mesma com as mãos e emitindo sons pela boca.
A quinta música cênica é “Waltz”. Nesse momento, Calan explica para o público o que é esse monólogo baseado em peça de Nélson Rodrigues (veja vídeo a seguir).
O final do espetáculo é composto por obras que se alternam a cada apresentação, conforme a disponibilidade de outros percussionistas que participam ao lado de Calan. Entre as executadas, “Musique de Table”, de Thierry De Mey, (veja vídeo em https://www.youtube.com/watch?v=zwQ7-vLAgV0) e “Mãos”, do percussionista João Dalgalarrondo, peça que parece para crianças, mas surpreende. Utilizando dois tons, as mãos da percussionista parecem ganhar vida própria, construindo cenas cômicas por meio de coreografia e som (veja vídeo em https://www.youtube.com/watch?v=NR5fS3I-RFk ).
Segundo Calan, seu público é formado por estudantes de percussão, profissionais de orquestra, da dança, do teatro e do mundo pop de São Paulo. Ir a concertos de música cênica de Nath Calan é certeza de encontrar um trabalho bem diferente. Um trabalho que mistura o teatro com a música de maneira nova, fugindo da manjada fórmula da ópera ou do musical. Essa é uma mistura de teatro com música de outra ordem, que conduz a um espetáculo quebrado, truncado e, talvez por isso, hipnotizante.
Não perca a oportunidade de conhecer, ao vivo, essa outra dimensão do som no concerto de Nath Calan. Ou você prefere ouvir em CD uma dessas peças? Nem um dos melhores percussionistas do mundo, o norte-americano Steven Schick, 62, maestro e especialista em música contemporânea, conseguiu passar o impacto de “Toucher”, de Vinko Globokar, por meio apenas do aúdio registrado em CD. Sabe por quê? Porque música cênica não é para ouvir ou assistir, mas para presenciar.
CONCERTO DE MÚSICA CÊNICA NATH CALAN
QUANDO dia 23 de junho, quinta-feira, às 21h
ONDE Teatro da Rotina, r. Augusta, 912, conjunto 12, tel (11) 95489-9836, Consolação, São Paulo
QUANTO De R$20 a R$ 30