José Hamilton Ribeiro dá pulo do gato

Carlos Bozzo Junior
O jornalista José Hamilton Ribeiro no lançamento de seu livro "Música Caipira", em São Paulo (Foto: Carlos Bozzo Junior)
O jornalista José Hamilton Ribeiro no lançamento de seu livro “Música Caipira”, em São Paulo (Foto: Carlos Bozzo Junior)

Zé Gato é apelido que o jornalista José Hamilton Ribeiro, 83, ganhou ainda meninote em sua cidade natal, a musical Santa Rosa de Viterbo, interior de São Paulo. Músicos ótimos foram criados nesta pequena cidade, que fica a 310 km da capital. Entre eles, o trompetista Rubinho Antunes e a cantora e compositora Simone Guimarães. Ambos sempre se reinventando, com muita criatividade no que fazem. Verdadeiros “cats”, que na gíria do jazz, em meados dos anos 1930, era termo utilizado por músicos que se enquadravam no gênero.

José Hamilton Ribeiro, ou Zé Gato, não deixa por menos e também se reinventa com o relançamento de “Música Caipira” (2006), livro que agora acompanha dois excelentes DVDs, com músicas e entrevistas. Ampliada e revista, a obra traz muita informação de qualidade ao discorrer sobre 270 maiores modas de viola- “só coisa fina na letra e na música”-, além de bem definir o que é música caipira, sertaneja e sertaneja moderna. Tudo sem perder o bom humor.

Por exemplo, no capítulo “Os Patriarcas”, Ribeiro registra o “ABC de Tinoco”, criado pelo integrante da dupla Tonico (1917-1994) & Tinoco (1920-2012), detentora do primeiro lugar em venda de discos no Brasil, até hoje (mais de 150 milhões). Na letra “Q”, no verbete “Quem?”, Tinoco explica: “Mesmo depois que o Tonico morreu, o povo confundia quem era Tonico, quem era Tinoco. Outro dia um moço chegou para mim e perguntou: ‘Quem morreu, foi você ou seu irmão?’”.

Entretanto, o pulo do gato de José Hamilton Ribeiro está em ter inserido nas mais de 400 páginas do livro o capítulo “Diversidade”, escrito pela violeira, pesquisadora e fonoaudióloga Simone Sperança. Afinal, quantos ritmos existem na música caipira? Além de didático, o capítulo é ideal para mudar idéias nas cabeças de quem ainda pensa que música com viola é tudo igual. São 22 ritmos, sim, 22 ritmos, descritos com exemplos de músicas, acompanhadas de células rítmicas grafadas em pentagramas, destinadas a músicos.

Seus nomes valem o parágrafo: arrasta-pé, cana verde, querumana, canção rancheira, valseado, valsa, cateretê, cururu, corta-jaca, lundu, toada, moda de viola, rasqueado, pagode, recortado, guarânia, moda campeira, chibata, chamamé, batidão, polca e xote. Segundo o autor, “além dos 22 ritmos listados pela Simone, muita música caipira ainda aparece com nome de samba, coco, vaneirão, calango, mazurca, tango etc.”. Uma aula.

José Hamilton Ribeiro mais uma vez se diferencia e ganha destaque por executar seu trabalho como jornalista e escritor sempre se desviando da mesmice. A obra “Música Caipira” não desmente isso, e acrescenta aos olhos de quem a lê, ouve, e a assiste didatismo, alegria, saudades, esclarecimento, tradição, entretenimento, música, história, humor e Brasil, sim, muito Brasil. Tudo com o suingue de um “cat”, ou melhor, de um “cat” abrasileirado na roça.

MÚSICA CAIPIRA
AUTOR José Hamilton Ribeiro
EDITORA Realejo
QUANTO R$ 80,00
AVALIAÇÃO Ótimo