Trovadores Urbanos, 25 anos de muita história para cantar
Cantora e idealizadora do grupo Trovadores Urbanos, Maída Novaes, 53, conversou com o Música em Letras na Casa dos Trovadores, um sobrado estilizado da rua Aimberê, em Perdizes, bairro de São Paulo.
Conhecida pelo público, vizinhos e turistas, é do alto dessa casa, em uma pequena sacada na fachada, que a cantora projeta sua voz, desde 2010, todas as sextas-feiras, para um público constante de apreciadores de música de qualidade, apresentada gratuitamente.
Na Casa dos Trovadores, foi recém-inaugurada uma sala em homenagem ao cantor Sílvio Caldas (1908-1998). Assista ao vídeo no final do texto.
Para comemorar os 25 anos de existência dos Trovadores, o show “Trovadores Urbanos – 25 anos”, no próximo dia 19, no Auditório Ibirapuera, conta parte da rica trajetória desses seresteiros que já gravaram sete CDs.
Leia essas e outras notícias sobre o grupo que tempera com afeto encontros, separações e muito mais, além de propagar e manter viva a memória da música brasileira.
SERENATAS
Mais de 100 mil serenatas foram realizadas pelos Trovadores Urbanos desde o início do grupo. Anualmente, 100 delas ocorrem no Dia das Mães. Serenatas têm muito mais funções do que se imagina. Servem para conciliar pessoas, fazer pedidos de casamento, namoro e até celebrar aniversário de cachorro. Nessa seara, os integrantes dos Trovadores Urbanos já tomaram carreira de cães, cantaram em cemitério, dentro de ônibus, táxi e até em açougue.
Ao todo, quatro turnês internacionais fizeram com que suas vozes chegassem a Portugal, França e aos Emirados Árabes.
Cauby Peixoto, Demônios da Garoa, Família Caymmi, Alaíde Costa são apenas alguns entre os vários artistas que dividiram palco com os Trovadores Urbanos. Conhecido, o grupo já participou das novelas Vila Madalena e O Cravo e a Rosa, além de gravar duas faixas do CD da minissérie Um Só Coração, da TV Globo.
Entre as músicas mais interpretadas pelo quarteto figuram “Carinhoso”, de Pixinguinha (1897-1973) e João de Barro, o Braguinha (1907 -2006), além de “Eu Sei que Vou Te Amar”, de Vinícius de Moraes (1913-1980) e Tom Jobim (1927-1994). “Fizemos uma serenata em uma mansão, só com músicas do Dorival Caymmi pensando que era para o senhor que nos recebeu todo simpático, mas era para o cachorro dele, um pequinês que se chamava Dorival”, contou rindo Novaes.
SUCESSO E AFETO
Os Trovadores Urbanos podem ser considerados um dos poucos canais existentes de demonstração de afeto por meio da música, utilizado por um grande número de famílias paulistanas. O segredo de tanto sucesso? Trilhar uma carreira de 25 anos, lapidando a música popular brasileira, com amor.
Municiados de quatro Papais Noéis, cantores, o grupo na época do Natal reúne entre 200 a 300 pessoas diante da Casa do Trovadores para suas apresentações. No Dia dos Namorados, as serestas também lotam as calçadas. O sucesso é absoluto onde quer que se apresentem.
SERENATAS DAS SEXTAS-FEIRAS
Há mais de 15 anos, toda sexta-feira, com início às 20h e término às 22h30, os Trovadores Urbanos reúnem em sua calçada entre 50 a 70 pessoas para apresentações gratuitas. “Algumas vezes, isso aqui fica lotado. Começo cantando lá de cima, na sacada. Depois, para não ter problemas com os vizinhos, faço o show acústico lá embaixo”, disse Novaes, que se apresenta para um público formado por muitas famílias, crianças, cães (se comportados e souberem não latir durante o som, são bem- vindos), idosos, namorados e turistas, boa parte frequentadores assíduos do local. A pipoca está garantida por um carrinho sempre presente nas reuniões.
Segundo Novaes, turistas ficam encantados. A razão? “Uma casa como essa, com gente amorosa recebendo, cheia de corações e luzinhas coloridas, no meio de uma cidade como São Paulo, chama a atenção”, disse a cantora que oferece, além de música, hospitalidade e carinho para os visitantes.
Em uma das apresentações, Novaes se deparou com um fato interessante. Um senhor na plateia, após o espetáculo, quis remunerá-la. “Acho que pela experiência musical amorosa que ele teve, pensou que cobraríamos alguma coisa. Ele ficou indignado perguntando para a filha que o acompanhava: ‘Mas eles fazem tudo isso de graça?’”, contou rindo.
TROVADORES TRABALHADORES
Um quarteto vocal, formado por Maída Novaes, Juca Novaes (irmão de Maída), Valéria Caram e Eduardo Santhana estão à frente nos trabalhos de show dos Trovadores Urbanos. Nas equipes de serenatas, há 40 músicos dentro de um elenco, que são solicitados conforme a demanda. Entretanto, as atividades do grupo não ficam por aí.
Os Trovadores Urbanos realizam, entre outros, o evento Música no Escuro, no qual cantam no escuro, promovendo uma curiosa experiência de relaxamento ao misturarem música brasileira suave com o relato de vivências de alguns convidados. O último encontro contou com o jornalista Gilberto Dimenstein. O evento acontece no Armazém da Cidade, rua Medeiros de Albuquerque, 270, na Vila Madalena. Inscrições e mais informações, pelo email musicanoescuro@trovadores.com.br .
Há, ainda, na lista das inúmeras atividades dos Trovadores Urbanos, caminhadas pelo centro da cidade de São Paulo, que além de mostrar seus pontos históricos conta com a trilha sonora dos músicos, que cantam também dentro dos ônibus da cidade. “Tem sempre muita coisa acontecendo. Fazemos bastante coisas, mas sempre levando a música junto”, falou Maída Novaes.
DOCUMENTANDO O SOM
O documentário “Seresteiros do Rio São Francisco” foi realizado, em 2014, pelo Instituto Trovadores Urbanos, criado há dois anos por Novaes, concretizando um dos projetos de documentação de seresteiros que o instituto tem.
Captado nas barrancas do rio São Francisco, norte de Minas Gerais, passando pelas cidades de Pirapora, São Francisco, São Romão e Januária, o projeto levou Maída Novaes, em parceria com a documentadora, escritora e professora de história, Patricia Pacini, a produzirem, além do filme, um livro.
“Registramos 25 seresteiros de idades variadas. De 40 a 90 anos. Dois deles já morreram”, falou a cantora revelando que essas pessoas não são famosas, mas seresteiros natos, que cantam diante de janelas e amam a música romântica.
Algumas descobertas aconteceram durante os registros. Embora o grupo de seresteiros do rio São Francisco cante basicamente o que os Trovadores Urbanos executam em seu repertório- que inclui, entre outros, Chico Buarque e Sílvio Caldas-, um personagem brasileiro sempre é lembrado e por meio de uma mesma música. “Incrível como todos cantam ‘Peixe Vivo’ e ainda demonstram uma paixão por Juscelino”, disse a cantora referindo-se a Juscelino Kubitschek (1902-1976). Conhecido como o “presidente seresteiro”, Kubitschek, além de adorar essa canção folclórica, ouviu-a infinitas vezes convertida numa espécie de hino que o saudava por onde ele aparecia.
Entretanto, a maior parte das letras das músicas cantadas e registradas no documentário são feitas para o rio São Francisco. Falam sobre o amor e o convívio que pessoas locais tem com ele. Novaes revelou ainda ter descoberto uma música que agora faz parte do repertório apresentado pelo grupo nas serenatas de sextas-feiras, diante da Casa dos Trovadores.
Seguindo a corrente desse percurso hidrográfico musical, Novaes está prestes a realizar a mesma empreitada pelo rio Tiête, em São Paulo. “Entre alguns locais devo ir a Araçatuba, Barra Bonita e Pirapora do Bom Jesus para documentar tudo em filme e futuramente abrir um portal na internet disponibilizando o que acharmos para o público.”
No segundo semestre de 2016, a cantora parte para Pernambuco com o mesmo intuito: documentar seresteiros. “A ideia principal é registrar essas pessoas e suas músicas o mais rápido possível. Muitas dessas pessoas com histórias para cantar estão morrendo. Muitas dessas músicas são desconhecidas pelo povo. Queremos resgatar e recolher tudo isso.”
SALA SÍLVIO CALDAS
Em 1992, os Trovadores fizeram o primeiro show com Sílvio Caldas, no Sesc Pompéia, em São Paulo, integrando um projeto no qual uma figura notória da música apresentava uma novidade ao público. Caldas apresentou os Trovadores Urbanos.
“Foi uma loucura trazê-lo de Atibaia para esse show. O Sílvio já havia parado de se apresentar e disse que não iria fazer mais shows. Fomos ao sítio dele, em Atibaia, e começamos a cantar, e ele a chorar”, contou a cantora sobre o cantor que chorou, mas topou.
Topou tanto que, depois desse episódio, os Trovadores Urbanos levaram o homem para cima e para baixo no país, realizando mais de 30 shows. Entre eles, duas temporadas marcaram a cidade de São Paulo e a do Rio de Janeiro. Na cidade de São Paulo, no extinto 150 Night Club do hotel Maksoud Plaza. No Rio de Janeiro, no Mistura Fina. Clubes em cidades do interior foram inúmeros os que contaram com a apresentação dos Trovadores Urbanos e Sílvio Caldas.
Maída Novaes foi amiga e empresária do cantor, que nasceu no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. “Ficamos muito próximos. A Miriam, viúva do Sílvio, me disse uma coisa muito preciosa. Segundo ela, eu fui a última amiga da vida dele”, disse a cantora que ouviu confidências de Caldas. Entre elas, a dor que sentia provocada por momentos rudes da vida, como em 1974, ocasião em que perdeu seu filho de 9 anos, atropelado por um táxi, diante de seus olhos, saindo de um carro ao retornarem (Miriam estava junto) para o hotel depois de uma gravação na TV Globo, no Rio de Janeiro. “Ele ficou um ano e meio sem cantar. Foi uma tragédia”, contou Novaes.
Há dois anos, Novaes montou o Instituto Trovadores Urbanos, que trabalha a seresta no Brasil. Por quê? “O século virou e ninguém sabe mais o que é seresta, quanto mais quem é o seresteiro de sua cidade. Este é meu projeto maior: divulgar a seresta”, falou a cantora, afirmando que escolheu o nome de Sílvio Caldas como embaixador da empreitada, com o intuito de mostrá-lo às pessoas, além de reverenciá-lo. “Ele foi um grande cara”, completou. Na casa ainda funciona uma escola para trovadores mirins, durante a semana. “É um coral infantil. Ensinamos as crianças a cantarem comandadas pela maestrina Lucila Novaes (irmã de Maída).”
Assista ao vídeo, no final da matéria, com Maída Novaes apresentando a sala Sílvio Caldas, com seu chão de estrelas, e convidando o público do Música em Letras para conhecer a Casa dos Trovadores.
SHOW
O show em comemoração aos 25 anos dos Trovadores Urbanos conta com a participação de músicos experientes para engrossar o som do quarteto, que grava o espetáculo com intenção de produzir um CD e DVD a serem lançados no mês de junho.
Entre os músicos que acompanham Valéria Caram, Eduardo Santhana, Maída e Juca Novaes estão Pichu Borreli (piano acústico e baixo), Claudio Duarthe (violão), Pratinha (flauta e bandolim), Adriano Busko (percussão) e Thadeu Romano (acordeon).
No repertório do show, “O Cantador”, de Dorival Caymmi e Nelson Motta; “Sangrando” de Gonzaguinha; “Canário do Reino”, de Carvalho e Zapatta; além de “Sinfonia Paulistana”, de Billy Blanco, e claro “Se Todos Fossem Iguais a Você”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
SHOW TROVADORES URBANOS – 25 ANOS
QUANDO Dia 19 de fevereiro, sexta feira, 21h
ONDE Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer, av. Pedro Alvares Cabral, s/n – Portão 2 do Parque do Ibirapuera, tel. 11 3629-1075
QUANTO Gratuito
SERENATAS DAS SEXTAS-FEIRAS
QUANDO Todas as sextas-feiras, das 20h às 21h30
ONDE Casa dos Trovadores Urbanos, r. Aimberê, 651, em Perdizes, tel. (11) 2595-0100
QUANTO Gratuito
SALA SÍLVIO CALDAS
QUANDO Aberta todas as sextas-feiras, das 18h às 21h30
ONDE Casa dos Trovadores Urbanos, r. Aimberê, 651, em Perdizes, tel. (11) 2595-0100
QUANTO Gratuito