Retrospectiva 2015
Na retrospectiva de 2015 do Música em Letras, você terá acesso a uma seleção de trechos e fotos de alguns dos 70 posts, veiculados aqui, assim como a dez gravações das 56 realizadas com exclusividade para o blog durante o ano.
O Música em Letras agradece quem o acompanha e deseja a todos um ano novo repleto de sons, músicas, ruídos, cantos, gorjeios, trinados, solos, graves, médios, agudos e bastante silêncio para ouvirmos tudo isso e o que mais vier.
Boa navegação e excelente 2016!
ERNESTO PASCOAL
O “causo” aconteceu durante uma homenagem a Hermeto na Estudantina, famosa casa noturna do Rio de Janeiro, existente desde a década de 1930 e conhecida como uma das mais tradicionais gafieiras do país.“Houve uma época, em que o pessoal da casa homenageava os grandes artistas da música e chamaram meu pai. Montaram mesa para nossa família inteira, comida, bebida, coisa e tal. De repente, escutamos pelo som do microfone: ‘Gente, hoje é uma noite muito especial. Estamos homenageando este grande instrumentista, compositor e artista da música brasileira, o maestro Ernesto Pascoal’ ”, contou rindo o percussionista ao Música em Letras. “Meu pai já foi brabo receber o prêmio, mas falei para ele deixar para lá. O cara errou, tudo bem…” Só que depois de contemplado com o troféu, o músico voltou imediatamente para a mesa, emburrado. “Na placa estava gravado Ernesto Pascoal, sem H. Acho que ele tem este troféu até hoje”, completou o filho de Hermeto. (Trecho de matéria com o percussionista Fábio Pascoal, postada no Música em Letras, dia 09/02/2015)
MADEIRA DO BRASIL
“Existe um preconceito enorme com nossas madeiras, mas é coisa daqui. Sabe por que os norte-americanos usam o bordo? Porque eles só tem ele. O custo é muito alto para utilizarem madeiras de fora. Eles já tem que importar o jacarandá e o pau-ferro para fazer escala. Nós temos o roxinho para fazer escala e frente de baixo. Os estrangeiros ficam maravilhados com nossas madeiras. Os próprios luthiers daqui têm preconceito com a madeira brasileira. Poucos, como o Josino de Osasco, usam madeira brasileira. Um braço de cumaru feito em três peças fica uma rocha. Temos clientes que tocam pelo Brasil inteiro, tanto no sul como no norte e nordeste. No norte, que é quente e úmido, o braço entorta. No sul, as cordas trastejam, ficam batendo nos trastes. O braço de bordo é muito mole, flexível, cede rápido e muito. Você pega o bordo e vai entortando, entortando. Ele vira um arco, porque a madeira é uma massa. É uma madeira muito boa de trabalhar. É muito lisa e para dar o acabamento é fácil. A madeira daqui é dura para dar acabamento”. (Trecho de matéria com o luthier Reinaldo Campos, postada no Música em Letras, dia 23/02/2015)
CARTEIRA DA ORDEM
“Tenho a carteira da Ordem dos Músicos desde 1967 e nunca me beneficiou em nada. Aqui no Brasil, você precisa pagar para trabalhar. Eu paguei minha carteira. Eu comprei minha carteira. Não leio uma nota musical e quando você faz a prova tem que ir lá tocar ou cantar, mas lendo. Eu fui e não consegui. Disseram então: ‘Você larga tanto aqui (referindo-se ao dinheiro) que nós vamos dar a carteira pra você’. Todos nós tínhamos que ter a carteira, sem ela não se trabalhava”, disse a artista, autodidata, dona da carteira datada de 4 de dezembro de 1967, de número C1025, uma das primeiras de cantora. (Trecho de matéria com a cantora holandesa Sara Lydia Chretien, postada no Música em Letras, dia 02/03/2015)
A MÚSICA BRASILEIRA
Segundo o percussionista, ele cresceu e aprendeu demais aqui, inclusive para tocar música latina. “Tive que estudar mais”, falou, afirmando que em Cuba era obrigado a conhecer a obra de músicos brasileiros como Egberto Gismonti, Tom Jobim (1927-1994), Djavan e Gonzaguinha (1945-1991). “Eram estudos que eles utilizavam mostrando como cada região brasileira trabalhava a harmonia e definia seus caminhos”, disse elogiando a produção harmônica nacional e colocando-a no mesmo patamar da dos Estados Unidos. “O Brasil é uma potência em harmonia, muito mais que em percussão. A percussão é forte aqui, mas a harmonia faz você viajar e ir para lados inesperados.” (Trecho de matéria com o percussionista cubano Eduardo Andres Espasande, postada no Música em Letras, dia 02/03/2015)
BRASILEIROS MODIFICARAM O JAZZ
Há ainda na audição uma música em homenagem ao percussionista Airto Moreira. “Chegamos praticamente juntos nos Estados Unidos. Fomos nós que introduzimos a percussão brasileira no jazz. Antes disso havia apenas ritmistas cubanos e porto- riquenhos que tocavam bongôs, congas e maracas. Nós chegamos com apitos, penicos, caçarolas, queixada de burro e cuíca. Miles Davis abraçou de um lado e Gato Barbieri de outro. Isto modificou o som do jazz”, revelou. (Trecho de matéria com o percussionista Naná Vasconcelos, postada no Música em Letras, dia 19/03/2015)
QUALIDADE NO SOM
O segredo do sucesso de tantos anos na orquestra está em suas próprias palavras: “Se você se propõe a fazer um projeto dentro de uma linguagem artística, no caso a musical, cujo objetivo é a qualidade, você jamais deve procrastinar essa responsabilidade, a da qualidade”, ensina o maestro que considera este seu maior aprendizado na OCAM. (Trecho de matéria com o maestro Gil Jardim, postada no Música em Letras, dia 17/04/2015)
FALAR E FAZER
O artista diz ainda ser difícil falar de música por ser “um troço muito abstrato” e lembrou uma citação do músico suiço Anton Walter Smetak (1913-1984), violoncelista, compositor e construtor de instrumentos musicais que dizia: “Falar de música é besteira, e fazer é loucura”. (Trecho de matéria com o músico Wilson Sukorski, postada no Música em Letras, dia 24/04/2015)
O REI NO ARMÁRIO
Da época lembra-se de um “job” em particular, o áudio de um filme do produto Taff Man-E. “Era uma propaganda maluca. O Pelé, ao invés de jogar futebol, apostava corrida. Ninguém entendeu nada, mas a gente tinha que gravar e ele não podia ir no estúdio. Foi complicado”, contou o produtor que aproveitando a ida do Rei a um estúdio de fotografia, foi até lá colocou-o dentro de um armário (para não captar ruídos) e gravou sua voz. “A frase que ele tinha que dizer era: ‘Taff Man-E, a energia sem limites’. Foi mais de meia hora de fita para tirar essa frase. O cara (Pelé) dava a cada hora uma entonação, mas depois editamos, cortando com gilete, colamos e botamos na boca dele, certinho no filme”, contou Lotito afirmando que virou fã de Pelé pela paciência dispensada durante a gravação. (Trecho de matéria com o pianista e técnico de som Homero Lotito, postada no Música em Letras, dia 12/05/2015)
VIOLA DE COCHO
“Uma vez, viajando pelo Mato Grosso, o Zé Gomes queria ir até um centro folclórico para comprar uma viola de cocho. Nesta época, ninguém tocava isso. Ele ficou a tarde toda até achar uma, do jeito que ele queria. Embrulhou-a em plástico bolha, e veio carregando no colo, como se fosse um bebê. Chegando em casa, apareceu o Almir. Aí o Zé falou: ‘Vou te mostrar’. Começou a abrir aquele pacote e finalmente, com muito orgulho, igual ao de quem mostra uma criança recém-nascida para o amigo, mostrou o instrumento para o Almir, dizendo como a viola era linda e boa. O Almir começou a olhar para as paredes, até escolher um lugar com os olhos e dizer : ‘Zé, acho que pendurada ali ela fica boa’. O Zé ficou muito bravo e disse (imitando sotaque de gaúcho): ‘Esse Almir não tem a menor sensibilidade’. O Almir achava que o Zé nunca ir tocar aquilo. Ele disse: ‘Cara, isso aqui não dá para tocar’. O Zé pegou aquele negócio e começou a tirar um som maravilhoso”. (Trecho de matéria com o compositor Renato Teixeira, postada no Música em Letras, dia 19/05/2015)
PATA PATA É A …
Arrumaram uma boate para o grupo tocar músicas da moda. Risonho (guitarrista) estava doente. Uma intoxicação alimentar afetou boa parte dos ânimos da banda. O que tocavam? “Tocávamos sucessos. Uma vez, na música ‘Pata Pata’, naquela hora de declamar, o Nenê estava de saco cheio da situação e mandou: ‘Pata is a dance. Pata Pata is, is, is…a p… que o pariu, seus filhos das p…, vão se f…’ Meu, todo mundo sério na plateia ouvindo aquilo e a gente caindo de rir”, contou o músico que levou esta peculiar versão de “Pata Pata”, canção imortalizada pela cantora sul-africana Miriam Makeba (1932-2008), ainda para Hokkaido e Otaru, entre outros lugares do Japão. (Trecho de matéria com o baterista Netinho, postada no Música em Letras, dia 24/08/2015)
BÊNÇÃO PATERNA
Um dia, em uma conversa informal na rua da cidade, o talento de Barreto foi citado. O pai, que ouvia indignado, disse: “Rapaz, lá em casa não tem ninguém que toque, não”. Chegando em casa, perguntou ao filho: “Ouvi falar que você toca violão”. “Não, ainda estou aprendendo”, disse o garoto envergonhado e com medo de levar uma “pisa” do pai, que insistiu: “Vá, mostre para mim”. Barreto empunhou o instrumento e solou “Magoado”, choro de Dilermando Reis. Segundo o artista, há muito ele esperava por esse momento de se consagrar diante do pai, como que pedindo uma bênção. Ganhou-a, banhada de lágrimas que escorreram dos olhos do pai, além do aval dito com voz embargada: “Rapaz, você toca mesmo”. (Trecho de matéria com o compositor e violonista Vicente Barreto, postada no Música em Letras, dia 28/08/2015)
OVNI
“Em um dia de 1987, percorri vários quilômetros sem saber como. Cheguei em um pedágio e não sabia onde estava. Perguntei para a atendente e ela me disse que eu havia passado Ribeirão Preto há muito tempo. Estava em Olímpia (a 125 km de Ribeirão Preto). Em seguida, começou a maior tempestade, do nada, além de um ruído bem agudo na minha cabeça. Até hoje, não sei o que aconteceu e nem como fui parar lá”. (Trecho de matéria realizada com o compositor Kiko Zambianchi, postada no Música em Letras, dia 01/10/2015)
FOCO AO TOCAR
“Aprendi a tocar com o intérprete. Meu foco é sempre servir a melodia, que busca um caminho e não pode ser abandonada em momento algum. Para que não seja apenas um baixo pulsando, cuido do meu acabamento para cada passada de nota fazer sentido junto à melodia”. (Trecho de matéria realizada com o músico contrabaixista Marcelo Mariano, postada no Música em Letras, dia 08/10/2015)
PUTAS E SANTAS
“Era muito visceral. Em um momento o Zé Celso perguntou quem queria ser ‘puta’ e quem queria ser ‘santa’. Como 80% das mulheres queriam ser ‘puta’, eu quis ser ‘santa’ só para ser do contra. Só que era uma bosta ser ‘santa’. Ele não as olhava e nem as dirigia. Ele não estava nem aí para as ‘santas’. Fui pedir para ser ‘puta’ e ele não deixou. Um dia quero voltar a trabalhar com ele, mas tem que ser ‘puta’, senão não tem graça nenhuma”. (Trecho de matéria realizada com a cantora e atriz Vanessa Bumagni sobre sua experiência com o diretor José Celso Martinez, postada no Música em Letras, dia 21/10/2015)
TATUAGEM DE GUITARRA
“O programa fazia uma espécie de Teleton, em que as pessoas doavam agasalhos. Lembro de um monte de agasalhos, mas lembro mais ainda da parte da música, porque quando acabava o programa, eu e meus irmãos ficávamos eufóricos. Íamos para o quintal brincar, mas não pegávamos o caminhãozinho, a gente queria tocar guitarra. Não tínhamos nem violão. Não sei bem de quem partiu essa ideia, talvez tenha sido de mim mesmo, mas o fato é que vivíamos de calção, pés no chão, e sem camisa. O quintal era de grama e terra de chão batido. Sei que desenhávamos, com os dedos das mãos molhados de água, o corpo de uma guitarra no peito e rapidinho deitávamos de barriga na terra. Assim, imprimíamos o corpo de uma guitarra na pele. Empunhávamos um pedaço de pau ou cabo de vassoura perto do corpo e ficávamos tocando e cantando o que a gente havia acabado de assistir”. (Trecho de matéria realizada com o guitarrista da banda Áries, Rick Rehder, sobre o programa Jovem Guarda que o estimulou a ter fissura por guitarra, postada no Música em Letras, dia 23/12/2015)
GRAVAÇÕES
Rosália Gomes dos Santos
https://www.youtube.com/watch?v=dVSFNbMyOjI
Sandra Fidalgo e Toninho Ferragutti
Marcelo Mariano
Sara Chretien
Charles da Flauta
Ritchie
Vicente Barreto
https://www.youtube.com/watch?v=LcwPIoOOaco
Lulinha Alencar
Ana Julia Zambianchi
Ensaio Duofel e Carlos Malta
https://www.youtube.com/watch?v=bF6-S4KJTqg
FOTOS
FELIZ 2016!