Netinho bota a boca no trombone e lança DVD (parte 3)
Na terceira e última parte da conversa de Netinho com o Música em Letras, o baterista de Os Incríveis revela ter sofrido de depressão antes de gravar o DVD “Netinho Comemora 50 anos de Os Incríveis- Ao vivo”, que lança amanhã (27), em São Paulo. O artista falou também como a cocaína foi nociva em sua vida e responde se faria tudo novamente. Leia, a seguir, sobre estas e outras histórias do músico.
DEPRÊ E DVD
A banda formada para homenagear Os Incríveis no DVD conta com excelentes músicos. Sandro Haick, filho de Netinho, (guitarra e vocal), Leandro Weingaertner (baixo e vocal), Wilson Teixeira (sax e flauta), Rubinho Ribeiro (guitarra e vocal), Bruno Cardoso (teclado) e Netinho esbanjam versatilidade e muito fôlego (são mais de 50 músicas), realizando um show baile com muita propriedade.
Entre as músicas, “Era um Garoto que como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”, que associou Os Incríveis aos Beatles e aos Stones. “Estávamos na Itália e esta música era sucesso com o cantor Gianni Morandi, mas era mais lenta. Nós gravamos mais rápido. Até hoje, é um grande sucesso.” Você não se cansa de tocar essas músicas, depois de tanto tempo? “Enche o saco, viu? Para caramba. A música ‘Milionário’, então, é triste. Ela é um dos nossos maiores sucessos, mas a batida é a pior que tem. Olha, acho que o Paul MacCartney nunca falaria mal de uma música dele. Se bem que o que ele compõe é diferente, né?”, falou o baterista.
Com mais de 80 pessoas envolvidas, o DVD foi gravado no teatro Bradesco, em São Paulo, na noite do dia 28 de maio de 2014. Teve um custo que, segundo Netinho, ultrapassou 200 mil reais. Por que demorou um ano para sair? “Primeiro, porque é independente. A gente fez tudo e com qualidade. Fazer com qualidade custa caro. Nem sempre tínhamos a grana para bancar parte deste processo e fomos empurrando até sair”, falou o baterista.
Outro fator influenciou na demora do lançamento. “Eu não estava muito bem. Estava muito tenso. Foi a primeira vez na vida que fiquei assim.” Isso antes de gravar? “Sim, era muita reunião todos os dias. Começou a pintar aquela responsa e aquilo começou a me deixar estressado. Os caras (pessoas envolvidas na produção) diziam: ‘Precisa do técnico tal’. Eu falava que o cara era ótimo, mas custava muito. Eles diziam: ‘Não importa’, e chamavam o cara. Pensei: meu, estou ferrado, como é que nós vamos pagar essa porra? Comecei a entrar em parafuso e na véspera do show tudo foi cancelado.” Por quê? “Eu estava mal, fiquei de cama.” Você ficou para baixo, deprimido? “Não sei o que aconteceu. Sempre fui a milhão”, contou o artista que ligou para os envolvidos na produção do DVD e cancelou tudo, “prova de roupa, gravação de making of e o escambau, não queria sair da cama”. Como você se recuperou? “Falei, bicho o que é isso? Vamos que vamos. Levantei e fui.” Sozinho? “Foi.” Sem uso de remédios ou ajuda profissional? “Nada, meu. Pensei em até cheirar uma, mas saquei que ia ferrar mais. Aí é que eu ia travar mesmo”, contou o músico.
COCAÍNA
Você ainda tem vontade de cheirar? “Tenho, mas eu seguro porque não dá mais.” O que você faz quando dá essa vontade? “Nada.Tomo um vinho”, disse o artista que quando jovem presenciou muitos de seus colegas de profissão consumirem vários tipos de anfetaminas, conhecidas por “bolinhas”. Entre elas, Pervitin e Dexamil. Você tomava? “Eu não tomava. Era o único cara da banda que não tomava nada. Nem bebia. Nem no Natal ou no Réveillon, nada. Era eu quem dirigia. Fazia Brasília-São Paulo em dez horas, no pau, a 170 km por hora, em um Landau LTD. Naquela época (de Os Incríveis), dirigi pelo Brasil todo sem nunca tomar nada, careta”, contou o músico que se iniciou nas drogas só depois, com o começo de seu conjunto Casa das Máquinas. “No Casa foi pesado.” Por que tinha acabado Os Incríveis? “Não tinha nada a ver. Foi o clima dessa época mesmo. Comecei a fumar e a dar uns tiros (cheirar cocaína).” Fumar baseado (cigarro de maconha)? “É.” Misturado com pó? “Misturei direto, mas nunca fui além disso”, disse o músico afirmando que nunca aplicou drogas injetáveis nos “barbantes” (veias).
Netinho abusou do uso de cocaína. “Algumas vezes, cheguei a usar 30 gramas em um dia.” E como você ficava, o que fazia? “Pegava a bicicleta e ia para a Lapa, Penha, Guarulhos. Passava a noite, amanhecia e eu de bicicleta com uma garrafinha de água. E sem ciclovia. De terça para quarta-feira, aquele trânsito parado na 23 de Maio, e eu passando todo mundo de bicicleta, travadaço”, revelou o músico que fez uso da droga durante mais de dez anos. Como parou? “Fui obrigado. Tive problema nas cordas vocais, que eu acredito que tenha sido provocado pelo uso excessivo do pó.” Algum especialista te disse isso? “Não, não. Na minha cabeça, acredito nisso. Eu acho que sim, porque quando cheirava minha voz travava.” Mudava de timbre? “Sim, toda vez. Aí é que eu vi que estava prejudicando a voz, direto.” E para tocar, usava? “Usava e ficava a milhão. Não tocava sem. Às vezes, ia para o interior, deixava o pessoal no hotel e, como era eu quem dirigia, ia para outra cidade buscar (a droga), chegava em cima da hora, tocava, recebia, pagava todo mundo, entrava no carro, e voltava para São Paulo. Chegava aqui, e ia buscar mais.” Vivia na função? “Teve um período que era assim direto.”
No tempo em que usava a droga, Netinho tinha bastante dinheiro. “Trabalhava direto. Nunca parei de trabalhar.” Você calcula ter gasto quanto com a droga, um apartamento? “Nossa, vários. Não digo vários apartamentos, mas foi por aí”, disse o músico que nunca foi de guardar dinheiro e sempre gastou tudo o que tinha direito. “Eu e o Manito. Acho que o Manito foi pior que eu, ou melhor. É que o Manito bebia e eu não”, falou rindo Netinho. E cigarros, fumava? “Não, nunca fumei. Só maconha.”
RISONHO
Além de Netinho, o único integrante vivo de Os Incríveis é Waldemar Mozena, o guitarrista Risonho. Por que ele não participou do DVD? “Eu convidei, mas ele é uma pessoa reservada. Para qualquer coisa tem que conversar muito com ele, insistir para que ele seja convencido. De cara, diz não para tudo, sempre foi assim. Eu o respeito”, contou o músico, lembrando que Risonho e Mingo foram os únicos do grupo que guardaram dinheiro aplicando em imóveis. “O Nenê era de família rica. Não estava nem aí para dinheiro. Eram donos do restaurante Papai. O Manito acabava o show e distribuía o cachê no boteco. No outro dia, ele perguntava para mim: ‘Cadê meu cachê?’ Eu dizia: bicho você já ganhou. O Manito era só música. Do cabelo ao dedão do pé. Até bêbado só falava de música”, contou rindo.
Sem o Risonho não existiria um dos maiores sucessos de Os Incríveis, “O Milionário”, uma música instrumental. “Eu tenho o maior carinho e gratidão por ele”, disse Netinho que há mais de dez anos não encontra o ex-companheiro de banda, mas afirma nunca ter tido uma “treta” entre ambos. “Eu o vi em uma homenagem feita ao grupo, no Círculo Militar, pela colônia japonesa”, disse o artista. Ainda segundo Netinho, Os Incríveis foram os primeiros artistas brasileiros a se apresentarem no Japão.
Perguntei se o baterista se arrependia de alguma coisa ou faria tudo novamente. “Faria, menos cheirar do jeito que cheirei. Isto ferrou muita coisa na minha vida, minha voz, grana, relacionamentos e oportunidades, embora tenha me dado coisas boas também.” O que, por exemplo? “Ah meu, eu fazia coisas que não teria coragem de ter feito careta. Por exemplo, ter ido para Londres, toda hora, assistir shows para caramba. Ficava pilhado, comprava uma passagem a prazo, e ia na louca. Fazia muita coisa assim. Sempre tive uma saúde ótima. Hoje estou bem, mas o uso do pó baqueou. Era muito.”
No vídeo abaixo, o artista convida o leitor de Música em Letras para o lançamento de seu DVD.
Show de lançamento DVD “Netinho Comemora 50 anos de Os Incríveis- Ao vivo”
QUANDO Quinta-feira, dia 27 de agosto, às 21h30.
ONDE Club A, av. das Nações Unidas, 12559 – Brooklin Novo, São Paulo, tel.(11) 3043-8343.
QUANTO R$ 80
DVD “Netinho Comemora 50 anos de Os Incríveis- Ao vivo”
DIRETOR Wagner Malagrine
DISTRIBUIDORA Gravadora Eldorado
QUANTO R$ 29.90