Duofel e Carlos Malta atacam de trio
O Música em Letras esteve em um ensaio do Duofel com o multi-instrumentista de sopro Carlos Malta, que veio do Rio de Janeiro para, neste final de semana (26 e 27 de julho), se apresentarem no Sesc Pompéia, em São Paulo.
Segundo o violonista Fernando Melo, 59, integrante do Duofel, o show será repleto de homenagens a grandes compositores da música popular brasileira e mundial, como os Beatles. Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913-1980) ganharam um medley com “Berimbau”, “Consolação” e “Canto de Xangô”. As duas primeiras com arranjos do Duofel, e a última, arranjada por Malta. “Fizemos uma mistura das harmonias originais do Baden com as do Malta, que nos trouxe a harmonia de uma banda toda, e a adaptamos para a sonoridade de nossos violões”, disse Melo.
De Tom Jobim (1927-1994), o trio interpreta “Dindi” e “Água de Beber”. Malta trouxe, de Edu Lobo, os excelentes arranjos de “Ponteio” e “Upa Neguinho”, para serem mesclados ao belíssimo arranjo de “Casa Forte”, do Duofel. Dorival Caimmy (1914-2008) será homenageado com “Maracangalha”. De quebra, Malta contribui maravilhosamente com “Cais”, de Milton Nascimento. Do quarteto de Liverpool, está garantido “The Fool on the Hill” e “Eleanor Rigby”, inclusas no CD “Duofel Plays Beatles”.
Uma composição inédita do Duofel, “Aos Mestres com Carinho”, mescla o som do sopro de Malta ao som das 23 cordas de um dilruba, instrumento indiano, tocado pelas mãos de Luiz Bueno, o outro integrante do duo. “Esta música foi feita em um momento de indignação muito grande, quando teve aquele pau comendo em Curitiba, com os professores apanhando por pedirem um melhor salário”, explicou Bueno.
Malta vai soprar vários instrumentos de madeira e de metal para incorporar seus timbres. Há sax tenor, sax soprano e várias flautas- flauta baixo, em sol, pífano, flautins, a chinesa di-zi, além de uma transversal de jacarandá do século 19. “Esta flauta tem uma tecnologia francesa. O Brasil mandava a madeira para a França e os caras faziam, além de móveis, instrumentos. Esta é de mil oitocentos e setenta e poucos”, disse o flautista mostrando o som de madeira do instrumento que comporta poucas chaves em seu sistema e será utilizado pelo músico para interpretar parte de “Ponteio”.
PORQUINHOS NO POMPÉIA
Malta trouxe também um pequeno casal de porquinhos da Dinamarca. “Eles são músicos lá”, falou rindo, pressionando os bichinhos de borracha que emitem um som verossímil (e afinado) da espécie.
Há uma razão para tantos instrumentos utilizados pelo trio, que pretende gravar um CD do show. Segundo Malta, “é para o pessoal dar uma volta ao mundo em 80 sons”, disse o músico que sonhava em tocar com o Duofel desde seus tempos de integrante do grupo de Hermeto Pascoal, entre 1981 e 1993. “Cara, eu ficava na coxia e ouvia esses dois tocando, parecendo muitos. A plateia vibrava com eles, e eu também. Pensava: pô, um dia desses vou fazer um som com esses caras. Este dia chegou e estou imensamente feliz”, falou o músico, afirmando que esta é a primeira vez que fazem “um remelexo juntos”.
Carlos Malta vem a São Paulo há muitos anos. Praticamente, inaugurou o Sesc Pompéia com Hermeto Pascoal. “Fazíamos temporadas de duas semanas, de quinta a domingo, com a casa lotada todos os dias”, disse revelando ser um fã da cidade e de seus restaurantes. Entre eles, o Jardim de Napoli, onde sempre que pode, delicia-se com o famoso polpetone de carne com recheio de mozarela.
O que as pessoas devem ter em mente quando forem assistir ao show? “Mente tranquila e vazia para receber a pressão que vamos mandar de som, criatividade e de amor que temos pela música. As pessoas vão receber uma carga emotiva muito legal, vinda de um bate-papo entre nós três. Com certeza ficarão com o coração repleto desta ótima energia.”
NO FORNO
“OMARAMOR” é o nome do novo disco que Malta deve lançar ainda este ano, gravado em Brasília.“Não sei se as letras, no título, estarão todas juntas, mas o lance é brincar com as palavras mar e amor”, falou o compositor referindo-se ao disco que trará, em seu repertório, músicas sobre o mar e sobre o amor. Entre elas, “Gabriela”, “Dora”, “Rosa Morena” e “Suíte dos Pescadores”.
No time do disco, o pessoal do Clube do Choro do Distrito Federal: Henrique Neto (violão de sete cordas); Marcio Marinho, o Frango (cavaco); Hamilton Pinheiro (baixo elétrico); Rafael Black (bateria), além de Malta (sopros). “São arranjos meus, com colaborações deles também”, disse Malta que, há quatro anos, viu nascer o disco de um show realizado por ele no Clube do Choro, homenageando Caymmi.
O bandolinista Hamilton de Holanda foi quem descolou o estúdio, em Taguatinga, para que Malta gravasse o disco ainda a ser masterizado. “É um disco com pouca improvisação e muita valorização da canção”, falou o músico que utilizou, entre outros instrumentos, clarone, flauta baixo e flauta em sol para remeter à voz de timbre grave de Dorival Caymmi. Quando sair a “bolachinha” com toda essa sonzeira, o Música em Letras avisa.
Por enquanto, curta trechos do ensaio do trio nos vídeos abaixo e compareça ao show que modifica a máxima popular : “Um é pouco, dois é bom e três é demais de bom”.
DUOFEL E CARLOS MALTA
QUANDO: Sábado, dia 25, às 21h, e domingo, dia 26 de julho, às 19h.
ONDE: Sesc Pompeia – teatro- r. Clélia, 93, Água Branca, zona oeste, São Paulo. Tel.: (11) 3871-7700.
QUANTO: R$ 9 a R$ 30.