Sem Noção – “Mestrinho & Nicolas Krassik”, por Toninho Ferragutti

Carlos Bozzo Junior

 

O músico Toninho Ferragutti ouvindo, às cegas, o CD “Mestrinho e Nicolas Krassik” (Foto: Carlos Bozzo Junior)
O músico Toninho Ferragutti ouvindo, às cegas, o CD “Mestrinho e Nicolas Krassik” (Foto: Carlos Bozzo Junior)

O Música em Letras convidou o músico Toninho Ferragutti para participar da audição às cegas, da série Sem Noção, do novo disco do duo formado pelo brasileiro Mestrinho (acordeon) e pelo francês Nicolas Krassik (violino).

Acordeonista, compositor e arranjador, Ferragutti, 57, tem ouvido calejado. Há muito, sua maneira de tocar sanfona comprova intimidade forte de seus dedos com as teclas e os botões do instrumento. Ferragutti dá vida à máquina, “apulmonando-a”. O fole de sua sanfona parece inspirar e expirar com a sabedoria de um mestre iogue, em busca de vibrar as linguetas do instrumento na respiração precisa. Experiente, o músico já tocou com artistas bons, excelentes, ótimos, e também ruins. Espalhou seu som por galpões e salas de concerto, no Brasil e no exterior. Gravou-o em vários discos de outros artistas e lança, em breve, seu décimo CD autoral, “A Gata Café”.

Ferragutti recebeu o Música em Letras em sua casa, na Vila Pompéia, bairro de São Paulo, para a audição às cegas proposta. O músico escutou as 11 faixas do CD “Mestrinho e Nicolas Krassik”, na edícula de sua casa, em companhia deste que escreve e do simpático gato Café (veja post do dia 03/05/16), embora há quem discorde dessa simpatia, principalmente um sabiá habitué do local.“Vou tirar o gato daqui, senão ele pega o sabiá”, disse o músico levando o predador de seres alados para fora das imediações.

Leia, a seguir, as impressões de Ferragutti sobre o CD “Mestrinho e Nicolas Krassik”, gravado na Biscoito Fino. O disco teve produção, edição e mixagem de Nicolas Krassik ; gravação, Lucas Ariel, com João Thiré como assistente; masterização, Luiz Tornaghi; projeto gráfico, Crama Design Estratégico; direção de design, Ricardo Leite; design, Luana Luna; tratamento de imagem, Cosme Gauze; fotos, Rodrigo Ramalho; direção de fotografia, Renata Jambeiro; e assessoria de imprensa, Belinha Almendra.

FAIXA 1 “Nilopolitano”, de Dominguinhos

“Sei quem está tocando, mas não conheço o disco. Sei porque o Mestrinho me falou que tinha gravado com o Nicolas. Duo de acordeon com violino tem o do Samuca [ do Acordeon] com o Ricardo Herz, que fizeram um CD muito bonito. Mas pelo toque esse é o CD do Mestrinho com o Nicolas. Essa primeira faixa é maravilhosa, espetacular. A composição também é espetacular. Esse forró do Dominguinhos, o ‘Nilopolitano’, é um clássico do instrumental. Que alegria ouvir isso, é um presente. Os dois estão maravilhosos, tocando bem, com as intenções claras, sonoridade boa, mexendo com a forma da música de um jeito bacana, improvisando. É uma música difícil e eles tiraram de letra. É tão bonito que parece que ficou fácil.”

FAIXA 2 “Um Sorriso de Esperança”, de Mestrinho

“Essa música eu não conhecia. Ela é linda e tocada de maneira espontânea, parece que você está ‘ao vivo’. Não digo que ouvindo essa música fico surpreso, porque conheço a capacidade dos dois músicos, mas esse é um encontro muito feliz. Essa é uma formação difícil. Em duo, você tem que dar o recado com todos os fundamentos em dia. Saber acompanhar e saber solar, por exemplo. Porque você pode ser um grande solista, mas na hora de acompanhar não ser tão bom assim. Os dois são uma orquestra. Um duo com esse tipo de música, que além de brasileira tem lugar para a improvisação, abre um espaço importante de atuação em festivais de jazz, tanto no Brasil, quanto no exterior. O disco é lindo.”

FAIXA 3 “Formosa”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes

“Outra faixa maravilhosa. Geralmente, eu não gosto de música cantada passada para o instrumental. Tenho um certo desinteresse nisso, mas aqui eu acho que eles foram felizes. Essa é uma forma de viabilizar a música instrumental, tocar temas consagrados da canção. Mas, para isso, tem que se acrescentar alguma coisa. Eles conseguiram através do arranjo, da ideia e de uma introdução interessante. Fosse só para tocar a canção na versão instrumental, eu não acharia bom. Eles deixaram a música interessante principalmente pela introdução e pelo final, com um arranjo contemporâneo para uma canção antiga. Achei esse tipo de ousadia muito bonito. Mais uma música linda e muito bem executa. Não sei se o nome é esse, mas acho que é ‘Formosa’.”

FAIXA 4 “João e Maria”, de Sivuca e Chico Buarque

“É ‘João e Maria’, do Chico e do Sivuca, né? Bonito. Uma música bem conhecida, mais um belo registro.”

FAIXA 5 “Cordestinos”, de Nicolas Krassik

“Não conheço a música, mas é muito bem tocada e bem resolvida. Um belo registro. Mas tanto a faixa anterior, ‘João e Maria’, quanto essa, não tem impacto para mim como as anteriores. Isso não quer dizer que não é bonito, muito bem gravado e muito bem realizado.”

FAIXA 6 “Diabinho Maluco”, Jacob do Bandolim

“Voltou a ficar maravilhoso. Muito bom, espetacular. Eles são maravilhosos e ousados. Têm uma técnica que deixa tudo claro, com uma sonoridade e afinação excelentes. Que gostoso ouvir, bom demais.”

FAIXA 7 “Em Minha Alma”, de Mestrinho

“Eu não sei o nome da música, mas já conhecia essa valsa.Bonito, mais um belo registro.”

FAIXA 8 “Desvairada”, de Garoto

“Essa é ‘desvairada’, né? Maravilhoso, adorei o arranjo. Genial, genial! Não tem mais o que falar.”

FAIXA 9 “Melodia Sentimental”, de Heitor Villa Lobos

“É ‘Melodia Sentimental’. Está tudo bonito, mas é uma música tão consagrada que fica difícil você fazer qualquer coisa que não seja se ater à melodia, que é linda, e registrar.”

FAIXA 10 “Serelepe”, de Nicolas Krassik

“Parece que conheço a melodia, mas não saberia dizer o nome da música. Lindo, lindo. Curto e grosso: muito bonito! ”

FAIXA 11 “Feira de Mangaio”, de Sivuca e Glória Gadelha

“Essa é a ‘Feira de Mangaio’, do Sivuca e da Glorinha Gadelha. Registro maravilhoso, alegre, para cima, bem tocado e improvisado. Agora, se eu fosse achar ‘pelo em ovo’, diria que achei falta do Nicolas tocando rabeca, ele toca tão bem e tão bonito. Não só nessa faixa, mas também no forrozinho. Se senti falta é porque eu o conheço e sei que a rabeca daria mais uma cor nisso, se é que cabe mais alguma cor. Parabéns! Sucesso e vida longa ao duo. Minha segunda-feira ficou mais feliz.”

O acordeonista em sua casa, em São Paulo (Foto: Carlos Bozzo Junior)
O acordeonista em sua casa, em São Paulo (Foto: Carlos Bozzo Junior)

AVALIAÇÃO PONTUAL

INTÉRPRETES
“Ótimo.”

COMPOSIÇÕES
“Muito bom.”

HARMONIA
“Ótimo.”

RITMO
“Ótimo.”

MELODIA
“Ótimo.”

ARRANJO
“Ótimo.”

SOM (CAPTAÇÃO, MIXAGEM E MASTERIZAÇÃO)
“Ótimo. Agora, estou ouvindo numa caixa Bose e ela puxa um grave que, às vezes, é um pouco excessivo. Então, sei que é da caixa. ”

CONSIDERAÇÕES GERAIS

O acordeonista Toninho Ferragutti identificou, ao ouvir a primeira faixa do disco, os dois músicos do duo formado por Mestrinho (acordeon) e Nicolas Krassik (violino), mas desconhecia o disco dos integrantes da dupla que se conheceram na banda que acompanhou Gilberto Gil no show Fé na Festa. É de Gil o texto no encarte do disco fazendo uma apresentação ao público, enaltecendo o “imenso talento” dos músicos. Também o violonista Yamandu Costa, no encarte do CD, assegura ter ficado “impressionado” com o encontro do acordeon de Mestrinho com o violino de Krassik.

Após a audição às cegas, foi revelado a Toninho Ferragutti a autoria das músicas, assim como todas as outras informações sobre o disco, seus participantes, ficha técnica, capa e encarte. Segundo ele, o CD provoca uma grande alegria. “Parabéns! Estou muito alegre de ouvir o som desse encontro. Esse é um disco que veio para ficar e marcar posição dentro da música instrumental. Que traga muita alegria para eles, porque para nós já está trazendo. Espero que consigam fazer o disco caminhar. Que ele circule e que isso traga shows e, se possível, um segundo CD, porque é muito promissor.”

Perguntado se há espaço para o disco no mercado, Ferragutti respondeu: “Sim, tem lugar. É lógico que a música instrumental não é para cem mil pessoas; é para um público menor. Então, tem que localizar esse público, ir atrás dele e tratar bem, porque público existe, sim. Esse disco é muito bem tocado e realizado. Certamente, não vai ter lugar para esse CD o quanto deveria ter. Não está na grande mídia, mas está na mídia que sabe ir atrás desses valores, né?”.

AVALIAÇÃO DE TONINHO FERRAGUTTI
“Ótimo”

Capa do disco “Mestrinho e Nicolas Krassik” (Foto: Carlos Bozzo Junior)
Capa do disco “Mestrinho e Nicolas Krassik” (Foto: Carlos Bozzo Junior)

CD MESTRINHO E NICOLAS KRASSIK

ARTISTAS Mestrinho e Nicolas Krassik

GRAVADORA Biscoito Fino

QUANTO R$ 30